Assisti hoje a estreia da nova temporada da peça Entre Nós, na Casa da Ribeira. Fiquei quase uma hora sem fôlego. O susto vem logo no início e desde então o expectador engole o goto, franze a sobrancelha e liga o botão da angústia.
Sensações desesperadoras. Texto denso ao extremo, amargamente poético. Frases levam você ao abismo e o puxam de volta a todo instante. Ódio e amor, depressão e adrenalina caminham de mãos dadas. Reflexão pura. Do amor, do existencialismo como um todo, mas sobretudo da solidão.
Sete bailarinos no palco. Todos com figurinos cinzas, como são também a alma dos personagens incorporados. A meia luz é a constante da iluminação. Choros, gritos, frases em formato de protesto ou convite à reflexão. Casamento perfeito com a trilha sonora, predominantemente clássica.
Decifrar gestualidades é tarefa aos da área. Eram gestos inquietantes, bruscos, desesperados em maioria. O duo entre a bailarina Manuelle Flor e Manuel (ou Marcelo?) foi muito bonito - a parte mais amena da peça. Transpareceu leveza de uma relação amorosa, embora prestes a ruir. Foi o que achei.
Da conversa informal do elenco com a plateia ao fim da peça, pareceu opinião geral - entre bailarinos, diretora, escritora e plateia - que o amor foi o foco da peça. Achei a solidão. Ora o amor ou o não-amor retratado migram, ambos, à solidão, como se não houvesse escapatória.
Uma frase dita diz algo como o perigo da distância extrema entre o amor e o ódio. É como se eles devessem caminhar próximos para melhor segurança, para prevenção, para evitar o abismo, o vazio repentino do abandono. E qual o medo, afinal? A solidão, em sua forma mais desesperada!
Vão lá, confiram a direção de Diana Fontes, o texto de Cláudia Magalhães. Tem sexta e sábado, ainda. Informações logo abaixo. Respirem fundo antes de entrar e molhe o rosto com água gelada ao sair.
Obrigada, Sérgio, pela atenção e carinho. Uma honra, para nós, tua presença na platéia! Valeu, demais, amigo!
ResponderExcluirCláudia