sábado, 30 de agosto de 2008

Cheiro de brisa

Sinto cheiro de brisa marítima. Se cores a pintassem, seria esverdeado escuro. Da cor dos mares de minha ilusão de menino. Deve ser a saudade da praia-refúgio. De minha varanda, salgada pelo tempo. Talvez amanhã eu a reencontre. Estará colorida pelas cores indecisas de setembro. A prefiro perfumada pelo cinza invernal, em dias de frio. Parece mais minha. Os dias de setembro são transitórios, sem graça. Mas há uma vontade de fugir da redoma da metrópole. Esquecer a silhueta da cidade e provar o gosto da praia. E por algum instante esquecer o real. Viver é melhor que sonhar, sim. Ma há que se viver de ilusões. Pascal acreditava que se sonhássemos 12 horas ao dia seríamos metade sonho e metade realidade, sem distinguir qual das duas partes seria a verdadeira. Eu acataria minhas divagações. Sobretudo as que provoco numa rede de varanda: sonhos de navegante.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Elogios e alfinetadas

Do escritor e jornalista Franklin Jorge, em seu blog, sobre a obra do artista plástico Fernando Galvão: “Qualquer aficcionado logo percebe, diante dos frutos da sua arte, que não é o caju de Vatenor que emblematiza Natal, mas a metrópole aerodinâmica e planetária engendrada pela astúcia estética de Fernando Galvão. Em sua aliciante utopia, o artista celebra a capacidade de inventar e construir que engrandece o homem e o distingue dos irracionais. E, ao fazê-lo – com a autenticidade de sua arte --, imprime sua marca e afirma-se, ao lado de artistas como Vicente Vitoriano, Fernando Gurgel, Marcelus Bob e Jota Medeiros, um dos mais talentosos e jovens representantes das artes visuais no Rio Grande do Norte”. Palavras de quem sabe criticar e elogiar, quando merecido.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Tempo para mim

Comprei mesmo a “bíblia” produzida por Otto Maria Carpeaux. Foda-se se o livro tem milhares de páginas e falta-me tempo para terminar um pequeno retrato da vida humana de 200 páginas escritas por Dostoievski, iniciada a leitura há meses. Quero ler toda a história da literatura ocidental. É mais fácil viver da ilusão. Foda-se se eu tenho matérias atrasadas, compromissos pendentes e expedientes nos três turnos do dia. Quero ser eu mesmo de vez em quando. Já não encontro aquele leitor de outrora, que lia até andando na calçada em direção à parada de ônibus. O verdadeiro compêndio de Carpeaux é a antítese do meu estresse e do meu liseu. São 200 pratas já pagas na compra da materialização de minha liberdade ilusória. E daí? Ela chegará pelo correio. Sem pressa. O tempo ilude quem se aplica ao instante presente. Sigamos. Que venham os leões de amanhã.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Da (A)Fundação José Augusto

Recebo, via imeio, informações de uma leitora que acompanhou o “pugilato” - como classificou os jornalistas Moisés de Lima e Alex de Souza -, entre este blogueiro e o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto. Revoltada, ela começa assim: “Depois que li sua resposta ao Sr. Imortal, Dr. Poeta de Lula, Joaquim Crispiniano Neto, onde achei nota mil, irei te passar todas as informações para derrubar o papangu truculento do PT, que anda fazendo todo tipo de aberrações na cultura desse estado”. E pelas informações contidas, amigo leitor, é alguém que conhece bem a administração do cordelista. O resto são cenas para os próximos posts...

Café com Vento e Araruna

O quarteto Café com Vento será atração de mais uma edição da Assembléia Cultural – projeto de iniciativa da Assembléia Legislativa, a partir das 18h. O bacana nesta apresentação, em particular, é a presença do Grupo Araruna. Talvez seja a primeira aparição do Grupo após a morte de seu mentor, o Mestre Cornélio Campina. O evento ocorre no plenarinho da Assembléia, na Cidade Alta. A entrada é gratuita até a lotação.

Música para meus ouvidos

O presidente Lula sancionou ontem projeto de lei, aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados, que torna obrigatório o ensino de música dentro da área de artes em todas as escolas do país. A Casa Civil informou que Lula vetou o artigo que previa que os professores tivessem formação específica na área. O texto da lei deve ser publicado na edição de hoje do Diário Oficial da União. O Ministério da Educação tem posicionamento favorável à proposta. A lei vale para os ensinos fundamental e médio, mas as definições sobre em quantos anos o ensino de música será ministrado e com que periodicidade vão caber aos conselhos estaduais e municipais de Educação, em parceria com os governos locais. Aí é que o bicho pega. Vamos ver como fica por aqui. Também foi sancionado há meses a obrigatoriedade das disciplinas de sociologia e filosofia. Basta uma visita rápida às escolas públicas e verão que nem o português é ensinado direito.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Mercado de Petrópolis e dos sebos

O título é hipotético e necessário. Um dos pontos mais charmosos da cidade permanece esquecido pela população. A vocação aos atrativos culturais do Mercado de Petrópolis tem sofrido da escassez de incentivos e mídia. O sebista e poeta Jairo Lima – quase um Dom Quixote sem Sancho Pança – tem procurado outros sebistas experientes para migrarem para o Mercado, na tentativa de salvar o espaço. A Fundação Capitania das Artes tem promovido eventos culturais mensais. É pouco. A idéia de Jairo é mais consistente e, de certo, levantaria o movimento no local quando da montagem de uma grande feira de sebos. E, a partir daí, organizar eventos culturais, como lançamento de livros, feiras literárias, recitais... As possibilidades são muitas.

O próprio Sebo Kriterion, do poeta, tem reunido intelectuais da cidade aos sábados, para degustar uma feijoada e discutir assuntos variados. Jairo mantém ainda sessões de cinema durante a semana, além, claro, de um acervo literário de mais de três mil livros. A iniciativa poderia ser replicada. O custo de aluguel dos boxes é baixíssimo. São 60 reais anuais para os maiores espaços. O sebo Catalivros, dos pioneiros Jácio e Vera, aderiram ao chamado de Jairo e já iniciaram reforma para a mudança. O Mercado tem infra-estrutura invejável. Banheiros, limpeza e disponibilidade de boxes. Visitei o Mercado sexta-feira, por volta das 12h, e a maioria estava fechada. Alguns permissionários não aparecem há mais de seis anos.

O ideal é que sebistas compromissados viessem. Outra sugestão seria transferir a sofrida Casa do Cordel, hoje na Gonçalves Ledo, no Centro, para lá. O cordelista Abaeté tem reclamado das chuvas e infiltrações do local, que antes do despejo estava hospedado no antigo prédio da TVU. Se a prefeitura quer, realmente, transformar o Mercado num pólo cultural, deveria acionar não só a Funcarte, mas também a Semsur e resolver o problema dos permissionários para viabilizar a chegada de comerciantes compromissados com a vida cultural do Mercado.

Oswald de Andrade nas escolas

Olhe só que idéia bacana e de fácil adoção em qualquer gestão pública com vontade de difundir cultura: estréia hoje documentário sobre a vida e a obra de Oswald de Andrade ao som da Nação Zumbi. A animação relaciona a vida do autor com o livro Memórias Sentimentais de João Miramar, marco da literatura modernista no país, e dá continuidade ao projeto de apoio a professores e alunos.

