Quase um ano e meio de política cultural praticada (?) pelo governo estadual e eu pergunto ao amigo leitor: qual a grande obra, a vetusta idéia ou a maior marca desta gestão nesse período? Melhor (ou pior?): o dinheiro público para o segmento financiou quais projetos?
De certo alguns programas ou incentivos serão lembrados: a programação do Dia da Poesia, o Dia do Teatro, o Dia do Folclore, oficinas e encontros para encher o Açude Itans. Ou mesmo a manutenção do que já existia e a repetição de medidas adotadas há alguns anos, como o Projeto Seis e Meia e a renúncia fiscal para projetos encabeçados pela Lei Câmara Cascudo.
Nada de novo no fronte. Quando passo pela Cidade da Criança, a alegria que tenho parte das recordações infantis. Um espaço raro de beleza, imenso e mal aproveitado. Ainda recebeu reforma durante a gestão do escritor François Silvestre. Depois, caiu no esquecimento.
Outro triste retrato: recebo por imeiu um livro inédito (comentarei depois) do escritor e jornalista Franklin Jorge – um dos maiores talentos literários da nossa terra. Ele continua – e não é de hoje, vale a ressalva – a espera de uma editora ou um incentivo para publicar dezenas de outros escritos já prontos.
A doação do terreno do patrimônio histórico da Rampa pela Marinha foi outro fiasco. Lá se vai uma parte da nossa história. Como em ruínas também está o Museu Nilo Pereira, em Ceará-Mirim – prédio ainda bonito e que um dia abrigou o primeiro presidente da Província. Está jogado às traças e morcegos.
Larguei a notícia em meu blog, apenas como hipótese provável, de que o fim do Projeto Seis e Meia estava prestes a fechar as cortinas e a mídia local correu atrás dos fatos. Tudo comprovado. Artistas sem receber cachê; o produtor Willian Collier desestimulado e acusando a burocracia da Fundação José Augusto em liberar recursos para o Projeto.
O Seis e Meia voltou. E com um diferencial bacana: alunos de escolas serão convidados e com entrada gratuita. Bravo! Tudo conseguido com a intervenção da governadora quando soube da ameaça do fim do projeto. Mas lembro bem que o Seis e Meia se mantinha com patrocínio privado e vivia com casa cheia. Não com dinheiro público e cadeiras vazias.
Após um ano e quatro meses, a revista Preá renascerá em data festiva dos 40 anos da Fundação. O tempo de espera já seria uma crítica. A assessora da FJA e nova editora da revista, a competente Mary Land Brito ligou para este blogueiro perguntando quanto deveria pagar por lauda a um jornalista colaborador da revista. O presidente da FJA, Crispiniano Neto disse-me que exonerou o antigo editor Tácito Costa para enxugar os custos. No final, a revista sairá mais cara do que a encomenda, aposto.
Em sua coluna Bazar, o jornalista Alex de Souza comenta outros gastos ridículos e publicados no Diário Oficial, efetuados pela FJA. Não bastasse a burocracia na liberação de recursos, os que saem recebem má destinação. Já comentei aqui da espera humilhante dos diretores do filme Mariposa Blanca – produção potiguar! – na ante-sala da Governadoria em conseguir recursos para finalizar o longa.
O projeto DenCidade foi uma idéia muitíssimo bacana de um grupo de artistas visuais para incentivar a arte no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, na ZN. A maioria dos artistas participantes elogiou o projeto pelos resultados conseguidos. Mas houve reclamações. E advinha de quê: falta de incentivo governamental. Segundo Alex, a grana – R$ 32 mil – foi liberada depois de 10 dias do término do projeto. Parece brincadeira.
Como petista, amante do cordel e entusiasta da cultura mossoroense, vibrei com a escolha de Crispiniano como titular da FJA. É, antes de tudo, um cara honesto. Mas a desculpa dada durante o ano passado inteiro de que tem arrumado a “casa” já soa ridícula. Mais três meses de gestão e nada. Melhor por uma faxineira para arrumar os ditames da coisa do que um cordelista, então.
sexta-feira, 28 de março de 2008
quarta-feira, 26 de março de 2008
As mulheres de hoje e amanhã
Recebo imeiu com a notícia de que cerca de 80% das mulheres preferem o Cialis. Aos desinformados, esse medicamento com nome de cidade indiana corrige disfunções eréteis dos homens. O surpreendente não foram os dados do estudo, mas o foco deste. Ora, até então as pesquisas concentravam-se nas opiniões masculinas. Esse é mais um indício de que neste novo milênio o céu vai ficar rosa.
Cada vez mais me convenço de que o mundo caminha para uma dominação completa das mulheres. E não precisa aprofundar a questão. O argumento é simples. Basta olhar pra trás e ver que elas não pararam de “evoluir”. No sentido, claro, da conquista de espaços. Aliás, a bandeira levantada pela “igualdade entre os sexos” é uma estratégia de tomada de golpe. É só esperar.
Estou convencido de que há uma revolução silenciosa por trás destas passeatas pacíficas feministas. Verdadeiras concentrações e reuniões clandestinas devem estar sendo tramadas em porões e esconderijos secretos por trás de salões de beleza e cosméticos. Desconfie, amigO leitor, quando sua digníssima marcar um chá da tarde com as amigas ou sair para malhar na academia.
“Regime” para as mulheres de hoje, ganhou a conotação da disciplina hierárquica na organização revolucionária, pode apostar. Se falarem em “Celulite” ao telefone, acredite: são palavras de um código secreto para identificar as células da rebelião. Observem que na Argentina a morada presidencial já é rosada. Coisa de Eva Perón, que se fez de vítima. Enquanto pedia para os cabeludos não chorarem por ela, dava a primeira pincelada de tinta na Casa.
Nos Estados Unidos, uma secretária mamou na onça e abalou a imagem do homem mais poderoso do mundo. Agora, a mulher dele, Hillary, pleiteia o cargo. Tudo armação, estratégia dessa gente perigosa, amável, cheirosa e de sexto sentido! Em breve a Casa Branca, que já parece um bolo de noiva, estará pintada de rosa, também. Já imagino a Madonna como próxima secretária de Estado americano.
Enquanto isso, na batcaverna, o maridão especializa-se em jogar futebol, trocar pneu de carro, consertar a torneira de casa e tomar Cialis. Santa ignorância, Batman! Já a Mulher Maravilha trabalha para conseguir proteções social, moral e jurídica - requisitos fundamentais para a dominação do mundo. Até zombam dos cineastas americanos alienados quando assistem filmes de ficção científica, cheios de criaturas horrendas em discos voadores em busca do Independence Day. Ora, bastam mais alguns anos e um 8 de março para o Dia acontecer!
