Reli a matéria que fiz sobre suicídio publicada no último Poti e uma resposta da psicóloga Elza Dutra chamou-me mais atenção agora. Ela comentou da ditadura da felicidade pregada hoje. Pra mim é uma coisa extremamente chata essa busca desenfreada por algo inexistente.
Não sou eu, não é ela nem Schopenhauer apenas quem acredita na inexistência da felicidade. Todos, no fundo, sabem que ela não existe plenamente e ficam nessa neura inútil. A psicóloga cita como causas incentivadoras dessa ditadura a publicidade capitalista de consumo. É aquele velho papo torpe sobre alienação que todos já conhecem.
De cá de meu apErtamento, curto mais o tédio. Não é de todo ruim quando tudo mais é pressa. Guardo a felicidade na estante, junto com filmes e livros. É a parte boa daqui. Aliás, chuva e tédio pedem filmes. É o que tem preenchido meu tempo nos últimos dias.
Tenho seguido algumas dicas de Alex de Souza. Quando escrevi aqui alguns esculachos sobre o diretor Martin Scorsese, Alex jogou quatro pedras em mim. Realmente não achei muita coisa em O Aviador, Cassino, Os Bons Companheiros ou mesmo Os Infiltrados. Tinha ficado emputecido com a merda do filme O Novo Mundo. Pensei que fosse de Scorsese também, mas Alex alertou que ele foi apenas o produtor.
Enfim, tinha mesmo uma birra com o diretor. Mas não tive como desviar das pedras de Alex. O jeito foi acatar suas recomendações. Assisti Taxi Driver e fiquei maravilhado. Touro Indomável vi só um pedaço, até o sono, e já deu para perceber outra obra prima. Ambos com Robert de Niro e exibidos na década de 70.
Parece mesmo que o diretor é inverso à regra do vinho: passa o tempo e o velho piora. Nenhuma produção nova de Scorsese se compara com esses filmes. E olha que ainda falta ver um monte, inclusive No Direction Home e The Last Waltz, sobre o rock, e que fiquei mais propenso a assistir. Mas o primeiro está compilado em dois DVDs e o preço é salgado. Resolvi esperar.
Outros filmes que assisti nos últimos dias foram Sangue Negro, Morte em Veneza (de Luchino Visconti), Sonata de Outono (com Ingmar Bergman) e outro que me arrependi de ter assistido sóbrio: Não Estou Lá, de Todd Haynes. O filme é inspirado na vida e na música de Bob Dylan. É totalmente chapado. Acho que se eu tomasse cinco garrafas de cerveja e conhecesse mais da obra de Dylan eu gostaria ainda mais.
Todos os filmes estão agora guardados na estante. Os assisti junto com a tal da felicidade. Foi companhia agradável por umas duas horas. De volta ao tédio, curto agora a insônia. A tristeza permanece na cadeira de balanço. Sempre a me fitar com seu olhar envelhecido. É que a tristeza não descansa nunca. Quando assisto filme, ela vai à varanda mirar a chuva.
terça-feira, 29 de abril de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
Khrystal e o muro de berlim
Enquanto Khrystal e a banda Canteiros do Samba seguem com agenda cheia para maio – inclusive com show no projeto Seis e Meia de João Pessoa e Campina Grande – e se preparam para apresentação no Prêmio Cultural Diário de Natal, dia 15, o poeta e artista plástico Franklin Serrão divulga sua exposição programada para o dia 8 de maio, no Bardallos, Centro da Cidade.
É o que conto de novo nesta terra de Poti. Nos bastidores, um grupo de natalenses combate o bom combate contra a idéia de erguer um muro de três metros de altura na Via Costeira, muito bem apelidado de Muro de Berlim. Que fiquem os gringos isolados e com aquele pedaço de mar. Ficamos aqui, do outro lado, com Khrystal, morros, rios, dunas e a natividade nagô.
É o que conto de novo nesta terra de Poti. Nos bastidores, um grupo de natalenses combate o bom combate contra a idéia de erguer um muro de três metros de altura na Via Costeira, muito bem apelidado de Muro de Berlim. Que fiquem os gringos isolados e com aquele pedaço de mar. Ficamos aqui, do outro lado, com Khrystal, morros, rios, dunas e a natividade nagô.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Ainda sobre arte de vanguarda
Posto abaixo texto da leitora identificada apenas como Cris. São comentários a respeito da polêmica do cachorro pendurado à parede como obra de arte e outros pontos de vista:
A obra de Habacuc foi inspirada na morte de um imigrante, que foi praticamente devorado por dois cães da raça “rottweiler”. Segundo noticiou a imprensa, o episódio foi filmado e policiais que estavam no local se negaram a atirar contra os cães alegando que a vítima (o imigrante) poderia ser atingido.
A morte ocorreu, portanto, por irresponsabilidade puramente humana. Não vou dizer que conheço em detalhes a história, mas posso arriscar: cães treinados para matar, que de alguma forma entraram em contato com o imigrante (quando deveriam estar presos) e absoluta estupidez, ou quem sabe até má-fé, dos policiais.
Agora, colocar um cão para morrer de fome para dizer que é arte e que isso é feito em prol de uma causa “nobre”, convenhamos, não desce, não dá para engolir. É assim, chamando atenção, criando “polêmicas” (falem mal, mas falem de mim) que muitas pessoas alcançam a notoriedade, já que não possuem outras formas de fazê-lo, por não terem, por exemplo, talento, criatividade.
Gosto muito de ler as críticas de Ferreira Gullar porque sou, de certa forma, um tanto conservadora, um tanto avessa a inovações excessivas, não pelas inovações em si, mas pelo que elas têm na maior parte das vezes de vazias e inúteis. Certa vez fui a uma exposição cheia de instalações, e uma delas consistia em um monte de sal amontoado, de mais ou menos 1m. Ora, isso é arte?
Os artistas mais “inovadores”, sobretudo os que gostam de umas instalações, costumam dizer que tudo pode virar arte. Discordo. A arte tem a ver com a emoção, com o sentir, com a estética (não, não estou dizendo que uma tela tem que ser bonita, simétrica; a beleza pode estar presente em linhas tortas, disformes). A arte envolve transformação. Romper estruturas é algo louvável, mas esse rompimento precisa ter algum sentido, precisa ocasionar um plus.
