terça-feira, 11 de maio de 2010

Qual o papel do artista plástico?


Por Paulo Jorge Dumaresq
no blog Nariz de Defunto

Qual é o papel do artista plástico na sociedade? Esta indagação pode não ser respondida, propriamente, neste esboço de ensaio nem no Dia do Artista Plástico, a ser comemorado à larga, em 8 de maio, pela Fundação Cultural Capitania das Artes, mas fica no ar como a espreitar nossa consciência. Levando-se em conta que arte é a revelação e manifestação da essência humana, esquecida em nossa efêmera existência cotidiana, o artista reflete sobre a sociedade, seja para criticá-la, afirmá-la ou superá-la. Arte é espaço. Artista, tempo. Desse coito entre arte e artista, nasce a obra pictórica, rebento iconográfico da nossa história quase sempre mal contada.

Em Natal, outrora Nova Amsterdam, a multiculturalidade papa-jerimum apoia-se desde sempre na fortaleza poligonal em forma de estrela de Gaspar de Samperes e na presença batava de Frans Post, Jorge Marcgrave e Albert Eckhout, desbravadores das nossas paragens/paisagens bio-etnográfico-geográficas.

Até onde a memória alcança e a história confirma, a nossa endovisão pictórica tem início com o classicismo de Moura Rabelo e a Art Déco/Noveau de Erasmo Xavier, extrapolando as divisas potiguares. Precursor modernista, Newton Navarro deglute as vanguardas europeias e regurgita uma nova arte autenticamente papa-jerimum. Abraham Palatnik ensaia o movimento perpétuo via arte cinética.

As digitais de Dorian Gray estão em telas, tapeçarias e painéis espalhados pela Londres nordestina, na expressão de Jomard Muniz de Brito. Há ainda o impressionismo de Thomé Filgueira e o expressionismo de Leopoldo Nelson, ontem. Hoje, o expressionismo reside em Wagner de Oliveira com suas mulheres cablocas do Assu. Debaixo da saia de Socorro Evangelista, destacam-se naturezas mortas vivíssimas. Já em Zaíra Caldas, mana do mestre Dorian Gray, desabrocha o transfigurativismo.

Cajus virgulados de castanhas infestam as telas de Vatenor de Oliveira. O possibilismo de Marcelus Bob e Ítalo Trindade também realça o fazer pictórico no burgo cascudiano. Gilson Nascimento ataca de realismo/naturalismo. Fernando Gurgel a tudo atento investiga e devassa a urbe com suas obras grávidas de significado.

O primitivismo ganha contornos com Djalma Paixão, Estelo, Iaperi Araújo, Jotó, Nivaldo e Thiago Vicente. Figurativismo é sinônimo de Fábio Eduardo e Valderedo Nunes. Assis Marinho franciscanonizado negocia quadros de bar em bar, enquanto que Carlos Sérgio Borges faz aquário das suas telas. Ah, Pedro Pereira cantarola um blues enquanto pinta o seu infinito mundo particular, e Marcelo Fernandes aglutina cores em giz. O grafismo encontra espaço na obra de J. Medeiros. E Helmut Cândido, no céu com seus diamantes e sua falsa demência, foi/é o mais lúcido impressionista louco da Cidade Alta.

* Ilustração do post: obra de Newton Navarro

2 comentários:

  1. "para que serve a pintura
    a não ser quando apresenta
    precisamente a procura
    daquilo que mais aparenta,
    quando ministra quarenta
    enigmas vezes setenta?"

    (Leminski, "Sete assuntos por segundo")

    Creio que as artes plásticas servem para tudo o que foi dito ( “o artista reflete sobre a sociedade, seja para criticá-la, afirmá-la ou superá-la”) mas sobretudo para - mais do que superar - sublimar , expurgar ou transcender a realidade, ministrando enigmas, estranhamentos e despertando sentimentos. Existe uma frase atribuía a Nietzsche (mas não tenho certeza sobre a autoria) que diz assim: a arte existe para que a verdade não nos destrua.
    Concordo plenamente. O verdadeiro papel do artista é nos salvar.

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  2. Arte por toda parte.
    Necessidade, vontade...
    Por uma vida plena...

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