Juro que até tento seguir alguns “mandamentos” de Schopenhauer e tento eximir-me de vontades em prol de uma vida menos estressante e triste. Há muito excluí a programação televisiva. Ligo pouquíssimo minha TV. Concentro-me mais na internet, em pesquisas, leituras e escritos. Mas quando ligo é de praxe escutar a chamada do programa BBB. Em qualquer hora do dia são exibidos flashes ao vivo. Um completo cabeça oca entrevista pessoas idem na rua para perguntar baboseiras e escutar outras piores.
Mudo o canal. Se for à tarde, as opções são exíguas. Em um programa de fofocas, uma cena de flagrante ao vivo de um rapaz embriagado me chama a atenção. E adivinhe: é um ex-BBB preso por embriagues. Um tal de Fernando causou acidente no trânsito. O cara xingou discriminadamente o guarda negro e a mãe de um monte de autoridade policial. Se auto-intitulou o bonitão do BBB e zombou da prisão. Foi solto pouco depois. Imagino que ele tenha sido um dos “ídolos” endeusados do programa em edições anteriores.
Vivemos em um mundo de carências de ídolos. E não é de hoje. Estamos no topo do conflito. Em um período de transição, como ocorreu na época pré-renascentista. Por isso minha aversão aos conceitos pessimistas para a época, embora não me alimente de esperança. Já não nutro esse sentimento há muito. A esperança é difundida por um cristianismo oco, de promessas futuras de um paraíso futuro. E quem espera pode até alcançar (quem sabe?), mas quem esquece de esperar também vai chegar lá, sem pressa e com uma possibilidade bem menor de frustração.
Esse culto aos falsos ídolos ou à imbecilidade está presente desde o Velho Testamento. Na época do bom Moisés, os judeus cultuaram um bezerro de ouro como nova entidade suprema e sofreram os castigos de Deus. Na época, a interferência do Divino era mais direta. Imagino hoje como Deus deve assistir à programação da Globo ou o comportamento humano. Deve estar preocupado se um casal confinado na casa mais assistida do país acabou o namoro ou o que conversaram na madrugada de ontem.
No século 19, o personagem Zaratustra, do filósofo niilista Nietzsche quis libertar os humanos, demasiado humanos das ilusões massificadas do mundo. Quis mostrar a intelectualidade como instrumento de libertação. E o profeta foi considerado excêntrico. Se a ilusão e o senso comum existiram desde o período pré-cristão, há sempre um estopim para mudança de consciência. A crise ambiental e a desigualdade social exigem mudanças urgentes. E em se falando de história, a urgência demora mais de 50 anos. E passou da hora de começar. Meu neto ainda há de ser mais feliz.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Política e Religião na Velha Redinha
Tudo bem que a Redinha Velha, embora cheia de solidão, é sempre convidativa e ninguém precisa pedir licença. Mas é preciso respeito com sua história e seu povo. O que se viu domingo foram futricas políticas se misturarem a uma das mais antigas tradições da praia: a procissão da padroeira da Redinha, festa religiosa em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes.
Os nativos da Redinha Velha são um povo sofrido e fervoroso. Se a “praia bonita” – como chamou Cascudo – preserva uma herança é a da boemia, da pesca ainda artesanal e do esquecimento. Desde sempre a Redinha amarga a falta de atenção de autoridades. É injusto na festa religiosa mais prestigiada e tradicional da praia, político querer aparecer.
Tudo começou mesmo antes da procissão, quando blogs especularam um verdadeiro palanque político durante a celebração, com encontro de senadores, governadora, prefeito, deputados e outros “fiéis” à santa. Misturar no mesmo bojo política e religião provoca efeitos colaterais seríssimos.
Durante a missa, o padre João Maria aproveitou o momento para pôr fogo na fogueira. Depois de agradecer a presença de cada um dos edis, indagou o prefeito da exclusão da Redinha do calendário de eventos da prefeitura. Por fim, comentou de uma homenagem a ser feita. Após segundos de espera e ânsia de cada autoridade, o padre fez o que há muito deveria ser feito na prática pelos gestores: homenageou o povo da Redinha.
Imagino a cara de felicidade de dona Francisca Florêncio. Aos 69 anos, ela acumula mais um ano de abandono no Mercado Público. Está ali há quase 60 anos. Se algum engravatado foi lá, viu uma fossa estourada na saída do Mercado. O quilo do peixe também aumentou. É outra reclamação daqueles comerciantes. O preço da ginga passou, após anos congelado, de R$ 2,50 para R$ 3 - um agravo a iguaria mais representativa do lugar. Apesar da ponte, o movimento manso do Mercado permaneceu. Parece sina daquele povo esperar sempre a melhor sorte.
Também deve ter esboçado largo sorriso o pescador Santino. Quando o conheci há 3 anos, contava 65 anos e sofria de saúde. Com a perna debilitada, era escanteado pelos pescadores mais novos. Robusto, me lembrou o personagem de Hemingway, de nome parecido: Santiago.
Santino é uma caricatura dos nativos da Redinha. Aparenta mais idade, como outros pescadores. Mora em casa simples. Sofre com a labuta diária. Mesmo sem condições do alto-mar, joga suas tainheiras nas beiradas para o sustento do dia. Sem maiores auxílios, arrasta o tempo com a força da sobrevivência.
É que a Redinha ainda é morada gostosa aos de vida simples, mesmo àqueles de melhor sorte, com casas de alpendres largos. Ali não cabe politicagem. São aos humildes de sina ou de escolha que a Redinha descortina seus segredos e oferece, talvez por impulso incontrolável, um sentido para a vida.
Os nativos da Redinha Velha são um povo sofrido e fervoroso. Se a “praia bonita” – como chamou Cascudo – preserva uma herança é a da boemia, da pesca ainda artesanal e do esquecimento. Desde sempre a Redinha amarga a falta de atenção de autoridades. É injusto na festa religiosa mais prestigiada e tradicional da praia, político querer aparecer.
Tudo começou mesmo antes da procissão, quando blogs especularam um verdadeiro palanque político durante a celebração, com encontro de senadores, governadora, prefeito, deputados e outros “fiéis” à santa. Misturar no mesmo bojo política e religião provoca efeitos colaterais seríssimos.
