quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Newton Avelino


Minha Aldeia, nossas tradições
Artista plástico Newton Avelino lança, em Ponta Negra, exposição sob a curadoria de Ivo Maia

Um mosaico de formas geométricas fazem do cinza seco do sertão, arte colorida. São poliedros, cubos, cilindros, esferas e a composição de objetos singulares e nativos das lembranças infantis de Newton Avelino. Entre o cubismo e o figurativismo, o artista empresta conteúdo ao abstrato; uma realidade própria que elimina a necessidade de perguntar qual a representação, mas como funciona, em uma natureza artística mais conceitual do que perceptiva.

Newton Avelino mescla cores terciárias (misturas entre cores básicas em busca da tonalidade ideal) e fovismo (corrente artística associada à busca pela máxima expressão pictórica, a partir de cores mais puras) e constroi telas personificadas em estilo e nuanças, entre as sensações primárias e o rebuscamento artístico. A marca regionalista da infância sertaneja está presente em um diálogo entre a função da figuração e a da abstração.

A exposição fica aberta no restaurante Tábua de Carne até o fim do ano. São dezenas de telas representativas – e únicas – das vivências sertanejas: cirandas, pastoris, reizados e outras tradições. O estilo é próprio e a embriaguês inspiradora do artista vem da obra de Picasso – um dos criadores do cubismo, que rompeu com as estruturas e ideias acadêmicas no início do século 20. “Ele foi o artista mais completo que o mundo já conheceu”.

Nas telas de Newton Avelino, os planos e as linhas, as zonas de cor, os perfis ou os pedaços de figura ou de objeto ordenados na tela se aproximam ou se afastam sob os fatores ópticos perceptivos da distância ou da vizinhança, da simetria, do contraste ou da semelhança, da direção ou do movimento, num jogo permanente de combinações formais, independentemente de qualquer subordinação ao objeto ou ao assuntotema do quadro.

Missão artística
O esboço da missão desse artista brasileiro potiguar por decisão divina, se inicia em 1960 no berço de uma família cuja a convivência com a arte sempre se deu naturalmente. Poetas, escritores, cantores, pintores, artistas gráficos, com formações e informações diversas. Foi dessa vivência e da aguçada observação das cenas do cotidiano que Newton Avelino extraiu das tintas o seu inconfundível universo criativo e plástico.

O tio Didi Avelino, artista gráfico e sambista conceituado no Rio de Janeiro, classifica a obra do sobrinho: “Um artista hábil nas acrílicas, sua pintura tem a fortaleza do mandacaru e o colorido juvenil dos girassois e do sol potiguar”. E do local, Newton Avelino espalhou sua arte pelo Brasil. Um dos maiores colégios particulares do país, em Belo Horizonte, solicitou direitos autorais da obra Os Forrozeiros e distribuiu a imagem em filiais pelo Brasil e Japão.

A influência artística familiar também foi acrescida da convivência sertaneja. Foram 17 anos no sertão piauiense. “Nas feiras, o estacionamento era uma fileira de jumentos, carroças, rurais, e toda aquela aura da poesia nordestina, da música de Luiz Gonzaga. Aprendi muito. Se você chegasse lá com cabelo loiro era chamado de fogoió. Então, minha obra é um resgate dessa cultura a partir do figurativismo cubista, moderno, de cores vivas e traços arrojados”.

Newton Avelino faz parte de uma geração de pintores potiguares que abre o século 21 conjugando estilos secularmente conhecidos nas artes plásticas: inspiração e transpiração. Quando volta a Natal, após trabalho de artista gráfico nas empresas Coca-Cola e Brahma, no Piauí, se articula junto a outros pintores assíduos do Beco da Lama, inicia sua arte plástica e organiza suas primeiras exposições.

Como popularizar a arte longe de seu habitat?
A curadoria da exposição é do artista plástico Ivo Maia. Este cearamirinense é dos raros pintores que vivem da arte em Natal. O segredo? Ele expõe sua obra reconhecida por nomes como Edgar Morin em pleno centro nervoso da Cidade Alta (próximo ao Banco do Brasil), entre passantes de diferentes classes sociais. Negocia o preço da obra na hora. Em curtas palavras, Ivo populariza sua arte complexa longe das elitizadas galerias de arte. É o que Mário de Andrade chamou de “artista proletário”.

Ivo Maia enxerga no espaço do Tábua de Carne excelente vitrine aos artista plásticos. “Ninguém sai de casa para visitar exposições. No máximo, participam do coquetel e vão embora sem mais voltar ou comprar. No restaurante se vai para comer ou pelo menos para comer e conferir a exposição. Após a refeição, contemplam a obra calmamente e as possibilidades são outras”, comenta o artista, já com uma de suas mandalas de goemetrias matemáticas presentada ao presidente Lula.

A exposição Minha Aldeia, Nossas Tradições é mais uma de Newton Avelino. O artista já expôs na Capitania das Artes, Assembléia Legislativa, Galeria do SESC, Fundação
José Augusto, e outras vitrines onde a sua arte é reconhecida e premiada, a exemplo do Salão Abrahan Palatinik – exposições que traduzem a tenaz classificação de um pintor de ofício.

Exposição: Minha Aldeia, Nossas Tradições
Artista plástico: Newton Avelino
Onde: Tábua de Carne (Ponta Negra)
Preços: a combinar com o artista
Contato: 9116-0459
www.aartedenewtonavelino.blogspot.com

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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