A segunda animação da série Animadas Letras Paulistas, criada pelo site LivroClip – iniciativa que transforma obras literárias em ferramentas educativas – é lançada hoje. Dessa vez, as polêmicas da vida e obra de Oswald de Andrade são o tema do documentário de cinco minutos, que deve ser distribuído em formato DVD às escolas públicas do Estado de São Paulo.

O LivroClip vem ao som da música Blunt Of Judah, da Nação Zumbi e tem uma página especial com conteúdo exclusivo que traz dicas de como utilizar a obra em sala de aula. Que maravilha de idéia. Um instrumento moderno, atrativo e de fácil manuseio aos alunos. Seria interessante alguém repassar a idéia para Dácio e o carrancudo da FJA. De repente haja sensibilidade para tal.

Este projeto foi selecionado entre as cinco melhores iniciativas do módulo “difusão da literatura”, do Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo. Para completar a seleção de LivoClips inspirados em autores brasileiros, a coleção completa com Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Menotti del Picchia, Raduan Nassar, Haroldo de Campos e Hilda Hilst.

Sonhos de poeta

Ao receber o título de Cidadão Natalense da Câmara Municipal (proposta do vereador Hermano Morais) na semana passada e dentro de sua humildade característica, o pai de nove filhos, também conhecido como DeíFilhos Gurgel, não só enalteceu a figura do mestre Cornélio Campina, descoberto por ele, como rendeu homenagem à sua esposa, dona Zoraide: “Você, que nasceu para ser princesa de castelos encantados, se contentou em ser a pastora dos meus sonhos de poeta”.

sábado, 23 de agosto de 2008

Da gestão municipal de cultura

As palavras do produtor cultural Zé Dias, que seguem abaixo, refletem mais do que o trabalho competente da Fundação Capitania das Artes e da atenção que o prefeito Carlos Eduardo dispensa à cultura. Mesmo com equívocos, como a velha mania da política do pão e circo, materializada no pagamento de shows milionários, esta gestão é das mais compromissadas com a cultura que pude presenciar. Muito se deve, claro, aos conhecimentos do presidente da Funcarte, Dácio Galvão.

A inauguração do Museu da Cultura Djalma Maranhão coroa esta administração com uma grande obra. Falta ainda o Museu da Cidade. Temos ainda as edições em qualidade ascendente da revista Brouhaha e um calendário cultural - que mesmo com algumas correções ou aprimoramentos a serem feitos - contempla diferentes vertentes culturais. A lembrar o Goiamum Audiovisual, O Encontro Natalense de Escritores, a programação do Natal em Natal, o Som da Mata, o Fest Natal e muitos outros. Isso se chama compromisso, competência, vontade. Palavras que eu ainda procuro na Fundação José Augusto.

Abaixo, as palavras de Zé Dias:

"Depois do Parque da Cidade, onde já esta sendo desenvolvido um ProjetoCultural, a Prefeitura de Natal, através da ótima gestão da Capitania das Artes, inaugurou nesta sexta-feira o MUSEU DE CULTURA POPULAR, ajudando a melhorar a cena cultural desta cidade. Falo isto, porque para criticar é só dá um empurrão, agora negar o que de bom se oferece a Natal, não soma. Golaço do Prefeito, de Dacio e Djalma Maranhão assinaria embaixo esta COISA BOA para nossa cidade.

PS: Em época de eleição, é bom vermos estas coisas e refletirmos sobre quem tem coragem de fazer esse tipo de obra".

Zé Dias
Produtor Cultural

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Papangu nas bancas

A troca de farpas entre a prefeita mossoroense Fafá Rosado e o pessoal da Papangu não impediu o lançamento de mais uma edição da revista. Segundo os editores, a prefeita acionou a Justiça e pediu cifras que “trincaria” até mesmo publicações brasileiras de grande porte. A chamada de capa é “Pra lá de Bagdá...”.

O jornalista Alexandro Gurgel entrevistou o Capitão das artes natalenses, Dácio Galvão. O presidente da Capitania das Artes fala, entre outras coisas, sobre a efervescência cultural da cidade do Natal. Alexandro que também traz para a seção Especial o município de Caicó.
Nas comemorações dos oitenta anos do poeta H. Dobal, o bibliófilo Carlos Meireles, na seção Autores & Obras, resolveu cantar, valendo-se da telúrica arte do mestre, um réquiem de versos.

O jornalista e escritor Mário Gerson assina o Conto Os Gatos de Madame M; Na Crônica do mês, Antônio Alvino explica por que Andar se Aprende Andando. Nos Céus de Portalegre é o artigo assinado pelo jornalista Jotta Paiva. Em Foco Potiguar, as belas Paisagens litorâneas, de Clóvis Tinoco.

Em mês do foclore, Deífilo Gurgel é o personagem do Talento Potiguar - matéria que leva a assinatura do escritor Clauder Arcanjo. O Exu Desmancha Tudo foi o ganhador do Troféu Papangu do mês - um juiz poderoso que desfaz o que outros juízes sentenciam.
Haja sensibilidade nas duas páginas dedicadas à poesia: Elaine Vincenzi Silveira, Maria Nogueira Machado Arcanjo, Maria Rizolete Fernandes, Francisco Carvalho, Clauder Arcanjo e Luiz Otávio Oliani.

Os papangunistas Affonso Romano de Sant’Anna, Raildon Lucena, David Leite, Cefas Carvalho, Damião Nobre, Yasmine Lemos, Antonio Capistrano e Túlio Ratto dão continuidade a esse trabalho reconhecido e aclamado pela mídia como um dos melhores instrumentos culturais do Nordeste e, tranqüilos e calmos, rindo das investidas daqueles que querem “ressuscitar”, a todo custo, o coronelismo em terras potiguares.

Veríssimo relembra Caymmi

Luís Fernando Veríssimo relembra instantes de outrora com Dorival Caymmi, falecido semana passada. O texto foi publicado no Estado de São Paulo:

Lembrança remotíssima do Dorival Caymmi: ele na nossa casa. Naquela época, pré-televisão, pré-cadeias de rádio, os artistas viajavam e faziam programas nas rádios locais. Ele foi nos visitar depois de um programa numa rádio de Porto Alegre. Levou o violão e cantou. Lembro de alguém que o tinha ouvido no rádio comentar: ele tem a cara da voz.

Aquela cara não podia ter outra voz, aquela voz não podia ter outra cara. Nunca ouvi voz parecida - até conhecer outro baiano, o João Ubaldo Ribeiro. A voz do João Ubaldo é plágio da voz do Caymmi. Agora o João Ubaldo tem um dever para com a nação: falar, falar mais do que fala, e até cantar de vez em quando, pra gente ter a ilusão de que ainda é o Caymmi.

