sexta-feira, 5 de março de 2010

Contra malfeitores cafajestes


Simona Talma estreia novo show amanhã na Casa da Ribeira e mantém a pegada bluesística do último CD

O Diário de Natal e o Ministério do Machismo advertem: há uma moça vagal solta pelas ruas da cidade expelindo o veneno do romantismo contra cafajestes à procura de meras aventuras sexuais. E no rastro das suas pegadas, uma voz docemente melancólica acompanha a freqüência baixa do blues. Simona Talma ressurge menos desinteressada e mais crítica, senhora de si. O título do show de amanhã na Casa da Ribeira (20h) denuncia alguns motivos: Boa Sorte de Malfeitores, cujo tema malha a figura dos cafajestes.

O tema traz o universo geralmente vivido pelas mulheres: paixões ardentes, sedução, o amor dos brutos que não amam e dos que não sabem amar; as faces de um universo cheio de charme, vícios e ilusões. Mas por trás do tom agressivo das letras há uma moça frágil, na luta contra a solidão e acima de tudo, que sabe o seu valor. Simona mostra novas canções após o CD A Moça Mais Vagal que Há (2008), com a mesma pegada de jazz-blues e desta vez acompanhada pela banda Os Compradores de Charuto.

O show será uma espécie de ensaio/apresentação das músicas para a gravação do CD? Tem previsão para o lançamento?
Muitas músicas desse show são inéditas. Além de se apropriar das músicas, testamos arranjos, dinâmicas, cenas, já que pela primeira vez faço a direção do meu show, fazendo a concepção do espetáculo, produção e quase tudo o que precisa. A banda faz os arranjos sob minha direção também e de Willames Costa (contra baixo acústico e teclado). O CD está apenas começando. Vamos começar a gravar e depois eu preciso conseguir o dinheiro para mixar e masterizar. Espero que lancemos no próximo ano, se tudo correr muito bem.

O estilo dos arranjos mantém a fase jazz-blues do último trabalho? Como você definiria este novo repertório?
Sim, meu foco é o blues e suas variações: o jazz e o rock. Exploro também o country e rockabilly, mas ainda não consegui compor nada dentro dos estilos que eu considere bom. Porém, vamos fazer no show uma música instrumental de Toni Gregório (guitarra e bandolim) e um country que sempre fazemos nos shows. Definir como os estilos se colocam dentro desse contexto é difícil. O meu trabalho é híbrido e tenho muitos elementos de música brasileira que estão interiorizados na música que componho. Além disso, a liberdade como arranjamos as músicas, usando elementos desses ritmos e estilos de raiz como o blues, dificulta nossa classificação. Acredito que faço blues, mas não me utilizo só de blues. Se perguntar a qualquer músico entendido da coisa, eles irão discordar. Mas o meu blues é assim. Quem sabe futuramente se encaixe como uma das variações do blues.

O título do show é intrigante. O que motivou “a moça mais vagal que há” a buscar canções com esta temática?
A moça mais vagal surgiu a partir de uma versão de uma música de Cole Porter, um jazz é claro, gravado por Jussara Silveira. A história dessa moça que não assume compromisso à toa, por comodismo, que vive intensamente, é romântica, mas não teme os homens, não se submete a eles, nem se vende; ela se dá. A moça de Cole Porter caiu como uma luva dentro do meu contexto de personagem e no meu contexto cultural, já que nossa profissão por muitos ainda não é considerada profissão, já que músico é vagabundo, e é exatamente o que eu sou. Boa Sorte de MalFeitores é a continuação dessa história de amor, que se ramifica em muitas outras, discute as relações monogâmicas ou a "pseumonogamia" através da figura do "cafajeste" e questiona até onde as mulheres são vítimas e até onde se vitimizam, entre outras coisas.

Se o Boa Sorte de MalFeitores é uma continuação de A Moça Mais Vagal que Há, virá um 3º Cd pra completar essa trilogia? Qual seria o título se fosse lançado hoje?
(risos) Espero que venha sim. É difícil prever. Meu processo é gradativo e segue o fluxo das minhas experiências pessoais e descobertas. E os títulos são muito importantes pra mim. Talvez neste terceiro viesse algo bem mais leve, que fale mais do bem do amor, de compreender e explorar o estado de felicidade, mas com certeza não terá no título nem a palavra amor nem felicidade, por que eu tenho que manter a minha fama de mal. Então, poderá ser: "Tenho que manter a minha fama de mal”.

Show Boa Sorte de MalFeitores
Quem: Simona Talma
Onde: Casa da Ribeira
Data e hora: Amanhã, às 20h
Quanto: R$ 5 (preço único)
Reservas: 3211-7710

Coletivo Records: www.coletivorecords.blogspot.com
My Space: www.myspace.com/mocavagal
Blog: www.simonatalma.musicblog.com.br

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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