Outra vez fui ver a bienal em SP e na minha cabeça tocava o tempo inteiro a trilha sonora desse evento: justamente a música “Bienal”, de Zeca Baleiro. Não havia quase nada de aproveitável. Não é preciso entender uma obra de arte racionalmente para sentir a sua força, para se emocionar com ela. Vide Jackson Pollock, dentre inúmeros outros. Mas o problema de alguns artistas é que sua “arte”, além de inacessível ao racional, não encontra nenhum eco no emocional.
Daí que eles precisam continuamente explicar o significado de certas “instalações” e criam justificativas pretensamente sérias para baboseiras que nem eles sabem o que são.
Presenciar o desespero das pessoas em um tiroteio é arte? Ir viajando e encontrar um acidente, com as pessoas agonizando, de corpo aberto pelas ferragens, é arte? Existe um médico alemão que acha que algo bem parecido é. Trata-se de Gunther von Hagens, que faz “esculturas” com corpos reais, dilacerados, e anda fazendo um tremendo sucesso.
Acho que o caso desse artista que usou o cão é semelhante. Ele quer atenção, e sabe da reação que vai causar. Também li na imprensa que ele disse que o importante é que a obra não terminou, que as pessoas seguem falando dela. Ah, seguem sim, mas falando na tortura ao cão. Mas no imigrante???? Quem fala sobre isso? Quem protesta contra alguma coisa inspirado nessa instalação?
Pra mim é evidente que ele ultrapassou em muito os limites e só quer notoriedade, pouco se lixando para imigrantes, para a violência, policiais corruptos ou estúpidos, whatever. Também não estou afirmando que a arte precisa de um fundo social; quem fez isso, quem atribuiu um sentido social, foi ele, Habacuc, ao “explicar” a sua instalação.
E na minha opinião tudo que foi dito se aplica também à idéia de exibir um paciente terminal. Há formas e formas de refletir sobre a morte. O artista Gregor Schneider escolheu uma forma patética e anti-ética, um “zoológico humano”, que nada acrescenta em termos de sentimento, emoção, beleza, no sentido amplo da palavra. E digo mais: todos eles se aproveitam desse estranho fascínio que nós, humanos, temos pelo macabro, pelo sórdido.
Não é à toa que quase todo mundo dá uma paradinha ou uma reduzida quando vê um acidente na estrada (para citar novamente esse exemplo). Não é à toa que os programas policiais têm tanta audiência. Pra ser bem atual, não é à toa que o caso da garota Isabela Nardoni está fazendo tanto “sucesso”. Tudo isso, a garota diariamente na mídia, o cão, as “esculturas de corpos”, a idéia do paciente terminal, tudo não passa de exploração barata.
Por fim, perdoe-me algum excesso neste comentário, é que esse assunto realmente me causa certa exasperação.
A obra de Habacuc foi inspirada na morte de um imigrante, que foi praticamente devorado por dois cães da raça “rottweiler”. Segundo noticiou a imprensa, o episódio foi filmado e policiais que estavam no local se negaram a atirar contra os cães alegando que a vítima (o imigrante) poderia ser atingido.
A morte ocorreu, portanto, por irresponsabilidade puramente humana. Não vou dizer que conheço em detalhes a história, mas posso arriscar: cães treinados para matar, que de alguma forma entraram em contato com o imigrante (quando deveriam estar presos) e absoluta estupidez, ou quem sabe até má-fé, dos policiais.
Agora, colocar um cão para morrer de fome para dizer que é arte e que isso é feito em prol de uma causa “nobre”, convenhamos, não desce, não dá para engolir. É assim, chamando atenção, criando “polêmicas” (falem mal, mas falem de mim) que muitas pessoas alcançam a notoriedade, já que não possuem outras formas de fazê-lo, por não terem, por exemplo, talento, criatividade.
Gosto muito de ler as críticas de Ferreira Gullar porque sou, de certa forma, um tanto conservadora, um tanto avessa a inovações excessivas, não pelas inovações em si, mas pelo que elas têm na maior parte das vezes de vazias e inúteis. Certa vez fui a uma exposição cheia de instalações, e uma delas consistia em um monte de sal amontoado, de mais ou menos 1m. Ora, isso é arte?
Os artistas mais “inovadores”, sobretudo os que gostam de umas instalações, costumam dizer que tudo pode virar arte. Discordo. A arte tem a ver com a emoção, com o sentir, com a estética (não, não estou dizendo que uma tela tem que ser bonita, simétrica; a beleza pode estar presente em linhas tortas, disformes). A arte envolve transformação. Romper estruturas é algo louvável, mas esse rompimento precisa ter algum sentido, precisa ocasionar um plus.
Outra vez fui ver a bienal em SP e na minha cabeça tocava o tempo inteiro a trilha sonora desse evento: justamente a música “Bienal”, de Zeca Baleiro. Não havia quase nada de aproveitável. Não é preciso entender uma obra de arte racionalmente para sentir a sua força, para se emocionar com ela. Vide Jackson Pollock, dentre inúmeros outros. Mas o problema de alguns artistas é que sua “arte”, além de inacessível ao racional, não encontra nenhum eco no emocional.
Daí que eles precisam continuamente explicar o significado de certas “instalações” e criam justificativas pretensamente sérias para baboseiras que nem eles sabem o que são.
Presenciar o desespero das pessoas em um tiroteio é arte? Ir viajando e encontrar um acidente, com as pessoas agonizando, de corpo aberto pelas ferragens, é arte? Existe um médico alemão que acha que algo bem parecido é. Trata-se de Gunther von Hagens, que faz “esculturas” com corpos reais, dilacerados, e anda fazendo um tremendo sucesso.
Acho que o caso desse artista que usou o cão é semelhante. Ele quer atenção, e sabe da reação que vai causar. Também li na imprensa que ele disse que o importante é que a obra não terminou, que as pessoas seguem falando dela. Ah, seguem sim, mas falando na tortura ao cão. Mas no imigrante???? Quem fala sobre isso? Quem protesta contra alguma coisa inspirado nessa instalação?
Pra mim é evidente que ele ultrapassou em muito os limites e só quer notoriedade, pouco se lixando para imigrantes, para a violência, policiais corruptos ou estúpidos, whatever. Também não estou afirmando que a arte precisa de um fundo social; quem fez isso, quem atribuiu um sentido social, foi ele, Habacuc, ao “explicar” a sua instalação.
