É sempre assim: quando demoro a visitar minha praia refúgio, banho-me de cinzas. É como se a metrópole engolisse minha essência pacata. Prefiro respirar do meu jeito, no meu compasso. A pressa destrói as melhores viagens. Mas assim caminha uma humanidade alienada. E vão empurrados também os da margem, para seguir, caminhando e cantando os zumbis de uma mesma estrada.
Vontade de gritar: “Deixem-me! Passem a fila adiante!”. Há muito desisti da luta. A união já não faz a força. O coletivo constrói grades, enquanto as instituições sórdidas do poder levitam sobre o ar pesado da cidade. Sempre concordei: o melhor governo é o que governa menos. Pago imposto com medo da sociedade se voltar contra mim – “um desobediente civil”.
Queria mesmo viver do trabalho das minhas mãos, como o escritor Thoreau – personagem que conheci pelas palavras de Franklin Jorge. Estou farto das vulgaridades cotidianas. Henry David Thoreau nasceu em uma fazenda de Massachusetts, em 1817. Aos 28 anos foi morar em uma cabana construída por ele mesmo, com apenas três cadeiras. Viveu só por dois anos e dois meses a pelo menos um quilômetro e meio de distância de qualquer vizinho. Sempre recriminou os ditames de castigos impostos pelo Estado. Foi precursor dos hippies, segundo Franklin Jorge.
“Não tendo nascido para ser forçado a coisa alguma, respira à sua moda, desdenhando o bando e as instituições sórdidas. Pensando sobre sua prisão, pondera que bem podia ter resistido á força, com maior ou menor resultado; podia ter se enfurecido contra a sociedade, mas preferiu que a sociedade, por ser a parte desesperada, se enfurecesse com ele”. Este é um trecho do novo livro de Franklin, O Escritor de Chatham, em capítulo dedicado a Thoreau.
Das palavras do escritor americano, escrevo essa frase: “A poesia antiga e a mitologia sugerem que a agricultura foi outrora uma arte sagrada, mas é exercida por nós com pressa e negligência irreverentes, nosso objetivo sendo apenas o de possuir grandes fazendas e colheitas”. Thoreau plantou cerca de dez mil metros quadrados em terreno elevado, após observar que em toda a parte, lojas, escritórios e campos, os homens trabalhavam à sombra de um erro.
Após manifestar através das palavras do escritor solitário de Massachusetts, a descrença quanto às ideologias políticas, Franklin Jorge escreve, no último parágrafo deste capítulo, como que para sintetizar o esquecimento das coisas simples e realmente relevantes: “Além da cabana, Thoreau fez amizade com um homem que também ouvira falar de Homero, lenhador canadense fazedor de estacas, capaz de enfincar cinqüenta delas num só dia. Esse homem não sabia o que seria dos dias chuvosos sem a companhia dos livros”.
Oi, gostei muito de algus artigos publicados aqui, em particular aquele sobre a política atual para a cultura potiguar. Um abraço.
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