Durante a missa, o padre João Maria aproveitou o momento para pôr fogo na fogueira. Depois de agradecer a presença de cada um dos edis, indagou o prefeito da exclusão da Redinha do calendário de eventos da prefeitura. Por fim, comentou de uma homenagem a ser feita. Após segundos de espera e ânsia de cada autoridade, o padre fez o que há muito deveria ser feito na prática pelos gestores: homenageou o povo da Redinha.
Imagino a cara de felicidade de dona Francisca Florêncio. Aos 69 anos, ela acumula mais um ano de abandono no Mercado Público. Está ali há quase 60 anos. Se algum engravatado foi lá, viu uma fossa estourada na saída do Mercado. O quilo do peixe também aumentou. É outra reclamação daqueles comerciantes. O preço da ginga passou, após anos congelado, de R$ 2,50 para R$ 3 - um agravo a iguaria mais representativa do lugar. Apesar da ponte, o movimento manso do Mercado permaneceu. Parece sina daquele povo esperar sempre a melhor sorte.
Também deve ter esboçado largo sorriso o pescador Santino. Quando o conheci há 3 anos, contava 65 anos e sofria de saúde. Com a perna debilitada, era escanteado pelos pescadores mais novos. Robusto, me lembrou o personagem de Hemingway, de nome parecido: Santiago.
Santino é uma caricatura dos nativos da Redinha. Aparenta mais idade, como outros pescadores. Mora em casa simples. Sofre com a labuta diária. Mesmo sem condições do alto-mar, joga suas tainheiras nas beiradas para o sustento do dia. Sem maiores auxílios, arrasta o tempo com a força da sobrevivência.
É que a Redinha ainda é morada gostosa aos de vida simples, mesmo àqueles de melhor sorte, com casas de alpendres largos. Ali não cabe politicagem. São aos humildes de sina ou de escolha que a Redinha descortina seus segredos e oferece, talvez por impulso incontrolável, um sentido para a vida.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Do comentário
Caro Mário, minha resposta pode ensejar um assunto mais complexo do que a mera resposta de minha preferência pelos 80 anos residindo na capital ou os 90 no interior, acerca do post anterior do qual você comentou (no blog do DNOnline). Há os que defendem e vibram com os avanços tecnológicos e a comodidade – inegável – advinda deles. Há ainda aqueles completamente contaminados pela atmosfera urbana e que sequer consegue respirar o ar manso e o cotidiano lento do interior.
Nem sei em qual situação me enquadraria. Talvez até nos dois, a depender do tempo em que ficaria numa cidadezinha do interior. Mas o gostaria de discutir é algo mais relacionado à metafísica das coisas. E isso passa, inclusive, pela minha teoria a favor do socialismo real. Tudo parte do seguinte pressuposto: nós gostamos da tecnologia porque conhecemos, vemos e usamos. E se nada nos fosse apresentado? Lembro que adorava assistir televisão mesmo sem controle remoto.
Claro que é difícil expulsar todas as vontades e desejos impregnados em nossa mente. É dificílimo imaginar uma vida sem controle remoto ou outra parafernalha eletrônica. Sem celular ou internet seria impossível, estimo. Embora sejam acessórios já presentes no dito interior.
Em suma, o que quero dizer, Mário, é que nada disso nos seria sedutor se não soubéssemos deles. É mais ou menos o que Platão quer explicar com o mito da caverna. O que vejo muito são falsos esquerdistas pregando o socialismo sem conseguir desprender-se do excedente. Então, a vida no interior, sem trânsito, estresse, menos saudável, sem pressa, seria um algo mais se não fôssemos tragados por essas ofertas capitais.
Nem sei em qual situação me enquadraria. Talvez até nos dois, a depender do tempo em que ficaria numa cidadezinha do interior. Mas o gostaria de discutir é algo mais relacionado à metafísica das coisas. E isso passa, inclusive, pela minha teoria a favor do socialismo real. Tudo parte do seguinte pressuposto: nós gostamos da tecnologia porque conhecemos, vemos e usamos. E se nada nos fosse apresentado? Lembro que adorava assistir televisão mesmo sem controle remoto.
Claro que é difícil expulsar todas as vontades e desejos impregnados em nossa mente. É dificílimo imaginar uma vida sem controle remoto ou outra parafernalha eletrônica. Sem celular ou internet seria impossível, estimo. Embora sejam acessórios já presentes no dito interior.
Em suma, o que quero dizer, Mário, é que nada disso nos seria sedutor se não soubéssemos deles. É mais ou menos o que Platão quer explicar com o mito da caverna. O que vejo muito são falsos esquerdistas pregando o socialismo sem conseguir desprender-se do excedente. Então, a vida no interior, sem trânsito, estresse, menos saudável, sem pressa, seria um algo mais se não fôssemos tragados por essas ofertas capitais.
Da ânsia de viver
Li hoje que a ansiedade acelera em 43% as chances de um ataque cardíaco. Relacionei de imediato o índice com as dezenas de anciãos com mais de 90 anos que encontrei pelo interior do estado quando de um trabalho de mapeamento cultural. A urbe mata, envelhece e incrimina. Sinto isso a cada minuto.
Quando durmo penso nos problemas do dia seguinte ou no que me afligiu hoje. Se algo foi bom, já se imagina a perspectiva da piora ou o despertar da ânsia em melhorar. Quando acordo, a pressa, o trânsito, as contas para pagar. Almoço em “self service” pela praticidade de tempo. Nada de saborear a comida ou uma ceia em família. À noite o cansaço e o desejo de um fim de semana mais tranqüilo em que se possa ler e assistir um filme.
E chega o fim de semana. Vem a vontade de aproveitar tudo em uma noite de sexta. O exagero até a madrugada já toma um pedaço do sábado. E novamente a ânsia de viver. E, sem perceber, o banho de mar é apressado, a leitura é desconcentrada e os carinhos são menos intensos. O domingo é o dia do descanso. Um descanso sem contemplação, mas imaginativo e atormentado, de prevenção aos castigos da semana.