Cada vez mais me convenço de que o mundo caminha para uma dominação completa das mulheres. E não precisa aprofundar a questão. O argumento é simples. Basta olhar pra trás e ver que elas não pararam de “evoluir”. No sentido, claro, da conquista de espaços. Aliás, a bandeira levantada pela “igualdade entre os sexos” é uma estratégia de tomada de golpe. É só esperar.
Estou convencido de que há uma revolução silenciosa por trás destas passeatas pacíficas feministas. Verdadeiras concentrações e reuniões clandestinas devem estar sendo tramadas em porões e esconderijos secretos por trás de salões de beleza e cosméticos. Desconfie, amigO leitor, quando sua digníssima marcar um chá da tarde com as amigas ou sair para malhar na academia.
“Regime” para as mulheres de hoje, ganhou a conotação da disciplina hierárquica na organização revolucionária, pode apostar. Se falarem em “Celulite” ao telefone, acredite: são palavras de um código secreto para identificar as células da rebelião. Observem que na Argentina a morada presidencial já é rosada. Coisa de Eva Perón, que se fez de vítima. Enquanto pedia para os cabeludos não chorarem por ela, dava a primeira pincelada de tinta na Casa.
Nos Estados Unidos, uma secretária mamou na onça e abalou a imagem do homem mais poderoso do mundo. Agora, a mulher dele, Hillary, pleiteia o cargo. Tudo armação, estratégia dessa gente perigosa, amável, cheirosa e de sexto sentido! Em breve a Casa Branca, que já parece um bolo de noiva, estará pintada de rosa, também. Já imagino a Madonna como próxima secretária de Estado americano.
Enquanto isso, na batcaverna, o maridão especializa-se em jogar futebol, trocar pneu de carro, consertar a torneira de casa e tomar Cialis. Santa ignorância, Batman! Já a Mulher Maravilha trabalha para conseguir proteções social, moral e jurídica - requisitos fundamentais para a dominação do mundo. Até zombam dos cineastas americanos alienados quando assistem filmes de ficção científica, cheios de criaturas horrendas em discos voadores em busca do Independence Day. Ora, bastam mais alguns anos e um 8 de março para o Dia acontecer!
quinta-feira, 20 de março de 2008
Observações banais
TEMPO
Os tempos andam meio doidos. Quando cito “tempo”, não é a época ou o presente, mas o clima. Claro, é inverno e começaram as chuvas. Tudo óbvio. Mas poucas vezes, se é que me lembro de outra, assisti a mudança de estação tão nitidamente; tão delimitada. Há três dias, um calor insuportável. A imprensa encheu o noticiário com matérias a respeito. Falava-se de uma cortina de calor devido aos prédios e à evolução natural da cidade - é sempre assim, as tendências apontam para o pior. Depois, chuvas e frio, como se o céu também estivesse cansado de tanto suor.
FILOSOFIA
Desde o início de março estão sendo ministradas palestras gratuitas de filosofia. Chamam de Curso de Filosofia à Maneira Clássica. A organização é de uma tal Nova Acrópole. O subtítulo é diz: “Para quem acredita que pode mudar o mundo mudando a si mesmo”. Pouco original, o leitor há de concordar. Mas as temáticas são interessantes. Vão desde a Odisséia de Homero ao simbolismo das Musas. A bronca é o horário e dia: todo sábado, às 18h. A próxima palestra é pós-Semana Santa (29) e traz o tema: Quem foi Giordano Bruno? A palestra é ministrada na sede da Nova Acrópole, na Prudente de Morais, 648, Tirol, próximo à Sorveteria Tropical.
CRÔNICA
Uma dica de leitura bacana é a crônica escrita por Nelson Patriota no blog http://www.substantivoplural.com.br/ O site é administrado pelo jornalista Tácito Costa e Nelson é um dos colaboradores. O assunto é gostosíssimo, como devem ser as boas crônicas. Trata da figura emblemática de Osório Almeida – personagem folclórico da Cidade Alta. Diria que o último dos comunistas potiguares. Usa até boina verde oliva, da linha chinesa. Geralmente um broche com a estampa de Lênin, também. Além, claro, de uma pesada pasta preta – o seu comércio ambulante. Osório é na verdade poeta, pintor e jornalista. Vende sua obra nas ruas. Na crônica de Nelson, ele cita ainda o pioneiro José Airton, o popular Risadinha, do qual escrevi semanas atrás sobre ele, quando o vi no Centro com uma pilha de livros seus à venda. Risadinha foi pioneiro no assunto, como atesta Nelson. É bom citar também o poeta Volunté, outro antigo no ofício.
SCORSESE
Alguém me ajude a encontrar graça no filme Novo Mundo, do prestigiado diretor Martin Scorsese. Assisti ontem e não “pesquei” nada de valia. Filme sem originalidade, com atuações pífias, sem contextualização ou pelo menos uma fotografia bacana para amenizar a porcaria produzida. Não é de hoje minha birra com o diretor. Nunca vi nada de genial dirigido por ele. Nem mesmo Os Infiltrados me agradou. O Aviador, Cassino ou Os Bons Companheiros, estão no mesmo bojo. Besta sou eu que ainda vou atrás de alguma coisa. Por outro lado, cada vez admiro mais a obra de David Lynch. O cara é genial em quase tudo que faz. O Homem Elefante é um primor. O Clube da Luta é um soco na cara da hipocrisia alheia e um retrato fiel dos novos tempos.
IMPRENSA
Li uma crítica no blog de Ailton Medeiros quanto à cobertura política tendenciosa do O Jornal de Hoje pró Rogério Marinho. Realmente fica tão evidente que o tiro pode sair pela culatra. O jornal perde sua credibilidade e a candidatura do deputado também. Mas isso é só o começo. O Jornal de Hoje apenas saiu na frente. Em breve, a imprensa em geral tomará seus partidos. Bastam as alianças político-partidárias definirem seus caminhos para os jornais, rádios e TVs escolherem também. Alguns, já se sabe de antemão. E com a maior proximidade do período eleitoral, a coisa esquenta. Não é de hoje a dependência das empresas controladoras dos veículos de imprensa aos recursos do governo. Não tem saída. Cada um que se agarre com o seu.
Os tempos andam meio doidos. Quando cito “tempo”, não é a época ou o presente, mas o clima. Claro, é inverno e começaram as chuvas. Tudo óbvio. Mas poucas vezes, se é que me lembro de outra, assisti a mudança de estação tão nitidamente; tão delimitada. Há três dias, um calor insuportável. A imprensa encheu o noticiário com matérias a respeito. Falava-se de uma cortina de calor devido aos prédios e à evolução natural da cidade - é sempre assim, as tendências apontam para o pior. Depois, chuvas e frio, como se o céu também estivesse cansado de tanto suor.
