Por Carlos Gurgel
no blog Vocabulário da Raça
profusão
é uma lente que nunca acaba
como uma ventania
que sacode as saias de todas
aquelas meninas que passam
profusão
é como um motor que range
pelas avenidas completamente
alagadas de lixos e restos de vida
profusão
é como uma foto velha
que lembra de quem
procurou pela rua
a sua jaqueta amassada
e sua caneta esferográfica
profusão
é como uma chuva
que molha ratos
e a península que
se esvazia de chorar
profusão
de noite
é como um alce
que pula a cerca
e alardeia
o pecado de quem se
esconde por trás do jardim
profusão
é como o leite
que escorre
pelas pontes
tão assassinas
e inúteis
profusão
é como o silêncio
que invade supermercados
e a porta entreaberta
de um cemitério esquecido
profusão
é semelhante a uma abelha
que fere a paciência
de um cão
que late como se fosse
o socorro de quem precisa
ficar em casa
profusão
é tudo que se guarda sem querer
como aquela lâmpada quebrada
uma palheta enferrujada e dócil
ou o macaquinho que de tão
travesso
recorta alho e some
profusão
é como o cintilante
vestido que te vestes
que pelas suas dobras
eu sei como chegar
até você.
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