quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Entrevista - Valéria Oliveira
No ar com Valéria Oliveira
Entre confissões, razões e injúrias o ar rarefeito passeia entre notas musicais. Em seus braços, em boa hora ou em madrugadas frias, a voz afinada pelo mel salgado da brisa potiguar invade ouvidos e percorre entranhas da alma. É o poder da música; da arte. Valéria Oliveira se reinventa a cada ano; encontra novas possibilidades sonoras e se acha aqui ou em alhures. É o poder universal da música. A compositora/intérprete alcança os palcos do Japão, as rádios de Brasília ou os festivais de música norte-americanos. Nada mais sugestivo que o título do novo álbum – No ar.
Valéria Oliveira está “no ar” desde as noitadas do Bora Bora, Bar do Buraco... Ligada em 220 voltz, na tomada daqueles fins de anos 80, junto com Pedrinho Mendes, Sueldo Soaress, Cida Lobo, Cleudo Freire... Na noite de hoje, a Casa da Ribeira recebe o ar da graça e de um som mutável, renovado, lapidado em décadas de música. É o lançamento do sétimo álbum de carreira. São 12 faixas autorais, em parceria com velhos e novos amigos; com velhos ritmos conhecidos e novas experimentações. Esta é Valéria Oliveira. Saboreiem com moderação. Próximo ano, tudo pode mudar.
Você vem de uma geração de músicos iniciada numa Natal ainda mais provinciana e presa em suas muralhas. Hoje vemos artistas se projetando no Sul Maravilha ou no estrangeiro. A música potiguar vive seu melhor momento em termos de projeção e qualidade?
Considerando do início dos anos 90, quando comecei a cantar profissionalmente, até hoje, esse é, sem dúvida, o melhor momento. Individualmente podemos citar vários artistas como Khrystal, Rejane Luna, Lis Rosa, e bandas como Rosa de Pedra, Du Souto, Macaxeira Jazz, entre outras fazendo a diferença e gerando frutos, em cidades como Brasília, Rio e São Paulo. O coletivo mais cedo ou mais tarde vai ser beneficiado por esse movimento de abertura de difusão da música potiguar no Brasil e no mundo.
Outra característica do cenário musical atual é o crescimento vertiginoso de espaços para o músico em bares, bistrôs e restaurantes. Antigamente tudo se resumia ao Blackout. É um ponto positivo ou gera um ciclo vicioso de pouca projeção, voltado à elite freqüentadora destes lugares?
Esses espaços são para entretenimento e podem ser ocupados por artistas em início de carreira (como escola), ou por aqueles que optem por esta forma de se expressar musicalmente ou ainda para aqueles que precisam se manter através da música, como uma forma de geração de renda. Acho que para os artistas que buscam outro tipo de movimento para sua música, esses espaços geram pouca projeção e vicia o público frequentador a vê-los apenas atendendo a pedidos. Por outro lado, geram oportunidades de apresentar ao público cativo daquele espaço, um pouco da música potiguar.
Geraldo Carvalho chegou de uma temporada de shows em Brasília e disse ter escutado sua música nas rádios de lá. Aqui, praticamente a Rádio Universitária toca música potiguar. O que falta para popularizar a produção musical jerimum?
Sem dúvida o papel das rádios continua sendo muito importante e fundamental para popularizar nossa música. Acredito que falta aos dirigentes das outras rádios mais conhecimento sobre a qualidade de nossos artistas. É curioso realmente pois minha música está tocando em rádios de várias cidades do país como Mossoró, São Paulo, Salvador, Brasília, Belém e em várias rádios on-line além de algumas rádios dos EUA, da Suíça e do Japão. Hoje (quarta-feira) mesmo uma rádio me ligou para saber porque eu não estava anunciando meu show em sua rádio. Respondi que me baseei na própria avaliação deles de que se seus ouvintes não consumiam minha música, certamente não consumiriam meu show.
As leis de incentivo são instrumentos destes novos tempos capazes de alavancar projetos musicais?