FILOSOFIA
Desde o início de março estão sendo ministradas palestras gratuitas de filosofia. Chamam de Curso de Filosofia à Maneira Clássica. A organização é de uma tal Nova Acrópole. O subtítulo é diz: “Para quem acredita que pode mudar o mundo mudando a si mesmo”. Pouco original, o leitor há de concordar. Mas as temáticas são interessantes. Vão desde a Odisséia de Homero ao simbolismo das Musas. A bronca é o horário e dia: todo sábado, às 18h. A próxima palestra é pós-Semana Santa (29) e traz o tema: Quem foi Giordano Bruno? A palestra é ministrada na sede da Nova Acrópole, na Prudente de Morais, 648, Tirol, próximo à Sorveteria Tropical.
CRÔNICA
Uma dica de leitura bacana é a crônica escrita por Nelson Patriota no blog http://www.substantivoplural.com.br/ O site é administrado pelo jornalista Tácito Costa e Nelson é um dos colaboradores. O assunto é gostosíssimo, como devem ser as boas crônicas. Trata da figura emblemática de Osório Almeida – personagem folclórico da Cidade Alta. Diria que o último dos comunistas potiguares. Usa até boina verde oliva, da linha chinesa. Geralmente um broche com a estampa de Lênin, também. Além, claro, de uma pesada pasta preta – o seu comércio ambulante. Osório é na verdade poeta, pintor e jornalista. Vende sua obra nas ruas. Na crônica de Nelson, ele cita ainda o pioneiro José Airton, o popular Risadinha, do qual escrevi semanas atrás sobre ele, quando o vi no Centro com uma pilha de livros seus à venda. Risadinha foi pioneiro no assunto, como atesta Nelson. É bom citar também o poeta Volunté, outro antigo no ofício.
SCORSESE
Alguém me ajude a encontrar graça no filme Novo Mundo, do prestigiado diretor Martin Scorsese. Assisti ontem e não “pesquei” nada de valia. Filme sem originalidade, com atuações pífias, sem contextualização ou pelo menos uma fotografia bacana para amenizar a porcaria produzida. Não é de hoje minha birra com o diretor. Nunca vi nada de genial dirigido por ele. Nem mesmo Os Infiltrados me agradou. O Aviador, Cassino ou Os Bons Companheiros, estão no mesmo bojo. Besta sou eu que ainda vou atrás de alguma coisa. Por outro lado, cada vez admiro mais a obra de David Lynch. O cara é genial em quase tudo que faz. O Homem Elefante é um primor. O Clube da Luta é um soco na cara da hipocrisia alheia e um retrato fiel dos novos tempos.
IMPRENSA
Li uma crítica no blog de Ailton Medeiros quanto à cobertura política tendenciosa do O Jornal de Hoje pró Rogério Marinho. Realmente fica tão evidente que o tiro pode sair pela culatra. O jornal perde sua credibilidade e a candidatura do deputado também. Mas isso é só o começo. O Jornal de Hoje apenas saiu na frente. Em breve, a imprensa em geral tomará seus partidos. Bastam as alianças político-partidárias definirem seus caminhos para os jornais, rádios e TVs escolherem também. Alguns, já se sabe de antemão. E com a maior proximidade do período eleitoral, a coisa esquenta. Não é de hoje a dependência das empresas controladoras dos veículos de imprensa aos recursos do governo. Não tem saída. Cada um que se agarre com o seu.
terça-feira, 18 de março de 2008
Quando poderia ter sido...
De certo, a leitora Bella cruzou com a poesia de Bandeira e nunca mais esqueceu: “A vida que poderia ter sido e não foi...”. No texto passado expus alguns dos meus desejos. Talvez por isso, e como se este escrivinhador angariasse uma lasca daquilo tudo, a leitora perguntou: “E o que você foi e não é mais?”. Pois digo:
A saudade é de pedra, amiga leitora. O passado é mesmo aquela velha roupa colorida de Belchior. As lembranças do ontem, mesmo em preto e branca, parecem mais alegres, como o verão. É que a vida é um eterno recomeço. O desejo, as vontades, são mutantes esfomeados. E confesso: nunca procurei saciá-los em sua plenitude. Daí talvez uma vida desventurada, perfumada pelas frustrações.
Kierkegaard dizia que um amante seria capaz de falar sobre sua amada dias a fio sem se cansar. Pois assim carrego a vida. Gosto do observar. Analiso cenas cotidianas e comportamentos. É um ofício costumeiro incorporado à minha rotina de minutos congelados. Talvez daí tanta melancolia. Por isso, reafirmo: desde sempre sou este inseto kafkiano cheio de culpas e traumas. Se algo de mim foi apanhado pelos braços seguros do passado, foi a mania de sonhar.
E viver é melhor que sonhar. Não nego a necessidade das ilusões. Elas são urgentes para aliviar a tensão da rotina. Mas a mania de sonhar é perigosa. A ilusão é uma astuta espiã dos segredos da alma. Capta seus desejos mais sublimes para aprisionar a existência no cárcere das vontades impossíveis. E sou um ex-apenado. Detenho o crime de alimentar ilusões de uma vida de aventuras e glórias.
Para ser claro: fui um sonhador. Talvez por isso, as recordações de um passado colorido. Os chãos duros da realidade presente são sempre mais dolorosos. É que a saudade guarda nostalgias gostosas, mesmo com o amargo das lembranças de nunca mais. É certo que recordar cenas do ontem também é deixar-se iludir. Mas a saudade é diferente dos desejos materialistas que aprisionam o caminhar natural nas celas da ambição ou da ânsia frustrante. Na saudade há a dor, da ausência ou da presença. E a dor, amiga leitora, protege a alma da simples ilusão.
Se descrevi o que fui, Bella, concluo com o que sou: apenas aquele vizinho do outro quarteirão. Um morador antigo de uma mesma esquina. Sou aquele que observa calado e coleciona auroras. Já sonhei com aquelas cenas de novela e até ensaiei derrubar os livros da garota bonita. Mas sou mesmo aquele que passa ao lado e grava o instante para imaginar depois o romance de uma vida ladeada pela moldura do amor sublime. Ora, e pra que negar: o que seria isso se não o sonho de uma vida de aventuras?
A saudade é de pedra, amiga leitora. O passado é mesmo aquela velha roupa colorida de Belchior. As lembranças do ontem, mesmo em preto e branca, parecem mais alegres, como o verão. É que a vida é um eterno recomeço. O desejo, as vontades, são mutantes esfomeados. E confesso: nunca procurei saciá-los em sua plenitude. Daí talvez uma vida desventurada, perfumada pelas frustrações.
Kierkegaard dizia que um amante seria capaz de falar sobre sua amada dias a fio sem se cansar. Pois assim carrego a vida. Gosto do observar. Analiso cenas cotidianas e comportamentos. É um ofício costumeiro incorporado à minha rotina de minutos congelados. Talvez daí tanta melancolia. Por isso, reafirmo: desde sempre sou este inseto kafkiano cheio de culpas e traumas. Se algo de mim foi apanhado pelos braços seguros do passado, foi a mania de sonhar.