Lembrança não tão remota (só 44 anos) do Dorival Caymmi: Lucia e eu num sítio em Araras emprestado ao jovem casal para sua lua-de-mel pelo escritor Vianna Moog. Na eletrola, durante toda a nossa estada, rodou um long-play do Caymmi. Faixa mais repetida: Dora. A rainha do frevo e do maracatu. Que contém uma daquelas frases musicais do compositor guardadas no arquivo especial das grandes frases musicais que cada um tem no peito.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ao bronze, Brasil!

O jornalista Ailton Medeiros descobriu um blog de humor finíssimo. É o Blog Bronze Brasil. A linha dos textos é em tom de ressalva à medalha de bronze. Ironia pura! Vejam:

“Perder da Argentina nunca é bom, poderia dizer um torcedor mais fanático. Mas isso é uma opinião do calor do momento, incorreta. Retruco e digo que perder para a Argentina quando estamos armando uma armadilha é ótimo.

Com uma atuação convincente, o Brasil deixou os argentinos fazerem 3 a 0 ao natural e partirem para a final, onde certamente perderão da Nigéria e amargarão a prata.Por outro lado, os comandados de Dunga estarão no jogo que realmente vale muito – a decisão do terceiro lugar.

Nosso técnico mostrou controle do time em todos os momentos, inclusive forçando a expulsão de Lucas e Thiago Neves, quando a equipe esboçava uma reação.Nosso adversário será a Bélgica, que espertamente tomou 4 da Nigéria. Já vencemos eles na primeira fase e temos a obrigação, como país do futebol, de repetir a atuação.Como disse Walter Casagrande na copa de 2002: ‘que venham os bélgicos’.”

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Patrimônio Vivo

Uma das propostas mais bacanas provindas da Assembléia Legislativa, de autoria do deputado Fernando Mineiro, foi sancionada hoje pela governadora Wilma de Faria. É a Lei que institui o Patrimônio Vivo do RN. A idéia é preservar as manifestações socioculturais existentes no estado e incentivar a transmissão dos conhecimentos e das habilidades de pessoa natural do grupo com significativa importância para a cultura tradicional e popular deste Rio Grande de Poti. Agora sancionada, o próximo passo é instaurar uma comissão para elaborar o edital para seleção destes patrimônios vivos. Por ano serão investidos R$ 70 mil divididos por cinco registros, sendo dois para pessoas naturais e três para pessoas jurídicas de direito privado. Tem muita gente a ser lembrada. Mestre Cornélio foi antes, infelizmente.

Museu Djalma Maranhão

O esperado Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão será inaugurado depois de amanhã, no espaço da antiga rodoviária, na Ribeira. Durante o evento, iniciado a partir das 8h, será lançado o livro O Reinado de Baltazar, do folclorista Deífilo Gurgel, já com o selo do Museu. Serão expostas obras de artistas e artesãos das mais diversas regiões do Estado. O Museu vai contar com uma grande galeria de aproximadamente 350 metros quadrados. Uma gama variada de peças artísticas, desde mamulengos a esculturas em granito, estará exposta permanentemente no espaço. Haverá ainda um ambiente reservado para exposições temporárias, de modo que outros artistas também terão oportunidade de divulgar seus trabalhos.

O Museu, além de preservar e difundir a cultura e a arte do nosso estado, inova ao unir as formas virtual e tradicional de se expor: um enorme acervo contento 200 horas de conteúdo virtual aliado ao acervo materializado, cujo conteúdo é de cerca de 1.500 peças. As subdivisões do Museu possibilitam ainda espaços para os autos e danças como pastoril e fandango. É sem dúvida uma grandiosa obra encabeçada pela Funcarte. A ser lembrada em outras gestões. Aproveito o ensejo para ressaltar o empenho da prefeitura e principalmente dos proprietários dos boxes do Mercado de Petrópolis em transformar aquele espaço num ponto de encontro da cultura local. Enquanto isso, na Fundação José Augusto...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Redinha Velha em livro

Com alguma vaidade publico neste espaço de dois leitores notícia que deixou este blogueiro demasiado feliz. “Uma proposta irrecusável”. Foi assim que o sebista-editor Abimael Silva me interpelou no último sábado, lá no Bardallos, para sugerir a publicação do meu trabalho de conclusão de curso sobre a Redinha. Abimael sonegou a informação preciosa da fonte que chegou ao Sebo Vermelho com minha tese em mãos para propor a edição. Continuo curiosíssimo e de ego massageado. Agora terei mais este compromisso pela frente. O livro reportagem é um belo trabalho sobre a velha Redinha. Não nego. Elogiado pelo capitão-mor do lugar, Vicente Serejo. Mas há muitas lacunas e a necessidade de atualizações, vez que foi escrita há três anos. Antes tivesse eu aquela aura arrastada da Redinha e pudesse me dedicar a este trabalho com todo afinco. É meta para o fim do ano.

Colunas em jornais

O otimismo da Associação Nacional de Jornais (ANJ) quanto ao futuro do jornal impresso – amealhado por crescimentos seguidos de vendagem – pode haver uma explicação plausível. Pelo menos aqui na terra-trampolim: a época das futricas políticas e o excesso de colunas sociais. Basta uma espiada marota nas rodas de conversas. Os papos giram em torno de comentários pífios. Antes nossos periódicos fossem recheados de colunas como a de Pablo Capistrano (Pop Filosofia), publicadas no O Poti ou dos artistas plásticos Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Afonso Martins (Fermentações Visuais), publicada na Tribuna do Norte. Ou ainda a coluna cultural de Mário Ivo, no JH 1ª Edição. Mas não. Preferimos viver do notório; do banal. Um rato vira celebridade. A vida particular do deputado-bonitão vira deboche. E a virose da governadora é manchete. É o mundo da ilusão. Ou da desilusão?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Um estranho no paraíso

Não por bairrismo, como pede o poeta Adriana de Souza. Mas preciso comentar do novo trabalho do compositor e intérprete Romildo Soares, apresentado neste último sábado no Bardallos. Um Estranho no Paraíso é o título do novo CD. Vem mais maduro. As letras denotam alguma melancolia, talvez escondida entre frases e exclamações sem fé, mas no estilo “dane-se o mundo”. Claro, não deixa de ser uma modalidade de fé procurar transformar cada dia em um dia mais feliz, mesmo cercado de incredulidades. E este é Romildo Soares: um estranho, para quem não o conhece, neste paraíso profano de mares, dunas e rios. Natal é seu paraíso e é isso que ele canta.

Sempre admirei as composições de Romildo, desde há alguns anos quando ele me presenteou com um de seus CDS, no Bar de Nazaré, no Beco da Lama. Era um álbum recheado de outros intérpretes potiguares cantando sua música. Algumas canções do novo CD já são conhecidas de outros mares, como Alma Lavada e Desafio. Mas todas estão entrelaçadas em um conjunto harmonioso e quase temático do CD. E no todo, o conteúdo é um pouco do compositor na teia de sua cidade. Não é à toa, a música de Romildo está espalhada na boca dos melhores cantores desta terra de Poti. É que Romildo é um bicho estranho que sabe entender a atmosfera de uma capital que não lhe entende.

