Acredito mais na Serenata do Pecador como a voz de Natal do que a Linda Baby de Pedrinho Mendes. Natal era mais Natal quando Othoniel Menezes escreveu Praieira em homenagem a três pescadores meio doidos que partiram em embarcações rudimentares até o Rio de Janeiro, em 1922. Mas a inspiração partiu daqueles artesãos do mar. Daí tanta nostalgia na música. É que ainda olho Natal como cidade província. Um recanto meu. Com aquela alma saudosa e tranqüila das coisas do ontem.
Claro, ela também é a terra de um deus mar que vive para o sol. Mas a essência de Natal é sua história: dos pescadores e embarcadiços das Rocas. Dos cabarés e canguleiros da Ribeira. Dos bondes da Empresa de Melhoramentos. Do Grande Ponto da Rua João Pessoa e demais cantões. Até a atmosfera preservada no Canto do Mangue, na rede de tresmalhos da Redinha, no ar ainda nostálgico da Ribeira. As figuras folclóricas da Cidade Alta até as ruas largas de Tirol e Petrópolis.
Quando ouço uma voz chorosa cantando Praieira mergulho em minha Natal de ontem e de hoje. É a voz da cidade. E disse isso tudo para falar do filme Piaf – um hino ao amor (2007), do diretor Olivier Dahan. Uma maravilha. De emocionar mesmo. O roteiro mostra diversas fases da vida de Edith Piaf de forma intercalada, sem confundir o espectador. Tudo embalado pelas músicas da cantora, que viveu seu auge na década de 50 e início de 60. Só por elas já valeria assistir ao filme.
O amigo leitor deve se perguntar qual a ligação com os primeiros parágrafos. É que a voz de Edith Piaf é Paris completa, em seu jogo sedutor. Ao ouvir a voz em tons abusados e tristes da cantora, os cafés parisienses aparecem como em sonho. A torre, as luzes, a atmosfera de melancolia e a certeza de que tudo ocorre em uma esquina de Paris; a sensação de que o destino se encontra ali. E Edith Piaf não só tem a voz de Paris, como viveu e sintetizou toda a magia da capital francesa.
A atriz Marion Cotillard está magistral. É daquelas atuações surreais, como se viu com Jamie Foxx, em Ray (Charles), ou Val Kilmer na pele de Jim Morrison, em The Doors, de Oliver Stone. Marion adquiriu os trejeitos de Piaf, sua forma de andar... E antes de tudo, retrata a angústia de uma vida sofrida e alimentada por um sentimento de eterna espera, como se vê em cada esquina de Paris. Classifico o filme entre meus cinco melhores do ano passado. Edith Piaf é o Ibrahin Ferrer de Cuba e o Othoniel Menezes de Natal. Não há dúvida.
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ResponderExcluirSó agora descobri o seu bom blogue. E, claro, gostei de ver o Balaio relacionado ao lado de blogues e sítios que admiro: Comunismo, Vermelho, Substantivo Plural, Marconi Leal, entre outros. Um abraço.
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