Os instantes no cais são de eterna espera. É como nas esquinas de Paris, onde os destinos do mundo se encontram. Mas no cais do porto, é a saudade quem fica. É o mar que descansa. É a melancolia que habita.
O cais é a âncora do mar. O suplício do adeus. E a vida, amigo leitor, só é vivida se houver separações. O cais do porto é fim e começo. E no meio permanecem as solidões e as saudades. Saudades de pedra, diria Pessoa.
O cais é de partida, tão cheia de adeus. É de inverno, tão cheio de cinzas. É recanto de nostalgias, tão cheias de dor. O cais guarda o instinto de destino. E a aura dos acenos mais tímidos. Das palavras mais caídas.
Do cais, os sussurros de náufragos estão à escuta. Os ventos, gelados como a saudade, mesmo adormecidos, são mais livres, posto que esquecidos.
Daquela paisagem triste de esquina marítima, esperanças renascem para corroer recordações pelos tempos de nunca mais. É ali o cemitério das lembranças mais coloridas. Do cais se inspira cinza e se sopra angústia.
A noite nas docas é de mistérios luminosos. De apitos de trombetas. São navios em regresso para mais um descanso. Na paisagem bucólica, o poeta mira o tédio das embarcações: vontade de nunca deixar de ser poeta...
“Todo grande amor só é grande se for triste”. O poetinha tem razão. E o cais é também moldura de paixões perdidas, perfumadas pela dor da partida. É quadro de olhares ausentes, mendigos. De pensamentos ateus. De uma vida tão sem gosto, preenchida de vazios.
A alma do cais do porto é a mesma da mulher do velho pescador em partida para o mar. Angústia. Incerteza. Esperança. Saudade. Há quem aspire um perfume de desesperança e afirme convicto: no cais é onde se tem a certeza da inexistência de um grande amor.
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