Publico abaixo a matéria que fiz com o ex-BBB Alexandre, capa da edição do Muito de 2 de abril. A exposição do cara nos cadernos culturais de Natal foi criticada pelo jornalista Tácito Costa, em seu Substantivo Plural e gerou pequena discussão acerca dos cadernos de cultura da cidade – coisa que pleiteio faz tempo, cansei de ouvir as mesmas opiniões de quem nunca passou por Redação e já não me atenho mais ao assunto em outras plagas que não aqui, neste espaço. De antemão afirmo ao leitor deste blog que concordo – e não há como discordar – da opinião de Tácito.
Esse mero administrador de empresa partícipe de programa desvinculado de qualquer conteúdo cultural relevante nunca havia de merecer espaço em caderno de cultura. Claro, há numeroso público leitor para tal matéria e penso que um registro de que o cara promoveu coletiva de imprensa; que está em Natal e coisas do tipo, valem até pelo conceito mercadológico do jornal-empresa e interesse do assinante. A questão é o espaço da matéria. Na minha opinião, não é a editoria cultura.
Pautado para tal, procurei dar um tom diferente ao assunto; aproximar da cultura que queremos ler: matérias críticas, analíticas, de conteúdo, mesmo de assunto vazio. Esse ponto não foi colocado na discussão. Tampouco a melhoria estética e de conteúdo do jornal, cada vez menos avesso aos releases e agora com projeto gráfico mais interessante. As criticadas colunas sociais foram embora e nada disseram. Preferiam as críticas enquanto existiam. Fizemos excelentes matérias nos últimos meses, fora do tal agendão. Ninguém deu um pio.
Falo de uma maneira geral, não só de Tácito, sempre atento e combatente com nosso jornalismo cultural, graças a Deus. As críticas são válidas e oportunas. Já instiguei a discussão pro assunto, que julgo mais interessante do que listas de livros e escritores, também bacana (listas são sempre prazerosas!). O jornalismo cultural brasileiro está em decadência faz tempo. E o do nosso RN carece ainda de estrutura. É quase inimaginável um ou dois repórteres de cultura por jornal, quando em jornais de estados vizinhos são mais de oito.
Semana passada ligaram de Recife pra Redação. Atendi e perguntaram qual repórter cobria música, como se houvesse, como há lá, um repórter para cada segmento cultural: especialistas em literatura, música, artes visuais, dança... Aqui sou apenas eu. Aliás, sem as colunas sociais, ganhamos mais um repórter, mas a carga de trabalho permaneceu ou até aumentou com mais páginas para preencher. Na Tribuna é a mesma coisa. E no JH o repórter até divide trabalho com a editoria de Cidades.
Cito até outro exemplo da dificuldade diária que passamos. Meu editor (vai ficar puto que tou escrevendo isso..rs) pediu para reescrever release da banda Tihuana, que toca amanhã em Natal. Argumentei que valia apenas uma nota no roteiro de fim de semana. Ele concordou e perguntou: “O que eu ponho no lugar?”. Fiquei sem ação, sem sugestão. As que tinha já havia sugerido e escrito. Analisem: o editor precisa pensar em quatro, cinco pautas por dia. E pior: o repórter tem que escrevê-las.
Não dá tempo, minha gente! Não há como escapar do agendão, que, concordemos, também vale como matéria. Praticamente todos os dias, sem almoçar, chego atrasado no meu outro trabalho, no expediente da tarde. Enfim... Feito meu desabafo, segue abaixo meu texto sobre o tal Alexandre, que propositalmente preferi sequer botar seu sobrenome. Foi o que deu pra fazer:
“Um dos integrantes da casa mais vigiada do Brasil está em Natal. Calma, nada da presença de José Sarney, Renan Calheiros ou Fernando Collor na aldeia de Poti. A mão boba no Planalto continua à solta. Os olhos atentos da grande massa de eleitores miram outras celebridades: as do Big Brother. E quem voltou a Natal sempre escancarada às novidades foi o administrador-brother-recifense Alexandre, 35 anos. Cercado por holofotes, pela falta de assunto e pelas carnes do restaurante Sal e Brasa, o big brother concedeu coletiva à imprensa no início da tarde de ontem.