Cine com Pipoca

A quinta edição do projeto Cine com Pipoca exibe amanhã, às 17h, o clássico Cidadão Kane (1941), de Orson Welles. A entrada é franca e a distribuição de pipoca também é gratuita. O filme é baseado na vida do magnata das comunicações William Randolph Hearst. Mostra a história de Charles Foster Kane, o homem que construiu um império a partir do nada, mas que vivia uma vida pessoal extremamente ruim. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro, é também considerado um dos filmes mais importantes da história. O filme será mostrado no auditório A do CCHLA, próximo à biblioteca central Zila Mameda, na UFRN. O Cine com Pipoca é um projeto idealizado e implementado por alunos de Comunicação Social da UFRN. Curtas univeristários também fazem parte da programação. É isso.

Deífilo recebe homenagem

O Dia do Folclore é comemorado nesta sexta-feira, sempre a 22 de agosto. Este ano, uma proposta do vereador Hermano Morais aproveita a data para conceder o título de cidadão natalense ao folclorista areiabranquense Deífilo Gurgel. Uma bela homenagem a quem tanto já fez pela nossa cultura. A lembrar as descobertas da romanceira Dona Militana, do coquista Chico Antônio, do mamulengueiro Chico Daniel e do nosso mestre da Araruna recém-falecido Cornélio Campina. Imagino que Deífilo aproveite o momento e renda também algumas palavras ao “seo” Cornélio. E parabéns também ao vereador Hermano Morais. O edil tenta pelo menos manter o prestígio do título, antes entregue a baiana Cláudia Leite. Nem vale a comparação.

sábado, 16 de agosto de 2008

Dorival Caymmi encontra o mar

Triste notícia. Morreu agora a pouco, de falência múltipla de órgãos, o compositor baiano Dorival Caymmi, aos 94 anos de idade. Não foram poucas as suas letras que inspiraram este blogueiro nos escritos referentes ao mar. Caymmi era um amante e um observador astuto da vida naquelas beiradas de praia. Soube entender como poucos a labuta árdua do pescador e a iminência cotidiana da morte; do diálogo íntimo com os perigos do mar. A Bahia, pode-se dizer, perdeu seu último moicano autêntico. O resto é balela.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

La Bodeguita Socialista

Mais um novo espaço cultural se instala no Centro Histórico. E com um nome pra lá de charmoso: La Bodeguita Socialista. Fica ao lado do Bardallos, nas adjacências do Beco da Lama (Rua Gonçalves Ledo). O espaço é voltado para atividades culturais e oferta também o serviço de bar. O PSTU está à frente das promoções de eventos. Hoje, o partido traz o professor de história da UFPB, Antônio Radical, para ministrar palestra sobre os 160 anos do Manifesto Comunista. Em seguida, o bar está aberto para a descontração garantida da sexta. Amanhã serão promovidos atividades para comemorar um ano da Casa do Cordel. A entrada é gratuita. Avante companheiro!

Pinacoteca virtual

A Pinacoteca do Estado ingressa na tendência moderna e virtual com um projeto de Pinacoteca Virtual. O objetivo central das exposições virtuais é colocar as obras dos artistas potiguares numa dimensão que supera as exposições presenciais e possibilitar ao público apreciar uma mostra cultural sem sair de casa ou do trabalho. Funciona também como complemento para a divulgação das obras e dos artistas do nosso estado. Claro, sem a intenção de substituir as exposições presenciais. É mais ou menos como os noticiários online: não tem o objetivo de exterminar os jornais impressos, mas aos poucos vão conseguindo. É a nova onda!Quem quiser já pode visitar a exposição virtual e assinar o livro de visita da Exposição “Caminho das Cores”: http://www.pinacotecarn.art.br/

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ao Mestre, com carinho

Quando descrevi o impacto causado por Oswaldo Lamartine e sua simplicidade arrebatadora, ao entrevistá-lo, confessei também minha derrota. Sim, não costumo me dobrar à intelectualidade. Quando respiro a arrogância ou a empavidez dos tais, sinto-me grande. Fico diminuído e de espírito aprendiz é com a genialidade dos sábios.

Sempre admirei mais a sabedoria. Acredito na simplicidade, na humildade, como sentimentos maiores. Muito mais que o conhecimento erudito, posto que democrático. Não fica restrito aos livros ou à cultura elitista. Conquistar a pureza dos tais adjetivos é coisa de poucos. E tudo o que falei de Oswaldo Lamartine, vale também para Mestre Cornélio. E o nosso Araruna guarda ainda um misto de inocência. Aquela inocência prima-irmã da bondade e de parentesco sertanejo.

Por estas que afirmo preferir as palavras também simples para falar de “seo” Cornélio e receber em troca um comentário tão bonito da neta do mestre, residente no distante Espírito Santo. Agradecemos nós, potiguares e batemos palmas para a herança e os ensinamentos do seu avô, Lauriana.

Fico envaidecido pelo alcance deste espaço, por conseguir enaltecer nomes merecidos da nossa cultura e mais ainda por fazer chegar palavras de conforto à família de “seo” Cornélio. Que esta Araruna mantenha seu vôo sobre nossos céus.

Segue o comentário da neta do mestre, Lauriana:

“Venho agradecer pelas palavras carinhosas com as quais se refere ao Sr. Cornélio, este que é meu avô, fico feliz em encontrar pessoas como você que valorizam os mais idosos que sempre tem muito a nos ensinar. Fico feliz também em poder imprimir este seu depoimento e entregar a minha mãe que é filha de seu Cornélio, que guardará com muito carinho, pois é esta a imagem que queremos guardar dele: um homem que deixa muitos amigos e que sempre será lembrado. Não estamos presentes no velório, pois infelizmente moramos muito longe (Cach. De Itap. ES), mas temos ele em nossos corações e hoje nossas orações são todas para ele. Segue um grande abraço, e nossos agradecimentos por suas palavras. Salete – filha de Sr. Cornélio e Lauriana – neta”.

Plano Nacional de Cultura

O Plano Nacional de Cultura está sendo discutido essa semana em Natal. Segue até amanhã o seminário no Praia Mar Hotel, em Ponta Negra. Na abertura, o secretário de Diversidade de Identidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti esteve lá. É uma espécie de homem forte do MinC. O entrevistei há uns três anos. Já naquela oportunidade ele comentou da implantação dos Pontos de Cultura, em substituição ao projeto fracassado das Casas de Cultura.

Segundo Mamberti, os Pontos de Cultura proporcionavam maior dinamicidade à arte. Tinha uma metodologia inovadora, mais viável e organizada. Somente agora o projeto chega ao Estado. Antes tarde do que nunca. Se funcionar será um excelente método de incentivo e propagação da arte potiguar.

Quem viaja aos municípios deste Rio Grande de Poti reconhece talentos primorosos. Alguns já esculpidos, prontos para o sucesso, o reconhecimento. Mas permanecem escondidos, restritos ao pequeno mundo de seu recanto. Por vezes, apenas na sua geografia ruralista, desconhecido até na urbe de seu município. É muito desperdício.

