A discussão a respeito da ética jornalística travada há algumas semanas a partir do site Substantivo Plural, do jornalista Tácito Costa conseguiu um dos propósitos: chamar a atenção da opinião pública para analisar o comportamento da mídia impressa, televisiva e eletrônica produzida neste Rio Grande de Poti, sobretudo durante o período eleitoral. Tudo com base na tal ética. A mesma que Nietzsche afirmou só encontrar particularizada em cada indivíduo. Segundo o filósofo alemão, cada pessoa tem sua própria ética, construída a partir de valores não-universais, singulares, únicos. Ou seja: uma ética impraticável em sociedade.
Esse conceito nietzschiano pode ser transportado para a seara jornalística sob um viés explicativo ou até justificativo para alguns erros cometidos do ponto de vista da responsabilidade social da mídia. É evidente que a sociedade global vive uma grande crise moral e ética e esta crise está claramente presente no jornalismo praticado aqui e alhures. A tensão parte da dicotomia entre os interesses privados e o espaço público. As mídias são empresas e visam lucros. Isso é claro e até forçoso numa sociedade capitalista. E o leitor deve receber a informação imbuído dessa lógica, prioritariamente.
No entanto, a informação de qualidade e tomada do princípio ético do jornalismo imparcial pode vir atrelada à necessidade comercial da empresa dona do produto-jornal. Isso porque no jornalismo a ética particularizada tem limite. O posicionamento ideológico de uma mídia não pode jogar pelo ralo o interesse público – causa maior do fazer jornalístico. Desta maneira, o veículo de comunicação não pode tomar partido de qualquer espécie, desde que expresso perante a opinião pública, como em editoriais, o seu posicionamento. Do contrário, a empresa está vendendo um produto adulterado, sob o slogan do jornalismo imparcial e independente. E antes o leitor ou telespectador pudesse reclamar no Procon.
Desde o início da imprensa os jornais faccionistas existem. Não há nada de errado nisso. Você, leitor, já deve ter recebido tablóides de igrejas universais, católicas; jornais de cunho marxista; outros em defesa da iniciativa privada, etc. E como medir a qualidade da informação vendida? Observe se os diferentes pontos de vista acerca do assunto foram ouvidos e receberam o mesmo espaço de informação. Se o jornal tem cunho cristão ele precisa ouvir também os argumentos dos agnósticos. Se o jornal defende a construção de espigões no Morro do Careca, precisa ouvir também o lado dos ambientalistas, ativistas, prefeitura, etc, de forma igualitária. Se o jornal quer dar o contraponto para fazer valer sua opinião, o faça em editoriais ou colunas. Nunca nas matérias.
Aliás, os editoriais podem e devem valer não só para expressar o posicionamento ideológico-partidário ou servi para esclarecimentos do jornal. Eles são um meio eficaz de exercício da responsabilidade social e de cidadania. Não é de hoje o Diário de Natal tem vestido a camisa do interesse público para defender causas sociais e econômicas em benefício do Rio Grande do Norte. Foi assim com a cobrança e a conseqüente promoção de um fórum para discutir as obras do aeroporto de São Gonçalo do Amarante; foi assim a respeito da Operação Impacto; e até de pedido de paz entre as torcidas organizadas de futebol. Não bastasse, o jornal é o único a publicar editoriais diários, os quais imprime sua impressão acerca de algum acontecimento da cidade, geralmente cobrando melhorias – exercícios claros de cidadania e compromisso com o social.
Infelizmente o que se vê na imprensa potiguar é o cinismo subterrâneo, tentacular. Ao passo em que esbravejam por uma imprensa livre, os barões da imprensa cuidadosamente escanteiam fontes indesejadas de informação. A informação passa a ter dono. Jornalismo verdadeiramente ético encarna como real e permanente preocupação a satisfação do interesse público. Mas não esqueçamos o que disse anteriormente: o capitalismo rege as leis de mercado e não há como fugir do interesse comercial, mesmo quando há a responsabilidade social. Segundo estudiosos, o a imprensa tem tomado o rumo do chamado “jornalismo de mercado”. Eu prefiro denominar jornalismo do “vazio ético”. Mas tudo tem limite.
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