Segundo informa o google, Alexandre mora em Parnamirim e trabalha em agência bancária em Natal. Ao ser indicado por três integrantes foi eliminado do programa com 49% dos votos no terceiro paredão. Foi o mais votado entre os anônimos/celebridades Maximiliano e Priscila. É classificado como sortudo em vários sites preocupados com biografias de celebridades por ter entrado no lugar de outro participante, poupado por problemas de saúde. Ainda segundo o repórter google, Alexandre ficou no ‘‘lado A’’, porém gerou conflitos com alguns participantes de seu grupo e foi indicado ao paredão.
Alexandre foi ‘‘eliminado’’ do show da vida global após três semanas de programa. Durante o período participou da casa vidraçada e expôs sua intimidade ao Brasil. Seguiu a moda do tempo-hoje. O sucesso do ‘‘reality show’’ (show da realidade?) é explicado também pelo advento da internet. Ferramentas como webcam, blogs e fotologs, youtube e orkut expõem o festival da vida privada a quem deseja fuçar. Anônimos em busca de comentários, visibilidade. Diferente dos diários íntimos de outrora, dos escritos secretos, introspectivos. A mania da exposição hoje já excede a mídia televisiva ou a internet e tem ganhado as telas do cinema e o mercado editorial, com a enxurrada de biografias em exibição ou publicadas.
Na coletiva a qual reuniu os principais veículos da mídia potiguar, o brother Alexandre respondeu a todas as perguntas dos repórteres. Negou apenas o verdadeiro enigma da Esfinge da tragédia grega: para quem ele torce contra no Big Brother. Preferiu apenas afirmar seu voto de confiança, para a Ana Carolina, porque ‘‘ela está sendo ela mesma’’ no show da realidade televisiva. Alexandre falou ainda de combinações clandestinas de votos, que não estava preparado para participar do programa no ano passado e só este ano se inscreveu e do processo de seleção de 600 candidatos, a qual respondeu 20 questões, participou de quatro entrevistas eliminatórias, testes...
A coletiva ultrapassou os 15 minutos de fama para cada cidadão do futuro, vislumbrados na década de 60 pelo papa da pop art, Andy Warhol. O profeta beatnik foi preciso quando sequer excistiam photoshop, google earth ou câmeras de segurança. E riria hoje da própria previsão ao escutar do brother Alexandre: ‘Aqui fora sou mais reconhecido do que lá dentro’”.
PAPO CURTO
Diário de Natal - Quais motivos para tanto sucesso do Big Brother?
Alexandre - Aquilo é um jogo de conflitos e o ser humano é muito observador, preocupado com o que acontece com a vida dos outros. Acredito que assistem com esse interesse.
Qual experiência você tirou de lá?
Aprendi mais a respeitar o ser humano e a tentar entender a individualidade e os objetivos de cada pessoa.
Você assistiu ao filme O Show de Truman (1998)?
Não; acho que não.
No filme o protagonista nasce, cresce e vive sob uma redoma gigantesca de vidros a qual reproduz o seu mundo e está cercada de câmeras. Ele nem desconfia que está sendo filmado e visto por milhões de pessoas; que todos os seus amigos, trabalho e rotina é roiteirizado por um diretor de TV. Quando ele descobre, fica contrariado e procura fugir da redoma. Porque hoje, apenas dez anos depois, a conotação é outra e as pessoas procuram aparecer?