No fim do mês, além das contas, as filas nos bancos, supermercados ou um possível início de bola de neve financeiro. E se for acompanhar o movimento da bolsa de valores (uma cartada para melhorar os rendimentos), entra-se em colapso.
Enquanto a vida corre na urbe, no interior a vida caminha na velocidade das bicicletas sobre o paralelepípedo. A variação ocorre em uma ou outra safra perdida. Geralmente a renda é a mesma todo mês. Se é pouca, é o suficiente para comer, educar e viver. Sem a ânsia. Sem o trânsito. Sem a pressa. O tempo é o senhor de tudo. E no interior, ele é descansado. Responde apenas aos chamados da natureza.
No interior há mais tempo para ler. Geralmente em rede na varanda. Se a labuta na lavoura é árdua, enrijece os músculos, queimam a gordura da carne vermelha e prolongam a vida sã por mais de uma década.
As notícias chegam como eu as tinha há 20 anos atrás: por jornais impressos ou noticiários televisivos. Nada de internet e da possibilidade de acompanhar a cada 15 minutos as novidades do dia; dos pregões ou do que ocorre no BBB.
No interior, amigo leitor, há mais oratórios; o povo é mais religioso. No interior se come melhor. Lá se valorizam mais as sombras das árvores, as pipas, a conversa em banco de praça. No interior de vida besta, a tecnologia de ponta inexiste. Tudo é mais simples. E daqui, no coração da capital, eu me pergunto quando aprendi a me contaminar e a contagiar tanta gente com meu olhar de frustração. Quando?
Quando durmo penso nos problemas do dia seguinte ou no que me afligiu hoje. Se algo foi bom, já se imagina a perspectiva da piora ou o despertar da ânsia em melhorar. Quando acordo, a pressa, o trânsito, as contas para pagar. Almoço em “self service” pela praticidade de tempo. Nada de saborear a comida ou uma ceia em família. À noite o cansaço e o desejo de um fim de semana mais tranqüilo em que se possa ler e assistir um filme.
E chega o fim de semana. Vem a vontade de aproveitar tudo em uma noite de sexta. O exagero até a madrugada já toma um pedaço do sábado. E novamente a ânsia de viver. E, sem perceber, o banho de mar é apressado, a leitura é desconcentrada e os carinhos são menos intensos. O domingo é o dia do descanso. Um descanso sem contemplação, mas imaginativo e atormentado, de prevenção aos castigos da semana.
No fim do mês, além das contas, as filas nos bancos, supermercados ou um possível início de bola de neve financeiro. E se for acompanhar o movimento da bolsa de valores (uma cartada para melhorar os rendimentos), entra-se em colapso.
Enquanto a vida corre na urbe, no interior a vida caminha na velocidade das bicicletas sobre o paralelepípedo. A variação ocorre em uma ou outra safra perdida. Geralmente a renda é a mesma todo mês. Se é pouca, é o suficiente para comer, educar e viver. Sem a ânsia. Sem o trânsito. Sem a pressa. O tempo é o senhor de tudo. E no interior, ele é descansado. Responde apenas aos chamados da natureza.
No interior há mais tempo para ler. Geralmente em rede na varanda. Se a labuta na lavoura é árdua, enrijece os músculos, queimam a gordura da carne vermelha e prolongam a vida sã por mais de uma década.
As notícias chegam como eu as tinha há 20 anos atrás: por jornais impressos ou noticiários televisivos. Nada de internet e da possibilidade de acompanhar a cada 15 minutos as novidades do dia; dos pregões ou do que ocorre no BBB.
No interior, amigo leitor, há mais oratórios; o povo é mais religioso. No interior se come melhor. Lá se valorizam mais as sombras das árvores, as pipas, a conversa em banco de praça. No interior de vida besta, a tecnologia de ponta inexiste. Tudo é mais simples. E daqui, no coração da capital, eu me pergunto quando aprendi a me contaminar e a contagiar tanta gente com meu olhar de frustração. Quando?
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Do artesanato potiguar
A Feira Internacional de Artesanato será aberta hoje, às 18h, no Centro de Convenções. A estimativa é de que reúna 70 mil visitantes. São 350 estandes, festival de danças folclóricas, show com artistas potiguares, desfile de moda artesanal, apresentação da Mostra Nacional de Mamulengos Chico Daniel e por aí vai. É um evento organizado, em franca evolução e proporciona visibilidade a uma categoria profissional desprestigiada pelo público aqui no Rio Grande do Norte. A Fiart 2008 vai receber 120 cooperativas e associações responsáveis por 10 mil artesãos.
A Fiart é dos poucos locais de concentração do artesanato potiguar com presença de potiguares. Quem visitar outros centros como o Shopping do Artesanato, ao lado do Praia Shopping, verá mais de 100 lojas, uma estrutura fenomenal e a presença de alguns poucos turistas. No Vilarte ou outro qualquer ocorre o mesmo. Falta mesmo o prestígio à prata da casa. Mais das vezes são artigos e peças de muito bom gosto e beleza, fruto de um trabalho árduo e que poderia ser de tão valia estética quanto um outro objeto comprado em shopping e de valor mais caro.
Claro, há artesanato e artesanato. O Rio Grande do Norte tem tradição em produtos de renda de bilros, do côco ou a partir das areias coloridas. Também são muitas as peças, sobretudo produzidas no interior do estado, a partir da carnaúba, sisal e pedra de sabão. Infelizmente, o que se vê nos centros de artesanato são roupas com estampas de Natal, Pipa ou outra praia. Coisa destinada mesmo ao turista; a quem comparece ao local. E antes fossem bordados em macramé, fuxico ou crochê. Não. São aquelas camisas vagabundas mesmo.
O artesão até tem sido lembrado pelo Governo do Estado. Os programas e incentivos são muitos. Como deveria. O artesanato é importante vetor da economia local. É a fonte de renda de uma expressiva parcela da população. Creio que a falta de incentivo parte mesmo do desprestígio do potiguar com sua arte mais genuína e responsável por muito da identidade cultura local. Vale uma olhadela na Fiart, que permanece no Centro de Convenções até 27 deste mês, e mais ainda, umas visitas aos bons centros de artesanato da cidade.