E na minha opinião tudo que foi dito se aplica também à idéia de exibir um paciente terminal. Há formas e formas de refletir sobre a morte. O artista Gregor Schneider escolheu uma forma patética e anti-ética, um “zoológico humano”, que nada acrescenta em termos de sentimento, emoção, beleza, no sentido amplo da palavra. E digo mais: todos eles se aproveitam desse estranho fascínio que nós, humanos, temos pelo macabro, pelo sórdido.
Não é à toa que quase todo mundo dá uma paradinha ou uma reduzida quando vê um acidente na estrada (para citar novamente esse exemplo). Não é à toa que os programas policiais têm tanta audiência. Pra ser bem atual, não é à toa que o caso da garota Isabela Nardoni está fazendo tanto “sucesso”. Tudo isso, a garota diariamente na mídia, o cão, as “esculturas de corpos”, a idéia do paciente terminal, tudo não passa de exploração barata.
Por fim, perdoe-me algum excesso neste comentário, é que esse assunto realmente me causa certa exasperação.
Letra de Bienal
Ainda da discussão sobre arte de vanguarda, a leitora Cris postou comentário de uma letra de música composta por Zeca Baleiro e Zé Ramalho, intitulada Letra de Bienal. As palavras falam da arte de vanguarda. Uma preciosidade:
"Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria"
"Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria"
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Da arte de vanguarda
Vou pegar carona nos artigos postados no blog do jornalista Tácito Costa (Substantivo Plural - link ao lado) sobre algumas polêmicas de obras de arte ditas de vanguarda. Saiu publicado no UOL e Tácito abriu discussão sobre o assunto:
“O artista plástico alemão Gregor Schneider está procurando um paciente terminal para participar de uma instalação na qual o doente morreria na galeria de arte. Segundo o artista, o doente passaria suas últimas horas de vida no centro de uma instalação aberta ao público”. Tudo sob consentimento de familiares. A intenção de Schneider é diminuir o medo da morte nas pessoas.
Em outro artigo, o poeta Ferreira Gullar criticou o artista plástico Guillermo Habacuc Vargas, por ter amarrado um cão vira-lata numa corda e prendido à parede de uma galeria de arte, onde o animal ficou definhando até morrer de fome. Tratava-se, segundo ele, de uma “instalação perecível”, uma obra de vanguarda.
Imagino que o amigo leitor tenha achado um absurdo, a priori, tais intervenções. Concordo em parte, mas deixo meus pormenores:
Achei tanto a “obra de arte” de Schneider e Habacuc, quanto a própria opinião de Gullar demasiado radicais. Gullar usa argumentos superficiais. Ora, dizer que um cachorro morrer pendurado numa parede de galeria de arte e num galpão qualquer é a mesma coisa, acho radicalismo demais, e sem embasamento.
Se sou contra a tortura “quase” gratuita de um animal para deleite de alguns, também preciso reconhecer que há uma intervenção do artista na morte do cão. E mais: a imagem grotesca da morte lenta e sofrida do cachorro – repito: por intermédio da imaginação do artista – desperta questionamentos, reflexões no público. Então não é a mesma coisa de um vira-lata morrer naturalmente em um galpão qualquer
Claro, não é por estar necessariamente em uma galeria de arte. Se o artista pregasse o cachorro no galpão acredito também no despertar de conceitos nas pessoas que o vissem.
A arte para ser vanguardista, em minha pobre opinião, precisa da busca deliberada pela originalidade; pelo inusitado. Não é o que interessa ao público, mas como interessa. É a procura de novas estéticas. Algo que rompa totalmente as convenções.
Dessa forma, acho que a “obra de arte” de Schneider não seria de todo uma porcaria. No entanto, cabe a pergunta: afora a idéia original da coisa, onde está a arte em si? Claro, imagino que o paciente terminal não deva estar pura e simplesmente deitado em uma cama na galeria, a espera da morte. Alguns floreios artísticos hão de existir. Mas, floreios são floreios...
“O artista plástico alemão Gregor Schneider está procurando um paciente terminal para participar de uma instalação na qual o doente morreria na galeria de arte. Segundo o artista, o doente passaria suas últimas horas de vida no centro de uma instalação aberta ao público”. Tudo sob consentimento de familiares. A intenção de Schneider é diminuir o medo da morte nas pessoas.
Em outro artigo, o poeta Ferreira Gullar criticou o artista plástico Guillermo Habacuc Vargas, por ter amarrado um cão vira-lata numa corda e prendido à parede de uma galeria de arte, onde o animal ficou definhando até morrer de fome. Tratava-se, segundo ele, de uma “instalação perecível”, uma obra de vanguarda.
Imagino que o amigo leitor tenha achado um absurdo, a priori, tais intervenções. Concordo em parte, mas deixo meus pormenores:
Achei tanto a “obra de arte” de Schneider e Habacuc, quanto a própria opinião de Gullar demasiado radicais. Gullar usa argumentos superficiais. Ora, dizer que um cachorro morrer pendurado numa parede de galeria de arte e num galpão qualquer é a mesma coisa, acho radicalismo demais, e sem embasamento.
Se sou contra a tortura “quase” gratuita de um animal para deleite de alguns, também preciso reconhecer que há uma intervenção do artista na morte do cão. E mais: a imagem grotesca da morte lenta e sofrida do cachorro – repito: por intermédio da imaginação do artista – desperta questionamentos, reflexões no público. Então não é a mesma coisa de um vira-lata morrer naturalmente em um galpão qualquer
Claro, não é por estar necessariamente em uma galeria de arte. Se o artista pregasse o cachorro no galpão acredito também no despertar de conceitos nas pessoas que o vissem.
A arte para ser vanguardista, em minha pobre opinião, precisa da busca deliberada pela originalidade; pelo inusitado. Não é o que interessa ao público, mas como interessa. É a procura de novas estéticas. Algo que rompa totalmente as convenções.
Dessa forma, acho que a “obra de arte” de Schneider não seria de todo uma porcaria. No entanto, cabe a pergunta: afora a idéia original da coisa, onde está a arte em si? Claro, imagino que o paciente terminal não deva estar pura e simplesmente deitado em uma cama na galeria, a espera da morte. Alguns floreios artísticos hão de existir. Mas, floreios são floreios...
