quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Festa acabou


Em respeito aos comentários indignados neste blog, publico abaixo a matéria mais detalhada sobre o cancelamento do auto A Festa do Menino Deus, publicada hoje no Diário de Natal. E caso haja dúvida, o auto seria encenado no Largo Dom Bosco, na Ribeira, e não na UFRN, como saiu publicado em outras paradas.

O auto natalino A Festa do Menino Deus foi cancelado às vésperas da encenação e surpreende artistas

Depois do Encontro Natalense de Escritores e do Auto da Liberdade em Mossoró, mais um espetáculo da cultura potiguar é cancelado. A Festa do Menino Deus estava praticamente pronta após seis meses de trabalho ininterrupto. Na noite de terça-feira recebeu a notícia da falta de verba para a apresentação deste ano.

O auto estava orçado em R$ 500 mil. O dinheiro foi praticamente todo empregado no figurino e montagem da cenografia. Os mais de 150 artistas envolvidos serão indenizados. O único custo absolvido foi o da logística no dia da apresentação: alimentação dos participantes, segurança, montagem de som, etc.

“Durante seis meses alimentamos sonhos”, disse o diretor geral do espetáculo, João Marcelino, sem querer se estender no comentário para evitar falar no que chama de “assuntos político-financeiros”. Disse ainda que “propuseram a nós um espetáculo maior neste ano, com mais gente, mas preferimos manter a estrutura e pagar melhor o profissional”.

Desde a pré-produção até praticamente a conclusão dos ensaios foram seis meses de trabalho diário. Cenografia e figurino foram concluídos. Os ensaios iniciaram há cerca de um mês. De segunda à sexta-feira, das 19h às 22h, mais de 100 bailarinos, atores e membros de quadrilhas juninas ensaiavam no ginásio do Colégio Atheneu.

Nenhum deles passou por testes de audição ou seleção, como ocorreu nos outros dois autos natalinos que serão encenados em Natal nos próximos dias: o Auto de Natal e o Presente de Natal. Segundo João Marcelino, cada integrante foi escolhido a dedo pela qualidade profissional de cada um.

Eram 19h45 da terça-feira. Seria mais um dia comum de ensaio no Atheneu para a finalização das últimas duas coreografias do espetáculo. Ninguém sabia da notícia do cancelamento decidido durante a tarde. Ao serem informadas pela reportagem do Diário de Natal, a reclamação foi geral.

Muitos dos partícipes do elenco faltaram faculdade durante o período. Outros deixaram de dar aula em suas respectivas funções. E todos investiram no projeto, seja com gastos de transporte e tempo, seja pela opção em detrimento dos outros dois autos que serão promovidos em Natal até o fim do ano.

“Cancelar um trabalho depois de praticamente concluído é mexer com muita gente. A grana era certa pro natal e festas de fim do ano, vai fazer falta para muita gente. É um trabalho artístico perdido. E muitas bailarinas como eu deixaram de participar da audição de outros autos por acreditar neste projeto”, lamentou uma bailarina da Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (Edtam).

Por volta das 20h, o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto compareceu ao ginásio para dar satisfações ao grupo. Segundo Crispiniano, a explicação foi falta de verba. “Solicitei liberação de recurso extra junto ao Conselho de Desenvolvimento do Estado. Normalmente sou atendido. Desta vez, não. Talvez por ser um ano atípico, de crise financeira”.

O gestor disse ainda que ocasião semelhante ocorreu com o Projeto Seis & Meia, além de editais de incentivo à cultura publicados pela Fundação este ano e até o momento sem pagamento. “Já me endividei com o Seis & Meia. Não vou acrescentar mais este problema. Chega de dificuldades para este ano. Quando abrir o orçamento de 2010 vamos indenizar todo o elenco e procurar aproveitar cada um em outros projetos da Fundação”, disse Crispiniano.

A Festa do Menino Deus reuniria este ano uma verdadeira seleção de talentos da dramaturgia e do teatro potiguar: direção geral de João Marcelino, texto de Racine Santos, produção de Ivonete Albano, coreografia de Wanie Rose e trilha sonora de Danilo Guanais, afora atores e bailarinos selecionados, cenógrafos, contraregras e figurinistas renomados.

O roteiro
O roteiro começaria com apresentação da história do Rio Potengi. Lavadeiras preocupadas com a sujeira do rio, a falta de peixes e alimentação para a família. A lavadeira Maria faz uma promessa e em seguida, o marido José volta da pescaria com a rede repleta de peixe. Traz também embrulhada a imagem de uma santa, que remete à Nossa Senhora do Rosário. Maria, infértil, também promete contar a história do Menino Deus todos os anos caso engravidasse. O milagre é atendido. José, um seridoense, deseja que o filho nasça ouvindo as ondas do mar. O latifundiário José Rodes (Herodes) também entra na trama, como também os reis magos, o Boi de Reis e Nossa Senhora da Apresentação, que surge para amainar conflitos e assistir o nascimento do Menino Deus.

SAIBA MAIS
Este seria o terceiro ano consecutivo de apresentação do evento, sempre com direção geral de João Marcelino e texto de Racine Santos. A primeira edição foi realizada no Palácio da Cultura (Cidade Alta). No ano passado, foi transferido ao Anfiteatro do Campus. Este ano seria encenado no Largo Dom Bosco, na Ribeira.

A Festa do Menino Deus é a continuação do auto natalino Presente de Natal, encenado por dez anos e idealizado pela diretora Diana Fontes. O Presente de Natal foi desmembrado do Governo do Estado e será realizado este ano na Praça de Mirassol, ainda patrocinado pelo executivo estadual e sob a chancela de Diana Fontes.

* foto de Alex Gurgel

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