A Fiart é dos poucos locais de concentração do artesanato potiguar com presença de potiguares. Quem visitar outros centros como o Shopping do Artesanato, ao lado do Praia Shopping, verá mais de 100 lojas, uma estrutura fenomenal e a presença de alguns poucos turistas. No Vilarte ou outro qualquer ocorre o mesmo. Falta mesmo o prestígio à prata da casa. Mais das vezes são artigos e peças de muito bom gosto e beleza, fruto de um trabalho árduo e que poderia ser de tão valia estética quanto um outro objeto comprado em shopping e de valor mais caro.
Claro, há artesanato e artesanato. O Rio Grande do Norte tem tradição em produtos de renda de bilros, do côco ou a partir das areias coloridas. Também são muitas as peças, sobretudo produzidas no interior do estado, a partir da carnaúba, sisal e pedra de sabão. Infelizmente, o que se vê nos centros de artesanato são roupas com estampas de Natal, Pipa ou outra praia. Coisa destinada mesmo ao turista; a quem comparece ao local. E antes fossem bordados em macramé, fuxico ou crochê. Não. São aquelas camisas vagabundas mesmo.
O artesão até tem sido lembrado pelo Governo do Estado. Os programas e incentivos são muitos. Como deveria. O artesanato é importante vetor da economia local. É a fonte de renda de uma expressiva parcela da população. Creio que a falta de incentivo parte mesmo do desprestígio do potiguar com sua arte mais genuína e responsável por muito da identidade cultura local. Vale uma olhadela na Fiart, que permanece no Centro de Convenções até 27 deste mês, e mais ainda, umas visitas aos bons centros de artesanato da cidade.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Da alma do Centro
Sempre achei o Centro da Cidade de uma alma riquíssima. Se não tem a pujança cultural do bairro das Rocas, o charme da Ribeira ou o a simplicidade das redes artesanais e grupos folclóricos da Vila de Ponta Negra, o Centro é um pólo irradiador da riqueza rústica das ruas. E as ruas, amigo leitor, são as palmas dos saltimbancos; o abrigo dos desgraçados, boêmios e artistas de toda sorte.
A rua é generosa, como bem frisou um dia o catedrático das cenas cotidianas, João do Rio. É de um sentimento imperturbável, mesmo às nuances das épocas ou da própria vida. Se os séculos deslizam sob alicerces incertos; se hoje o riso é mais solto e amanhã as dores são mais amargas, as ruas permanecem receptivas a toda sorte de sentimentos; coisas fúteis ou acontecimentos notáveis.
Coisa assim sinto apenas nas ruas do Centro. Camelôs, ambulantes, pedintes passeiam nas mesmas calçadas que empresários e homens de negócios. Bancos, centros comerciais, redes de lojas dividem ruas com pequenas lanchonetes, funcionários oferecendo empréstimos, panfletos e sanfoneiros propagandistas. O Centro é uma miscelânea de rostos, histórias, mazelas e cultura.
Hoje mesmo conversei com o jornalista José Airton de Lima, o popular Risadinha e autor do livro Lembranças de Outono. Ele disse que está diariamente na Rua João Pessoa –coração da cidade – em frente ao Unibanco, com uma sacola cheia de livros seus para vender. Da tiragem de 500 cópias (produção independente), Risadinha vendeu 200. Quase todas no período de dezembro.
O trabalho de Airton foi pesado. Digo porque acompanhei, mesmo que de longe, suas pesquisas no Instituto Histórico que resultaram em um livro de personagens fictícios intercalados na história viva de Natal, desde 1932 até os dias confusos de hoje. Na oportunidade, eu coletava informações para meu livro-reportagem sobre a Redinha Velha. Conversávamos muito sobre um dos maiores e mais obscuros crimes da história de Natal, ocorrido em 1952 – tema de matéria que fiz.
Dei uma folheada em Lembranças de Outono. Achei um trabalho bem feito. Relutei em dar os R$ 25 cobrados. Os tempos são difíceis e estou com uma pilha de livros em casa para ler. Prometi a propaganda merecida ao livro neste espaço esquecido e me despedi de mais um personagem do Centro. À noite, quero ir ao Bardalos e provar do cheio do Beco da Lama; embriagar-me da marginalidade sugada das ruas e beber um pouco da solidão de cada rosto.
A rua é generosa, como bem frisou um dia o catedrático das cenas cotidianas, João do Rio. É de um sentimento imperturbável, mesmo às nuances das épocas ou da própria vida. Se os séculos deslizam sob alicerces incertos; se hoje o riso é mais solto e amanhã as dores são mais amargas, as ruas permanecem receptivas a toda sorte de sentimentos; coisas fúteis ou acontecimentos notáveis.
Coisa assim sinto apenas nas ruas do Centro. Camelôs, ambulantes, pedintes passeiam nas mesmas calçadas que empresários e homens de negócios. Bancos, centros comerciais, redes de lojas dividem ruas com pequenas lanchonetes, funcionários oferecendo empréstimos, panfletos e sanfoneiros propagandistas. O Centro é uma miscelânea de rostos, histórias, mazelas e cultura.
Hoje mesmo conversei com o jornalista José Airton de Lima, o popular Risadinha e autor do livro Lembranças de Outono. Ele disse que está diariamente na Rua João Pessoa –coração da cidade – em frente ao Unibanco, com uma sacola cheia de livros seus para vender. Da tiragem de 500 cópias (produção independente), Risadinha vendeu 200. Quase todas no período de dezembro.
O trabalho de Airton foi pesado. Digo porque acompanhei, mesmo que de longe, suas pesquisas no Instituto Histórico que resultaram em um livro de personagens fictícios intercalados na história viva de Natal, desde 1932 até os dias confusos de hoje. Na oportunidade, eu coletava informações para meu livro-reportagem sobre a Redinha Velha. Conversávamos muito sobre um dos maiores e mais obscuros crimes da história de Natal, ocorrido em 1952 – tema de matéria que fiz.
