sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Beco da Lama
Por Alderico Leandro, em Natal de Ontem
Quem passa pelo saudoso Beco da Lama, uma rua estreita no centro da cidade - Natal Rn - nem se lembra que alí se dorme no chão bruto, se vende flores e produtos aromáticos para festejar o seu santo preferido, de São Jorge a Yemanjá, come-se à bessa, nos restaurantes que alí existem, toma-se uma caninha "braba", daquelas que inveterado cospo e faz cara feia, joga-se no bicho, pois em Natal não é proibido jogar (no bicho - cobra, macaco ou avestruz) e tem tanta coisa que se falar aqui, não vai dar tempo. Antigamente, um rapaz, numa bodega da esquina, próximo a feira das frutas, tinha o seu ponto predileto onde fazia para vender a tradicional "meladinha" que era cachaça com mel. Ele só abria o ponto às 10h da manhã. Fechava às 2h da tarde para abrir outra vez, às 4h. Alí, bebiam em um reservado, os secretários de estado, escritores, advogados, jornalistas e até mesmo boêmio para não se dizer outra palavra não menos cabida. Eu não sei se, depois da morte do homem, o bar continuou funcionando. Sei, apenas que, aos sábados, por volta das 10h, outra vez o Beco da Lama se enche de gente. São jornalistas, poétas, escritores, advogados ou mesmo quem ainda não é conhecido. O Beco, num pedacinho de nada, se enche de gente, cada um com a sua conversa e todos falando a um tempo só. É, na verdade, um ponto de encontro dos "velhos" e inveterados amigos - e até inimigos - que se juntam para comemorar, com as suas falas o que tem de se comemorar: Nada!!!. Tão logo passe o dia, o Beco se esvazia. Em tempos remotos, tinha ali um "cabaré", pois era assim que se chamava uma casa de alguns quartos para alugar a homens que tomavam uma "dama" para ter um relacionamento conjugal. Essas moças - quase sempre de 20 anos ou pouco mais - viviam alí à espera do seu "homem" que por meia hora era o seu "dono". Depois desse tempo, era lavar e enxugar. Outro "homem" talvez estivesse impaciente para poder entrar e cumprir a mesma missão. O Beco da Lama é antigo. Vem dos primórdios do tempo em que a cidade acabava alí. Lama era porque pelo beco escorria lam ou de chuva ou de lavagem de roupa e de banho. A lama descia pelo local até chegar a um terreno próximo do Mercado da Cidade e alí ficava. Natal era uma cidade - naquela época - de poucas casas e naquele beco existiam mocambos de palha fincados na areia. Um cachorro magro era a arma de cada um. Quando o cão sarnento latia era sinal que vinha gente para um dos casebres, sempre para falar da vida dos outros. Um certo dia, a Câmara Municipal proibiu da gente contunuar morrando em suas palhoças. Tinha que se fazer casebres de taipa. A cidade foi tomando pé do progresso, mas o Beco continuou a ser chamado "da Lama", apesar de existir uma placa dizendo que alí é a rua Dr. Francisco Ivo, um homem que morou na Av. Rio Branco, quase na esquina com a rua Cel. Cascudo onde tem a Feira das Frutas. A placa está na bodega de Nazzi, homem que já morreu e que, em vida, fazia a tradicional "meladinha". Hoje, a rua é calçada e as casas são todas de comércio, salvo o quiosque que existe no local onde as "damas" costumam fazer o seu "ponto". O Beco da Lama é pequeno, indo da rua Ulisses Caldas até a rua João Pessoa. Depois desse ponto, o beco leva outro nome. Hoje, um grupo de blogueiros e não blogueiros fazem dali um ponto de encontro, um reduto, para se dizer melhor, principalmente aos sábados, mas sem deixar os outros dias passar em branco. Poucos sabem a história do Beco. Outros, sabem até demais. Alguns teimam em chamar o beco de apenas Beco. Notívago, o Beco da Lama, sem nada para encher as agruras do tempo, ele é um beco como outros existentes em toda a parte do mundo.
Do blogueiro: Discordo da última frase. O Beco da Lama engorda de fantasias, liberdades e futricas as tais linhas do tempo. É Beco infinito. Do tamanho da avenida da imaginação.
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