A Fundação José Augusto já expôs o edital de concorrência para a implantação de 53 novos Pontos de Cultura no Rio Grande do Norte. É um investimento de R$180 mil para cada Ponto, divididos em três anos, com R$ 120 mil de verba federal, e R$ 60 mil do governo do RN.
Para dúvidas e esclarecimentos sobre os Pontos, a FJA disponibilizou o e-mail pontosdecultura@rn.gov.br e os telefones (84) 3232-5317/ 5322, com atendimento das 9h às 13h.

OBS da Assessoria da FJA: "Sérgio, apenas uma ressalva, o RN já possui 13 Pontos de Cultura. Esses 53 novos vêm se somar aos demais".

Poemas cantados amanhã

Quem preferir escapar do Mada ou do chorinho do Buraco da Catita, o Madrigal da Escola de Música da UFRN, sob a regência de Tércia de Souza, apresenta Poemas Cantados: há gosto belo. Um espetáculo que reúne diálogo narrativo, estilo musical e poético para encantar com maestria a aventura de criar o belo. A construção dos poemas cantados possibilita ouvir a história dos “eus” de Raul e sentir as nuanças deste personagem a partir de um roteiro teatral elaborado por Celeste Borges, responsável por estabelecer o laço entre a história e os poemas selecionados.

O espetáculo compreende o Poeta Romancista, Mário de Andrade e sua “Moda dos quatro rapazes”; a delicada “Bom Dia” de Gilberto Gil e Nana Caymmi; o Cronista e Poeta, Carlos Drummond de Andrade com “Quadrilha” e o “Poema da Necessidade”; o compositor e maestro, o inesquecível Antônio Carlos Jobim, “Dindí”; o Poeta Moderno Augusto do Anjos com a singularidade de “O Morcego”; o Poeta e crítico literário, Manoel Bandeira com o “Belo-belo” remetendo à “delícia de poder sentir as coisas mais simples” para uma apresentação musical e à “vida”.

A criação procura relembrar que “há gosto belo” no percurso dos “eus” de Raul e no conjunto do espetáculo Poemas Cantados. A apresentação será amanhã e sábado no Auditório da Reitoria da UFRN, às 19h30. Os ingressos estão à venda na Biblioteca da Escola de Música (Inteira: R$ 10 e Estudante: R$ 5).

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Morre Mestre Cornélio


Talvez muitos que acessem este blog sequer tenham ouvido falar de Mestre Cornélio Campina. Essa é minha mágoa maior. Este ícone do nosso folclore morreu hoje aos 99 anos. Faria 100 em outubro, salvo engano. Dedicou uma vida a manter o mais genuíno folclore potiguar: a Araruna. E pouca gente reconhece seu nome.

Não falo isso à toa. Mesmo na redação de um jornal, muitos perguntaram quem era Cornélio. Se jornalistas formadores de opinião desconhecem, imagino o grande público. Mestre Cornélio fundou a Associação de Danças Antigas e Semi-desaparecidas Araruna, mais conhecida como Araruna, nome de um pássaro de caatinga. Foi transformada em Associação por idéia de Cascudo, em meados da década de 50.

Entrevistei Mestre Cornélio há dois anos, para uma ampla matéria sobre o bairro das Rocas. A Associação Araruna desde sempre é sediada no bairro. Mestre Cornélio é uma figura ímpar em sua simplicidade. Gostava de ser reconhecido. Sentia-se importante. Mesmo já com poucas lembranças, adorou conceder a entrevista, ser fotografado.

Vi “seo” Cornélio semana passada caminhando pela Rua Ulisses Caldas, no Centro, próximo à Assembléia. Não foi a primeira vez. Era costume vê-lo perambulando pela Ribeira e Centro sozinho e a pé, mesmo nonagenário. Tive vontade de parar, trocar algumas palavras e colher uma entrevista. Infelizmente a mesma pressa que me impediu de revisitar Oswaldo Lamartine para uma segunda conversa, também tolheu aquela que seria a última entrevista do mestre.

Ainda em vida Mestre Cornélio recebeu homenagens. Emocionou-se em algumas delas. Muitas foram recentes, como o troféu O Poti, conferido pelo Diário de Natal este ano. Já não era sem tempo. A Associação tem membros antigos e imagino que se mantenha mesmo com a triste morte. Natal, Portalegre, sua terra de nascido, ficam de luto. O bairro de Mãe Luíza, onde morava, também.

Guardarei a foto acima com estima. É bonito quando vemos uma Araruna sorrindo. Ele, de fisionomia carrancuda, tímido e alma tão azul.

Seis e Meia pode acabar

O Projeto Seis e Meia é, sem dúvida, o evento mais bem sucedido e longevo do Rio Grande do Norte. São mais de 1200 shows em 13 anos de apresentações. Desde sempre o produtor Willian Collier esteve à frente do projeto. Muito, mas muito mesmo do sucesso do evento se deve a ele. Diante da incompetência e burocratização do aparelho cultural do estado, o produtor bancou e tem bancado do seu bolso muitas das atrações apresentadas para só depois receber a grana, que em muitos casos não vem. Caso de alguns dos últimos shows, como o cachê de R$ 5 mil do filho de Tim Maia, Léo Maia, na semana retrasada.

A competência de Collier tem sustentado o Seis e Meia. O último grande show, em termos de lotação do TAM, com o sambista Benito Di Paula, foi viabilizado graças ao trabalho do produtor. O cachê cobrado pelo sambista foi de R$ 20 mil. Recurso este que a FJA não arcaria. Collier conseguiu trazer Benito de Paula por R$ 8 mil, compensado pela apresentação do compositor também nos teatros das cidades paraibanas de João Pessoa e Campina Grande, onde Collier também produz o Seis e Meia. Aliás, são projetos mais bem sucedidos do que o daqui. São teatros maiores e sempre lotados. Talvez porque haja respeito com a cultura e com o artista.

Por outro lado, o Diário Oficial deste Rio Grande de Poti estampa na capa da edição de 29 de julho o pagamento de cachê no valor de R$ 130 mil a Elba Ramalho, para show de inauguração da Ilha de Santana, em Caicó. Estranho um valor tão alto e pago sem entraves burocráticos. Pior: sem licitação! Semana passada, pessoas ligadas à cultura em Caicó fizeram manifesto, assinado por 75 artistas contra o “abandono” da FJA à cultura no Seridó e a prédios como o Castelo de Engady – uma maravilha potiguar adquirida pela FJA nesta gestão. Segundo o manifesto, “as ações da Fundação José Augusto não apresentaram nenhuma proposta concreta que aponte para o esboço de uma política cultural de verdade na região do Seridó”.

O diretor geral da FJA, Crispiniano Neto informou que solicitou à governadora Wilma de Faria R$ 100 mil para reforma do Centro Cultural de Caicó. Devido às pautas cheias do Conselho de Desenvolvimento do Estado, “vai demorar um pouquinho”. Quanto ao Castelo de Engady, muitas pretensões e nada concreto. A pérola é que o gestor “reconhece que falta mais uma atenção especial para os artistas caicoenses”. Enquanto isso, na batcaverna do Seis e Meia, falta recurso para pagar cachê de R$ 5 mil. Diante dessas e outras, Collier cansou de tentar salvar o projeto fazendo justiça com os próprios bolsos e disse a este jovem mancebo que até o fim do ano deixa o Seis e Meia. Imagino que sem a sua batuta, seja o fim do Projeto.

