Em breve o centro de artesanato localizado na Praia dos Artistas será um shopping do artesanato. Reforma de R$ 1,5 milhão financiado pelo Banco do Brasil, fruto da iniciativa dos artesãos. O poder público não empregou um tijolo. E sabiamente. O artesanato típico; genuíno está longe dali. Roupas com estampas da cidade de Cascudo, de Pipa e Jenipabu (geralmente escritas com G) são artefatos para turista. A cultura artesã do Estado está calcada na tradição da renda de bilro, do côco ou a partir das areias coloridas. Antes as vestes fossem bordadas em macramé, fuxico ou crochê. Mas não. Se misturam a falsos berimbaus, saias, guloseimas importadas e bijuterias. É assim também em outros centros de artesanato espalhados pela cidade, sobretudo em Ponta Negra. Quando muito são trabalhos em cerâmica, bordados variados e retalhos, sem originidalidade.
Nosso verdadeiro artesanato está concentrado ou permaneceu em municípios interioranos. Lembro de muitos exemplos quando fui repórter da Preá e realizei mapeamentos culturais em algumas cidades, junto com a equipe da revista: o multiartista de João Câmara, Luís Farias da Silva; as artesãs da Associação de São José de Campestre; as bonecas de pano de Dona Benedita, em Macaíba; os artesanatos de João Batista originados da matéria-prima extraída da Serra do Mulungu, em São João do Sabugi; a Central do Artesão, em Angicos, entre milhares de outros nomes escondidos por estes rincões potiguares. Se a cultura anda desprestigiada por incompetência de gestão, por falta de recursos ou burocracia, o artesanato recebe bons incentivos e programas governamentais. Pelo menos era assim há uns dois anos, quando a Preá existia.
Na outra sexta-feira tem início a 14ª edição da Feira Internacional de Artesanato deste Rio Grande de Poti, mais uma vez no Pavilhão de Exposição do Centro de Convenções. É considerada uma das maiores feiras do artesanato do Brasil. Fui ano passado e gostei muito da movimentação, organização e variedade de estandes. A programação cultural também é diversificada e a presença do público é intensa, para mais de 50 mil pessoas. Mas o leitor desta coluna irá comprovar o que afirmo: procure entre a centena de estandes algum de municípios potiguares. Serão poucos. Em seguida, analise cada peça. No máximo serão confeccionados com material colhido na cidade, como a palha de carnaúba, originária de outros estados. É o que digo: falta a tal identidade ao nosso artesanato. E já faz tempo.
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