E viver é melhor que sonhar. Não nego a necessidade das ilusões. Elas são urgentes para aliviar a tensão da rotina. Mas a mania de sonhar é perigosa. A ilusão é uma astuta espiã dos segredos da alma. Capta seus desejos mais sublimes para aprisionar a existência no cárcere das vontades impossíveis. E sou um ex-apenado. Detenho o crime de alimentar ilusões de uma vida de aventuras e glórias.
Para ser claro: fui um sonhador. Talvez por isso, as recordações de um passado colorido. Os chãos duros da realidade presente são sempre mais dolorosos. É que a saudade guarda nostalgias gostosas, mesmo com o amargo das lembranças de nunca mais. É certo que recordar cenas do ontem também é deixar-se iludir. Mas a saudade é diferente dos desejos materialistas que aprisionam o caminhar natural nas celas da ambição ou da ânsia frustrante. Na saudade há a dor, da ausência ou da presença. E a dor, amiga leitora, protege a alma da simples ilusão.
Se descrevi o que fui, Bella, concluo com o que sou: apenas aquele vizinho do outro quarteirão. Um morador antigo de uma mesma esquina. Sou aquele que observa calado e coleciona auroras. Já sonhei com aquelas cenas de novela e até ensaiei derrubar os livros da garota bonita. Mas sou mesmo aquele que passa ao lado e grava o instante para imaginar depois o romance de uma vida ladeada pela moldura do amor sublime. Ora, e pra que negar: o que seria isso se não o sonho de uma vida de aventuras?
domingo, 16 de março de 2008
A Vida dos Outros
Não me empolguei com o vencedor do Oscar 2007 como melhor filme estrangeiro, A Vida dos Outros e classificado no topo de muitas listas de melhor filme do ano passado. Um bom filme, aquém dos últimos premiados do Oscar ou mesmo de outros estrangeiros como a produção brasileira O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias.
Vale o preço do ingresso. É um ótimo filme. Sem conhecer a sinopse, fui ao cinema a espera de qualquer coisa. E com a expectativa lá em cima. Não só pelas premiações e o comentário do jornalista Tácito Costa, um cinéfilo inveterado. A motivação partiu, principalmente, dos últimos filmes exibidos no Cinecult.
Temi quando já nas primeiras cenas percebi mais um filme com abordagem sobre a ditadura ou regimes ideológicos, como o exemplo do concorrente brasileiro. E que nem indicado foi. Como o filme brasileiro, A Vida dos Outros também conseguiu uma abordagem criativa. Traz uma temática muito humana, sem maniqueísmos.
O filme começa na Berlim oriental de 1984, sob a égide do regime socialista. O centro da trama não são os vigiados do regime comunista alemão, mas os vigias. Um deles, cismado, decide desmascarar um dramaturgo cujas peças exaltam o regime comunista. À medida que o dramaturgo tem sua vida monitorada, o vigia incorpora muito do vigiado. Seu talento, caráter e seu amor por uma atriz. E decide acobertar as tramas do dramaturgo contra o regime e proteger, também, o amor entre ele e a atriz.
Essa posição de voyeur em que o diretor Florian Henckel coloca o expectador, ao deixar o vigia monitorar toda a vida do dramaturgo é um primor do filme. É uma forma de o expectador incorporar a visão do agente de repressão, do carrasco, do espião. É assim do início ao meio do filme. Depois a coisa puxa pro senso comum. Foi o grande defeito da obra, na minha opinião.
Tudo no filme é muito enxuto e ainda assim explicativo. Um roteiro muito bem encadeado. E com passagens excelentes, como quando o vigia, por intermédio de escutas clandestinas, ouve o dramaturgo tocar no piano uma Sonata Para um Homem Bom, e se emociona. O dramaturgo ainda diz algo assim: “Quem escuta essa música. Quem realmente sabe escutar, não pode ser uma pessoa má”.
Na hora me veio uma comparação meio idiota com um depoimento que colhi de Matilde Pinto Galvão, uma das quatro natalenses presas no golpe militar de 1964 aqui no Estado. Ela disse que os policiais da época eram tão estúpidos e broncos que não adiantava argumentar dos livros de poesia e romances apreendidos pelo conteúdo subversivo porque eles não entendiam. No filme, o agente alemão se emocionava com a música erudita.
É um filme para se alugar. O último dia em exibição foi hoje. Desculpe o amigo leitor pela dica atrasada. Mas fica a sugestão de uma ida freqüente às exibições do Cinema Cult, todo dia às 15h. É um filme por semana. Semana passada saí maravilhado com o mais novo documentário de Eduardo Coutinho, Jogo de Cena.
Outra “sugesta” bacana são os filmes escolhidos pela rapaziada do Cineclube. A programação é quinzenal e ao preço de R$ 2, sempre às 17h e com exibição no Teatro de Cultura Popular, anexo à Fundação José Augusto. Semana retrasada assisti Árido Movie. É difícil entender a ausência de público. É o tipo programa bom e barato. Não tinham 15 pessoas no TCP. Não sei qual filme foi selecionado para hoje. Teria que escolher entre os dois e minha motivação para a produção alemã me puxou. Mas para o próximo estarei lá. É isso.
Vale o preço do ingresso. É um ótimo filme. Sem conhecer a sinopse, fui ao cinema a espera de qualquer coisa. E com a expectativa lá em cima. Não só pelas premiações e o comentário do jornalista Tácito Costa, um cinéfilo inveterado. A motivação partiu, principalmente, dos últimos filmes exibidos no Cinecult.
Temi quando já nas primeiras cenas percebi mais um filme com abordagem sobre a ditadura ou regimes ideológicos, como o exemplo do concorrente brasileiro. E que nem indicado foi. Como o filme brasileiro, A Vida dos Outros também conseguiu uma abordagem criativa. Traz uma temática muito humana, sem maniqueísmos.
O filme começa na Berlim oriental de 1984, sob a égide do regime socialista. O centro da trama não são os vigiados do regime comunista alemão, mas os vigias. Um deles, cismado, decide desmascarar um dramaturgo cujas peças exaltam o regime comunista. À medida que o dramaturgo tem sua vida monitorada, o vigia incorpora muito do vigiado. Seu talento, caráter e seu amor por uma atriz. E decide acobertar as tramas do dramaturgo contra o regime e proteger, também, o amor entre ele e a atriz.
Essa posição de voyeur em que o diretor Florian Henckel coloca o expectador, ao deixar o vigia monitorar toda a vida do dramaturgo é um primor do filme. É uma forma de o expectador incorporar a visão do agente de repressão, do carrasco, do espião. É assim do início ao meio do filme. Depois a coisa puxa pro senso comum. Foi o grande defeito da obra, na minha opinião.