Talvez a solução para o Seis e Meia seja voltar às origens e depender da iniciativa privada. À época, patrocinado pela Fiern, Sebrae, Vasp... Foi um período que deu certo, graças, também, ao trabalho do produtor Zé Dias e da força do cantor Fagner, que aceitou se apresentar sem cobrar cachê para dar uma guinada ao Projeto.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Resposta a Crispiniano

Melhor que muito programa de humor é ler as estapafúrdias palavras e o cinismo do cordelista Crispiniano Neto em sua coluna no Jornal de Fato. Primeiro ele diz que “o blogueiro Sérgio Vilar ataca novamente”, quanto tão somente respondi às estúpidas declarações do tal que nunca passou por uma redação de jornal e pouco entende do ofício. Nunca o agredi pessoalmente. Critiquei sim – e continuarei – foi sua gestão, a pior segundo a minha opinião, a da classe artística e de funcionários da própria Fundação José Augusto.

O colunista, após disparar sua metralhadora de adjetivos carregados de raiva e vingança, se esconde no antro dos covardes para afirmar que não os dirigiu à minha pessoa diretamente. Ora, não basta sequer meia palavra para o bom ou limitado entendedor. Ironia grosseira e metáforas desgastadas são artifícios de fracos. A má educação e o despreparo emocional já lhe são conhecidos de outras gestões. E por essa interpretação, as quais intelectuais também a fizeram, fui tachado como alguém que não sabe, além de escrever, de ler.

Mais adiante o desocupado cordelista disse que procurou mais de 20 pessoas do meio jornalístico e cultural dos quais disseram não me conhecer. Sugiro ao enraivecido gestor que abra uma tal revista Preá, editada há cinco meses e procure um tal Sérgio Vilar. Melhor: não precisa nem abrir. A gráfica escolhida não permite isso, ou as folhas podem se soltar como baralho. Contemple a capa da revista que foi editada apenas para fazer média com o ministro Gilberto Gil, quando cá esteve. A matéria é deste jovem mancebo. Se arrisque a abrir a revista e procure “erros técnicos e éticos” nos textos.

Não sei a quais jornalistas e pessoas da cultura o esquentadinho Crispiniano perguntou a meu respeito. Mas sugiro alguns. Pode começar por Vicente Serejo, que também criticou a atitude da FJA no triste episódio da venda do Museu da Rampa. Mesmo antes de formado, ele elogiou minha tese como o melhor trabalho sobre a Redinha já escrito. Se quiser se estender e conversar com a mulher dele, a também jornalista Rejane Cardoso, procure saber dela de uma matéria sobre os anos de 1968.

Procure ainda Deífilo Gurgel, Tácito Costa, Rodrigo Levino, Alex de Souza... Depois leia quem comentou no texto abaixo. É um tal Moacy Cirne, conhece? Infelizmente Oswaldo Lamartine morreu, ou poderia perguntar para ele também. Não faz muito tempo, um poeta chamado Sanderson Negreiros perguntou ao meu avô se o tal Sérgio Vilar que substitui (há sete anos!) Osair Vasconcelos nas crônicas de domingo com excelentes textos era seu neto. Ah, e procure ainda – e aproveite para colher dicas de para uma boa gestão cultural – François Silvestre. Se preferir ler algo de minha autoria, procure minha coluna no site mais acessado do estado: o portal da Diginet.

Apenas por dois textos o precipitado Crispiniano me classifica como o pior jornalista de Natal. Isso depois de eu também tachá-lo como o pior gestor da FJA. Dois textos, e dois anos de gestão. A comparação é oportuna. O argumento de que a maioria das matérias veiculadas sobre a instituição é favorável é ridícula. O desinformado gestor nunca passou por uma assessoria de imprensa ou saberia diferenciar matéria espontânea de release. De certo a assessoria da FJA é extremamente competente. Conheço a jornalista Mary Land Brito e reconheço o árduo trabalho em tentar reverter a péssima imagem da FJA junto à opinião pública e, sobretudo, à classe artística.

Engraçado é o convencido gestor se gabar de ter permanecido no cargo após período turbulento em que quase foi exonerado por incompetência. Das dezenas de secretarias e fundações do estado, apenas a dele e a secretaria de saúde foram ameaçadas. Ainda comenta que os dirigentes do SEU partido reconhecem o trabalho feito. Morri de rir com essa. E só para lembrar, o agressivo gestor já foi afastado da chefia do Gabinete Civil da secretaria de Saúde por quase sair aos tapas com um colega de trabalho. Nenhuma novidade a quem conhece o despreparo emocional do cordelista. Por isso o petista (chato chamá-lo assim) confunde liberdade de expressão com agressão.

Também darei por encerrada essa discussão. Não é do meu feitio tais intrigas. Se o gestor até ler mais embaixo, verá que o elogiei ao receber o título de imortal como cordelista. Esperava apenas e ainda uma resposta convincente sobre a crítica que fiz da falta de uma grande obra desta gestão para a cultura do Estado. Ou sobre a situação da Cidade da Criança. Ou mesmo quando será lançada a próxima Preá, que seria bimestral. Fica por isso mesmo.

sábado, 9 de agosto de 2008

O Coringa de Batman

Assisti só esta semana o novo filme de Batman. Realmente há vida inteligente nos blockbusters hollywoodianos. Quando comentei das fracas produções recentes de outros heróis dos quadrinhos, como Hulk, O Quarteto Fantástico e o Homem de Ferro, Batman soa como prova. A atuação de Heath Ledger como Coringa é memorável. E o personagem é a grande sacada do filme de Christopher Nolan. Uma figura anarquista que, de certo, provocou espectadores do mundo inteiro como um espelho da hipocrisia global. Um personagem denso. Não acho que seja perturbado, como foi citado em algumas críticas. Embora pareça contraditório, reputo no Coringa a figura esclarecida do filme. O Batman, interpretado por Christian Bale, este sim uma pessoa confusa, indecisa, carente; afora a solidão perturbadora já característica.

Se aponto uma passagem equivocada de Batman: o Cavaleiro das Trevas – e quem não assistiu pule esta parte – foi a inércia dos tripulantes das embarcações em não ativar os explosivos. Um gesto que pôs a filosofia do filme – mostrar a decadência da humanidade – por água abaixo. Agora, um fato demasiado favorável ao filme, principalmente ao se tratar de um blockbuster: os diálogos são naturais e evitam ao máximo a constrangedora situação de explicar o filme ao público. Vejam que tudo é muito bem construído e pensado. O promotor de justiça, vivenciado por Aaron Eckhart demonstra todos os ofícios e conhecimentos da profissão. Diferente dos erros grosseiros dos blockbusters, como o novo Indiana Jones. Chega ao ponto do mexicano Pancho Villa ensinar o quechua, idioma dos incas.

