terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Do polêmico Kindle
Dom bom e velho Julio Daio Borges e seu texto cheio de vírgulas, publicado no Digestivo Cultural:
O Kindle, o leitor de livros eletrônicos da Amazon, tem gerado respostas ambíguas. Se em uma semana ficamos sabendo que editoras brasileiras, por exemplo, correm para digitalizar seus títulos, em outra descobrimos que editoras americanas, grandes, seguram títulos novos, no Kindle, para que não “canibalizem” suas respectivas versões em papel (nas livrarias).
Como na indústria do cinema, onde um DVD (ou, será Blu-ray?) só está “liberado” para o comércio depois de meses da estreia nas salas de exibição, a Simon & Schuster quer “segurar” seus lançamentos (em capa dura, nos Estados Unidos) durante quatro meses, antes de disponibilizar suas respectivas versões eletrônicas (a uma fração do preço, evidentemente).
A Amazon, embora venda, também, as versões em papel, responde que – meses depois – o leitor do Kindle perderá o interesse, ou adquirirá outro título, talvez de outra editora, que esteja disponível eletronicamente... Blogueiros igualmente acusam editoras como a Simon & Schuster – e outras, como o grupo francês Hachette – de criar uma “falsa escassez”, pois “segurar” um livro em versão eletrônica pode, futuramente, equivaler a tentar segurar versões “pirata” de Harry Potter, U2 ou Paulo Coelho, que sempre escapam...
E por falar no mago brasileiro, a Veja anuncia que ele foi o “primeiro” autor nacional a suplantar as editoras – e negociar, diretamente, com a Amazon. Não é, obviamente, uma ideia original dele (nem da Veja), é algo que já estava previsto no script: afinal, como escreveu Paul Graham, em setembro, vamos caminhando para um mundo “post-medium” ou, em bom português, “pós-mídia” (física). A Amazon, embora se faça de amiga dos jornais (com o Kindle DX), pode, num futuro, tornar-se, sim, a única editora. Como a mesma Apple pode. E como o Google, também, pode...
Para complicar, ainda mais, o raciocínio, surgiu a notícia de que o Kindle ameaça ser “hackeado”... Se os editores, e os autores, brasileiros, em outras épocas, nem sonhavam com a “digitalização”, agora terão de pensar em um melhor argumento que o do “cheiro”, da “textura”, do “gosto”...
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