Por Julio Daio Borges, in Digestivo Cultural
Onde está o jornalismo cultural? Não nos jornais. Nem nas revistas. Não no mainstream editorial, pelo menos. Se as publicações tradicionais têm de embarcar no crescimento das classes C e D, com capas de atores globais, efemérides de meados do século passado e realizadores do tempo da velha indústria, jornalistas que não querem repetir os mesmos assuntos, nem ceder à pressão dos releases (e das assessorias) e pautar o que há de relevante (e está na ordem do dia), correm para os veículos independentes.
Se em outras décadas, uma publicação como o Pasquim, que fazia 100 mil em banca, era considerada “nanica”, fazer algumas dezenas de milhares hoje é quase um recorde (que alguns “grandes” jornais, inclusive, custam a alcançar). Por consequência, revistas fora do circuito estão dando um banho no “jornalismo cultural” alquebrado de jornalões e outras publicações acomodadas em banca.
Mais um exemplo é a Revista Florense, editada por Renato Henrichs e Vanderlei Venturin (arte). Na última edição, de inverno (número 22), tem-se Sérgio Augusto sobre Capitão Marvel, Ana Maria Bahiana sobre os novos vampiros no cinema, Luís Antônio Giron sobre Wagner Moura e Ruy Castro sobre a história o disco, entre outros jornalistas. Ainda desfilam, pela Florense, Cássio Loredano, Sergio Faraco e Gustavo Dudamel, entre outros artistas.
É raro um exemplar aleatório, de qualquer publicação tradicional, que ofereça tanto para ler. O chamado “valor agregado”, expressão da qual muita gente não gosta, está saindo do mainstream editorial, que tenta, desesperadamente, concorrer com televisão e internet. Além de perder a batalha do modelo de negócio – acelerada pela crise –, pelo visto está perdendo também a do jornalismo (que tanto alardeia saber fazer).
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