Do jornalista Tácito Costa, em seu blog Substantivo Plural:
“Desenvolver uma política cultural de vergonha ou algo próximo disso é tão simples e pode custar tão pouco financeiramente que não me conformo porque isso não é feito. Principalmente quando vejo o desperdício de dinheiro com os megas shows e eventos, tão comuns em Natal e Mossoró (copiado por cidade menores – em São José de Mipibu, somente um show da festa de São João custou mais de R$ 200 mil). Claro que os governantes sabem muito bem que esses shows e eventos não representam política cultural nenhuma. No entanto, investem nisso como forma de se beneficiarem politicamente. Fazem populismo com o nosso dinheiro. Se acham que passarão à história com esse tipo de promoção “cultural” estão completamente enganados.
No caso de Natal, o que se comenta é que o prefeito impõe esses eventos faustosos ao presidente da Funcart Dácio Galvão. É uma tese verossímil. Eu que conheço um pouco como as coisas funcionam numa fundação cultural porque fui assessor de imprensa da Fundação José Augusto, sei que um presidente de uma fundação como a Funcart ou a FJA só faz alguma coisa se o chefe do executivo tiver interesse. Geralmente essas fundações não têm orçamento, na maioria das administrações ficam marginalizadas, e sempre dependem da boa vontade do governante da ocasião.
Fico imaginando quanto projeto interessante poderia ser feito com apenas uns 10% a 20% do que é gasto nesses eventos. Tipo oficinas de teatro, vídeo, fotografia, dança, literatura e música nos bairros, nas escolas, bibliotecas móveis, com contações de histórias, exibições de filmes, incentivo à criação de blogs literários... São tantas as possibilidades... E todas de baixo custo. Vai que é por isso, baixo custo, que não são implantadas. Qual a dificuldade de se implementar projetos como esses ou mesmo que tenham essa filosofia? Projetos que além de despertar as pessoas para a arte, também geraria platéia e apuraria o gosto. Por que querer inventar a roda? Mas é o que vemos todo dia. Como agora, com a criação desses onze prêmios pela Fundação José Augusto, com os quais a instituição entrou para o Guiness Book, o que não é pouca coisa, convenhamos”.
Nota do editor: As palavras de Tácito são precisas e certeiras. E oportunas quando o momento é eleitoral e o segundo semestre adentra, repleto de datas comemorativas. Pra mim, é (ou era?) um momento, também, de maior credulidade na política cultural praticada em Natal e no Estado. Cansei de criticar a inércia da Fundação José Augusto e os seis meses de “arrumação da casa” que perduraram por mais de um ano. Parece-me, as coisas começaram a andar, embora a Preá tenha empancado feito burro-mulo de novo. E há muito elogio a gestão de Dácio Galvão à frente da Capitania das Artes. Infelizmente, como bem ressaltou Tácito, ele tem que engolir estes shows promocionais caríssimos que nada acrescentam à cultura local. O livro mais recente de François Silvestre - As Alças de Agave - retrata bem essa relação de imposição de governante para gestor cultural. No mais é lamentar essa política de faz-de-conta, de pão-e-circo e hipocrisia.
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