Pelo menos eu nunca pensei em fama ou em ser celebridade. Me inscrevi no BBB por causa do dinheiro, em ganhar o milhão. Até porque minha formação é outra. Não ganhei um milhão, mas ganhei outra coisa: hoje sou reconhecido. Não há lugar que eu vá que não me reconheçam. E também me apareceram muitas oportunidades; muitos projetos. Já fiz curso de teatro e estou agora estudando as melhores propostas; as que se enquadram melhor no meu perfil.
Muito bem, Vilar! Disse tudo o que tentei dizer no SP, só que fui 'mal compreendida'... rs...
ResponderExcluir;)
Não sou fã do BBB, confesso que já acompanhei algumas edições, mas não acho que o programa seja feito para mentes inteligentes. Mesmo assim, ainda descordo da maneira como a matéria e a entrevista foram conduzidas. Elas não ajudam em nada a mostrar o semi-árido cultural da TV nem melhoraram a condição do caderno de cultura. Pelo contrário, só mostram uma opinião soberba, atrasada e fechada do repórter sobre o assunto reality show. Perguntar sobre o Show de Truman querendo que uma sub-celebridade faça comentários sobre a relação do filme e o programa foi no mínimo deselegante. É como ir fazer uma enquete no meio da Cidade Alta e querer que os traseuntes falem bem sobre a última reunião do G20 ou o que eles acharam da última palestra de Ariano Suassuna em Natal. Ficou claro que você só quis mostrar a ignorância do ex-brother. Só que o leitor acabou perdendo de ganhar informação, talvez com perguntas sobre futilidades, mas que poderiam acrescentar algo à matéria.
ResponderExcluirAnônimo, discordo.
ResponderExcluirSérgio conduziu até o limite que poderia. Como extrair algo mais do vazio?
Gostei da ironia também. Não há como ficar impassível quando se é pautado para um assunto no mínimo sem propósito.
Você merece parabéns, Sérgio, por ter tido estômago e capacidade de ter feito matéria com a sub-instantânea-celebridade. Eu não passaria da primeira linha.
Que a pauta era desagradável, era sim. Creio que fazer uma matéria com um participante do BBB é tão desconfortante quanto fazer uma matéria de uma banda de forró de quinta, que não tem muita coisa a acrescentar, uma vez que só reproduz músicas de outras bandas. Mas, somo pautados. E aí? Poxa, tem que fazer. Qualquer pessoa ou grupo merece umas linhas em jornal. O veículo é democrático, apesar de atender certos interesses. Outra questão que merece destaque nesta discussão é o termo cultura, que é muito mais abrangente do que pensamos. Cultura envolve social, educação, segurança e muitos outros setores, mas as pessoas confundem e se limitam a achar que cultura é artes plásticas, música, dança, cinema. Apesar de fútil, o BBB é um programa televisivo que tem uma penca de público. Mas só por ele ser insignificante (pelo menos para mim), ele deve ser ignorado? Claro que não. Um repórter de cultura deve ter mesmo a mente aberta e falar de tudo, nem que seja o mínimo. Além disso, o jornal é um produto que tem como intuito ser vendido, e o BBB é um ótimo assunto para conseguir isso rs. Enfim, acho que você não fez mais do que lhe cabia, só acho que exagerou ao perguntar àquele aspirante à fama-relâmpago se assistiu "O Show de Truman". Já pensou se você tivesse perguntado se ele leu "1984"?
ResponderExcluirUm abraço
Esse povo que só faz 'descordar' é uó! rsrs...
ResponderExcluirO Show de Truman é tão cult como estão pensando? Se eu tivesse perguntando sobre O Anjo Exterminador, de Bunel, talvez fosse algo exorbitante, embora valesse uma boa comparação.
ResponderExcluirAh! E não respondo a anônimos!