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Revistas culturais
É bem provável que as duas revistas culturais mais prestigiadas do estado sejam lançadas concomitantemente ou pelo menos em datas bem próximas. A revista editada pela Fundação José Augusto – Preá – e a confeccionada pela Capitania das Artes – Brouhaha – devem sair das gráficas próxima semana.
Antes do início da prova e do meu fracasso no concurso da UFRN, a nova editora da Preá, a jornalista e assessora da FJA, Mary Land Brito comentou do lançamento da revista. Em poucas palavras Mary Land disse que a revista está quase pronta e com algumas novidades.
Segundo a jornalista, a diversidade de enfoques culturais será maior e as páginas terão mais espaços vazios para melhor visualização estética. Com menos espaço para textos, em vez de dois mapeamentos culturais de municípios potiguares por revista, só será um por edição.
Como já estão prontas as matérias de dois municípios – Angicos e Ceará-Mirim – desde o ano passado, já se sabe o que vem por aí nas duas próximas edições. Em seguida, Mary Land já me adiantou que será Rafael Fernandes – cidade pequena com apenas 5 mil habitantes e distante 230 km de Natal. Este blogueiro continuará responsável pelas matérias de mapeamento cultural.
Não sei ainda a data para reiniciar os trabalhos. O que sei é que o presidente Lula recebeu nos últimos dias, das mãos do presidente da FJA, Crispiniano Neto, a 14 edição da Preá, com Ariano Suassuna na capa. Tantas personalidades e lugares potiguares evidenciados na revista e o Crispa entrega uma com Ariano Suassuna ao pernambucano Lula.
Também para a próxima semana o lançamento da Brouhaha. A matéria de destaque e com a foto da capa é sobre o Liceu das Artes. Idéia bacana do editor Moisés de Lima. Não li nenhuma matéria ampla e completa a respeito nos jornais. Até por falta de tempo e espaço. O Liceu merecia um destaque maior.
Enquanto isso, a rapaziada da Papangu, já com 51 edições da excelente revista lançadas, é processada e deve pagar R$ 100 mil de indenização por danos morais à prefeita de Mossoró Fafá Rosado. Assim fica difícil ficar bem humorado.
Antes do início da prova e do meu fracasso no concurso da UFRN, a nova editora da Preá, a jornalista e assessora da FJA, Mary Land Brito comentou do lançamento da revista. Em poucas palavras Mary Land disse que a revista está quase pronta e com algumas novidades.
Segundo a jornalista, a diversidade de enfoques culturais será maior e as páginas terão mais espaços vazios para melhor visualização estética. Com menos espaço para textos, em vez de dois mapeamentos culturais de municípios potiguares por revista, só será um por edição.
Como já estão prontas as matérias de dois municípios – Angicos e Ceará-Mirim – desde o ano passado, já se sabe o que vem por aí nas duas próximas edições. Em seguida, Mary Land já me adiantou que será Rafael Fernandes – cidade pequena com apenas 5 mil habitantes e distante 230 km de Natal. Este blogueiro continuará responsável pelas matérias de mapeamento cultural.
Não sei ainda a data para reiniciar os trabalhos. O que sei é que o presidente Lula recebeu nos últimos dias, das mãos do presidente da FJA, Crispiniano Neto, a 14 edição da Preá, com Ariano Suassuna na capa. Tantas personalidades e lugares potiguares evidenciados na revista e o Crispa entrega uma com Ariano Suassuna ao pernambucano Lula.
Também para a próxima semana o lançamento da Brouhaha. A matéria de destaque e com a foto da capa é sobre o Liceu das Artes. Idéia bacana do editor Moisés de Lima. Não li nenhuma matéria ampla e completa a respeito nos jornais. Até por falta de tempo e espaço. O Liceu merecia um destaque maior.
Enquanto isso, a rapaziada da Papangu, já com 51 edições da excelente revista lançadas, é processada e deve pagar R$ 100 mil de indenização por danos morais à prefeita de Mossoró Fafá Rosado. Assim fica difícil ficar bem humorado.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Cama de Gato
Quem assistiu ao maior clássico de Stanley Kubrick, A Laranja Mecânica (1970 e pouco), precisa conferir Cama de Gato (2006). É um outro soco no estômago, versão moderna e brasileira. O filme foi censurado nas salas de cinema do país, embora tenha recebido uma pá de prêmios nacionais.
O diretor Alexandre Stockler optou pela filmagem em câmara digital. Por vezes parece mesmo coisa amadora. Às vezes dá um tom de documentário. Segundo a imprensa especializada, o custo do longa foi baixíssimo: 13 mil reais.
Particularmente achei o filme mais incisivo e verborrágico do que Baixio das Bestas (2007), Árido Movie (2006) ou Amarelo Manga (2003, para ir um pouco mais longe) – outros três longas-metragens nacionais de extrema lucidez nas críticas à hipocrisia alheia.
Achei Cama de Gato mais cru e direto, sem discursos panfletários (parece mesmo que o cinema cansou disso). Os outros citados têm mais apreço artístico, cinematográfico e até poético, como nos filmes de Cláudio Assis.
Alexandre Stockler – do qual eu nada conhecia – mesclou cinema e documentário de uma forma original. Discute ética, moral, problemas e sintomas vividos por jovens de classe média alta.
Em síntese, o filme mostra o comportamento de três jovens na busca pela satisfação imediata. Nisso está incluso sexo, drogas e muita inconseqüência. Depois de uma cena de estupro quase impulsivo, os três cometem uma série de outras bizarrices que só agravam a situação.
No desenrolar da trama, o diretor escancara a alienação reinante nos jovens de hoje. E mais: o desdém com os valores éticos, morais e a total negação da Divindade. As imagens com câmera em punho, trêmulas e diálogos quase teatrais enfatizam como os personagens estão perdidos na sua realidade e confusos quanto ao futuro.
Mas o melhor o diretor deixou para depois do fim do filme: o depoimento real de vários jovens da classe média alta a repetir o mesmo discurso proferido pelos três personagens fictícios.
Meu estômago ainda dói...
O diretor Alexandre Stockler optou pela filmagem em câmara digital. Por vezes parece mesmo coisa amadora. Às vezes dá um tom de documentário. Segundo a imprensa especializada, o custo do longa foi baixíssimo: 13 mil reais.
Particularmente achei o filme mais incisivo e verborrágico do que Baixio das Bestas (2007), Árido Movie (2006) ou Amarelo Manga (2003, para ir um pouco mais longe) – outros três longas-metragens nacionais de extrema lucidez nas críticas à hipocrisia alheia.
