"O brasileiro é obsceno por natureza"
O humorista Ary Toledo volta a Natal com novo show e as piadas obscenas peculiares ao seu estilo e ao do brasileiro - que "adora putaria". E diz trazer na bagagem um projeto político para acabar com a burocracia, tudo feito especialmente para esta nova turnê. Além da política brasileira, os personagens célebres do universo de chacotas: a sogra, o famoso Joãozinho e as piadas com as diferentes raças - sobretudo o português - integram o rol deste colecionador de piadas. Aos 77 anos, Ary Toledo percorreu quatro décadas de humor. E nessa estrada passou incólume pela ditadura até chegar aos novos tempos, segundo ele, "um tempo bom para ser alegre". Mas com alguma obscenidade.
São 40 anos de carreira. E você passou por um período nebuloso para se fazer piada. Como foi sua relação com a ditadura?
Foi péssimo pra mim e pra eles. Fiz muita piada política nesse tempo. Foi o melhor momento para fazer piada. Éramos aplaudidos quando chacoteávamos os políticos. Mas ficávamos tolhidos em nossa criatividade. Aborreceu muito, afora as ameaças. Fazíamos o que era possível. Eu e outros fizemos concessões: em vez de piada política, fiz piada obscena. Foi quando me descobri no humor. Mas teve gente que preferiu sair do país. Espero que essa época não volte mais nunca. Hoje está um tempo bom pra ser alegre.
As piadas obscenas são as mais engraçadas?
Brasileiro é obsceno por natureza.
Você se iniciou ator e migrou para o humor justo por conselho do melancólico Vinícius de Morais?
Interpretei uma canção dele chamada Comedor de Gilete. É muito triste; fala do retirante nordestino que chega ao Rio para comer gilete, e tal. E mesmo a música triste, o público ria da interpretação. Aí Vinícius disse: "Seu negócio é humor". Foi uma grande surpresa pra mim.
O show de hoje é uma seleção de piadas do seu acervo ou são textos criados por você?
São 65 mil piadas em meu computador. Esse material eu recolho e lapido. Mas tenho uma porcentagem aí equivalente a 1%, o que dá umas 600 piadas de minha autoria.
Qual o tema predominante?
Ah, são as piadas obscenas, seguidas das políticas e das raças, sobretudo o português.
O título do show - O humor é o açucar da vida, mas tem muito adoçante por aí - é uma ironia aos falsos humoristas?
Você captou bem: ironia aos humoristas biônicos. Está cheio. Mas bom mesmo se conta nos dedos da mão do Lula. Mas olha: tudo relacionado ao humor é válido, mesmo sem qualidade. É melhor beber água suja do que não beber água.
O humor vive muito de caricaturas. Você acha válido?
A tipologia é 50% da interpretação; é, de fato, engraçada. Um chapéu, um seio postiço, a maquiagem... Num jogo de futebol, uns caras colocaram salto alto, um figurino atípico e o público ria semeles falarem nada. Eu acho que é uma defesa para o humorista. Mas os grandes humoristas não precisam disso. O stand up é a cara limpa. Há 50 anos eu, Chico (Anysio), Costinha, Agildo Ribeiro fizemos isso. Essa turma jovem pensa que é novidade. Nosso stand up é mais velho que o americano.
Há limite ético para se fazer piada?
O humor só é válido quando é crítico; uma pedra no sapato da sociedade ou do personagem criticado. O resto é puxasaquismo.
Qual a última piada do Brasil?
O Brasil não é país; é hipótese. Um país em que uma rua se chama Volta Redonda, como se a volta pudesse ser quadrada; uma rua chamada Hospício, sem nenhum doido nela; um imposto de renda onde o sujeito tem que declarar que não precisa declarar nada. Em Minas Gerais tem um bairro chamado Pau Grande em que a maioria dos moradores é japonês. Mas foi De Gaulle quem disse que o Brasil não pode ser levado a sério. Não me culpem.
NATAL
Data e hora: hoje (às 20h) e amanhã (às 19h)
Local: Hotel Vila do Mar (Vila Hall)
Vendas: SantaModa Maison - Alamanda Mall 84 3642.4085
Valor: R$ 35 (preço único)
MOSSORO
Datas: domingo (às 19h)
Local: Teatro Municial Dix-huit Rosado
Vendas: Karmelia Calçados - 84 3316.6724
Valor: R$ 35 (preço único)
* Publicado hoje no Diário de Natal
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