Transcrevo aqui poesia linda de Alberto da Cunha Melo, lida ontem na coluna mareada de Serejo. É coisa boa de ser ler num meio de semana tão comum e imaginar o cheiro de mar e uma casinha branca de alpendre humilde, nas beiradas de praia da vila da Redinha, onde o poema foi escrito. Chama-se Oração ao Poema:
“Senhor, nesta manhã de outubro, / ainda com o jeito de quem ia / reiniciar longa viagem, / meu poema chegou ao fim”. A seguir: “Agora todo meu trabalho / é procurar uma palavra / que te agradeça humildemente / todas as outras que me deste”. E depois: “Entretanto, nem mesmo isso / posso sozinho conseguir: / Dá-me, Senhor, essa palavra, / antes que chegue o último verso”. E mais: “Que ela se espalhe como as brisas / dentro das minas, de repente, / e una-se sólida na hora / em que apertar a rua mão”. E, por fim: “Quero morrer, quero alcançá-la, e já começo a persegui-la / como se fosse uma serpente / que fugisse com minha morte”.
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