sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Entre tapas e beijos humorísticos
Materiazinha leve pra sexta-feira, que fiz para o Diário de Natal. Grande figura esse Nairon...
Nairon Barreto é velho conhecido do público natalense. Na pele do personagem Zé Lezin, ganhou a tela da Globo, junto a Chico Anysio e aos alunos da Escolinha do Professor Raimundo por seis anos. Desta vez, Nairon vem acompanhado do humorista Jason Wallace – também um tipo escrachado de Cinderela que apareceu por estas bandas para contar a história que a sua mãe não contou. A dupla apresenta, de hoje a domingo (20h), no Teatro Alberto Maranhão, o espetáculo Em Briga de Marido e Mulé, Ninguém Mete...
Não, não tem colher no meio. O aforismo pela metade propõe o duplo sentido, bem explicado durante o espetáculo. Zé Lezin e Cinderela formam um casal enxaqueca que vive eternamente entre tapas e beijos – mais tapas do que beijos. De um lado, o marido só pensa na posição mais cômoda para tirar um cochilo; do outro, uma mulher mandona que fala alto e diz muitas besteiras. No palco, situações hilárias e espaço aberto para improvisação e interatividade com a platéia.
Se no palco a briga é feia, com direito a todo tipo de baixaria, fora do teatro o casamento artístico entre o paraibano Nairon Barreto e o pernambucano Jeison Wallace é perfeito. O sucesso na carreira de ambos foi conquistado por intermédio de trabalho de pesquisa e vivências para montar personagens caracterizados com costumes e trejeitos do povo nordestino. “Por isso o povo se identifica tanto com a Cinderela, porque foi o povo que me deu matéria prima para construí-la”, disse o humorista.
Segundo Nairon Barreto, o espetáculo volta a Natal a pedidos, após temporada há três anos na cidade. “O show mostra os problemas de um casal pobre a partir dos novos tempos. Trazemos esses problemas comuns do dia-a-dia, sendo o marido desempregado e a mulher, que hoje quer a igualdade, sustentando o marido e reclamando o tempo todo. Ela, trabalhadora, decente, honesta. Antes, a situação era a inversa”, conta Nairon. O espetáculo também está em curta temporada em São Paulo e irá virar DVD ainda este ano, segundo o humorista.
Entrevista Nairon Barreto (Zé Lezin)
São 25 anos de Zé Lezin. A figura do matuto nordestino mudou de lá pra cá?
Tem mudado junto com a globalização. O matuto perdeu aquele estereotipo do interior. Antigamente não tinha a comunicação de hoje. Ele não sabia qual a sintonia da moda e usava sua sandália de rabixo, um conjunto de mescla azul, o chapéu deitado na venta pra proteger do sol. Hoje a informação chega uma em cima da outra. Vejo casa com parabólica colocada no jardim porque o telhado não aguenta. O jumento não tem mais serventia. O gado é tangido de moto. O matuto não viaja mais de pau-de-arara ou de ônibus; agora é de avião, com passagem dividida em 12 vezes. Na internet ele consegue se expressar sem passar vergonha. Em toda cidade há uma Lan House, algumas escritas “Lã” House. Também acabaram os caixeiros viajantes. Pelo computador já se repõe o estoque. Então, o matuto está desse jeito, mas ainda encontramos algumas pérolas. O sujeito que passou dos 40 anos no mato, continua sendo matuto porque não absorveu ainda a novidade da comunicação. Mas os mais jovens, tanto faz ser de Pau dos Ferros quanto de Nova York. É o mundo novo. E meu trabalho é continuar mostrando aquele mundo de ontem traçando um comparativo com o de hoje.
O sulista entende bem o personagem sem que pareça uma caricatura preconceituosa do povo nordestino?
Existe preconceito, não podemos negar. Mas é uma fatia pouca da sociedade. E vem de muito tempo atrás, quando eles tinham medo dos empregos tomados. Hoje, o maior Nordeste que existe no Brasil vem de lá. É quase meio a meio. E a maioria dos jovens são filhos de nordestinos. Quando o europeu veio para colonizar, ele queria cortar mato? Sobrava para o nordestino, que foi também para a Amazônia... Até na Guerra da Farroupilha (no Rio Grande do Sul) foi um pelotão da paraibana dos grandes responsáveis pela vitória. E o cearense está em todo canto do mundo. Mas a única maneira de vencer esse preconceito é com talento. Se eu quisesse ter me estabelecido lá, não faltaram convites. Mas adoro isso aqui. Prefiro o interior que aquela neura paulista. Já deixei de cumprir compromisso de show por causa do trânsito. Deus me livre viver ali.
Você já fez show com causos adaptados ao futebol. Em ano de Copa do Mundo, virá coisa nova por aí?
Vamos sim, readaptar o texto. Vamos aproveitar para mostrar como o brasileiro é preguiçoso. No ano passado trabalhamos 180 dos 350 dias de trabalho. Imagina aí esse ano, vai ser pior. Quando acabam as férias, emenda com o carnaval. Vem semana santa que não é mais santa, os feriados de quinta que imprensam a sexta. Vem o São João e em cima, a Copa do Mundo. Então, vamos comparar como era antigamente. Como eram os meios de comunicação? Vamos mostrar que este ano vamos trabalhar ainda menos que o ano passado, claro, com muito humor, porque nosso papel é fazer a povo rir e se divertir.
Em briga de marido e mulé, ninguém mete
Quem: Com Zé Lezin e Cinderela
Onde: Teatro Alberto Maranhão
Data e hora: De hoje a domingo, sempre às 20h
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