quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
A vida é uma festa (?)
Por Julio Daio Borges, no Digestivo Cultural
Se na biografia A vida até parece uma festa (2003), os Titãs pareciam querer ser levados a sério, no documentário de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves, vence o escracho, a eterna adolescência e a edição frenética. Tirando algumas performances e poucas curiosidades de bastidores, as filmagens guardam um valor, possivelmente, sentimental, mas não há consenso em dizer que mereciam ser conhecidas pelo grande público. Vale, por exemplo, a primeira aparição televisiva de “metade” dos Titãs, num programa de calouros, onde um dos jurados era ninguém menos que Wilson Simonal. Valem, igualmente, as cenas de estúdio durante as gravações de um disco antológico como Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987). Vale, ainda, a redescoberta de Mauro e Quitéria, repentistas de Pernambuco, que abrem Õ blésq blom (1989), e que, no filme, concedem uma entrevista macarrônica.
Entre as conclusões, fica comprovado que a saída de Arnaldo Antunes desorientou o grupo, levando-o do grunge ao hit parade, de Jack Endino a Roberto Carlos, da suposta vanguarda roqueira ao populismo da Globo. Também fica evidente que Nando Reis fez um ótimo negócio, ao sair logo em seguida, embrenhando-se pela MPB, desenvolvendo-se como músico, ganhando (e perdendo) uma musa. E Marcelo Fromer, mesmo que não parecesse o mais brilhante do octeto, tinha um poder de aglutinação; e sua morte parece ter desestruturado, mais ainda, os Titãs nos anos 2000...
É, a longevidade não parece ser o forte dos astros do rock brasileiro. A Legião Urbana teve a “sorte” de perder seu líder, antes que ele se perdesse, irreversivelmente, no pop brega italiano. Os Paralamas se acidentaram, mas – ao contrário do que prega a sabedoria “legionária” – insistiram em continuar. Lobão se embrenhou pelo “samba”, “combateu” as gravadoras, rendeu-se ao “acústico”, mas suas realizações em disco têm sido ainda menores que em televisão. Leo Jaime reina, como Momo, no Orkut. Lulu Santos canta para João Dória Júnior. E Paula Toller ataca, vergonhosamente, de “Fly me to the moon”... Enfim, o ocaso dos Titãs não é privilégio deles, e todo e qualquer documentário, sobre ícones dos anos 80, acabaria da mesma forma: sem happy ending.
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