quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Casa da Ribeira, 10 anos

O primeiro ato da Casa da Ribeira mostrava onze atores vestidos de clowns em luta pela abertura de um novo e promissor espaço teatral. Corria o ano de 1999. O prédio da Rua Frei Miguelinho estava abandonado na velha Ribeira. Somente três anos depois, em 2001, seis dos integrantes do Clowns de Shakespeare conseguiram captar a bagatela de R$ 1,2 milhão para abertura da casa. Era o começo do sonho e de uma batalha de dez anos em busca da estabilidade financeira.

O case pioneiro e de alcance nacional comemora em 2011 a década de sucesso com lançamento de livro, programação vasta a preços populares e o início de um novo projeto, em parceria com o Centro Cultural Dosol: o Circuito Cultural da Ribeira, que marca a estreia das comemorações na terça-feira de Carnaval com dez atrações musicais (duas nacionais e oito locais) e um mister de articulações que promete movimentar a cena cultural do bairro durante o ano inteiro.

Um dos diretores das Casa da Ribeira, Gustavo Wanderley adianta que as atividades do Circuito serão estendidas durante o primeiro domingo de cada mês. “A ideia é convocar responsáveis pelos espaços culturais da Ribeira (casas de show, grupos de dança e teatro, galerias, etc) para fomentarem um grande circuito de artes aberto no domingo”. O projeto seria organizado e divulgado pela Casa da Ribeira e Dosol. “É um processo de valorização e educação patrimonial do bairro”, ressalta.

Até abril serão 20 atrações sequenciadas. Entre elas, o lançamento de um livro editado pela Flor de Sal com a história dos dez anos da Casa: a trajetória de um dos cases mais respeitados no quesito marketing cultural e dos primeiros a lançar edital público no país; o sucesso na parceria com o Instituto Ayrton Senna no projeto de arte-educação iniciado há quatro anos, entre outros feitos. São 300 páginas escritas por cinco jornalistas e inserções de articulistas. O livro será lançado também em Brasília, Rio e São Paulo.

Segundo Gustavo, entre 17 de março e 20 de abril também serão promovidas semanas de espetáculos a preços populares. A estreia será com peças de teatro. A segunda semana será preenchida com os vencedores do prêmio Cosern Musical. Na penúltima semana, um panorama da dança. E a programação fecha com apresentações do grupo Casa das Ribeira de Teatro, formado por jovens formados pela própria Casa – símbolo dos novos tempos e foco de trabalho atual da Casa da Ribeira.

Gustavo também adianta que está próximo de fechar duas atrações musicais de renome nacional e com shows inéditos em Natal, também para abril. As apresentações serão realizadas em dois palcos montados na rua da Casa da Ribeira, a exemplo das primeiras ações da Casa. “Dependemos de pequenos acertos com patrocinadores. Mas está quase tudo certo. Serão nomes responsáveis por uma contribuição artística à cidade, nomes de vanguarda da música brasileira”.

Portas abertas desde mar;o de 2001
Em 6 de março de 2001, a Casa da Ribeira era inaugurada, comandada pelo Clowns de Shakespeare. “Quando abrimos, vimos que o buraco para manter era mais embaixo. Logo, muitos do grupo largaram o projeto e depois ficamos os três que permanecem até hoje. No primeiro ano trabalhamos de 10 a 12 horas ao dia sem receber nada. Passamos pelo menos seis meses sustentados pela família”, lembra Henrique Fontes, um dos diretores da Casa, junto com Gustavo Wanderley e Edson Silva.

Segundo Henrique, a Cosern havia patrocinado R$ 420 mil, depois a Petrobras também financiou outra quantia significativa, o Armazém Pará cedeu o material de construção e, junto com apoios menores o grupo conseguiu o R$ 1,2 milhão necessário. “A Cosern acreditou no projeto mesmo antes de a Casa abrir”, ressalta o diretor que, à época, contou ainda com o esforço dos “clowns” Renata Caiser, Fernanda Yamamoto e César Ferrário, depois substituído por Ronaldo Costa.

Sem deixar a peteca cair ou a cortina fechar, os seis diretores procuraram manter a Casa da Ribeira em pé. Conquistaram now hall, reconhecimento e mídia. “Começamos a receber premiações, realizar consultorias, espetáculos cada vez mais procurados, e promover projetos que ajudavam na manutenção”, disse Henrique. A Casa da Ribeira ainda hoje depende da renúncia fiscal da Lei Câmara Cascudo e do sucesso de iniciativas próprias. A pauta é vendida por menos de R$ 500 e a manutenção mensal da Casa custa R$ 16 mil.

* Publicado hoje no Díário de Natal (AQUI)

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