domingo, 6 de junho de 2010
Entrevista - Khrystal
Na levada do coco
Khrystal comemora junto com a Rosa de Pedra conquistas e amizades musicais em show hoje no Praia Shopping
A energia esfuziante dos palcos também serve à palavra. Khrystal solta o verbo para comentar a desunião dos músicos potiguares e as mentiras do show business. Para quem já dormiu na rua e enfrentou maus bocados nas esquinas da vida, a nossa versão moderna de Chico Antônio fala das “ralações” da carreira musical e também do show de hoje à noite, às 20h, junto com as amigas “negritas” Ângela Castro e Tiquinha Rodrigues, dentro do projeto Praia Shopping Musical.
O encontro entre “as negritas” é mais uma celebração musical ou uma comemoração pelos espaços conseguidos em rede nacional?
Eu e as meninas nos conhecemos há muito tempo. Negritas é como nos chamamos. Uma mescla de tudo. Uma celebração à vida, a tudo que passamos e ao que conseguimos. A Cátia de França também estará presente e promete subir ao palco pra uma canja junto com a gente.
E o repertório do show?
Vai ter muito coco, muita coisa de Aurinha, uma pernambucana lá de Arcoverde. Também o coco de Cila. Vou atrás de canções femininas. Sinto falta desse jeitinho feminino de se fazer as coisas. E muita coisa nossa, minha e das meninas; uma música que fizemos juntas para abrir o show, chamada Reza para Xangô. Enfim, um show bonito, uma celebração alegre que vale a pena dar uma conferida.
Por que o palco do Praia Shopping Musical para este show comemorativo? O público é diferenciado?
Não pensamos em show super produzido, que valha um teatro ou coisa assim. Além do mais, é também uma forma de prestigiarmos a doação que o José Dias tem feito pelo meu trabalho, pelo trabalho das meninas. O “Praia” é um palco diferenciado. A galera que comparece não trata o músico como radiola de ficha, sempre pedindo música. vai pra escutar o que trazemos e apreciam boa música. É um projeto que tem oferecido música de qualidade, então vamos lá prestigiar José. Ta valendo.
Houve momentos em que você pensou em vias mais fáceis de alcançar esse sucesso?
Cara, sempre tive meus princípios. Nunca pensei em trilhar caminhos mais fáceis por isso ou aquilo. Minha levada é o samba, é o coco, é a boa música seja ela qual for. Nunca aceitei ninguém me dizer o que devo cantar, embora muita gente pense que José faz isso. Ele nunca colocou uma música sequer em meu repertório.
Você tem medo de ficar uma artista restrita aos elogios dos críticos e desconhecida à grande massa ou o coco possibilita essa abertura para conquista desses dois públicos?
A opção B. O artista tem muita dificuldade em chegar lá. Tem o jabá da pesada, enfim. As bandas do Ceará colocam bailarinas maravilhosas, aquela fumaça, um palco super produzido. O público gosta de show bem produzido e lida com a música como forma de entretenimento e não esquece o subtexto. Não descarto essa opção. Mas nunca pensei se a crítica iria falar bem ou mal ou se iriam saber da minha música. Nunca tive pretensões com a música. quando começaram a falar bem fiquei feliz, mas não ambiciono essa coisa do sucesso. Minha vida é uma ralação tão filha da mãe que essa realidade é muito distante. É pouco dinheiro pra resolver as paradas. Tem que ter o pau duro mesmo ou você abandona a música. É uma vida muito difícil. Ou você encara ou vai lavar roupa. E nessa correria não dá nem tempo pra pensar em sucesso. Essa é outra mentira do show bussiness.
Por que Marina Elali e Roberta Sá alcançaram o sucesso nacional e tantos artistas potiguares também talentosos estão tão distantes do “estrelato”?
Trabalhar com excelência. Como não existe mercado ao músico, e galera se joga em barzinho e fica viciada nesse contexto, nessa maneira de fazer música. Eu acredito em show com iluminação ruim, com pouca produção. Com boas idéias na cabeça se resolve muita coisa. Mas a galera não pensa em show, em espetáculo. Só produzem se for com muito dinheiro. E isso é vicioso e empobrece a estética da música no Estado. Aqui e acolá se vê um espetáculo interessante, bem feito.
Falta união entre os músicos?
A gente aqui se odeia. Todo mundo quer se matar. Se alguém consegue alguma coisa, 300 nega caem em cima pra falar mal de tu. Sempre tiro o exemplo dos baianos. Detesto axé e muita coisa que eles produzem lá, mas se você pergunta o que eles mais curtem eles citam o nome de outro baiano. Aqui nós não temos autoestima. A gente quer que o outro se foda. Por isso me motivo a fazer parcerias musicais, pra melhorar isso. Contato gera amizade, confiança, boas vibes. Falta isso, também. E a partir disso vem todo o resto. Quando se tem autoestima se tem gana pra ir atrás de patrocinador e tudo mais. Natal não tem autoestima.
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