Batman respeita a inteligência do público. Foi o único filme do estilo que conseguiu remexer com os ossos da minha personalidade. O papel do Coringa no filme remeteu-me à mesma provocação vista em Dogville, no sentido de mostrar que somos hipócritas e subalternos às regras ainda mais hipócritas; que todo ser humano pode ser mau. E devido a essa complexidade pouco visto nos filmes de heróis, muitos críticos colocam este Batman fora de uma adaptação dos quadrinhos. Acho que não. O mundo dos HQs dependem muito da imaginação e todos sabem das ideologias colocadas por trás de cada personagem. O diretor conseguiu captar a dele e encontrou uma interpretação fantástica para a figura do Coringa. É, sim, uma adaptação, só que inteligente. Que o modelo seja seguido. E nada mais.

Isaque Galvão no Parque da Cidade

Boa pedida pro domingo: o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, na Cidade Satélite, dá continuidade à sua programação de eventos culturais gratuitos - iniciada semana passada -, que vai se estender até dezembro. O projeto Domingo no Parque representa uma ação do Memorial da Cidade, visando mobilizar a população de Natal a desfrutar da estrutura do parque, além deaproximar os cidadãos natalenses da história, dos artistas e da cultura locais. O projeto acontece sempre aos domingos, das 16h às 19h. Neste domingo serão oferecidas, das 16 às 18h, oficinas ministradas por artistas locais convidados. Além disso, Isaque Galvão anima o público apartir das 18h. O cantor tem um eclético repertório, e interpreta Luiz Gonzaga de uma forma mais erudita. Ouvi o CD e particularmente não gostei muito. Mas Isaque Galvão é sempre um show à parte.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Gestor oportunista

Nos posts abaixo o leitor poderá ler um texto intitulado Cultura Oportunista. A despeito deste texto, o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, publicou em sua coluna no Jornal de Fato (de Mossoró) uma série de ataques à minha pessoa. Confesso: a denúncia publicada no texto devia, sim, ser checada antes da publicação. Ainda assim, não considero justificativa para tal resposta estúpida. Primeiro porque a joguei pela seriedade da fonte. Segundo pela confirmação da diretora da Casa Talento de que o patrocínio havia sido cancelado depois de oito anos consecutivos de incentivo. Também por deixar aberto o espaço para o nobre cordelista dar sua versão e empatar o jogo.

É prática comum no jornalismo ceder espaço para os dois ou mais lados, nem sempre com denúncia e resposta lado a lado. Isso muito se deve ao cotidiano selvagem da profissão que ceifa o tempo para melhor apuração. Desta maneira, acredito no único equívoco de citar um “setor de tributação da FJA”, quando na verdade foi explicado que a informação partiu da Secretaria Estadual de Tributação. Por estas, fui chamado, no texto do incompetente diretor, de picareta, cretino, vilão, irresponsável, porco, leviano e mentiroso. Isso sem conhecer minha pessoa ou minha trajetória como profissional. Ou seja: também faltou apuração a este que se diz jornalista. Mais: agrediu toda uma família quando generalizou estes adjetivos aos Vilar, já no título. Que ficasse restrito à minha pessoa e não a nomes tão dignos e queridos da nossa sociedade.

Mesmo antes da agressão procurei checar as informações junto à SET e à própria FJA. Encontrei uma burocracia enorme – marca incontestável de atual gestor, que demorou um ano e meio para retomar a revista Preá, publicada em péssima gráfica e que novamente caiu no limbo. Gostaria de esclarecer, antes de continuar minha resposta ao gestor que vendeu o Museu da Rampa e um pedaço da nossa história à Marinha, que a informação não partiu de Márcia Pires e a fonte “mentirosa” é uma pessoa seríssima, com mais de 30 anos de jornalismo e cujo equívoco não merece tais agressões, ou o gestor que quase extingue o Projeto Seis e Meia jogue a primeira pedra se nunca cometeu algum. De preferência jogue várias na Cidade da Criança e transforme numa reforma urgente.

Márcia Pires ligou para redação pedindo gentil e tão somente – depois de elogiar o texto – esta assertiva. Disse que não tiraria uma vírgula do texto. O leitor deve imaginar o receio da diretora em ter seu nome envolvido em denúncias contra a instituição que ajudou a manter seu projeto. Não fosse assim, duvido que o tampão da censura indireta lhe fosse imposto. Um fato é indiscutível: O incentivo foi brecado em 2007 e este ano Márcia Pires precisou de audiência com a governadora para conseguir, em junho, o tal patrocínio, ainda a espera do setor privado (os R$ 500 mil são pagos pelo setor privado!). Nunca ela precisou passar por isso.

Quando escrevi “independente da veracidade da informação”, indiretamente abri espaço para resposta do gestor que ainda não apresentou nenhuma grande obra para o estado e é visto por boa parte dos funcionários da FJA – do qual guardo o maior apreço desde quando lá trabalhei – como o pior diretor que por lá passou. É notório que sua gestão é das mais criticadas do atual governo. Publicaria a resposta na íntegra sem emitir nota pessoal. Faço-a agora diante da agressão exagerada, estúpida. Espero que o gestor já tenha “arrumado a casa” – desculpa que perdurou por mais de um ano para justificar a inércia de uma instituição que nada apresentou de relevante ao estado – e vá trabalhar. Arrumar casa é pra faxineira, ou melhor seria chamá-lo de CrisPinicando Neto.

Tenho certeza de que o equívoco da falta da melhor apuração da denúncia não manchará minha trajetória profissional honesta e de reconhecimentos valiosos do meio jornalístico e cultural. A estupidez da resposta do gestor, esta sim, evidencia o caráter da pessoa e o despreparo emocional do gestor. Que o diga a classe artística!

Do improviso de Helmut

Enquanto degustava bela cerveja na companhia de bons amigos no Bar de Nazaré, em um sábado de Beco, eis que o folclórico Helmut chega de súbito e me mostra anotações em um papel de guardanapo. Era uma poesia. Pediu dois reais por ela: Ei-la: “O destino se prepara com arma de adultério./ É esse seu “caltério”,/ Para as chagas que são como secas bagas”. Entrevistei Helmut há uns três anos para uma matéria sobre um famoso crime em que uma família de prestígio na cidade morreu envenenada em casa ainda hoje erguida na rua Gonçalves Ledo, no Centro. Coisa da metade do século passado. Depois de tanto tempo, achei Helmut mais velho. Carregava quatro DVDs piratas de clássicos do cinema. Ele entende de cinema como poucos na província. Enxergo nele uma figura perfumada pela loucura dos sábios marginais. Bateu certa inveja.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Programação para hoje

FEIRA
A Feira do Livro de Mossoró começa hoje e segue até 10 de agosto, no mesmo local das duas edições anteriores: a Estação das Artes Elizeu Ventania. Grandes nomes da literatura nacional e regional vão marcar presença, entre eles Gabriel O Pensador, Marçal Aquino, Marcelino Freire, Laurentino Gomes, Fernando Morais e o potiguar Pablo Capistrano.

MERCADO CULTURAL
Como toda primeira terça do mês, acontece hoje às 19h, a 3ª edição do Mercado Cultural, no Mercado de Petrópolis. Nesta edição, o Balé da Cidade de Natal e os irmãos Galvão Filho e Babal farão show. Haverá ainda o lançamento do livro de poesias Imarginário, do jornalista e integrante da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte, Marcos Cavalcanti.