Achei Cama de Gato mais cru e direto, sem discursos panfletários (parece mesmo que o cinema cansou disso). Os outros citados têm mais apreço artístico, cinematográfico e até poético, como nos filmes de Cláudio Assis.
Alexandre Stockler – do qual eu nada conhecia – mesclou cinema e documentário de uma forma original. Discute ética, moral, problemas e sintomas vividos por jovens de classe média alta.
Em síntese, o filme mostra o comportamento de três jovens na busca pela satisfação imediata. Nisso está incluso sexo, drogas e muita inconseqüência. Depois de uma cena de estupro quase impulsivo, os três cometem uma série de outras bizarrices que só agravam a situação.
No desenrolar da trama, o diretor escancara a alienação reinante nos jovens de hoje. E mais: o desdém com os valores éticos, morais e a total negação da Divindade. As imagens com câmera em punho, trêmulas e diálogos quase teatrais enfatizam como os personagens estão perdidos na sua realidade e confusos quanto ao futuro.
Mas o melhor o diretor deixou para depois do fim do filme: o depoimento real de vários jovens da classe média alta a repetir o mesmo discurso proferido pelos três personagens fictícios.
Meu estômago ainda dói...
domingo, 20 de abril de 2008
Da simplicidade esquecida e das ideologias fracassadas
É sempre assim: quando demoro a visitar minha praia refúgio, banho-me de cinzas. É como se a metrópole engolisse minha essência pacata. Prefiro respirar do meu jeito, no meu compasso. A pressa destrói as melhores viagens. Mas assim caminha uma humanidade alienada. E vão empurrados também os da margem, para seguir, caminhando e cantando os zumbis de uma mesma estrada.
Vontade de gritar: “Deixem-me! Passem a fila adiante!”. Há muito desisti da luta. A união já não faz a força. O coletivo constrói grades, enquanto as instituições sórdidas do poder levitam sobre o ar pesado da cidade. Sempre concordei: o melhor governo é o que governa menos. Pago imposto com medo da sociedade se voltar contra mim – “um desobediente civil”.
Queria mesmo viver do trabalho das minhas mãos, como o escritor Thoreau – personagem que conheci pelas palavras de Franklin Jorge. Estou farto das vulgaridades cotidianas. Henry David Thoreau nasceu em uma fazenda de Massachusetts, em 1817. Aos 28 anos foi morar em uma cabana construída por ele mesmo, com apenas três cadeiras. Viveu só por dois anos e dois meses a pelo menos um quilômetro e meio de distância de qualquer vizinho. Sempre recriminou os ditames de castigos impostos pelo Estado. Foi precursor dos hippies, segundo Franklin Jorge.
“Não tendo nascido para ser forçado a coisa alguma, respira à sua moda, desdenhando o bando e as instituições sórdidas. Pensando sobre sua prisão, pondera que bem podia ter resistido á força, com maior ou menor resultado; podia ter se enfurecido contra a sociedade, mas preferiu que a sociedade, por ser a parte desesperada, se enfurecesse com ele”. Este é um trecho do novo livro de Franklin, O Escritor de Chatham, em capítulo dedicado a Thoreau.
Das palavras do escritor americano, escrevo essa frase: “A poesia antiga e a mitologia sugerem que a agricultura foi outrora uma arte sagrada, mas é exercida por nós com pressa e negligência irreverentes, nosso objetivo sendo apenas o de possuir grandes fazendas e colheitas”. Thoreau plantou cerca de dez mil metros quadrados em terreno elevado, após observar que em toda a parte, lojas, escritórios e campos, os homens trabalhavam à sombra de um erro.
Após manifestar através das palavras do escritor solitário de Massachusetts, a descrença quanto às ideologias políticas, Franklin Jorge escreve, no último parágrafo deste capítulo, como que para sintetizar o esquecimento das coisas simples e realmente relevantes: “Além da cabana, Thoreau fez amizade com um homem que também ouvira falar de Homero, lenhador canadense fazedor de estacas, capaz de enfincar cinqüenta delas num só dia. Esse homem não sabia o que seria dos dias chuvosos sem a companhia dos livros”.
Vontade de gritar: “Deixem-me! Passem a fila adiante!”. Há muito desisti da luta. A união já não faz a força. O coletivo constrói grades, enquanto as instituições sórdidas do poder levitam sobre o ar pesado da cidade. Sempre concordei: o melhor governo é o que governa menos. Pago imposto com medo da sociedade se voltar contra mim – “um desobediente civil”.
Queria mesmo viver do trabalho das minhas mãos, como o escritor Thoreau – personagem que conheci pelas palavras de Franklin Jorge. Estou farto das vulgaridades cotidianas. Henry David Thoreau nasceu em uma fazenda de Massachusetts, em 1817. Aos 28 anos foi morar em uma cabana construída por ele mesmo, com apenas três cadeiras. Viveu só por dois anos e dois meses a pelo menos um quilômetro e meio de distância de qualquer vizinho. Sempre recriminou os ditames de castigos impostos pelo Estado. Foi precursor dos hippies, segundo Franklin Jorge.
“Não tendo nascido para ser forçado a coisa alguma, respira à sua moda, desdenhando o bando e as instituições sórdidas. Pensando sobre sua prisão, pondera que bem podia ter resistido á força, com maior ou menor resultado; podia ter se enfurecido contra a sociedade, mas preferiu que a sociedade, por ser a parte desesperada, se enfurecesse com ele”. Este é um trecho do novo livro de Franklin, O Escritor de Chatham, em capítulo dedicado a Thoreau.
Das palavras do escritor americano, escrevo essa frase: “A poesia antiga e a mitologia sugerem que a agricultura foi outrora uma arte sagrada, mas é exercida por nós com pressa e negligência irreverentes, nosso objetivo sendo apenas o de possuir grandes fazendas e colheitas”. Thoreau plantou cerca de dez mil metros quadrados em terreno elevado, após observar que em toda a parte, lojas, escritórios e campos, os homens trabalhavam à sombra de um erro.
