terça-feira, 31 de agosto de 2010
Quando a Iaiá vira preta
Por Bernardo Luiz
na Tribuna do Norte (de hoje)
As cordas do Trio Madeira Brasil introduziram com sensibilidade o mais novo show de Roberta Sá, “Quando o canto é reza”. Não só ritmo, mas a sua voz límpida encantou o público que lotou a casa de show Boulevard, no domingo passado. Juntos, público e artistas viajaram de jangada no mar de composições populares do mestre Roque Ferreira. “Eu sou muito ligada à música preta brasileira. Mergulhei no universo do Roque como apaixonada e não como profunda conhecedora de sua obra”, disse a cantora.
Roberta afirmou que a turnê foi iniciada em Salvador e Natal propositalmente. A primeira é a terra do Roque Ferreira, compositor no qual é dedicado todo projeto e a segunda por ser sua terra. “Natal tem uma coisa bacana, os fãs me acompanham desde o início, além disso, ver a casa lotada de forma generosa em aceitar um repertório quase todo de inéditas nos deixou, eu e os meninos do trio, bastante felizes”, falou Roberta tomada pela alegria do bom show em solo potiguar.
A folia de Roberta começou de forma singela, principalmente pela cumplicidade existente entre a interprete e o trio. A leveza imperou na proposta deste show.
O público escutou atentamente o espetáculo, mas depois da canção “Menino”, na qual a artista timidamente executou passos do ijexá (ritmo afro), é que a sintonia foi firmada. A cantora afirmou que o show é da banda toda e não somente de Roberta Sá. “Quando o canto é reza é um show muito específico, é um repertório construído. Dividir o palco com os meninos do Trio está sendo incrível. É um disco de banda, juntando esta nova parceira e eles, que são um dos três melhores músicos do Brasil”, elogiou ela.
O público foi cativado pela leveza da artista, que conduziu sua voz diante das cordas do trio. A embolada “Cocada”, deixou o show com o timbre mais regional e logo em seguida “Água da minha sede”, canção já gravada por Zeca Pagodinho, introduziu um dos momentos mais emocionantes do show. E veio “Marejada”, uma das mais belas exaltações ao mar já gravada. O timbre da interprete e as cordas acústicas do trio emocionaram a plateia.
“Tô fora” e “Mandingo” fizeram parte do repertório do show. Em “Orixá de frente”, a artista afirmou sua paixão pela cultura brasileira. “Bem que Iaiá queria, ao menos por um dia, ser preta também”, disse ela. E foi.
As canções “Festejo, Moça e Xirê” e “Zambiapungo” afirmaram o tempero proposto por Roberta nesse novo trabalho, onde dendê era o molho instrumental cozinhando a sua bela voz em fogo brando. É a cultura brasileira exaltada de forma delicada e intimista.
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- Foto: Bernardo Luiz
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