sexta-feira, 19 de março de 2010

Quem é que ama sem violência?


Corte sem Casca, nova peça do Coletivo Atores à Deriva aborda afetos e sentimentos na Casa da Ribeira

A palavra “casca” abrange vasto repertório de sinônimos, metáforas e significados. No caso do novo espetáculo do Coletivo Atores à Deriva – Corte sem Casca –, ela assume a ideia de proteção, de moldura da carne viva da sensibilidade. Se a peça aborda o afeto, é preciso cortar obstáculos e por o dedo na ferida para chegar ao mais profundo entendimento do que somos e como seremos lembrados.

Jogue a primeira pedra quem conseguiu se desvincular de toda a casca de sentimentos inibidores da relação afetiva com o outro. Timidez, solidão, inidividualidade, rancor, inveja e tantos outros alimentos indigestos da alma são mais comuns a todos do que se pensa. E a necessidade de quebra dessa casa é o mote da dramaturgia da peça construída por Henrique Fontes, sob direção de Doc Câmara e trilha sonora e arranjos de Luiz Gadelha.

A nova empreitada artística do coletivo estreia amanhã na Casa da Ribeira e permanece em cartaz até domingo, sempre às 20h. Após o sucesso da peça A Mar Aberto, cujo mote era o desejo, a busca agora é pelo questionamento do jogo afetivo para ampliar o olhar sobre a capacidade do homem em se “afetar” e as consequências da imposição do desejo de um indivíduo sobre o outro.

“Entender aquilo que nos motiva a agir ou paralisar é entender o nosso modo de estar no mundo”, disse Doc Câmara, diretor da peça. Para construção da dramaturgia, assinada por Henrique Fontes (Gesto, Cascudo; A Mar Aberto; O Tempo da Chuva; Pobres de Marré), os atores do coletivo mergulharam em memórias de infância e encontraram novas perspectivas no processo criativo e na relação com o público.

Para Henrique Fontes, em Corte sem Casca os desejos são potencializados e a constante procura do homem por um lugar seguro, por uma família própria, vem à tona, aproximando o público da peça. “É um pedido às pessoas para que cortem a casca, essa proteção contra o afeto, contra a relação com o outro. Queremos ir fundo na ferida. A proposta é aprofundar o tema a partir da necessidade do afeto”, explica.

Sinopse
Paulo é um homem solitário, apesar de ter sob seus cuidados um filho, João. Ele conhece Bruno que passa a integrar a sua família, assumindo papel de tia de João. Numa noite de extrema angústia Bruno conhece Ana. Surge uma família nada convencional. Paulo, Bruno e Ana viverão um jogo de desejo e repulsa, mas tudo muda quando João, escondido de Ana, é descoberto. Ele será o meio para cada um nesta família confrontar-se com sua verdade. É impossível fugir de si mesmo.

O Grupo
O Coletivo Artístico Atores à Deriva surgiu no final de 2007 com o objetivo prioritário de formação continuada e experimentação de linguagens teatrais em sua complexidade.

O coletivo é formado por sete atores (Alex Cordeiro, Analu Campos, Bruno Coringa, Doc Câmara, João Victor, Paulo Lima e Henrique Fontes) que se revezam na direção dos projetos do Coletivo. A dramaturgia é assinada por Henrique Fontes.

A primeira aparição pública foi em Abril de 2008 em uma espécie de revolução pessoal e silenciosa. Colhendo resultados maiores que a expectativa, a peça A Mar Aberto estimulou o debate de boa parte do público e da classe teatral natalense. A Mar Aberto seguiu por festivais pelo nordeste e Brasil e ainda neste semestre de 2010, circulará pelo interior do RN graças ao Premio do Programa BNB Cultural.

Corte Sem Casca
Dias: De sexta-feira a domingo
Horário: às 20h
Onde: Casa da Ribeira (www.casadaribeira.com.br)
Preço: R$ 5 (na estréia, amanhã, R$ 3 para artistas e estudantes)
Contato: 3211-7710
(atoresaderiva@blogspot.com)

* Matéria publicada ontem no DN (foto de Rafael Beznos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário