O programa televisivo Observatório da Imprensa trava agora (23h15) discussão muito bacana acerca da proliferação dos jornais populares no Brasil. Os argumentos usados por editores e diretores de redação dos principais expoentes deste estilo de jornal me parecem bastante convincentes e provocam reflexões a respeito de como o jornalismo produzido pelos grandes conglomerados midiáticos tem sido jogado no mercado.
Embora não tenham chegado a este ponto ainda, é fácil vislumbrar as razões para este crescimento: preços baixos das edições, notícias populares como futebol, polícia e celebridades predominantes e linguagem mais acessível. A priori o pensamento é o estigma do sensacionalismo, sempre embutido neste tipo do fazer jornalismo. E se pergunta: onde estão as notícias de economia, e política, e as matérias mais trabalhadas?
Diferentemente do pensamento comum, estes jornais já se desvencilharam do sensacionalismo e produzem hoje o jornalismo cidadão. Abordam assuntos de interesse geral, principalmente das classes C e D. Alie-se a isso a formação de novos leitores. E como frisou o diretor do sexagenário jornal O Dia, quando se denuncia o problema de buracos nas ruas e isto se torna tema de audiência pública na Câmara isso não é notícia política?
Infelizmente a notícia política vinculada ao dever do jornalismo em prestar serviço ao cidadão vista hoje nos grandes jornais é especular sobre quem a borboleta Micarla pretende votar para o senado. Ou quem serão os candidatos a governador para 2010. As matérias de economia se resumem a sete ou oito fontes.
Claro, os jornais populares parecem o foco resistente na luta contra a migração massiva de leitores à internet. E esse ponto para mim é fundamental na discussão. Defendo piamente a permanência da fidelidade ao jornal impresso. A internet tem seu público. O jornal popular, idem. E eles se complementam. As notícias exibidas pela internet e jornais populares carecem de aprofundamento, em maioria. E isso leva ao nivelamento baixo do fazer jornalístico.
Entrevistei hoje uma figura conhecida na cidade entre intelectuais e ele me disse que os jovens até buscam notícias na internet, mas depois de cinco minutos procuram pornografia; que os livros encontrados na internet cansam mais o que já é cansativo para muitos. Ou seja: essa migração é perigosa, nociva. A internet deve funcionar como meio democrático de contestação e entretenimento. O jornal popular, como serviço ao cidadão, principalmente das classes mais baixas. E o jornalismo impresso carece de moralização.
Sem querer defender meu peixe, mas o Diário de Natal tem passado por uma reformulação visível de conteúdo nas últimas semanas. As manchetes são claramente de apelo popular. Isso porque o jornal aboliu matérias pagas de governo ou coberturas daninhas, digamos, de políticagens de resultados futuros ou inexistentes. O jornal optou por histórias populares, problemas e soluções de interesse geral. Isso sem cair no popularesco ou mesmo no popular, posto que as coberturas culturais, econômicas e o preço do jornal permanecem.
Torço mesmo para o bem do jornalismo impresso e pelo diálogo intelegente, moralizador e democrático entre as mídias. E acho ainda que já perdi o resto do programa.
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