Tudo no filme é muito enxuto e ainda assim explicativo. Um roteiro muito bem encadeado. E com passagens excelentes, como quando o vigia, por intermédio de escutas clandestinas, ouve o dramaturgo tocar no piano uma Sonata Para um Homem Bom, e se emociona. O dramaturgo ainda diz algo assim: “Quem escuta essa música. Quem realmente sabe escutar, não pode ser uma pessoa má”.
Na hora me veio uma comparação meio idiota com um depoimento que colhi de Matilde Pinto Galvão, uma das quatro natalenses presas no golpe militar de 1964 aqui no Estado. Ela disse que os policiais da época eram tão estúpidos e broncos que não adiantava argumentar dos livros de poesia e romances apreendidos pelo conteúdo subversivo porque eles não entendiam. No filme, o agente alemão se emocionava com a música erudita.
É um filme para se alugar. O último dia em exibição foi hoje. Desculpe o amigo leitor pela dica atrasada. Mas fica a sugestão de uma ida freqüente às exibições do Cinema Cult, todo dia às 15h. É um filme por semana. Semana passada saí maravilhado com o mais novo documentário de Eduardo Coutinho, Jogo de Cena.
Outra “sugesta” bacana são os filmes escolhidos pela rapaziada do Cineclube. A programação é quinzenal e ao preço de R$ 2, sempre às 17h e com exibição no Teatro de Cultura Popular, anexo à Fundação José Augusto. Semana retrasada assisti Árido Movie. É difícil entender a ausência de público. É o tipo programa bom e barato. Não tinham 15 pessoas no TCP. Não sei qual filme foi selecionado para hoje. Teria que escolher entre os dois e minha motivação para a produção alemã me puxou. Mas para o próximo estarei lá. É isso.
quinta-feira, 13 de março de 2008
Notícia boa!
Depois de andar na corda bamba, o Projeto Seis e Meia retoma a temporada de apresentações esta terça-feira com uma novidade quente e agradabilíssima ao bolso do cidadão de bom gosto: o valor do ingresso baixou pela metade. O governo, através da Fundação José Augusto, resolveu arcar com os custos. Com isso, a entrada inteira fica dez mangos e a meia, passa para cinco reais.
É evidente: quem ganha é o público. Menos grana, shows de ótima qualidade, sem necessariamente estar na mídia ou no círculo comercial, etc. Mas lembremos: houve época em que o Projeto era sustentado pela iniciativa privada. E os patrocinadores conseguiam, em média, nada menos que R$ 27 mil. E a Casa lotava quase sempre. O Seis e Meia fechou o ano devendo até a alma que não tem. Quando o Teatro lotava, a renda girava em torno de R$ 2 mil.
Ou seja: não é a medida mais inteligente. Governo arcando com custos, quer dizer dinheiro público investido. Claro, para uma ação de benefício ao mesmo público. Mas dinheiro privado seria bem mais inteligente e menos dispendioso. E duvido que faltem empresas interessadas em patrocinar um Projeto de credibilidade. Se houver dificuldade – possa ser que haja – a culpa é da própria FJA. Por culpa dela o Seis e Meia começou a definhar.
Nesta terça o show será com Moraes Moreira. A atração local será o bom Galvão Filho. E uma novidade bacana – merecedora de todos os elogios – é que 10% dos ingressos serão repassados para escolas públicas. A FJA vai sortear as entradas entre as 40 escolas participantes de uma reunião aberta com a entidade para tratar da Caravana da Poesia. É isso. Que abram as cortinas!
É evidente: quem ganha é o público. Menos grana, shows de ótima qualidade, sem necessariamente estar na mídia ou no círculo comercial, etc. Mas lembremos: houve época em que o Projeto era sustentado pela iniciativa privada. E os patrocinadores conseguiam, em média, nada menos que R$ 27 mil. E a Casa lotava quase sempre. O Seis e Meia fechou o ano devendo até a alma que não tem. Quando o Teatro lotava, a renda girava em torno de R$ 2 mil.
Ou seja: não é a medida mais inteligente. Governo arcando com custos, quer dizer dinheiro público investido. Claro, para uma ação de benefício ao mesmo público. Mas dinheiro privado seria bem mais inteligente e menos dispendioso. E duvido que faltem empresas interessadas em patrocinar um Projeto de credibilidade. Se houver dificuldade – possa ser que haja – a culpa é da própria FJA. Por culpa dela o Seis e Meia começou a definhar.
Nesta terça o show será com Moraes Moreira. A atração local será o bom Galvão Filho. E uma novidade bacana – merecedora de todos os elogios – é que 10% dos ingressos serão repassados para escolas públicas. A FJA vai sortear as entradas entre as 40 escolas participantes de uma reunião aberta com a entidade para tratar da Caravana da Poesia. É isso. Que abram as cortinas!
terça-feira, 11 de março de 2008
Do governo e a cultura
Passaram-se mais de uma hora de espera. Eu estava na ante-sala da Governadoria a espera de duas frases – exatamente isso – da nossa chefe do executivo Wilma de Faria. Uma opinião a respeito da famigerada e imunda Lagoa dos Potiguares, em Morro Branco. Uma reclamação da comunidade há mais de 18 anos e sem solução até hoje.
Quando cheguei às 16h em ponto, lá já estavam o artista plástico Guaraci Gabriel e o diretor Geraldo Cavalcanti. Queriam dois minutos de conversa com o chefe do Gabinete Civil do governo, Wober Júnior. Ou o tempo necessário para reiterar a promessa de duas passagens para ambos irem a Cuba e concluírem um documentário – ou docu-drama, como falaram – filmado na Ilha de Raul.
O documentário chama-se Mariposa Blanca. Pelo que me contaram ficará uma maravilha. E vejam: dois potiguares à frente de um projeto tão bacana. Uma oportunidade a mais para incentivar o cinema produzido na terrinha. Eles já têm 26 horas filmadas. Depoimentos fantásticos e raros. Bastou um simples perguntar do porquê de eles estarem ali tanto tempo esperando e o entusiasmo tomou conta para contar de seu projeto.
Lembrei do livro As Alças de Agave, do escritor François Silvestre. Nele, é contado como o atual governo – e mais ainda os anteriores – tratam a cultura: com mendicância. Poxa, uma produção original, potiguar (com co-produção cubana), com dois diretores gabaritados e entusiasmados e é preciso essa humilhação da espera, da súplica. Guaraci estava para desistir tamanha a demora e sem nenhuma satisfação dada.
Eis que, após uma hora, os repórteres são chamados para esperar em outra sala: a de Wober Júnior. Para minha surpresa, o chefe do Gabinete olhava algo sem importância em seu laptop. Pelo menos deixou transparecer já que ouvia toda a conversa dos jornalistas e seus salários ridículos e por vezes se intrometia. Enquanto isso, Guaraci e Gabriel a espera do pão, porque o circo já se sabe onde está.
