Por José Correia Torres Neto
Quando a tarde cai e a noite, descaradamente, deixa pender a fina alça do vestido quase sem cor, eles se encontram. São os mesmos sorrisos, mas com as pilhérias renovadas que rodeiam as duas mesas. Lá se negociam sonhos, permutam-se os sarcasmos, pintam-se quadros alheios, fumam-se cigarros e cigarrilhas.
As velhas fachadas arregalam as quase perdidas cores e mimetizam a noite. Um chega, outro também, dez, quase doze, embaralham assuntos, enrolam línguas, falam de amor, de amadorismo, de rumos, de rumores. Quem são esses que se mostram para o mundo na penumbra desse beco estreito? Pode ser eu, tu, ele, sempre nós; não importa: será sempre um bequiano incurável.
Enquanto isso, a avenida larga e cheia de luzes morde os lábios com um desejo secreto (mas não tanto) de querer arrastar esse beco para o seu regaço, para que a lama lhe dê filhos, também letras, tintas, cores e meia dúzia de prazer.
E eles ainda continuarão por muito mais tempo e depois outros alinharão as mesmas mesas, com outras teorias, idéias, alterando geometrias, vontades, sorrisos, mas nunca longe desse Beco...
* Texto enviado pelo jornalista e escritor Cefas Carvalho, senhor de engenho do sítio Noticiando. Tem por lá um encontro inusitado de Michael Jackson e Lampião, em forma de cordel. Vale uma olhadela. O cordel ainda será lançado no Bardallos, situado neste beco de muitas artérias
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