Quem assistiu ao maior clássico de Stanley Kubrick, A Laranja Mecânica (1970 e pouco), precisa conferir Cama de Gato (2006). É um outro soco no estômago, versão moderna e brasileira. O filme foi censurado nas salas de cinema do país, embora tenha recebido uma pá de prêmios nacionais.
O diretor Alexandre Stockler optou pela filmagem em câmara digital. Por vezes parece mesmo coisa amadora. Às vezes dá um tom de documentário. Segundo a imprensa especializada, o custo do longa foi baixíssimo: 13 mil reais.
Particularmente achei o filme mais incisivo e verborrágico do que Baixio das Bestas (2007), Árido Movie (2006) ou Amarelo Manga (2003, para ir um pouco mais longe) – outros três longas-metragens nacionais de extrema lucidez nas críticas à hipocrisia alheia.
Achei Cama de Gato mais cru e direto, sem discursos panfletários (parece mesmo que o cinema cansou disso). Os outros citados têm mais apreço artístico, cinematográfico e até poético, como nos filmes de Cláudio Assis.
Alexandre Stockler – do qual eu nada conhecia – mesclou cinema e documentário de uma forma original. Discute ética, moral, problemas e sintomas vividos por jovens de classe média alta.
Em síntese, o filme mostra o comportamento de três jovens na busca pela satisfação imediata. Nisso está incluso sexo, drogas e muita inconseqüência. Depois de uma cena de estupro quase impulsivo, os três cometem uma série de outras bizarrices que só agravam a situação.
No desenrolar da trama, o diretor escancara a alienação reinante nos jovens de hoje. E mais: o desdém com os valores éticos, morais e a total negação da Divindade. As imagens com câmera em punho, trêmulas e diálogos quase teatrais enfatizam como os personagens estão perdidos na sua realidade e confusos quanto ao futuro.
Mas o melhor o diretor deixou para depois do fim do filme: o depoimento real de vários jovens da classe média alta a repetir o mesmo discurso proferido pelos três personagens fictícios.
Meu estômago ainda dói...
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