Por Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Porto Alegre - O sociólogo e jurista português, Boaventura de Sousa Santos, defendeu hoje (28) a radicalização da democracia como forma de enfrentar as desigualdades sociais provocadas pelo capitalismo, durante debate no Fórum Social Mundial (FSM), na capital gaúcha. O professor da Universidade de Coimbra disse que “um outro mundo é necessário e é urgente”.
Durante a conferência, Boaventura fez duras críticas ao modelo de gestão de empresas privadas que utilizam a responsabilidade social para atrair mais clientes e que a saída para o atual modelo de desenvolvimento virá das periferias, das pequenas e médias cidades, capazes de fomentar uma economia solidária.
“A nossa grande arma é o uso radical da democracia. Essa forma, essa paixão que temos hoje pela justiça social. Uma democracia radical, que tem que ter lugar na fábrica, no campo, nas ruas, na escola, em todo lado. Se me perguntassem qual é o socialismo do século 21, eu diria que é democracia sem fim. Nada mais do que isso”.
A radicalização da democracia, na avaliação do sociólogo, leva em conta diferentes espaços e formas de participação popular capazes de melhorar as condições de vida das pessoas. “Queremos viver bem. Nos últimos vinte anos, o capitalismo criou valor para coisas que não poderiam ser sujeitadas ao valor, como a água e até o ar em condomínios [residenciais] da Europa. E, naturalmente, quem tem dinheiro compra, quem não tem, morre à mingua, contaminado”.
O sociólogo reconhece, no entanto, que a apropriação de mecanismos democráticos pelo povo deve gerar tensões. “A partir do momento que ela [democracia] bate contra os interesses dos privilegiados, o capitalismo não gosta e vai resistir, de maneira democrática, ou de maneira violenta. O paramilitarismo, que está aumentando no continente é uma versão violenta dessa resistência”.
“Vamos ter que criar lutas. Com conflitos, sem dúvida. Nem sempre nossa luta será legal [juridicamente legal]. Deve ser sempre pacífica, mas não vai ser sempre legal. E se calhar, teremos que fazer alguma ocupação de terra, mesmo que ilegal. Isso não é violência, não é terrorismo, tem lugar se a reforma agrária não puder avançar”, defendeu o autor do livro Para uma Revolução Democrática da Justiça.
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