PONTOS DE CULTURA
Outro assunto não poderia deixar de comentar hoje. Foi publicado hoje no Diário Oficial da União um convênio entre o Ministério da Cultura e a Fundação José Augusto para abertura de 53 novos Pontos de Cultura no Rio Grande do Norte. 23 destes Pontos serão instalados nas 22 casas de Cultura que estão em pleno funcionamento e na Casa de Cultura de Goianinha que está sendo construída. Os outros 30 Pontos serão escolhidos através de edital aberto para todo o Estado, anunciado em breve pela FJA.
É um investimento de R$ 8,3 milhões. A contrapartida da FJA é de R$ 1,8 milhões. Cada ponto de Cultura recebe anualmente R$ 60 mil para serem investidos em sua manutenção e projetos durante três anos.
Esse pode ser o único investimento de peso do Governo do Estado destinado à cultura popular até o momento. Um Ponto de Cultura é um importante apoio para que agentes culturais desenvolvam atividades em suas comunidades. Ele não tem um modelo de instalação física, programação ou atividade. É mais dinâmica, digamos assim, que as Casas de Cultura. Significa um modelo de gestão compartilhada entre o poder publico e a comunidade. E aí é onde mora o medo. Basta lembrar das Casas de Cultura: uma idéia genial de François Silvestre, mas sem o apoio das prefeituras, da comunidade e, principalmente, do Governo, nada funciona.
Quando cheguei às 16h em ponto, lá já estavam o artista plástico Guaraci Gabriel e o diretor Geraldo Cavalcanti. Queriam dois minutos de conversa com o chefe do Gabinete Civil do governo, Wober Júnior. Ou o tempo necessário para reiterar a promessa de duas passagens para ambos irem a Cuba e concluírem um documentário – ou docu-drama, como falaram – filmado na Ilha de Raul.
O documentário chama-se Mariposa Blanca. Pelo que me contaram ficará uma maravilha. E vejam: dois potiguares à frente de um projeto tão bacana. Uma oportunidade a mais para incentivar o cinema produzido na terrinha. Eles já têm 26 horas filmadas. Depoimentos fantásticos e raros. Bastou um simples perguntar do porquê de eles estarem ali tanto tempo esperando e o entusiasmo tomou conta para contar de seu projeto.
Lembrei do livro As Alças de Agave, do escritor François Silvestre. Nele, é contado como o atual governo – e mais ainda os anteriores – tratam a cultura: com mendicância. Poxa, uma produção original, potiguar (com co-produção cubana), com dois diretores gabaritados e entusiasmados e é preciso essa humilhação da espera, da súplica. Guaraci estava para desistir tamanha a demora e sem nenhuma satisfação dada.
Eis que, após uma hora, os repórteres são chamados para esperar em outra sala: a de Wober Júnior. Para minha surpresa, o chefe do Gabinete olhava algo sem importância em seu laptop. Pelo menos deixou transparecer já que ouvia toda a conversa dos jornalistas e seus salários ridículos e por vezes se intrometia. Enquanto isso, Guaraci e Gabriel a espera do pão, porque o circo já se sabe onde está.
PONTOS DE CULTURA
Outro assunto não poderia deixar de comentar hoje. Foi publicado hoje no Diário Oficial da União um convênio entre o Ministério da Cultura e a Fundação José Augusto para abertura de 53 novos Pontos de Cultura no Rio Grande do Norte. 23 destes Pontos serão instalados nas 22 casas de Cultura que estão em pleno funcionamento e na Casa de Cultura de Goianinha que está sendo construída. Os outros 30 Pontos serão escolhidos através de edital aberto para todo o Estado, anunciado em breve pela FJA.
É um investimento de R$ 8,3 milhões. A contrapartida da FJA é de R$ 1,8 milhões. Cada ponto de Cultura recebe anualmente R$ 60 mil para serem investidos em sua manutenção e projetos durante três anos.
Esse pode ser o único investimento de peso do Governo do Estado destinado à cultura popular até o momento. Um Ponto de Cultura é um importante apoio para que agentes culturais desenvolvam atividades em suas comunidades. Ele não tem um modelo de instalação física, programação ou atividade. É mais dinâmica, digamos assim, que as Casas de Cultura. Significa um modelo de gestão compartilhada entre o poder publico e a comunidade. E aí é onde mora o medo. Basta lembrar das Casas de Cultura: uma idéia genial de François Silvestre, mas sem o apoio das prefeituras, da comunidade e, principalmente, do Governo, nada funciona.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Transar agora é lei!
Pois é. Parece brincadeira, mas o que nos tempos das anáguas chamavam de “fazer amor”, agora é lei; obrigação prevista no Código Civil Brasileiro. Saiu até em matéria publicada na Folha de São Paulo. A advogada Regina Beatriz Tavares, 44 anos, afirmou que o cônjuge ou o companheiro que se recusar a ter relações sexuais pode ser condenado judicialmente e indenizar o outro. Para a dita advogada – que provável e literalmente deva ter ficado na mão – transar é uma obrigação matrimonial.
A comparação talvez seja impertinente. Normalmente é. Mas minha profissão é a que escolhi por livre espontaneidade. Gosto, trabalho com prazer. Às vezes é quase orgásmico. Claro, se dependesse de mim, faltaria alguns expedientes. O pior é o acordar cedo. Todo dia às 6 da matina. Bom, minha mulher também escolhi sem pressão alguma, e... é por aí. Já imaginou acordar mais cedo pra... “transar”. Sim, porque toda obrigação, por mais prazerosa, torna-se sacrilégio mais das vezes. Quando estagiário é preciso mostrar serviço, mas com alguns anos de profissão a conversa é outra.
Diante da referida lei 15.209, imagino o fim daquele ato sublime durante as madrugadas. Os toques iniciais, sem compromisso; o prazer mútuo, sem preocupação com as horas; os sentimentos à flor da pele; os corpos unidos pelo simples impulso do amor... Mas agora é lei! Se a tal obrigação for executada durante o período matinal, o “companheiro” (o que é isso?) de certo guardará energias para cumprir o dever de marido no dia seguinte. E se a dileta esposa encostar suave em seus cabelos durante a madrugada... “Só amanhã, agora!”.
Sem propósito direto, a lei que substitui o xaveco nas madrugadas ou a rapidinha no elevador da repartição pode também inibir a traição. Claro, qual o marido sessentão vai arriscar uma escapada estratégica e sem obrigação, para depois encarar mais um dever de casa? Aos jovens atletas sexuais, vale ressaltar: a lei não prevê “umazinha” por dia. a obrigação é quando a esposa requerer os serviços. Se chegar de cabelo molhado e com uma indisfarçável alegria no rosto, o bolso pode ficar mais pesado. É indenização na certa. E mais vale um dinheiro mal pago que recorrer de uma sentença tão humilhante.