EXPOSIÇÃO
A Associação dos Pintores de Porcelana do RN (Appern), e Jayra Gondim de Araújo, convidam todos a presenciarem a 16ª Exposição Nacional de Pintura em Porcelana, Vidro e Faiança, e o 11º Salão de Arte em Tela, Seda e Cerâmica. As exposições começaram ontem e seguem até amanhã na sede social da AABB, em Tirol.

CACHAÇA
O Festival de Cachaça com comida de bar promove degustação especial para jornalistas hoje, às 19h no salão de eventos do Sebrae . O evento tem o objetivo de apresentar cerca de 30 pratos criados especialmente para a produção do livro Delícias brasileiras com cachaça, de Miram Cerutti, que será lançado no dia 30 de agosto em Natal, durante o Festival de cachaça – dessa vez, com comida de bar. Todas as receitas, do livro e do Festival, foram criadas especialmente para incluir em sua execução a mais famosa bebida do país canarinho.

Hoje tem Seis e Meia

Mesmo com a conclusão da reforma no TAM prevista para setembro, o Projeto Seis e Meia continua firme. As atrações serão apresentadas no Teatro de Cultura Popular, anexo à Fundação José Augusto. A diferença de espaço talvez faça diferença. Na última sessão, com Benito Di Paula, as 600 cadeiras do TAM foram poucas. As atrações para hoje tem a cantora Thêmis e o filho de Tim Maia, Léo Maia. São nomes menos populares. Acho que os 200 lugares do TCP sejam suficientes. Já para 12 de agosto tem show com a cantora Teca Calazans, diretamente de Paris, e Valéria Oliveira como atração local. Teca volta a Natal, onde cantou com Osvaldinho do Acordeon no Projeto Pixinguinha há duas décadas. Será uma oportunidade única de assistir a dois shows de cantoras brasileiras que tem feito grande sucesso no exterior. De um lado, Teca, capixaba de origens pernambucanas que tem levado nossa música para a Europa; de outro, Valéria Oliveira, potiguar que tem levado os sons do Brasil para o Japão e a Suíça. Bela pedida!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Cultura oportunista

O que escutei hoje foi uma denúncia gravíssima e que merece melhor apuração e providências, se for o caso. A diretora e idealizadora da Casa Talento, Márcia Pires, recebeu informação de um funcionário do setor de tributação da Fundação José Augusto de que 80% dos projetos aprovados pela Lei Câmara Cascudo de incentivo à cultura são destinados a Mossoró, reduto do diretor geral do órgão, Crispiniano Neto.

A Casa Talento recebeu o patrocínio da Lei até ano passado e por oito anos consecutivos. Este ano, inesperadamente, o projeto não foi aprovado. Márcia Pires buscou razões para o veto junto a FJA e obteve essa informação. A Casa Talento é um instrumento de alternativa profissional a quase 500 jovens para o ensino básico da música com a intenção de formar novos talentos. Um trabalho gratuito e valoroso de cidadania que foi brecado.

Digo mais: são oferecidos onze cursos musicais, nos três turnos do dia a crianças e jovens da rede pública de ensino, dos 7 aos 19 anos. Indiretamente são beneficiados 2000 familiares dos aprendizes. A professora violinista Márcia Pires foi piorneira no estado em utilizar o método Suzuki de aprendizado, que beneficia o gosto artístico, a disciplina, a socialização. Em resumo. A professora é uma pessoa séria. A instituição, idem.

O resultado do trabalho pode ser facilmente comprovado. A Casa Talento já foi destaque na capa da revista Veja, em 2001. Recebeu o Prêmio Hangar. Participou de programas globais, como o Altas Horas. Foi premiado com o Prêmio Top Social Nordeste e o Troféu Cultura 2007. E a diretora Márcia foi homenageada como Mulher do Ano (2006) pelo mesmo governo estadual que, inexplicavelmente, talhou o patrocínio oferecido há quase uma década.

Independente da veracidade da informação de que a maioria dos projetos aprovados pela lei estadual de cultura dê preferência tendenciosa a Mossoró, um esclarecimento precisa ser dado sobre este inesperado cancelamento do patrocínio para uma instituição já consolidada e prestigiada no estado. Situação semelhante já aniquilou outro projeto com mais de uma década de sucesso em Natal: o Domingo na Praça, desta, pela lei municipal de cultura Djalma Maranhão. O espaço está aberto e o tapete vermelho espera passagem.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

De agosto

Agosto parece mês inebriado. Abriga a força dos ventos alísios. E dos ventos chega a maresia a acalmar mentes e almas. E a brisa umedece sensações e perfuma ainda mais os coqueiros-caciques de Navarro de uma melancolia infinda.

Das varandas à beira-mar, o agosto se faz mais presente. O sabor das ondas nos olhos; o gosto do mar no corpo. Dos silêncios da praia, brota o barulho da natureza, remexida pelos ventos do mês. Os coqueiros suspiram, arquejando de tédio. O mar mais bravio descansa no encontro com as falésias. Os olhares, mais ausentes, acompanham inebriados o navegar manso da canoa em labuta, alheia ao vento e ao frio.

Ainda há o manto invernal. Os ventos friorentos de agosto intimidam os cajus. Das dunas de Santa Rita ainda se vê algum. A chuva de amarelos e avermelhados frutos vem mesmo no veraneio. É que caju é fruta alegre, amigo leitor. Vê-se pela cor. E neste mês cinza, os cajus e a euforia se escondem como marias-farinhas em suas tocas, medrosas a qualquer pingo de chuva.

Nas dunas desta praia espremida e pacata, da qual vigio há mais de 20 anos, é onde os ventos de agosto parecem encontrar morada. Vagueiam pelo mar em direção à duna, como quem persegue a solidão das pegadas na areia: passos de melancolia. E daquela mesma duna que guarda o sol em fim de tarde, emana o cenário dos céus em gradações de cores, interrompidas por nuvens carregadas de tédio.

E as dunas, amigo leitor, são movidas pelos ventos. Brisas geladas que congelam corações e mentes nativas que ainda habitam aqueles confins de praia, regressados aos seus barracos na companhia do sol, nos fins de tarde. E seguem carregando o peixe ou a estafa, enquanto a canoa adormece numa solidão tristíssima nos barrancos de areia à beira-mar, alisada pela maresia corrosiva e fria.

É assim o caminhar nestes dias de agosto: mês com cara de grande manhã cinzenta, longe das tardes insistentes e abafadas do verão. Em agosto os dias se arrastam, medindo forças com o tempo e com o vento. São carregados de uma tristeza refletida na introspecção dos passantes na calçada; no olhar perdido do ambulante. É que agosto parece querer regressar no tempo; provocar pensamentos, reflexões.

Mas os ventos parecem abrandar neste fim de mês. Setembro já é mira no horizonte. Mês sem graça; mês vazio. Parece transitório. Já se pensa em algum verão; alguma alegria. É quando o período contemplativo é guardado novamente no armário, junto aos cachecóis. As nuvens entediadas se dissipam. E lá longe, na duna daquela praia-refúgio, os cajus já ensaiam largar a vírgula das castanhas.