Dei uma folheada em Lembranças de Outono. Achei um trabalho bem feito. Relutei em dar os R$ 25 cobrados. Os tempos são difíceis e estou com uma pilha de livros em casa para ler. Prometi a propaganda merecida ao livro neste espaço esquecido e me despedi de mais um personagem do Centro. À noite, quero ir ao Bardalos e provar do cheio do Beco da Lama; embriagar-me da marginalidade sugada das ruas e beber um pouco da solidão de cada rosto.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Das agruras cotidianas
Recebi um verdadeiro presente cultural hoje via imeio. Um amigo mandou-me uma lista de 210 livros e poemas para baixar no computador. Interessei-me de imediato pelo A Metamorfose, do escritor Franz Kafka. Sempre o achei uma figura perturbada em seus sentimentos e seqüelas existenciais. Se não teve uma seqüência de tragédias e enfermidades de outros gênios da literatura como Dostoievski e Nietzsche, Kafka foi um atormentado por problemas menores, cotidianos. Daí o meu interesse.
Se não li nenhum livrinho sequer dele, já fui atrás de algo sobre sua biografia. Adoro biografias. Mais das vezes aprecio mais a vida dos autores do que suas próprias obras. São verdadeiros romances trágicos e de finais infelizes. É como prefiro. Não é à toa meu interesse pelo realismo russo. Os desfechos infelizes são mais parecidos com as cenas que vejo diariamente. E não precisa muita psicologia nem das respostas de Freud para deduzir que somos simpáticos às coisas mais próximas dos nossos quadrantes.
Dia desses o jornalista – uma vez meu orientador na conclusão de curso – Laurence Bittencourt escreveu um artigo excelente sobre Kafka em um jornal local. Ele, mestre em literatura comparada, traçou um paralelo entre as biografias publicadas sobre o autor e falou um pouco da pessoa de Kafka. Laurence defende a biografia escrita por Ernest Pawel, intitulada O Pesadelo da Razão, como a melhor, embora discorde do título.
Pelo relato do que li e acrescentada as observações de Laurence, Kafka foi desses homens pacatos, tímidos e com uma vida extremamente difícil com o pai. Essa relação parece ter sido o motor da vida do escritor. Pawel opina que o ódio ao pai, na verdade, é uma espécie de complexo de Édipo e configura uma transferência de maus sentimentos nutridos pela mãe, que o deixou uma sensação de desamparo e depressão. No final, o biógrafo passa a impressão de que Kafka alimentou, na verdade, um sentimento de desprezo por si mesmo durante sua curta vida.
Kafka encontrou na literatura uma forma de escoar seu sofrimento. Há autores que parecem já nascerem póstumos. Para nossa sorte. O início do livro A Metamorfose é uma maravilha. Antes o salário de jornalista fosse melhor e eu procuraria o livro em fez da leitura numa tela de computador. Mas estas são apenas algumas agruras do cotidiano. Nada que não ajude a engordar um pouco o espaço deste blog.
Se não li nenhum livrinho sequer dele, já fui atrás de algo sobre sua biografia. Adoro biografias. Mais das vezes aprecio mais a vida dos autores do que suas próprias obras. São verdadeiros romances trágicos e de finais infelizes. É como prefiro. Não é à toa meu interesse pelo realismo russo. Os desfechos infelizes são mais parecidos com as cenas que vejo diariamente. E não precisa muita psicologia nem das respostas de Freud para deduzir que somos simpáticos às coisas mais próximas dos nossos quadrantes.
Dia desses o jornalista – uma vez meu orientador na conclusão de curso – Laurence Bittencourt escreveu um artigo excelente sobre Kafka em um jornal local. Ele, mestre em literatura comparada, traçou um paralelo entre as biografias publicadas sobre o autor e falou um pouco da pessoa de Kafka. Laurence defende a biografia escrita por Ernest Pawel, intitulada O Pesadelo da Razão, como a melhor, embora discorde do título.
Pelo relato do que li e acrescentada as observações de Laurence, Kafka foi desses homens pacatos, tímidos e com uma vida extremamente difícil com o pai. Essa relação parece ter sido o motor da vida do escritor. Pawel opina que o ódio ao pai, na verdade, é uma espécie de complexo de Édipo e configura uma transferência de maus sentimentos nutridos pela mãe, que o deixou uma sensação de desamparo e depressão. No final, o biógrafo passa a impressão de que Kafka alimentou, na verdade, um sentimento de desprezo por si mesmo durante sua curta vida.
Kafka encontrou na literatura uma forma de escoar seu sofrimento. Há autores que parecem já nascerem póstumos. Para nossa sorte. O início do livro A Metamorfose é uma maravilha. Antes o salário de jornalista fosse melhor e eu procuraria o livro em fez da leitura numa tela de computador. Mas estas são apenas algumas agruras do cotidiano. Nada que não ajude a engordar um pouco o espaço deste blog.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Crispiniano e a Preá
Faz alguns dias troquei rápidas palavras com o diretor-geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto. A ocasião não podia ser melhor: após umas cervejas geladas lá no Bardalos – o bar do produtor Lula Belmont, lá no Centro. Minha primeira e, na verdade, única pergunta, foi sobre a continuidade da revista Preá. Emborquei algumas cervejas a mais para digerir a resposta...
Crispiniano relutou em definir data para o lançamento da edição n° 19 da revista. No final, e com alguma insistência dos jornalistas boêmios (eu e Rafael Duarte), ele deixou escapar que antes de abril a revista sai. E também ficou claro que a equipe – que inclusive deixou pronta esta próxima edição – será modificada. Adiantou ainda que deseja a Preá com edições mensais em vez de bimestrais.
Opino sobre as três novidades como alguém que foi estagiário, repórter e editor assistente da revista. Edições mensais é inviável para manter a qualidade da Preá. Um dos diferenciais da revista – um balanço cultural de dois municípios do Estado – publicados a cada edição precisa de tempo e cuidado para ser escrito. A edição, outras reportagens e escolha de textos também é coisa complicada para curto espaço de tempo.