Mãas.. olhemos por outro lado. A legislação brasileira, das mais avançadas do mundo, pode conseguir pôr fim às dores-de-cabeça repentinas da esposa. Ora, a lei também vale para os homens. Portanto, o anador posto na mesinha de cabeceira da cama agora é o Código Civil Brasileiro, com a fadada lei grafada em cores berrantes. Não é só a mulher que pode ligar para um disque-denúncia contra maridos enfadados ou cobrar orgasmos atrasados na Justiça. Na quarta democracia do mundo, a lei vale para todos. Ou pelos menos para os casados, na dor e na doença; na alegria e na tristeza. Amém.
A comparação talvez seja impertinente. Normalmente é. Mas minha profissão é a que escolhi por livre espontaneidade. Gosto, trabalho com prazer. Às vezes é quase orgásmico. Claro, se dependesse de mim, faltaria alguns expedientes. O pior é o acordar cedo. Todo dia às 6 da matina. Bom, minha mulher também escolhi sem pressão alguma, e... é por aí. Já imaginou acordar mais cedo pra... “transar”. Sim, porque toda obrigação, por mais prazerosa, torna-se sacrilégio mais das vezes. Quando estagiário é preciso mostrar serviço, mas com alguns anos de profissão a conversa é outra.
Diante da referida lei 15.209, imagino o fim daquele ato sublime durante as madrugadas. Os toques iniciais, sem compromisso; o prazer mútuo, sem preocupação com as horas; os sentimentos à flor da pele; os corpos unidos pelo simples impulso do amor... Mas agora é lei! Se a tal obrigação for executada durante o período matinal, o “companheiro” (o que é isso?) de certo guardará energias para cumprir o dever de marido no dia seguinte. E se a dileta esposa encostar suave em seus cabelos durante a madrugada... “Só amanhã, agora!”.
Sem propósito direto, a lei que substitui o xaveco nas madrugadas ou a rapidinha no elevador da repartição pode também inibir a traição. Claro, qual o marido sessentão vai arriscar uma escapada estratégica e sem obrigação, para depois encarar mais um dever de casa? Aos jovens atletas sexuais, vale ressaltar: a lei não prevê “umazinha” por dia. a obrigação é quando a esposa requerer os serviços. Se chegar de cabelo molhado e com uma indisfarçável alegria no rosto, o bolso pode ficar mais pesado. É indenização na certa. E mais vale um dinheiro mal pago que recorrer de uma sentença tão humilhante.
Mãas.. olhemos por outro lado. A legislação brasileira, das mais avançadas do mundo, pode conseguir pôr fim às dores-de-cabeça repentinas da esposa. Ora, a lei também vale para os homens. Portanto, o anador posto na mesinha de cabeceira da cama agora é o Código Civil Brasileiro, com a fadada lei grafada em cores berrantes. Não é só a mulher que pode ligar para um disque-denúncia contra maridos enfadados ou cobrar orgasmos atrasados na Justiça. Na quarta democracia do mundo, a lei vale para todos. Ou pelos menos para os casados, na dor e na doença; na alegria e na tristeza. Amém.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Das alças de François Silvestre
O mais novo livro do escritor e advogado François Silvestre, As Alças de Agave é, antes de um arcabouço descrente quanto à política praticada no Rio Grande do Norte ou um esclarecimento pessoal do episódio do Foliaduto, um amontoado de metáforas geniais e um registro de costumes sertanejos. Mais ainda: é um olhar sobre a condição humana. Livro gostoso de se ler, mesmo de temática tão pesada.
Não é de longe uma obra literária comparada, por exemplo, com A Pátria Não É Ninguém – livro anterior de François e a qual reputo uma das melhores já escritas no Estado. Sem medo do exagero ou das críticas. Mesmo do próprio François, avesso a elogios. O próprio ressalta nos primeiros dizeres ser o novo livro “fruto de uma triste circunstância”. É mais do que isso.
Por vezes o livro parece mesmo um desabafo, sem apreços literários. Coisa de quem não quer apresentar uma obra para ficar marcada nos anais da literatura potiguar. Mas há passagens fantásticas como a descrição da caça ao mel, feita por ele e Alexandrino, seu irmão. O primeiro capítulo, homônimo ao livro, é um primor. Mas a impressão é de que François escreveu – e muito bem – um livro às pressas, ou apenas para explicar e contextualizar o famigerado episódio do pagamento de bandas fantasmas.
Para retratar os bastidores da política e campanhas eleitorais, François cria comparações elucidativas com a mitologia grega, Shakespeare; com ditos e hábitos sertanejos... O cargo de presidente da Fundação José Augusto ele chama de “carne de pescoço”. O capítulo anterior, “O Pato do Gavião” é uma ironia fina e também uma metáfora ao processo eleitoral que culminaria com a vitória de Wilma de Faria ao governo do estado.
O livro é todo ele um olhar de quem viu e presenciou tudo o que escreveu. É uma olhar, também e, sobretudo, do caráter humano, demasiado humano, aplicado à política. E por isso tamanha hipocrisia, escárnio e ganância descritos; tamanha mágoa e decepção com os ditames do processo eleitoral e político.
Posso classificar o sentimento de François quanto ao seu período como gestor da FJA como “decepção” sem muita propriedade, ou quase que apenas a partir das palavras contidas no livro. Mas tive algum contato com ele quando trabalhei na revista Preá. O editor assistente da revista, Gustavo Porpino arrumava as malas para Brasília, onde iniciaria doutorado. A vaga ficaria em aberto e eu, como repórter das matérias de mapeamento cultural no interior do estado, estava cotado.
Minha admissão foi rápida. O esperei na ante-sala de seu gabinete. Quando chegou, entrei em seguida. Lembro que não passou cinco minutos e pediu à secretária baixar uma portaria de nomeação. Fiquei surpreso e contente. Só mais tarde soube que ele procurou referências minhas a Gustavo, ao fotógrafo Anchieta e principalmente ao motorista Érico, a quem atribuía muita confiança. Imagino que deva ter conversado, também, com o editor da Preá, Tácito Costa.
Passou-se coisa de uma semana ou duas e estourou o episódio do Foliaduto. Pouco tempo depois, sua exoneração e, conseqüentemente, a minha. Sua substituta, Isaura Rosado, preferiu me demitir. Continuei na Preá como free lancer e sempre a ouvir elogios rasgados de funcionários mais antigos da instituição a François, como o melhor presidente que ali passou.