Sem dúvida! São mecanismos de extrema importância. Porém falta ainda uma grande conscientização das empresas sobre a importância de se investir em projetos culturais.
O que achou deste novo formato do Projeto Seis & Meia, montado até o fim do ano? Qual seria sua sugestão? Você já recebeu convite para integrar a atração principal nas próximas semanas?
Já recebi o convite e devemos participar desse movimento pela possibilidade de gerar mudança e fortalecer o artista potiguar. Esperamos um bom planejamento, principalmente em relação à promoção do novo projeto e um envolvimento maior dos artistas. Também gosto muito da idéia de música instrumental no projeto.
O propósito do Projeto Retrovisor foi alcançado com o crescimento individual da carreira artística dos seus cinco integrantes? Foi mais proveitoso para uns do que para outros?
Acredito que foi muito proveitoso para todos de alguma forma. É natural que os aprendizados e conquistas sejam diferentes para cada um pois temos carreiras bastante distintas. No entanto, todos estão na ativa e se você prestar a atenção, cada um adquiriu, uns com os outros, mais experiência, consciência sobre a promoção do seu trabalho, força para abrir espaços fora daqui e, o melhor de tudo, cada um com sua personalidade e suas crenças. E o legal é que continuamos de alguma forma ligados, seja nas parcerias, nos discos, nos shows...
A última turnê, do Cd Leve, Só as Pedras, chegou ao Japão e ao festival de música internacional South by Southwest 2009. O que você espera com este sétimo trabalho? No ar apresenta quais diferenças para o último Cd, já que também é autoral e as parcerias musicais são praticamente as mesmas?
Espero apresentá-lo muitas vezes aqui. Viajar muito com este trabalho. Distribuí-lo onde pudermos e disponibilizá-lo gratuitamente, em pequenas doses, nos nossos sites. Fiquei muito feliz com o resultado do Leve só as pedras. Procurei manter “no ar” o padrão de qualidade, com cuidados nas gravações; procurei manter a sonoridade, semelhante à do Leve..., com praticamente a mesma formação de banda do cd anterior (bateria, baixo, violão e guitarra), inserindo algumas novidades como metais, com arranjos de Gilberto Cabral, em duas músicas, e clarinete em três. Algumas músicas têm percussão. As concepções dos arranjos de base foram pensadas por mim e Luiz Gadelha com colaborações de toda a banda e do co-produtor Eduardo Pinheiro. Tem a participação de Tetsuo Skurai (ex-baixista da banda japonesa Casiopea) e do bandolinista Pedro Amorim. Maravilhosos! “no ar” é mais leve que o leve. Respira mais, é mais apaixonado.
Na mostra das músicas via myspace se percebe uma salada sonora apetitosa. Samba-choro, pop, recheios de bolero e uma pitada de pimenta do bom soul. Os arranjos são moldados conforme a influência das parcerias musicais ou seguem o ritmo das composições?
Os arranjos são guiados pelo fio condutor do som geral do disco. O que desejamos é o que o ouvinte sinta ao final da audição. Apresentamos músicas de ritmos diferentes que se interceptam em um ponto que é a sonoridade geral do cd. Gravamos 16 e escolhemos 12, baseadas na unidade que estávamos querendo em termos de som e temática. Usamos sempre efeitos de guitarra específicos para cada música. A fusão é uma marca registrada do Leve só as pedras e deste também, com uma dose mais leve de experimentalismo.
O repertório do show na Casa da Ribeira será uma mescla destes dois Cds, uma celebração, um show mais intimista ou tudo junto?
Sim. É um show de celebração, com a junção dos dois cds, com momentos bem intimistas, momentos de interação com a plateia, através de algumas músicas que incluímos especialmente para esse início de turnê, músicas que falam de amor, de maturidade, de vida, que se intercalam com momentos fortes, que nos pegaram de jeito durante os ensaios, e pelo resultado que conseguimos na concepção de arranjos. Espero que o público vibre junto conosco. O show também terá algumas surpresas...
A matéria está delicada como a alma de Serginho e a entrevista, super realista.
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