A mudança da linha editorial da revista também é uma furada. Ninguém substituirá a bagagem e a dedicação do jornalista Tácito Costa à frente da equipe. Tácito foi exonerado do cargo de assessor da Fundação e quebrou-se também o vínculo com a revista. Se Crispiniano quer enxugar custos, que adote o critério de pagar repórteres por página, como faz a editoria da Brouhaha, mas mantenha pelo menos o editor da revista.
Uma revista como a Preá – unanimidade no meio cultural e um projeto de sucesso com projeção fora do estado – não pode esperar mais de um ano para uma próxima edição. Uma prova do prestígio conseguido pela revista foram as exibições de suas capas nas propagandas eleitorais da governadora Wilma de Faria. Mas, infelizmente, desde o fim da gestão de François Silvestre – idealizador da revista – a Preá tem sido cada vez mais renegada.
Enquanto François criou e manteve a regularidade da revista por quase três anos, com 16 edições, sua substituta, a professora Isaura Rosado, conseguiu a proeza de publicar duas revistas em um período de um ano e meio à frente da FJA. E com a mudança de gráfica – idéia dela – a qualidade caiu vertiginosamente. Mais de um ano de gestão e Crispiniano – que já foi personagem de longa entrevista da Preá – sequer publicou a edição que já está pronta. Se o galo já não canta, vamos esperar a Preá sair do cativeiro.
Crispiniano relutou em definir data para o lançamento da edição n° 19 da revista. No final, e com alguma insistência dos jornalistas boêmios (eu e Rafael Duarte), ele deixou escapar que antes de abril a revista sai. E também ficou claro que a equipe – que inclusive deixou pronta esta próxima edição – será modificada. Adiantou ainda que deseja a Preá com edições mensais em vez de bimestrais.
Opino sobre as três novidades como alguém que foi estagiário, repórter e editor assistente da revista. Edições mensais é inviável para manter a qualidade da Preá. Um dos diferenciais da revista – um balanço cultural de dois municípios do Estado – publicados a cada edição precisa de tempo e cuidado para ser escrito. A edição, outras reportagens e escolha de textos também é coisa complicada para curto espaço de tempo.
A mudança da linha editorial da revista também é uma furada. Ninguém substituirá a bagagem e a dedicação do jornalista Tácito Costa à frente da equipe. Tácito foi exonerado do cargo de assessor da Fundação e quebrou-se também o vínculo com a revista. Se Crispiniano quer enxugar custos, que adote o critério de pagar repórteres por página, como faz a editoria da Brouhaha, mas mantenha pelo menos o editor da revista.
Uma revista como a Preá – unanimidade no meio cultural e um projeto de sucesso com projeção fora do estado – não pode esperar mais de um ano para uma próxima edição. Uma prova do prestígio conseguido pela revista foram as exibições de suas capas nas propagandas eleitorais da governadora Wilma de Faria. Mas, infelizmente, desde o fim da gestão de François Silvestre – idealizador da revista – a Preá tem sido cada vez mais renegada.
Enquanto François criou e manteve a regularidade da revista por quase três anos, com 16 edições, sua substituta, a professora Isaura Rosado, conseguiu a proeza de publicar duas revistas em um período de um ano e meio à frente da FJA. E com a mudança de gráfica – idéia dela – a qualidade caiu vertiginosamente. Mais de um ano de gestão e Crispiniano – que já foi personagem de longa entrevista da Preá – sequer publicou a edição que já está pronta. Se o galo já não canta, vamos esperar a Preá sair do cativeiro.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
De Santa Rita
Tenho estado longe deste espaço e do mundo de minhas esquinas cotidianas. Aproveito as horas do desemprego para dedicar-me aos livros e à natureza. Em Santa Rita vive-se a verdadeira vida, amigo leitor. E não sustento minhas impressões a partir da ilusão da estação veraneio. É que sei admirar o mar com o respeito merecido e daquelas dunas e alvas areias já me sinto amigo, em qualquer espaço de tempo.
Das manhãs, a caminhada até a ponta da praia. E já não é mais a mesma. As ruínas do Pontal de Jenipabu denunciam tempos áureos de outrora. Mesmo a visão mais à frente é de um desgosto indelével. Daquela quebrada de mar vejo o que sobrou das dunas de Jenipabu. Não há mais nativos e veranistas descendo a duna em tábuas de morro. Apenas bugres, camelos e turistas.
Quando da maré seca, assisto a invasão urbana em cada palmo de praia. Plásticos de todo tipo espalhados entre sargaços; música descartável e bugres a carregar turistas pela orla, ferindo a lei de proibição de tráfego de veículos particulares pela praia. No encher da maré, a vingança do mar eterno e bravio, machucando os muros e encostas das casas. É a natureza dando sua resposta.
Em um dia ou outro vou à Redinha Velha; ao Mercado Público, comer a ginga com tapioca de Dona Francisca, sempre revestida de uma simplicidade encantadora. E se digo que não há novidades por aquela praia-refúgio, amigo leitor, imagine aquela Redinha sufocada de rotina. Nem mesmo as reclamações das quiosqueiras do Mercado cessaram. A da vez é o preço do quilo do peixe.
Se o verão faz lembrar as redes de tresmalhos recheadas de peixes, lá no Mercado falta a tainha, mesmo sendo peixe propício da estação. São sinais dos tempos. Além do quê, uma fossa estava estourada na entrada do Mercado. É mesmo sina daquele povo tão simples e trabalhador viver a espera da melhor sorte.
Quando cai a tarde, um bom livro como sobremesa ao almoço leve. A rede é mais amiga, e o barulho do mar, mais audível. Um cochilo até o vento esfriar, quando é hora de um banho de mar e assistir o sol cair por trás da duna. É hora do trabalho. Do que sobrou da dignidade. E acredite, amigo leitor, largar o paraíso é o pior dos castigos. Mas há a noite e o descanso junto ao mar ainda é bom.
A lua gorda anda tímida. As jangadas solitárias, ancoradas em um banco de areia qualquer da praia, largaram-se ao mar. Também estão escondidos os velhos barquinhos de madeira das crianças. Por hora, a única novidade é mesmo a alma das crianças e bebês que rodeiam a vizinhança. E já é muito, acredite. Minha sobrinha é de uma alegria de criança. É coisa nova que rejuvenesce.
