Numa passagem do texto Diferencie os Bifes, citei que autores de livros nem sempre são escritores. Mais das vezes são bons livros de crônicas, filosofia, produtos de aprofundadas pesquisas ou até bons romances, mas sem recursos literários que justifiquem a classificação de Escritor. E metaforizei com o exemplo de que cultura é diferente de arte.
Para minha grata surpresa, o gentil professor Raimundo Paulino envia-me um imeio com a afirmação de que usou o escrito na aula de produção de textos para seus alunos do 7º ano. Disse ainda ter gerado boa discussão o fato de eu ter afirmado que cultura é diferente de arte. “Os alunos ficaram um pouco confusos, mas no geral os mesmos gostaram muito da reflexão e acharam interessante o título”.
Pois bem, professor. Deixa então eu esclarecer melhor minha opinião, em breves palavras, para afastar as nuvens negras da dúvida. E desde já afirmo: está longe de ser verdade absoluta. Discutir conceitos de cultura é assunto complexo. Basta citar que a abstração é uma característica do que é cultura e simboliza tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo. E definir o que é arte é campo de searas demasiado subjetivas.
Mas vamos tentar: é certo que o ambiente exerce papel fundamental sobre as mudanças culturais. E também que o ambiente é mutável. Ou seja: a cultura sofre mudanças conforme a linha do tempo. Claro, essas mudanças acarretam resistência, saudável até, pois resulta em incorporações realmente proveitosas, de modo a preservar as tradições, mas adaptadas à modernidade. Em síntese mesmo, já que o conceito de cultura é um para a antropologia, outro para biologia, filosofia e assim vai, penso ter esclarecido um pouco mais minha opinião.
A arte, penso ser um pedaço disso tudo. E deve ser definida conforme o conceito de cultura a ser analisado, período histórico ou mesmo o indivíduo a que produz. No velho Aurélio, a definição diz mais ou menos isso: “atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação”.
Agora, façamos uma interligação entre esses dois conceitos no tempo-hoje, para afunilar mais e a definição ser mais plausível para discussão. Vivemos hoje, professor, em um sistema neoliberal e de devastadora difusão da comunicação. E poucas são as nações detentoras desse poder de influência. Após o advento da Indústria Cultural temos um cenário mais claro: o da cultura como forma alienadora de propagação ideológica e/ou produto de consumo.
Essa relação fundada no consumo rebaixa a verdadeira arte e ressalta a arte moldada e arquitetada para confeccionar modelos de vida ou de indivíduos. Pura manipulação, com o princípio de comercializar a arte, sem análise criteriosa de seu conteúdo. Como exemplo clássico, as produções cinematográficas de Hollywood, tão cheias de vazios e senso comum.
Acho que é isso, professor Paulino. Agradeço, com o sentimento da verdade das artes superiores, os elogios. E espero que quando afirma que meus textos o alimentam culturalmente, seja por uma arte qualquer, mas verdadeira. É o que tento passar, sempre. E essa talvez seja a verdadeira diferença entre cultura e arte: a verdade em cada fazer, em cada sensação, em cada produzir.
Olá, li seu texto e gostei muito. Não sei se a sua permissão chegará a tempo, mas gostaria de usá-lo para ajudar a definir arte e cultura em uma aula hoje, no Sesc Foz do Iguaçu, sobre Dramaturgia Contemporânia, em que a definição é o início da aula. Posso usá-lo?
ResponderExcluirAbraço!
Luiz Henrique Dias
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