Nada mais apropriada para o momento do que a letra traduzida da clássica La Boheme, do francês Charles Aznavour. A canção fala de uma época outra, saudosista, de lilases, como se de cores românticas a vida fosse pincelada. Se por estas bandas estamos no período do veranico e a alegria está espalhada aqui e ali, nas cores dos cajus ou do cristalino do mar, a música, ao final, lembra: “Isso não quer dizer absolutamente nada”.
E sabedor das efemeridades e dos acasos – as linhas tortas de Deus – sigo a passos lentos e cadenciados. Agora mesmo vou apreciar uma bebida qualquer em minha varanda de praia. Vou mirar o mesmo mar dos meus tempos mais alegres. Vigia que sou daquele quadrante, posso vir com novidades amanhã, mínimas que sejam, para preencher este espaço. E não pense o amigo leitor da boa vida deste blogueiro. Acredite, a folga é forçada e o espairecer é preciso. Os tempos são outros. Confusos, como tem de ser...
La Boheme
Eu o falo de um tempo
Que os menos de vinte anos
Não possam saberMontmartre naquele tempo
Pendurava suas lilás
Até sob nossas janelas
E se o humilde mobiliado (quarto)
Que nos serviu de ninho
Não pagava uma mina
É lá que a gente se conheceu
Eu que chorava miséria
E você que posava nua
A boêmia, a boemia,
Isso queria dizer: a gente é feliz
A boêmia, a boemia,
Nós só comíamos um dia em dois
Nos cafés vizinhos
Nós éramos alguns
Que esperávamos a glória
E apesar da miséria
Com o estômago oco
Nós não deixamos de acreditar
E quando alguma taverna
Contra uma boa comida quente
Nos levava uma tela
Nós recitamos versos
Juntos ao redor do aquecedor
Esquecendo do inverno
A boemia, a boemia
Isso queria dizer: você é bonita
A boemia, a boemia
E nós tivemos tudo do gênio
Freqüentemente me acontecia
Diante do meu cavalete
Passar noites brancas
Retocando o desenho
Da linha de um peito
Da curva de um quadril
E isto só pela manhã
A gente se sentava finalmente
Antes de um café com creme
Esgotados mas deliciados
É preciso que a gente se ame
E que a gente ame a vida
A boemia, a boemia
Isso significava dizer que se tem vinte anos
A boemia, a boemia
E nós vivíamos do ar do tempo
Quando ao acaso de dias
Eu vou dar uma volta
Ao meu antigo endereço
Eu não reconheço mais
Nem paredes, nem ruas
Que viu minha mocidade
Do alto de um escadaria
Eu procuro o atelier
Do qual mais nada sobrevive
Da sua nova decoração
Montmartre sempre triste
E as lilás morreram
A boemia, a boemia
A gente era jovem, a gente era louco
A boemia, a boemia
Isso não quer dizer absolutamente nada
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