Dia desses comentava com um amigo da necessidade de revolução. Aos tempos atuais não cabem revoluções armadas. Amadurecemos, apesar dos irãs e coreias. Precisamos de uma revolução de sentimentos. A intolerância, o individualismo e o estresse tomam conta do mundo. O sistema de capital está falido. Era previsível. Sua estrutura sistêmica descamba pra isso, cedo ou tarde. Também não defendo uma revolução socialista, se é que um dia esse sistema foi plenamente implantado. Defendo uma revolução do amor. E lembrei de uma crônica que fiz, intitulada O Que Eu Quero, publicada em O Poti e no portal da Diginet. Segue:
Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo. Eu quero ser eu mesmo. Quero fugir de mim. Quero idéias. Outras. Não mais as minhas. Eu quero mistura. Novas sensações. Novos ares. Novos jambos. Eu quero engolir Sartre. E cuspir Dostoievski. Mas só após a digestão. Eu quero ser alcoólatra por tempo determinado. Eu quero ser hippie. Se nada der certo, lógico. Eu quero ser anarquista. Se tudo der certo demais, evidente. Eu quero ser Lennon. Quero uma nova chance para a paz. E eu quero paz para discussão. Eu quero o mel e o alho; o simples e o complexo. Quero ser o irmão e o ladrão.
Eu quero ser poesia; estrofe. Mas preciso saber o que é o amor. Eu quero parar no tempo. Quero dizer que vivi. Eu quero uma Janis Joplin. Uma Amélie Poulain. Quero uma Sharon Stone, para ocasiões ocasionais. Eu quero uma paixão passageira de filmes europeus. Quero penetrar a poesia de Bocage. Quero uma cena de novela. E 15 minutos de folga. Eu quero uma revolução. Não armada; não da educação. Eu quero uma revolução do amor. Quero para todos. Discutir desilusões e ilusões. Quero amar sofregamente. Eu quero ser rio e mar. Paixão. E amor sublime até o final.
Eu quero Novos Baianos; novos Beatles. Eu quero Beto Mejia na vitrola e os dez destinos mais prováveis. Eu quero a contra-cultura a favor de todos. Eu quero o maldito benquisto. A poesia marginal ao marginalizado. Eu quero os shoppings como prisões. Quero as prisões como reflexão. Eu quero a igualdade. Não como utopia. Eu quero o socialismo pregado na Bíblia. Eu quero corromper o poder. Eu quero o anarquismo como diversão. Quero o marxismo como trabalho. E o “mais-valia” como exemplo.
Eu quero ser feliz (?). Por instantes mais longos, pelo menos. Eu quero a tristeza de Vinícius de Morais. Quero o choro do Pierrot. E sentir o amor da Colombina, também. Eu quero ser um incompreendido. É mais fácil. Eu quero contar o contido. Quero mostrar o incontido. Quero botar meu bloco na rua. Eu quero ser o palhaço do circo. E o palhaço dos camarins, também. Eu quero ser Gandhi quando crescer. Quero viver de botequim e de ônibus.
Eu quero uma tarde em Itapoã. Pode ser uma vida em Santa Rita. Ou uma lembrança da Velha Redinha. Eu quero fugir. Eu quero passear em Penny Lane, chupar morangos em Stramberry Fields. Andar de mãos dadas com Lucy em seu céu de diamantes. Eu quero respirar Veneza. Sentir o Egito. Eu quero ser mendigo na Índia. E elefante branco na Tailândia. Eu quero manchar Walt Disney de cinza. Apagar o mickey da memória. Eu quero vestir alma de cigano. Ser matriz de algum coração.
E para não dizer que não falei de flores. Eu quero um jardim, com acácias, baobás e plantas carnívoras. Eu quero um jardim secretíssimo; sincretíssimo. Uma jardineira infiel. Quero cheiro de néctar; de sexo. Rouxinóis para poetizar o ambiente. Eu quero flores para colorir o mundo. E rosas para perfumar a hipocrisia de um mundo que só pede e só quer.
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