Após manifestar através das palavras do escritor solitário de Massachusetts, a descrença quanto às ideologias políticas, Franklin Jorge escreve, no último parágrafo deste capítulo, como que para sintetizar o esquecimento das coisas simples e realmente relevantes: “Além da cabana, Thoreau fez amizade com um homem que também ouvira falar de Homero, lenhador canadense fazedor de estacas, capaz de enfincar cinqüenta delas num só dia. Esse homem não sabia o que seria dos dias chuvosos sem a companhia dos livros”.
terça-feira, 15 de abril de 2008
A voz de Paris
Acredito mais na Serenata do Pecador como a voz de Natal do que a Linda Baby de Pedrinho Mendes. Natal era mais Natal quando Othoniel Menezes escreveu Praieira em homenagem a três pescadores meio doidos que partiram em embarcações rudimentares até o Rio de Janeiro, em 1922. Mas a inspiração partiu daqueles artesãos do mar. Daí tanta nostalgia na música. É que ainda olho Natal como cidade província. Um recanto meu. Com aquela alma saudosa e tranqüila das coisas do ontem.
Claro, ela também é a terra de um deus mar que vive para o sol. Mas a essência de Natal é sua história: dos pescadores e embarcadiços das Rocas. Dos cabarés e canguleiros da Ribeira. Dos bondes da Empresa de Melhoramentos. Do Grande Ponto da Rua João Pessoa e demais cantões. Até a atmosfera preservada no Canto do Mangue, na rede de tresmalhos da Redinha, no ar ainda nostálgico da Ribeira. As figuras folclóricas da Cidade Alta até as ruas largas de Tirol e Petrópolis.
Quando ouço uma voz chorosa cantando Praieira mergulho em minha Natal de ontem e de hoje. É a voz da cidade. E disse isso tudo para falar do filme Piaf – um hino ao amor (2007), do diretor Olivier Dahan. Uma maravilha. De emocionar mesmo. O roteiro mostra diversas fases da vida de Edith Piaf de forma intercalada, sem confundir o espectador. Tudo embalado pelas músicas da cantora, que viveu seu auge na década de 50 e início de 60. Só por elas já valeria assistir ao filme.
O amigo leitor deve se perguntar qual a ligação com os primeiros parágrafos. É que a voz de Edith Piaf é Paris completa, em seu jogo sedutor. Ao ouvir a voz em tons abusados e tristes da cantora, os cafés parisienses aparecem como em sonho. A torre, as luzes, a atmosfera de melancolia e a certeza de que tudo ocorre em uma esquina de Paris; a sensação de que o destino se encontra ali. E Edith Piaf não só tem a voz de Paris, como viveu e sintetizou toda a magia da capital francesa.
A atriz Marion Cotillard está magistral. É daquelas atuações surreais, como se viu com Jamie Foxx, em Ray (Charles), ou Val Kilmer na pele de Jim Morrison, em The Doors, de Oliver Stone. Marion adquiriu os trejeitos de Piaf, sua forma de andar... E antes de tudo, retrata a angústia de uma vida sofrida e alimentada por um sentimento de eterna espera, como se vê em cada esquina de Paris. Classifico o filme entre meus cinco melhores do ano passado. Edith Piaf é o Ibrahin Ferrer de Cuba e o Othoniel Menezes de Natal. Não há dúvida.
Claro, ela também é a terra de um deus mar que vive para o sol. Mas a essência de Natal é sua história: dos pescadores e embarcadiços das Rocas. Dos cabarés e canguleiros da Ribeira. Dos bondes da Empresa de Melhoramentos. Do Grande Ponto da Rua João Pessoa e demais cantões. Até a atmosfera preservada no Canto do Mangue, na rede de tresmalhos da Redinha, no ar ainda nostálgico da Ribeira. As figuras folclóricas da Cidade Alta até as ruas largas de Tirol e Petrópolis.
Quando ouço uma voz chorosa cantando Praieira mergulho em minha Natal de ontem e de hoje. É a voz da cidade. E disse isso tudo para falar do filme Piaf – um hino ao amor (2007), do diretor Olivier Dahan. Uma maravilha. De emocionar mesmo. O roteiro mostra diversas fases da vida de Edith Piaf de forma intercalada, sem confundir o espectador. Tudo embalado pelas músicas da cantora, que viveu seu auge na década de 50 e início de 60. Só por elas já valeria assistir ao filme.
O amigo leitor deve se perguntar qual a ligação com os primeiros parágrafos. É que a voz de Edith Piaf é Paris completa, em seu jogo sedutor. Ao ouvir a voz em tons abusados e tristes da cantora, os cafés parisienses aparecem como em sonho. A torre, as luzes, a atmosfera de melancolia e a certeza de que tudo ocorre em uma esquina de Paris; a sensação de que o destino se encontra ali. E Edith Piaf não só tem a voz de Paris, como viveu e sintetizou toda a magia da capital francesa.
A atriz Marion Cotillard está magistral. É daquelas atuações surreais, como se viu com Jamie Foxx, em Ray (Charles), ou Val Kilmer na pele de Jim Morrison, em The Doors, de Oliver Stone. Marion adquiriu os trejeitos de Piaf, sua forma de andar... E antes de tudo, retrata a angústia de uma vida sofrida e alimentada por um sentimento de eterna espera, como se vê em cada esquina de Paris. Classifico o filme entre meus cinco melhores do ano passado. Edith Piaf é o Ibrahin Ferrer de Cuba e o Othoniel Menezes de Natal. Não há dúvida.
sábado, 12 de abril de 2008
TPM masculina
Primeiro preciso justificar minha ausência nos últimos dias. Para isso uso três desculpas. A primeira pode ser explicada pela brilhante manchete do Jornal de Fato, de Mossoró: “As chuvas continuam caindo”. A segunda é que quase sofro um piripaque junto com meu computador. Coisas da modernidade, de quem guarda a vida em uma geringonça eletrônica. A terceira é que ando muito chato. Muito mesmo. A ponto de rejeitar opiniões dos “íntimos” com a assertiva clichê de que já sou chato por natureza.
Chato ou não tenho achado insuportável dicas de nutrição. Já não sei mais o que comer. Recebo imeios todo dia com uma novidade. Acho que se eu viver de banana, beterraba e linhaça supero Matusalém em idade. Lembro de uma crônica de Luiz Fernando Veríssimo sobre a recomendação médica da cautela no consumo exagerado do ovo. Após 20 anos de abstinência, a medicina moderna afirma dos benefícios do ovo. O escritor, lógico, cobra indenização pelo longo período sem ovos, com o perdão da redundância.