Por hora é o que posso trazer daquelas bandas. E nenhuma aventura virá, acredite. É muito para uma alma e uma praia pacata, mesmo com a presença daqueles contagiados pela alegria onusta do verão. E se há uma ponte de união entre dois mundos, a distância parece cada vez maior. A viagem é horrível, mesmo que breve. Mas voltarei com qualquer novidade mínima, porque é desses prazeres a feitura daquela praia. E suspeito, também, que brotam desses pequenos detalhes, simples como o olhar de Dona Francisca, os segredos da boa vida.
Das manhãs, a caminhada até a ponta da praia. E já não é mais a mesma. As ruínas do Pontal de Jenipabu denunciam tempos áureos de outrora. Mesmo a visão mais à frente é de um desgosto indelével. Daquela quebrada de mar vejo o que sobrou das dunas de Jenipabu. Não há mais nativos e veranistas descendo a duna em tábuas de morro. Apenas bugres, camelos e turistas.
Quando da maré seca, assisto a invasão urbana em cada palmo de praia. Plásticos de todo tipo espalhados entre sargaços; música descartável e bugres a carregar turistas pela orla, ferindo a lei de proibição de tráfego de veículos particulares pela praia. No encher da maré, a vingança do mar eterno e bravio, machucando os muros e encostas das casas. É a natureza dando sua resposta.
Em um dia ou outro vou à Redinha Velha; ao Mercado Público, comer a ginga com tapioca de Dona Francisca, sempre revestida de uma simplicidade encantadora. E se digo que não há novidades por aquela praia-refúgio, amigo leitor, imagine aquela Redinha sufocada de rotina. Nem mesmo as reclamações das quiosqueiras do Mercado cessaram. A da vez é o preço do quilo do peixe.
Se o verão faz lembrar as redes de tresmalhos recheadas de peixes, lá no Mercado falta a tainha, mesmo sendo peixe propício da estação. São sinais dos tempos. Além do quê, uma fossa estava estourada na entrada do Mercado. É mesmo sina daquele povo tão simples e trabalhador viver a espera da melhor sorte.
Quando cai a tarde, um bom livro como sobremesa ao almoço leve. A rede é mais amiga, e o barulho do mar, mais audível. Um cochilo até o vento esfriar, quando é hora de um banho de mar e assistir o sol cair por trás da duna. É hora do trabalho. Do que sobrou da dignidade. E acredite, amigo leitor, largar o paraíso é o pior dos castigos. Mas há a noite e o descanso junto ao mar ainda é bom.
A lua gorda anda tímida. As jangadas solitárias, ancoradas em um banco de areia qualquer da praia, largaram-se ao mar. Também estão escondidos os velhos barquinhos de madeira das crianças. Por hora, a única novidade é mesmo a alma das crianças e bebês que rodeiam a vizinhança. E já é muito, acredite. Minha sobrinha é de uma alegria de criança. É coisa nova que rejuvenesce.
Por hora é o que posso trazer daquelas bandas. E nenhuma aventura virá, acredite. É muito para uma alma e uma praia pacata, mesmo com a presença daqueles contagiados pela alegria onusta do verão. E se há uma ponte de união entre dois mundos, a distância parece cada vez maior. A viagem é horrível, mesmo que breve. Mas voltarei com qualquer novidade mínima, porque é desses prazeres a feitura daquela praia. E suspeito, também, que brotam desses pequenos detalhes, simples como o olhar de Dona Francisca, os segredos da boa vida.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Ah, a boemia!
Nada mais apropriada para o momento do que a letra traduzida da clássica La Boheme, do francês Charles Aznavour. A canção fala de uma época outra, saudosista, de lilases, como se de cores românticas a vida fosse pincelada. Se por estas bandas estamos no período do veranico e a alegria está espalhada aqui e ali, nas cores dos cajus ou do cristalino do mar, a música, ao final, lembra: “Isso não quer dizer absolutamente nada”.
E sabedor das efemeridades e dos acasos – as linhas tortas de Deus – sigo a passos lentos e cadenciados. Agora mesmo vou apreciar uma bebida qualquer em minha varanda de praia. Vou mirar o mesmo mar dos meus tempos mais alegres. Vigia que sou daquele quadrante, posso vir com novidades amanhã, mínimas que sejam, para preencher este espaço. E não pense o amigo leitor da boa vida deste blogueiro. Acredite, a folga é forçada e o espairecer é preciso. Os tempos são outros. Confusos, como tem de ser...
La Boheme
Eu o falo de um tempo
Que os menos de vinte anos
Não possam saberMontmartre naquele tempo
Pendurava suas lilás
Até sob nossas janelas
E se o humilde mobiliado (quarto)
Que nos serviu de ninho
Não pagava uma mina
É lá que a gente se conheceu
Eu que chorava miséria
E você que posava nua
A boêmia, a boemia,
Isso queria dizer: a gente é feliz
A boêmia, a boemia,
Nós só comíamos um dia em dois
Nos cafés vizinhos
Nós éramos alguns
Que esperávamos a glória
E apesar da miséria
Com o estômago oco
Nós não deixamos de acreditar
E quando alguma taverna
Contra uma boa comida quente
Nos levava uma tela
Nós recitamos versos
Juntos ao redor do aquecedor
Esquecendo do inverno
A boemia, a boemia
Isso queria dizer: você é bonita
A boemia, a boemia
E nós tivemos tudo do gênio
Freqüentemente me acontecia
Diante do meu cavalete
Passar noites brancas
Retocando o desenho
Da linha de um peito
Da curva de um quadril
E isto só pela manhã
A gente se sentava finalmente
Antes de um café com creme
Esgotados mas deliciados
É preciso que a gente se ame
E que a gente ame a vida
A boemia, a boemia
Isso significava dizer que se tem vinte anos
A boemia, a boemia
E nós vivíamos do ar do tempo
Quando ao acaso de dias
Eu vou dar uma volta
Ao meu antigo endereço
Eu não reconheço mais
Nem paredes, nem ruas
Que viu minha mocidade
Do alto de um escadaria
Eu procuro o atelier
Do qual mais nada sobrevive
Da sua nova decoração
Montmartre sempre triste
E as lilás morreram
A boemia, a boemia
A gente era jovem, a gente era louco
A boemia, a boemia
Isso não quer dizer absolutamente nada
E sabedor das efemeridades e dos acasos – as linhas tortas de Deus – sigo a passos lentos e cadenciados. Agora mesmo vou apreciar uma bebida qualquer em minha varanda de praia. Vou mirar o mesmo mar dos meus tempos mais alegres. Vigia que sou daquele quadrante, posso vir com novidades amanhã, mínimas que sejam, para preencher este espaço. E não pense o amigo leitor da boa vida deste blogueiro. Acredite, a folga é forçada e o espairecer é preciso. Os tempos são outros. Confusos, como tem de ser...
