Ontem fui ao Nalva Melo, na boa Ribeira. O projeto Segunda Solo dessa vez foi com Romildo Soares. Ou deveria. Assim foi anunciado. Mas Romildo preferiu tomar algumas enquanto conversava com Nalva, encostado ao bar, e o poeta Iran desfiava sua voz e violão. Ótima apresentação. A música Cantor Brinquedo é excelente.
Os aplausos sempre vinham ao final de cada música. Os aplausos de quatro pessoas, aliado ao de Nalva, para engrossar o coro. Engraçado é que Iran contou a história da composição Cantor Brinquedo. Segundo ele, Cantor Brinquedo é aquele “produto” muito visto nos shoppings. Toca, toca, toca e ninguém o nota. É puro consumo alienado.
Apenas quatro pessoas para assistir Romildo Soares, ou Iran, ou mesmo o compositor Fábio Rocha, que deu uma canja, também. E mesmo com apenas quatro pessoas, Iran tocou como se para uma platéia lotada. Ali, ele não era um Cantor Brinquedo. Se eram apenas quatro, eram quatro pessoas atentas, entusiasmadas, mesmo que quietas.
Era talvez 20h40 quando desci a ladeira até a Ribeira. Fui após o trabalho. Sozinho, fui mais por curiosidade. O ambiente lúgubre, quase à meia luz do recinto de Nalva; a quietude demasiada da Ribeira à noite e a voz aguda de Iran elevaram-me a um estado de espírito suave. E pensei no que escreveu Schopenhauer. Para o filósofo alemão, a suspensão da dor da existência está na contemplação artística; a contemplação desinteressada das idéias.
Sentei-me junto à janela que dava para a Duque de Caxias. Pela janela, viam-se aqueles passantes da Ribeira. São característicos. Vasculham lixos. Andam como embriagados, seja do álcool, seja extasiado de solidão e fome. Mais ao longe, a igreja de Bom Jesus das Dores iluminada e vazia.
E ali dentro, eu, a música e alguns pensamentos vagos, em uma segunda-feira de mesmas estantes e mesmos retratos...
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