Falar em comida, ontem ouvi uma palavra que detesto: agridoce. A ojeriza à palavra parte do seguinte motivo: sabe aquela gente blasé, adoradores do falar “elegante” (outra palavra que odeio)? Se alguma “guloseima” (essa eu prefiro) tem gosto azedo e doce, sempre vem acompanhado, como arroz e feijão, do adjetivo agridoce. É do mesmo estilo que sente prazer em pronunciar “drink” e “glamour”. Esse povo se acha o buraco central da bolacha creme-craque por isso. Palavra bonita é “sobrancelha”. Quase poético.
Sei que não escrevi nada de substancial ainda. Nem vou. Melhor o amigo leitor pular para o blog de Carlos Magno, também colunista deste portal. Sim, ele voltou, quase torrado após quatro meses de bronzeamento artificial. Alias, o Carlos comentou da recente matéria sobre “o filho da ditadura” – José Agripino Maia – na revista Caros Amigos. O texto foi escrito por uma cria do Diário de Natal, o repórter Léo Arcoverde. Não sou xenófobo nem guardo nada da raça ariana – as do nazismo de Hitler ou de Ariano Suassuna. Mas sou adepto da valoração da prata da casa.
Sempre achei que o cara é bom aqui e em qualquer lugar. Nem critico o editor de esportes do DN, Edmo Sinedino quando compara o meia Souza aos craques do futebol mundial. Um exemplo é Léo, ótimo repórter, como muitos outros desta terra do nunca. Saiu daqui na cara e na coragem – e de bolso vazio, lógico – e passou pouquíssimo tempo como estagiário até ser contratado. Depois do esculacho no Agripino, fui ler outras matérias do rapaz. Coisa excelente de ler, mesmo para chatos como eu.
Para não perder meu terceiro e último leitor, fico por aqui. E com a promessa de voltar muito em breve. Pelo menos deixei o assunto do terceiro mandato de Lula para outros. No mais, o resto é hipocrisia.
Chato ou não tenho achado insuportável dicas de nutrição. Já não sei mais o que comer. Recebo imeios todo dia com uma novidade. Acho que se eu viver de banana, beterraba e linhaça supero Matusalém em idade. Lembro de uma crônica de Luiz Fernando Veríssimo sobre a recomendação médica da cautela no consumo exagerado do ovo. Após 20 anos de abstinência, a medicina moderna afirma dos benefícios do ovo. O escritor, lógico, cobra indenização pelo longo período sem ovos, com o perdão da redundância.
Falar em comida, ontem ouvi uma palavra que detesto: agridoce. A ojeriza à palavra parte do seguinte motivo: sabe aquela gente blasé, adoradores do falar “elegante” (outra palavra que odeio)? Se alguma “guloseima” (essa eu prefiro) tem gosto azedo e doce, sempre vem acompanhado, como arroz e feijão, do adjetivo agridoce. É do mesmo estilo que sente prazer em pronunciar “drink” e “glamour”. Esse povo se acha o buraco central da bolacha creme-craque por isso. Palavra bonita é “sobrancelha”. Quase poético.
Sei que não escrevi nada de substancial ainda. Nem vou. Melhor o amigo leitor pular para o blog de Carlos Magno, também colunista deste portal. Sim, ele voltou, quase torrado após quatro meses de bronzeamento artificial. Alias, o Carlos comentou da recente matéria sobre “o filho da ditadura” – José Agripino Maia – na revista Caros Amigos. O texto foi escrito por uma cria do Diário de Natal, o repórter Léo Arcoverde. Não sou xenófobo nem guardo nada da raça ariana – as do nazismo de Hitler ou de Ariano Suassuna. Mas sou adepto da valoração da prata da casa.
Sempre achei que o cara é bom aqui e em qualquer lugar. Nem critico o editor de esportes do DN, Edmo Sinedino quando compara o meia Souza aos craques do futebol mundial. Um exemplo é Léo, ótimo repórter, como muitos outros desta terra do nunca. Saiu daqui na cara e na coragem – e de bolso vazio, lógico – e passou pouquíssimo tempo como estagiário até ser contratado. Depois do esculacho no Agripino, fui ler outras matérias do rapaz. Coisa excelente de ler, mesmo para chatos como eu.
Para não perder meu terceiro e último leitor, fico por aqui. E com a promessa de voltar muito em breve. Pelo menos deixei o assunto do terceiro mandato de Lula para outros. No mais, o resto é hipocrisia.
domingo, 6 de abril de 2008
Vida de repórter
Mais do que uma opção profissional, ser repórter é uma opção de vida. Falta tempo para quase todo o resto: família, amigos e até leituras. Claro, não existe atividade melhor para quem é inconformado com o cotidiano dos escritórios ou com a realidade do mundo. Mas o preço para viver intensamente essa rotina sem rotina é alto e, principalmente, mal pago.
Em outra oportunidade contei da cobertura da inauguração da Ponte Newton Navarro e as dificuldades enfrentadas pelos repórteres. Conto hoje os dois dias intermináveis de cobertura dos estragos causados pela chuva, sobretudo no Vale do Assu, nos últimos dias. É um pouco o retrato da profissão.
Enquanto arriscava-me na selva da cozinha do meu apErtamento, no preparo de um macarrão mal encarado, eis que vem O Chamado: “O carro da reportagem está passando aí em 15 minutos para você ir a Assu. A barragem Armando Ribeiro sangrou”.
Aconselharam-me a encarar a coisa pelo lado bom. De certo o digníssimo chefe de reportagem quis me salvar do macarrão vingativo e de uma futura infecção intestinal. E lá estava eu na estrada. Duas horas e meia após, estava com os joelhos n’água para entrevistar os entusiasmados com a sangria da Barragem.
Um dos agricultores da região me contou que a situação de Ipanguaçu – município próximo – estava feia, decorrente do transbordo do Rio Pataxó. Sem pensar em voltar para casa no horário previsto, lá fui eu arrumar sarna para coçar-me. Mas o pior estava por vir.
Após visitar comunidades ilhadas e colher os dados para a matéria, procurei a única lan house do município para enviar os textos e fotos. De volta à redação no dia seguinte, o segundo chamado: “Amanhã, às 8h, você volta para Ipanguaçu para verificar a situação”.
Era uma quinta-feira. Quando das 11h, e após cobrir já alguns desastres fora da pauta em Lajes... “A coisa aí pelo interior do estado está muito feia e estamos estudando aqui o caso de vocês dormirem aí para visitar outros municípios”.
