Escolas de Samba e orquestras ainda esperam pagamentos do carnaval promovido pela prefeitura de Natal
Dizem que o ano só começa depois do carnaval. Para as agremiações carnavalescas da cidade, as dezenas de músicos responsáveis pela orquestração do chamado Carnaval Multicultural 2010 e parte do pessoal de apoio que participou da organização do evento, o ano ainda não começou. Eles ainda vivem a expectativa de receberem seus pagamentos e prêmios prometidos pela prefeitura de Natal. A dívida supera os R$ 500 mil – um terço do orçamento total de R$ 1,5 milhão do evento promovido este ano.
A estimativa dada pela coordenadora do Carnatal, Cristina Medeiros, é de que entre segunda e quarta-feira da próxima semana, os músicos das orquestras e o pessoal de apoio – incluindo a Rainha do Carnaval – sejam pagos. Quanto às escolas de samba, sequer há previsão. O motivo é uma questão jurídica que envolveu a decisão pelo quarto lugar no desfile das agremiações no carnaval.
Segundo Cristina Medeiros, a Funcarte já cumpriu a sua parte e encaminhou todos os processos de pagamento ao setor financeiro da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla). “Os processos já passaram pela Controladoria. E eles disseram que a prioridade é o pagamento dos servidores públicos e depois serão pagos os músicos da orquestra – cerca de R$ 400 mil. Agora, a premiação das escolas (R$ 125 mil) eu não sei”, disse Cristina.
O titular da Sempla, Augusto Viveiros, estava fora do gabinete e afirmou desconhecer a pendência do pagamento ou a fase do processo. “Seria preciso eu verificar”, disse. De certo, sequer houve a publicação no Diário Oficial do Município – exigência primeira, estipulada neste ano, para início de abertura do processo de pagamento às escolas de samba.
O presidente da escola campeã do carnaval deste ano, a Malandros do Samba, reclama do amadorismo da Funcarte e da Sempla no trato e na atenção com os carnavalescos. “Há cinco anos é assim. Quando recebíamos pela Sectur (Secretaria de Turismo) era diferente. Ali na Funcarte só tem calouro. Reconheço a boa vontade de Castelo Casado no ano passado e de Cristina, neste ano. Mas falta agilidade”, reclama Kerginaldo Alves, também vice-presidente da Associação das Escolas de Samba e Tribos de Índio de Natal (Astin).
Kerginaldo afirmou ainda que o desfile das agremiações carnavalescas deste ano só aconteceu porque ele conseguiu afiançar junto à loja Ponto dos Botões a liberação para compra de material para montagem do desfile. “A prefeitura só liberou o dinheiro (R$ 15 mil às escolas da Chave A e R$ 12 mil às escolas da Chave B) depois do desfile. Não houvesse a intervenção da Astin, não haveria carnaval”. E lamenta: “Falta sensibilidade. Nunca foi desse jeito”.
As bandas e artistas (incluindo os dez músicos contratados para o projeto Escute Que é Daqui) contratados via empresa de Bruno Giovanni – Iluminarte –, além de parte do pessoal de apoio do carnaval, prévias carnavalescas, blocos e grupos folclóricos receberam o pagamento há uma semana.
Dificuldades costumeiras
A prática da agiotagem nos bastidores do carnaval natalense tem sido prática constante devido aos repetidos atrasos no repasse da verba municipal. Todas as escolas já recorreram a empréstimos extras com a promessa de pagamento caso a escola consiga boa pontuação e, consequentemente, valores mais altos de premiação. Segundo carnavalescos, a grande maioria está endividada. A estimativa é que em poucos anos os desfiles das escolas de samba possam acabar após a falência das principais agremiações.
O valor baixo e o atraso na liberação da verba é apenas alguns dos pontos reclamados pelos carnavalescos. O outro é quase uma questão de monopólio. O Ponto dos Botões é a única loja de Natal apta a vender material para a montagem do carnaval. É unânime a reclamação entre os diretores de escolas o preço alto e a falta de opções na loja. Segundo os carnavalescos, outras lojas “dormem no ponto” porque podiam ganhar algum dinheiro a mais no período.
* Matéria publicada nesta quinta-feira, no Diário de Natal
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