Permita-me o leitor, este colunista escapulir da pauta local para comentar a eleição de um tal país que deixou uma baita herança em nossa redoma provinciana em época de guerra. Em seguida volto ao âmbito da aldeia de Poti. Pois bem. Desde criança ouço minha mãe dizer que só Jesus Cristo salva. Piadinha moderna brinca que Ctrl S também salva. E o pensamento pós-moderno, filosófico ou não, atribui agora o salvamento da humanidade ao Barack.
Um documentário do negro mais famoso do mundo está em andamento, produzido por Eduard Norton – aquele ator que se esmurrou em Clube da Luta e esmurrou outros em O Incrível Hulk. Precoce o documentário? Pasmem: o artista CUBANO Jorge Rodriguez-Gerada usou 500 toneladas de areia, brita e terra colorida para fazer um retrato do tamanho de um campo de futebol de Obama na costa de Barcelona. Para o maluco, Obama representa a esperança.
Esperança. Ô sentimentozin atrasado! É prima-irmã da utopia, tão decantada por socialistas sonhadores. Esperança é olhar o futuro com positivismo. Nada de errado nisso se a esperança também motivasse ação para construir os tais dias melhores. Mas não. Estimulam apenas a inércia, a espera preguiçosa. Antes encarnasse o Guevara, estampado nas camisas dos esperançosos. Ainda assim, a esperança quase sempre independe da vontade própria, portanto, é incerta, falível, ou seja: melhor apostar em algo mais concreto, como o Ctrl S. Nada niilista. Não é falta de fé. É apenas cisma, precaução.
Barack Obama é a concretização da esperança por simples motivos. Negros o vêem como a ressurreição de Martin Luther King. Os brancos enxergam a volta solidificada do american way of life. E o mundo nutre a esperança de que a guerra iraquiana cesse e o país Yankee – agora com um negro vestido de Capitão América – coopere mais ativamente com o meio ambiente e as finanças mundiais. E mais: nutre, em seu âmago, uma possível abertura ao socialismo. As palavras do pastor Jessé Jackson (ex-candidato à presidência) de que agora a América precisa curar as feridas que causou em outras nações e pedir desculpas ao mundo é a vitória pura da Perestroika.
Todos esquecem o buraco negro deixado pelo macaco Bush. Todos esquecem a herança histórica dos Estados Unidos. Não se muda a ideologia, a postura do governo da noite para o dia. A renovação pode apenas ter iniciado agora. Mas não basta querer. É preciso uma resposta mundial, também. Como dizia mané Garrincha: “Já combinaram com os russo?”. Mas um país atolado em crise buscará se reerguer. E, por hora, pode apostar: passará por cima de quem for. Até já vislumbro novos documentários de Michael Moore para os próximos anos.
Sem experiência política é fácil imaginar insegurança de Obama no posto mais poderoso do mundo. O título do seu último livro ratifica o pilar do qual ele pretende governar: A audácia da esperança. É comum se buscar heróis quando tudo está em ruínas. Esta é a figura incorporada de Obama: um falso herói; um misto idealizado de Kennedy e Luther King. Será ele o mentor a transformar a América em mutante e desmistificar uma história opressora e imperialista de 200 anos em tão curto prazo? Por hora, acredito no salvamento da alma e deste arquivo de texto. Aleluia Jesus e salve o Ctrl+S!
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