Regresso de um fim de semana em Santa Rita e reafirmo: o verão é uma ilusão devastadora. De certo, a vida carece de ilusões. A realidade é demasiado dura e seria insuportável vivê-la sem dose alguma de sensações inebriantes, mesmo que passageiras e sazonais, como as do verão.
Em passeio calmo numa manhã de domingo, vejo as vítimas da felicidade onusta na beira-mar. Estacionam o carro com mala aberta para ecoar músicas tão efêmeras quanto a estação. Torram ao sol e deixam plásticos urbanos de bebedeiras e farofa na areia indefesa e pacata da praia.
A euforia das crianças dá gosto de ver. São treinadas pela sociedade a divertirem-se no verão – período também de férias. Daí, retiro-lhes a culpa. Infelizmente já não as vejo mais brincando com barcos de madeira. Na minha época eles eram bem arquitetados. O casco era achatado, largo como das jangadas. O mastro proporcional e o leme davam estabilidade à embarcação. Os nomes, lembro bem, eram um enceto à poesia e para o gosto das crianças com as coisas do mar: “Estrela D´agua”, “Cisne Dourado”...
Tenho medo, amigo leitor, do cometa que atravessa a nova ponte erguida sobre o Potengi. Se hoje os domingos, sobretudo, são esses cenários de vida banal à beira-mar, pior seria a expulsão dos banhistas para dar lugar aos que sequer sabem desfrutar e prestigiar tais belezas, mesmo que banhadas pelo perfume ilusório da estação veraneio.
De minha varanda, nada além do mar. Por isso digo que daquele posto sigo como vigia passivo de transformações carregadas do fenômeno progresso, indelével. E assisto tudo alheio às superficialidades do verão ou do frio corrosivo do inverno. Porque acredite, naquela praia-refúgio a vida passa devagar e tudo é cenário de ilusão.
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