quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Dos textos que importam
Escritor Raymundo de Sá lança hoje, no Solar Bela Vista, seu novo livro, Contos do que importa
Quais as leituras importantes? Para uma vida dita breve é preciso mirar o tempo com alguma precisão para evitar a subtração de relevantes aprendizados literários. Contos do que importa (edição independente, 146 pág. R$ 25) é o título do mais novo livro do escritor Raymundo de Sá - autor dos romances Potyra e Infindável saudade. Não tem a pretensão de indicar as temáticas importantes dos contos. É mais conceitual. O leitor pode conferir hoje no Solar Bela Vista, a partir das 19h. O lançamento será animado pelo grupo No Tom do Brasil, formado por professores e alunos de música do Solar. A obra foi publicada com patrocínio da Promater via Programa Djalma Maranhão. O manauara Raymundo de Sá, de 73 anos (radicado em Natal há quase 30 anos), é escritor compulsivo. Já tem no prelo o livro Se explicado amor não foi, de poesias. De formação profissional, é engenheiro, graduado em Filosofia e com mestrado na área de concentração lógica. De filosofia, é escritor nato.
Entrevista >> Raymundo de Sá
Quais os contos que importam?
O importante no livro é o tema (o que importa), os contos são simples, indo do fantástico ao trivial, passando pelo engraçado e pelo triste.
Moacyr Scliar considera a feitura do conto mais complexa do que o romance. O senhor concorda?
No romance, o leitor recebe descrições detalhadas dos personagens e da trama, ficando pouco à imaginação do leitor; no conto, as descrições são sucintas, cabendo ao leitor exercer sua criatividade. Em uma metáfora talvez um pouco apressada, no romance o leitor senta-se em uma poltrona, encosta-se no espaldar, coloca as pernas em uma banqueta, toma um gole de uísque, acende um cigarro, abre o livro e começa (ou continua); no conto o leitor senta-se na ponta da cadeira, está pronto a levantar-se e sair correndo para intervir na história que lia.
O senhor já publicou poesia e romance. Agora lança livro de contos. A inspiração respeita qual critério quando enfrenta o papel em branco?
A inspiração não respeita nada, nem nossos conceitos, nem o momento, nem o lugar. Chega sem avisar do mesmo jeito que pode ir-se, e não deixa nenhum indício que voltará logo ou vai demorar-se não sei quanto tempo.
Já na capa do livro há os dizeres "aos dezesseis sabe-se tão pouco que cabe em poucos gestos, em poucas palavras, em poucas linhas". Livros, só na madureza da idade?
Se o feto, no útero da mãe, tivesse o cérebro já desenvolvido, aí seria a ocasião correta para começar a ler. Quando começa a falar, quando começa a ler, essa é a época para começar uma atividade que não deveria ser nunca interrompida durante a vida.
O senhor é um escritor compulsivo, como já percebi em outras entrevistas. O ofício de escrever virou rotina, prazer ou trabalho?
Com a inspiração vem a compulsão; se a inspiração puxa a cadeira e se senta, vira rotina; se a inspiração parece que quer ficar mais tempo, vira prazer e o trabalho prossegue; se a inspiração vai embora, fica-se saudoso, ansioso que volte logo.
* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
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