quarta-feira, 19 de maio de 2010
Retrovisor trincado
Das boas revelações da música potiguar dos últimos anos, Projeto Retrovisor ensaia volta sem Valéria Oliveira
Tolstoi e Cascudo justificariam a criação do Projeto Retrovisor pelas notórias frases “cantas a tua aldeia e serás universal”, ou “Natal não consagra nem desconsagra ninguém”. Quando Valéria Oliveira, Khrystal, Simona Talma, Luiz Gadelha e Ângela Castro uniram vozes e composições, o intuito foi vestir o chapéu de Carmen Miranda na música potiguar: chamar atenção para o talento de seus compositores e músicos para que a música produzida aqui se tornasse universal e, finalmente, Natal pudesse consagrar seus filhos. Após relativo alcance da meta e término do Projeto em 2009, o Retrovisor ensaia uma volta desfalcado de Valéria Oliveira.
O Projeto teve início em março de 2006. À época, os cinco integrantes batalhavam espaços na mídia e nos palcos. Eram desconhecidos à maioria do público. A mais veterana, Valéria Oliveira, ocupava o mesmo chão escorregadio de contemporâneos como Sueldo Soaress e Pedrinho Mendes, e encontrou na vitalidade de jovens promessas a catapulta para um ressurgimento mais consistente. E os quatro jovens tinham em Valéria uma referência e uma inspiração. A troca de figurinhas elevou a carreira dos cinco integrantes, hoje bem sucedidos em projetos paralelos.
Khrystal ganha reconhecimento nacional já com duas apresentações na Rede Globo e shows agendados no Sul Maravilha. Ângela Castro, com o Rosa de Pedra, gravou o Som Brasil pela Globo. Simona Talma e Luiz Gadelha, em projetos paralelos, são nomes conhecidos e aplaudidos na mídia local, também parceiros de algumas das melhores composições da música potiguar. E Valéria Oliveira trabalha sua carreira em São Paulo, consolida sua música no Japão e apresenta seu talento em festivais internacionais. Então, se o Projeto Retrovisor alcançou o objetivo de projetar a música potiguar a cenários mais promissores, qual o motivo da volta?
“São vontades”, justifica Ângela Castro. A amizade e constantes encontros informais entre os integrantes levantaram a possibilidade. Nada concreto. Nenhum compromisso firmado. Mas uma conversa já adiantada que acende a luz de um túnel próximo. “Estamos dispostos a isso. O Retrovisor foi e é importante para nós, mas por enquanto temos outras prioridades. Não queremos voltar ‘meaboca’”. Além do bom momento na carreira de cada integrante, Ângela cita ainda o período junino, mais movimentado aos músicos locais. “Mas vamos encontrar brechas para essa volta. Ainda estamos no plano das idéias”, pondera.
Data marcada
Luiz Gadelha confirmou o que fontes especularam: já surgiu convite para show do Retrovisor durante a SBPC, em fins de Julho. “Sequer retornamos o contato. Ainda estamos sondando a possibilidade. Depende muito da agenda de cada um para o dia”. O compositor de voz aguda e forte presença de palco ressaltou que as conversas para a volta do Retrovisor vieram antes do convite da SBPC. “Partiu de papos informais, lembramos dos momentos em uma festa, cantamos uma música da época e levantamos essa possibilidade”. Luiz Gadelha adiantou que há pretensões de promover um evento ou um grande show de comemoração para a volta do Retrovisor, sem previsão de data.
Mais do mesmo (?)
O produtor e companheiro de Khrystal, Zé Dias lamenta o desfalque da “grande mentora do Retrovisor”, Valéria Oliveira. “A princípio, voltam os quatro, mas de braços abertos para a volta de Valéria”. O produtor ressalta ainda a importância do Projeto para os integrantes, mesmo após trajetórias mais consolidadas. “Será bom pra todo mundo. Agora, a música é mais uma no mercado. Não representa nada de novo. Quem procurou fazer um som diferenciado foi Khrystal. Ela modernizou o coco, enquanto o Retrovisor faz uma música igual a que 300 ‘caras’ de São Paulo fazem”. E conclui: “Para fazer música, se não tiver dinheiro e coragem, não se chega a lugar nenhum”.
Valéria: “Existe vontade”
As frases de Valéria Oliveira para justificar a ausência na volta do Retrovisor deixam esperanças “no ar”, sem qualquer trocadilho com o título de seu último CD. “Temos conversado, existe a vontade. Mas tudo que me envolvo mergulho de cabeça. E nesse momento estou centrada na divulgação do No Ar. Mas sempre deixei o grupo à vontade para seguir em frente”. E mais uma vez deixa a porta aberta... “E de certa forma estamos juntos, compondo, estimulando novos compositores. Isso é o Retrovisor – muito mais conceitual do que uma banda, propriamente. O Retrovisor, na verdade, é uma festa”.
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