Pelo pouco que pude perceber, François é, antes de tudo, um homem simples. Desses que usam a intelectualidade para aprimorar o olhar sobre o comportamento humano. Não tem aquela retórica chata dos gênios arrogantes. A quem leu ou vai ler As Alças de Agave, peço atenção à figura do primo de François, Felipe, muito presente no capítulo O Pato do Gavião.
Felipe tem hoje mais de 80 anos. É uma figura curiosíssima. Basta dizer que seu casamento foi acertado através de carta escrita de São Paulo por François. Sem saber ler nem escrever, Felipe pediu ao primo para manter contato com a noiva, em Umarizal. Quando retornou ao município pra casar, sequer lembrava das feições da noiva e pediu a uma conhecida para apontá-la, porque temia confundi-la com a irmã. Está casado com “Mundica” até hoje.
Conto essa passagem para retratar o tipo de pessoa de Felipe e, por tabela, muito dos apreços de François. Felipe é primo de enorme estima do escritor. Tive o prazer de uma conversa numa tarde de sol torrente, em Umarizal, na casa de Felipe. Na verdade, seria uma entrevista para a Preá. Mas o papo rolou frouxo. Felipe nasceu de sete meses e nem precisava dizer. Inquieto mesmo com a idade. Simples, como bom sertanejo. Emocionava-se ao citar o nome do primo.
Li As Alças de Agave e o que menos quis entender ou procurar foi o culpado pelo Folioduto. Deliciei-me mesmo com este olhar aprofundado sobre os bastidores do processo político, desde a época do “mandar matar”, em que foi brutalmente vitimado o pai de François, às “espertezas” e falsidades do tempo-hoje.
O livro é uma belezura nos primeiros capítulos, descritivos, autobiográficos e, como tal, conta um pouco a história daquele tempo. E a impressão deixada a este humilde jornalista foi a de que o episódio do Foliaduto atrapalhou até uma obra de mais fôlego de François. Fico a espera do segundo livro de A Pátria Não É Ninguém e a conclusão da peça O Roubo do Fole.
Não é de longe uma obra literária comparada, por exemplo, com A Pátria Não É Ninguém – livro anterior de François e a qual reputo uma das melhores já escritas no Estado. Sem medo do exagero ou das críticas. Mesmo do próprio François, avesso a elogios. O próprio ressalta nos primeiros dizeres ser o novo livro “fruto de uma triste circunstância”. É mais do que isso.
Por vezes o livro parece mesmo um desabafo, sem apreços literários. Coisa de quem não quer apresentar uma obra para ficar marcada nos anais da literatura potiguar. Mas há passagens fantásticas como a descrição da caça ao mel, feita por ele e Alexandrino, seu irmão. O primeiro capítulo, homônimo ao livro, é um primor. Mas a impressão é de que François escreveu – e muito bem – um livro às pressas, ou apenas para explicar e contextualizar o famigerado episódio do pagamento de bandas fantasmas.
Para retratar os bastidores da política e campanhas eleitorais, François cria comparações elucidativas com a mitologia grega, Shakespeare; com ditos e hábitos sertanejos... O cargo de presidente da Fundação José Augusto ele chama de “carne de pescoço”. O capítulo anterior, “O Pato do Gavião” é uma ironia fina e também uma metáfora ao processo eleitoral que culminaria com a vitória de Wilma de Faria ao governo do estado.
O livro é todo ele um olhar de quem viu e presenciou tudo o que escreveu. É uma olhar, também e, sobretudo, do caráter humano, demasiado humano, aplicado à política. E por isso tamanha hipocrisia, escárnio e ganância descritos; tamanha mágoa e decepção com os ditames do processo eleitoral e político.
Posso classificar o sentimento de François quanto ao seu período como gestor da FJA como “decepção” sem muita propriedade, ou quase que apenas a partir das palavras contidas no livro. Mas tive algum contato com ele quando trabalhei na revista Preá. O editor assistente da revista, Gustavo Porpino arrumava as malas para Brasília, onde iniciaria doutorado. A vaga ficaria em aberto e eu, como repórter das matérias de mapeamento cultural no interior do estado, estava cotado.
Minha admissão foi rápida. O esperei na ante-sala de seu gabinete. Quando chegou, entrei em seguida. Lembro que não passou cinco minutos e pediu à secretária baixar uma portaria de nomeação. Fiquei surpreso e contente. Só mais tarde soube que ele procurou referências minhas a Gustavo, ao fotógrafo Anchieta e principalmente ao motorista Érico, a quem atribuía muita confiança. Imagino que deva ter conversado, também, com o editor da Preá, Tácito Costa.
Passou-se coisa de uma semana ou duas e estourou o episódio do Foliaduto. Pouco tempo depois, sua exoneração e, conseqüentemente, a minha. Sua substituta, Isaura Rosado, preferiu me demitir. Continuei na Preá como free lancer e sempre a ouvir elogios rasgados de funcionários mais antigos da instituição a François, como o melhor presidente que ali passou.
Pelo pouco que pude perceber, François é, antes de tudo, um homem simples. Desses que usam a intelectualidade para aprimorar o olhar sobre o comportamento humano. Não tem aquela retórica chata dos gênios arrogantes. A quem leu ou vai ler As Alças de Agave, peço atenção à figura do primo de François, Felipe, muito presente no capítulo O Pato do Gavião.
Felipe tem hoje mais de 80 anos. É uma figura curiosíssima. Basta dizer que seu casamento foi acertado através de carta escrita de São Paulo por François. Sem saber ler nem escrever, Felipe pediu ao primo para manter contato com a noiva, em Umarizal. Quando retornou ao município pra casar, sequer lembrava das feições da noiva e pediu a uma conhecida para apontá-la, porque temia confundi-la com a irmã. Está casado com “Mundica” até hoje.
Conto essa passagem para retratar o tipo de pessoa de Felipe e, por tabela, muito dos apreços de François. Felipe é primo de enorme estima do escritor. Tive o prazer de uma conversa numa tarde de sol torrente, em Umarizal, na casa de Felipe. Na verdade, seria uma entrevista para a Preá. Mas o papo rolou frouxo. Felipe nasceu de sete meses e nem precisava dizer. Inquieto mesmo com a idade. Simples, como bom sertanejo. Emocionava-se ao citar o nome do primo.
Li As Alças de Agave e o que menos quis entender ou procurar foi o culpado pelo Folioduto. Deliciei-me mesmo com este olhar aprofundado sobre os bastidores do processo político, desde a época do “mandar matar”, em que foi brutalmente vitimado o pai de François, às “espertezas” e falsidades do tempo-hoje.
O livro é uma belezura nos primeiros capítulos, descritivos, autobiográficos e, como tal, conta um pouco a história daquele tempo. E a impressão deixada a este humilde jornalista foi a de que o episódio do Foliaduto atrapalhou até uma obra de mais fôlego de François. Fico a espera do segundo livro de A Pátria Não É Ninguém e a conclusão da peça O Roubo do Fole.