Nobre poética potiguar
A Rua das Laranjeiras ainda lamenta o fim do poema. A última estrofe de um soneto ritmado pelo balançar lânguido das jangadas ou de serenatas ao luar. Uma poesia de altos e farras boêmias. Frases metrificadas e desgarradas, soltas pelo pioneirismo modernista. A história de Othoniel Menezes vai além da Serenata do Pescador - a popular Praieira. Daquela rua ribeirinha foi precursor de Jorge Fernandes na poesia moderna potiguar, assumiu cargos de chefia no alto escalão governamental e viveu a maior parte da vida como príncipe plebeu. Um príncipe da poesia, amante tímido da simplicidade.
A história do autor do hino natalense foi imortalizada em prosa, verso e canção. O biógrafo e escritor Cláudio Galvão iniciou as pesquisas para o livro em 1981 e reuniu um compêndio de informações raras e inéditas. O Príncipe Plebeu: uma biografia do poeta Othoniel Menezes, foi editado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern). Será lançado nesta segunda-feira durante a programação do Dia da Poesia, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel. As atividades são extensas e o lançamento do livro está agendado a partir das 18h. O livro custará R$ 40. E a renda obtida no lançamento será totalmente revertida ao Hospital Varela Santiago.
A biografia de Othoniel Menezes virá acompanhada de CD composto por 20 faixas. Dez delas são poesias de Othoniel declamadas pelo escritor Tarcísio Gurgel. As outras dez são poemas musicados por diferentes autores da época. Uma delas é Praieira, o hino natalense composto em parceria com Eduardo Medeiros. A interpretação das canções ficou sob responsabilidade de Fernando Tovar, José de Almeida e Severino Monteiro. Cláudio Galvão frisa que os arranjos procuraram recriar a época das modinhas seresteiras daquele início do século passado. Afora Praieira, e também Sereia - inserida em um LP produzido pelo projeto Memória, da UFRN, as outras canções são inéditas.
Cláudio achou antigos seresteiros que ainda lembravam das canções. Visitou cada um acompanhado de um violonista, gravou as canções e repassou as partituras em casa. Muitas delas compõem o livro A Modinha Norte-Rio-Grandense, também de sua autoria. A demora na confecção do CD adiou o lançamento do livro, concluído no primeiro semestre de 2010.
Modinhas
Já em 1980 Cláudio Galvão pesquisava modinhas tocadas no começo do século no Rio Grande do Norte. E as de Othoniel eram muito comentadas. "Descobri seu irmão, Francisco Menezes. Ele desconhecia as modinhas, mas sabia detalhes da vida de Othoniel. Sem isso eu perderia metade do livro. E assim criei mais gosto pelo universo de Othoniel e deixei de lado as modinhas. Quando senti a dificuldade de publicar o livro, inverti os papeis. Por isso demorou tanto". O filho de Othoniel, Laélio Ferreira - que assina o prefácio - pretendia grande serenata para o lançamento, em frente à antiga morada do "xaria mediano e formoso da Rua das Laranjeiras (quanta mansidão nos olhos claros!) era e seguirá sendo, sempre, o meu Príncipe e meu pai", escreveu. Ainda assim,a homenagem vai além do lançamento, com o busto de Othoniel chantado na passarela da Fortaleza dos Reis Magos, no mesmo dia.
Cláudio Galvão mencionou minúcias da figura de Othoniel Menezes ao repórter, desde a fase da juventude endinheirada ao restante da vida em dificuldades, tendo, em alguns momentos, passado fome. Príncipe da poesia potiguar, como foi batizado pela imprensa da década de 1920, Othoniel foi contemporâneo de Mário de Andrade e bastante elogiado por grandes da literatura potiguar como Jorge Fernandes. Contudo, ainda hoje é lembrado por sua Serenata do Pescador, que ficou amplamente conhecida como hino da cidade de Natal. Segundo o pesquisador, Othoniel viveu fase econômica difícil. Em 1918, quando tinha 23 anos, já era muito culto e foi nomeado para uma espécie de assessoria do Governo, quase chefe da Casa Civil.
"Mas ele era muito bagunceiro. Nos fins de expediente caía na farra. E numa dessas se envolveu em um tiroteio na rua. Denunciaram o fato e ele foi despedido. Depois, viveu praticamente toda a vida desempregado ou em subempregos. A família passava dificuldades... Saiu de príncipe para plebeu", justifica o autor o título do livro. Veríssimo de Melo fez até campanha para ajudar Othoniel Menezes. O Diário de Natal publicou matéria com título Othoniel passa fome. E outro fato lembrado por Cláudio Galvão é que em 1925, a revista literária Letras Novas instituiu Othoniel o príncipe da poesia potiguar.
Serviço
Lançamento literário
Livro: O Príncipe Plebeu: uma biografia biografia do poeta Othoniel Menezes
Autor: Cláudio Galvão
Data e hora: segunda-feira, 14, a partir das 18h
Onde: Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (anexo à Fundação José Augusto, Tirol)
Valor: R$ 40
* Matéria publicada no Diário de Natal deste sábado
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