Não é que o Show de Thruman seja cult, mas os elementos semióticos que o filme apresentam são sim. Ao fazer a pergunta você esperava que o entrevistado fizesse a analogia entre o filme e o BBB, o que não aconteceu. Talvez ele até tivesse assistido, mas nem lembrou e mesmo que tivesse visto, provavelmente nem perceberia a semelhança entre um e o outro. Só acho que pessoas de mentalidade fútil (pra participar de um programa desse tem que ter), exige perguntas mais fáceis, sem querer forçar a barra para que ele saiba mais do que realmente sabe. Não estou subestimando ninguém, longe de mim... Agora, se ele responder, beleza, mas se não, fica meio ridículo e neste caso vale até uma ediçãozinha, não cabe ao repórter levar o entrevistado a este ponto. ^^
ResponderExcluir"Só acho que pessoas de mentalidade fútil (pra participar de um programa desse tem que ter), exige perguntas mais fáceis, sem querer forçar a barra para que ele saiba mais do que realmente sabe. Não estou subestimando ninguém, longe de mim..."
ResponderExcluirIMAGINA SE ESTIVESSE SUBESTIMANDO ALGUÉM!!!!!!!
Mas Leilane, sSe ele assistiu ou não ao filme, isso não denota nível de inteligência, conhecimento ou intelectualidade. Por isso mesmo eu mesmo expliquei na pergunta do que se tratava o filme para só então pedir uma comparação, que foi pífia, porque o cara realmente não oferece nada de interessante ao leitor.
ResponderExcluirAh, e quanto à sua outra observação, se o BBB deve ou não ser ignorado no caderno de cultura, sou contrário à sua opinião. Eu acho que deve ser ignorado, sim. Se há uma penca de público como você diz - e está certa - que procure na internet, em revistas de fofocas voltadas para o assunto. Não acho que o caderno cultural de um jornal deva se nivelar por baixo, quando outros assuntos mais urgentes carecem de mídia. Mas é uma opinião.
Valeu pela participação!
Dizer o que deve ir ou não num caderno de cultura gera muitas controvérsias... como eu falei, cultura é um tema muito amplo. Desde os anos 1990 que gastronomia e design ingressaram na área, coisa que eu acho estranho, mas concordo, vendo a área como "ilimitada". Porém, ainda acredito que o caderno acaba ficando um balaio de gato rsrs. Mas, enfim, eu acharia um tédio ter que fazer uma matéria dessa. Com certeza teria feito diferente de você, ainda bem né? Já pensou se todos os repórteres escrevessem igual? Valeu! Bom Blog!
ResponderExcluirMichele: kkkkkkkk realmente... tentei consertar o deslize, mas foi em vão, né?
Abraços
Deus do ceu quanto preconceito. Que coisa horrorosa de ler.
ResponderExcluirGente, eu entrei no google para pesquisar a opinião dos jornalistas a respeito de reality show e me deparo com o clichê da classe cult pensante e pseudo superior... só porque leu 1984, a revolução dos bichos e sei lá eu mais o que, se coloca acima do bem e do mal e no direito de subjulgar o outro. Talvez esse moço tenha algo legal a dizer, algo que acrescente... quase todas a pessoas tem. O que aconteceu foi que o preconceito e a inoperancia do jornalista acima prevaleceram.
What a pity!
Não estou aqui em defesa de reality show. Me senti ofendida com tamanha falta de humanidade da classe que se diz pensante.
Maria Alice Maciel - Recife PE
Bem, levando em consideração que toda pessoa tem uma história para contar e que o jornalista é um contador de histórias, realmente, o rapaz teria algo a dizer e o jornal, democraticamente, abriu o espaço. Outra coisa, fiz referência à 1984 não por ser um excelente livro ou me gabar de tê-lo lido, mas para fazer um paralelo com o BBB. Todos nós jornalistas sabemos que tanto o filme quanto o próprio programa são uma vertente do que o livro diz, o Grande Irmão foi criação de Orwell. Meus comentários não tinham a intenção de ofender ninguém, é só minha opinião e agradeço se ela for respeitada. É preconceito de minha parte? Talvez. Não sei porque isso tudo, parece pensamento de quem acabou de entrar na faculdade e acredita que jornalista pode mudar o mundo...
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