De tantos erros de digitação na edição número 4 da Revista Palumbo, evitei comentar qualquer coisa. Acho inconcebível para uma publicação mensal e de conteúdo qualificado. Esta quinta edição veio mais cuidadosa - embora persistam alguns, até na legenda da foto - e com duas entrevistas espetaculares, com o compositor e cantor Leno e o historiador e escritor Marcos Silva.
Essas duas entrevistas já pagam a revista. Afora um acervo raro de fotografias de Henfil, cedido por Candinha Bezerra e o artigo do professor Vicente Vitoriano a respeito do 13º Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal - aquele do cabôco que mandou a igreja tomar no terço.
O estilo extremamente sensível da jornalista Michelle Ferret concebeu uma matéria interessante a respeito do colecionador de antiguidades, Alberto Caeiro. Me intriga a devoção de pessoas como esse Alberto. Uma vida voltada ao apego a particularidades materiais; e quase uma clausura de alma ao lugar, à história de cada peça. Me passa uma impressão de vida desperdiçada, longe do final poético da matéria.
O inverso achei no texto de Dodora Guedes. O estilo da jornalista ressaltado no editorial pintou de uma socialite uma verdadeira Leila Diniz potiguar. Achei exagero. Claro, já foi explicado o foco da revista, também de entretenimento. É matéria focada a um público-leitor específico. Só acho que poderia unir o útil ao literário. A última frase do texto é sintomatica: "Natal precisa mudar de assunto".
Um exemplo prático é a sessão "10 Perguntas A...". São indagações inteligentes entregues a, digamos, pessoas que desvalorizam as perguntas. Isso tem sido recorrente. Seria um espaço melhor aproveitado se houvesse personagens intrigantes da sociedade potiguar, que sejam menos "do bem". E eles são aos montes.
Geniais ficaram as páginas dedicadas à simpatia de Marcos Silva. Tarcísio Gurgel pincelou o pingue-pongue com o historiador entrelaçando um roteiro interessantíssimo de um possível Doc. Coisa de quem entende do riscado. E Marcos Silva merecia o espaço. É o responsável pelo toque de elegância à sopa de vaidades e radicalismos da intelectualidade da província.
Muito bacana também o artigo de José Arno Galvão a respeito do sobe e desce dos costumes. Para equilibrar, o chatíssimo relato de viagem do empresário Marcelo Chianca - quase um Joseph Climber. Sávio Hackradyt começa perguntando "Ser ou não ser, eis a questão". E termina sem desvendar o enigma hamletiano ou escrever absolutamente nada de novo no cenário político local.
Senti falta de crônicas. As páginas finais foram dedicadas a artigos e às dicas de leitura. Aliás, uma muito boa a respeito do livro de François Silvestre, Esmeralda: Crime no Santuário do Lima. A única, até o momento, a desfiar críticas construtivas ao livro, tão saudado pelos leitores, jornalistas e literatos. Faltou a autoria da crítica.
No todo, uma revista muito massa, com mais anúncios (viva!) - Uma dádiva a uma publicação impressa. Li críticas suaves a respeito do provincianismo de alguns assuntos. Ora, pra que negar? Somos provincianos, mesmo. Matutos cosmopolitas, pra ser mais exato.
A publicação retrata muito da cultura e dos costumes potiguares. Merecia ser melhor encarada e enaltecida. Inclusive pelos próprios diretores, com releases distribuídos por email com a imagem da capa da revista, propaganda em orkut, twitter - ferramentas do novo marketing.
Esse é apenas o meu olhar - o de um reles repórter - sobre a mais nova edição da Palumbo. Vale a leitura particular de cada um. São só 8 reais, ou o preço de duas cervejas e um churrasquinho no máximo. A digestão e os efeitos colaterais da revista são mais recomendáveis.
Parabéns pelo belo texto comentando a PALUMBO, deveria ser mais divulgada.
ResponderExcluirTambém acho que os editores deveriam usar as novas ferramentas de marketing para divulgar mais a revista Palumbo. O seu texto me deixou com água na boca e vou até a Siciliano comprar essa danada para degustare esse final de semana. Parabéns pelo excelente blog. Abraços do amigo. Alex Gurgel
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