La Boheme
Eu o falo de um tempo
Que os menos de vinte anos
Não possam saberMontmartre naquele tempo
Pendurava suas lilás
Até sob nossas janelas
E se o humilde mobiliado (quarto)
Que nos serviu de ninho
Não pagava uma mina
É lá que a gente se conheceu
Eu que chorava miséria
E você que posava nua
A boêmia, a boemia,
Isso queria dizer: a gente é feliz
A boêmia, a boemia,
Nós só comíamos um dia em dois
Nos cafés vizinhos
Nós éramos alguns
Que esperávamos a glória
E apesar da miséria
Com o estômago oco
Nós não deixamos de acreditar
E quando alguma taverna
Contra uma boa comida quente
Nos levava uma tela
Nós recitamos versos
Juntos ao redor do aquecedor
Esquecendo do inverno
A boemia, a boemia
Isso queria dizer: você é bonita
A boemia, a boemia
E nós tivemos tudo do gênio
Freqüentemente me acontecia
Diante do meu cavalete
Passar noites brancas
Retocando o desenho
Da linha de um peito
Da curva de um quadril
E isto só pela manhã
A gente se sentava finalmente
Antes de um café com creme
Esgotados mas deliciados
É preciso que a gente se ame
E que a gente ame a vida
A boemia, a boemia
Isso significava dizer que se tem vinte anos
A boemia, a boemia
E nós vivíamos do ar do tempo
Quando ao acaso de dias
Eu vou dar uma volta
Ao meu antigo endereço
Eu não reconheço mais
Nem paredes, nem ruas
Que viu minha mocidade
Do alto de um escadaria
Eu procuro o atelier
Do qual mais nada sobrevive
Da sua nova decoração
Montmartre sempre triste
E as lilás morreram
A boemia, a boemia
A gente era jovem, a gente era louco
A boemia, a boemia
Isso não quer dizer absolutamente nada
Ainda a cultura 2007 (comentários)
Exponho comentário da produtora cultural Cida Campello, sobre o fim do Domingo na Praça e esclareço, Cida: quando disse falta de organização pra o fim do projeto não foi da produção do evento. Realmente me expressei mal e a primeira impressão do leitor é essa. Mas, claro, como já escrevi a respeito, o Domingo na Praça, ao lado do Projeto Seis e Meia, são (ou era, no caso do primeiro) os dois projetos culturais de maior credibilidade e sustentabilidade dentro do cenário potiguar. Infelizmente, a dita Fundação José Augusto parece “ainda” estar arrumando a “casa” no tocante à redução e “organização” dos custos.
Aproveito para preencher mais algumas lacunas deixadas na minha humilde lista, lembradas a pouco: além do MADA, lembrado em comentário de Carlos Farias, cito ainda o Fest em Cena e, lá das bandas de Mossoró, a revista Papangu, o Oratório de Santa Luzia e o trabalho do grupo de teatro popular O Pessoal do Tarará. E se algum mossoroense puder me dar notícia do poeta popular Luís Campos, do qual sou fã, ficaria agradecido.
Eis o comentário de Cida Campello:
Se dependesse de organização, querido Sérgio, saberias que havia acontecido e com qualidade como sempre foi, o nosso projeto Domingo na Praça - RN. Desorganização podes chamar a FUNDação Jose augusto e suas peripécias em deixar de lado e não dar o devido valor a um projeto selecionado a nível nacional. Não foi uma seleção local, Sérgio, foi nacional... infelizmente não tivemos lei de incentivo, (onde o projeto estava adormecido esperando julgamento por parte dos conselheiros), além do mais nem lei existiu, nada... e quando liberaram os 4 milhões, vc ja sabe o que ocorreu. Aceito todas as criticas, mas em nível de organização e comprometimento com tudo que faço aqui na terra de ninguém, essa não aceito não, pq se faço produção cultural é pq sei fazer, me especializei, busquei conhecimento... não carrego só um nome titulo. É sempre bom nos informarmos antes pq as coisas não acontecem por aqui. abraços
Aproveito para preencher mais algumas lacunas deixadas na minha humilde lista, lembradas a pouco: além do MADA, lembrado em comentário de Carlos Farias, cito ainda o Fest em Cena e, lá das bandas de Mossoró, a revista Papangu, o Oratório de Santa Luzia e o trabalho do grupo de teatro popular O Pessoal do Tarará. E se algum mossoroense puder me dar notícia do poeta popular Luís Campos, do qual sou fã, ficaria agradecido.
Eis o comentário de Cida Campello:
Se dependesse de organização, querido Sérgio, saberias que havia acontecido e com qualidade como sempre foi, o nosso projeto Domingo na Praça - RN. Desorganização podes chamar a FUNDação Jose augusto e suas peripécias em deixar de lado e não dar o devido valor a um projeto selecionado a nível nacional. Não foi uma seleção local, Sérgio, foi nacional... infelizmente não tivemos lei de incentivo, (onde o projeto estava adormecido esperando julgamento por parte dos conselheiros), além do mais nem lei existiu, nada... e quando liberaram os 4 milhões, vc ja sabe o que ocorreu. Aceito todas as criticas, mas em nível de organização e comprometimento com tudo que faço aqui na terra de ninguém, essa não aceito não, pq se faço produção cultural é pq sei fazer, me especializei, busquei conhecimento... não carrego só um nome titulo. É sempre bom nos informarmos antes pq as coisas não acontecem por aqui. abraços