Com a nova Preá em mãos, opino: a edição saiu caprichada. O projeto gráfico moderno visto na primeira edição publicada pela atual gestão foi mantido, com o adendo vantajoso da qualidade material - ao contrário das havaianas, agora não solta mais as tiras. A 20ªedição será lançada sábado no Beco da Lama, durante programação para o Dia da Poesia. A promessa do diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, é voltar a regularidade bimestral da revista. Segundo ele, já há verba para mais três edições e se espera que, no intervalo dos lançamentos, outras sejam viabilizadas.
A variedade de temáticas sempre foi inerente à revista. Na verdade, o formato seguiu a linha da edição anterior, com a oportuna mudança de publicar o mapeamento cultural de um município em vez de dois, como era feito nas publicações editadas pelo jornalista Tácito Costa. A idéia possibilita diagramação mais leve e mais agilidade de edição, já que são, comumente, as matérias mais trabalhosas. Nesta edição, a cultura de engenhos e grupos folclóricos de Ceará-Mirim encabeçam a revista.
O pesquisador Rostand Medeiros registrou novo desbravamento na Gruta dos Tapuias, situada na zona rural de Santana do Matos - então citado como um dos últimos abrigos indígenas do sertão potiguar. Justo em seu dia a poesia esteve ausente. No espaço destinado aos gêneros literários, a crônica de Voney Liberato pareceu mais um belo ensaio a respeito da Feira. O conto de Alexis Peixoto Os homens da torre já ficou célebre ao receber importante prêmio literário na Flip.
As seis páginas dispensadas ao multifacetado artista pernambucano Helder Vasconcelos nos faz perguntar o porquê de tamanho espaço para alguém sem expressão ou relevância alguma para a cultura do Estado. Ao contrário da justa homenagem póstuma ao ‘‘mestre do traço’’ Edmar Viana. Outra crítica foi o espaço cedido ao artista plástico baiano César Romero, quando os salões de artes visuais potiguares estão no bojo das discussões. A crítica fica evidente no excelente texto do diretor e roteirista Fábio DeSilva, quando contextualiza o ‘‘estágio de latência e letargia’’ da produção de audiovisual potiguar.
As matérias ‘‘chapa-branca’’ foram propositadas. Uma coisa é utilizar o espaço de publicação destinada à cultura potiguar para autopromoção. Outra é promover ações realmente interessantes, como o projeto Poticanto e o Festival de Teatro da Uern. Ou mesmo a entrevista com o escritor Tarcísio Gurgel, para homenagear os 50 anos da Ufrn.
Embora a vertente musical esteja bem representada pela matéria de Carlos de Souza com o excelente Mirabô Dantas, senti falta dos textos de Carlos Gurgel. Rosa Moura resgatou histórias interessantes a respeito da Academia de Acordeom; da realidade do sanfoneiro, tão presente e tão desconhecida. Mas histórias dignas de registro em actas diurnas cascudianas são oferecidas no texto do pesquisador Severino Vicente, a respeito do Engenho Bom Jardim e, mais do que isso: do encontro entre o embolador de côco Chico Antônio e o escritor Mário Andrade.
Sem questionar a periodicidade da revista ou o balanço de governo de Crispiniano no editorial, a Preá está aí. Se pode pegar, ver, conferir e agora torcer para a promessa de regularidade bimestral ser cumprida. Ao contrário da revista patrocinada pela Capitania das Artes. A Brouhaha estacionou na 13ªedição e pelos próximos meses permanecerá no limbo. O noticiado novo editor, Carlos de Souza, sequer recebeu convite oficial e já recusou, informalmente, participar da editoria cuja pauta será discutida com outros profissionais escolhidos sem sua opinião. Pelo caminhar dos novelos, o inverso da moeda será a tônica deste ano no tocante à publicação de revistas. A Preá entrega os caminhos do ostracismo à nova gestão municipal. E a tarefa é reconhecidamente espinhosa. É esperar.
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