Olhei para minha roupa como quem olha para um companheiro de quarto. Seria ela e meu bloquinho de papel os companheiros de um verdadeiro périplo. Tive também uma lembrança saudosa da minha escova de dentes e meu desodorante. Fechei os olhos e fiquei a imaginar o filme que assistiria com minha namorada mais tarde.
Cheguei em Assu (a 220 km de Natal) umas 12 horas. A fome cavou um buraco negro no espaço sideral da minha barriga e o prefeito de Assu nem desconfiava. Levou-me a TODOS os pontos de enchente, bem distantes uns dos outros.
Quando eu já pensava em pescar algum peixe numa enxurrada qualquer, como urso atrás de salmão, o prefeito resolveu descansar. Na espera pelo almoço, senti que comeria até o braço da garçonete se demorasse mais dois minutos. Comecei a ter alucinações. Senti-me o próprio leão do filme Madagascar.
Sem possibilidades para aprofundar a situação de Assu, parti para Ipanguaçu. A coisa tava pior e apressei-me em colher todos os dados e escrever a matéria a tempo do fechamento da edição, na mesma lan house de dias atrás. Foram sete matérias escritas até procurar uma pousada na cidade e um brechó para trocar pelo menos o “fraldão”.
A pousada, na verdade, era uma casa malamanhada. Pior que bordel de beira de estrada. Muito pior, diria. O que nos envolvia não eram os braços das amistosas raparigas, mas a enchente que avançava naquela noite. Durante a madrugada, até os bombeiros enviados em caráter de emergência e também hospedados na pousada, ligaram para o prefeito pedindo ajuda.
Às 6h, senti-me um robô quando a água fria do chuveiro caiu sobre meu corpo congelado. Uma pasta emprestada e um bochecho caprichado. Metade do sabonete do banheiro foi gasto em seis sovacos sedentos: os meus e dos outros dois aventureiros da equipe de reportagem. Vestidas as mesmas roupas, partimos para o trabalho.
Fora da pousada, um cenário desolador. Bairros inteiros inundados. Após acompanhar o trabalho dos Bombeiros e a entrega das cestas básicas em um dos 30 abrigos, fui escrever, por volta das 9h. Quando estava próximo ao final, a energia na cidade caiu. Perdi tudo. Sem poder esperar, partimos para Apodi (mais uma hora de viagem). Na entrada da cidade, a surpresa: a ponte cedeu.
O cansaço já era enorme. Fechava os olhos e só via estrada e pastos enlameados. Meu cabelo, já grandinho, estava mais armado do que os membros da Farc. A textura era de um arame, e com formado de aranha em posição de ataque.
Tive a péssima idéia de ir até Umarizal (mais uma hora de viagem), município também castigado pelas chuvas. Um maracatu atômico, de certo leu as matérias do dia anterior, gritou: “É o repórter das águas”. Respondi baixinho, envergonhado após o único banho às 6h: “Só se for da falta dágua”. Eram umas 16h. Após digitar os textos e alcançar as 18h, a vez das fotos. A internet lenta demorava 10 minutos para anexar cada arquivo. Demoraríamos mais de duas horas para enviar todas.
Voltamos para Ipanguaçu e a já conhecida lan house, mais rápida, para enviar tudo. Mas, a cidade estava sem energia desde as 9h. Mais uma vez em Assu. E se fosse pouco estar dois dias com a mesma roupa, com fome, sujo e cansado e umas 2h30 distante de casa, a velocidade da internet era mais lenta que a de Umarizal. Enviamos menos fotos. A edição saiu prejudicada.
Partimos de Assu perto das 21h. No posto para abastecer, próximo ao município de Riachuelo, o frentista justificou a demora dizendo que estava lendo o DN e preocupado com os “horrores” em Ipanguaçu. Senti-me um Alfred Hitchcock do jornalismo. Depois o digníssimo, ao reconhecer o carro da reportagem, ressaltou que tinha família em Ipanguaçu. Menos mal.
Cheguei por volta das 23h30. Sem forças para o cinema ou a cerveja. E apenas com uma sensação e a lembrança do velho conselho de encarar tudo pelo lado bom: nóis sofre, mas nóis goza.
Em outra oportunidade contei da cobertura da inauguração da Ponte Newton Navarro e as dificuldades enfrentadas pelos repórteres. Conto hoje os dois dias intermináveis de cobertura dos estragos causados pela chuva, sobretudo no Vale do Assu, nos últimos dias. É um pouco o retrato da profissão.
Enquanto arriscava-me na selva da cozinha do meu apErtamento, no preparo de um macarrão mal encarado, eis que vem O Chamado: “O carro da reportagem está passando aí em 15 minutos para você ir a Assu. A barragem Armando Ribeiro sangrou”.
Aconselharam-me a encarar a coisa pelo lado bom. De certo o digníssimo chefe de reportagem quis me salvar do macarrão vingativo e de uma futura infecção intestinal. E lá estava eu na estrada. Duas horas e meia após, estava com os joelhos n’água para entrevistar os entusiasmados com a sangria da Barragem.
Um dos agricultores da região me contou que a situação de Ipanguaçu – município próximo – estava feia, decorrente do transbordo do Rio Pataxó. Sem pensar em voltar para casa no horário previsto, lá fui eu arrumar sarna para coçar-me. Mas o pior estava por vir.
Após visitar comunidades ilhadas e colher os dados para a matéria, procurei a única lan house do município para enviar os textos e fotos. De volta à redação no dia seguinte, o segundo chamado: “Amanhã, às 8h, você volta para Ipanguaçu para verificar a situação”.
Era uma quinta-feira. Quando das 11h, e após cobrir já alguns desastres fora da pauta em Lajes... “A coisa aí pelo interior do estado está muito feia e estamos estudando aqui o caso de vocês dormirem aí para visitar outros municípios”.
Olhei para minha roupa como quem olha para um companheiro de quarto. Seria ela e meu bloquinho de papel os companheiros de um verdadeiro périplo. Tive também uma lembrança saudosa da minha escova de dentes e meu desodorante. Fechei os olhos e fiquei a imaginar o filme que assistiria com minha namorada mais tarde.
Cheguei em Assu (a 220 km de Natal) umas 12 horas. A fome cavou um buraco negro no espaço sideral da minha barriga e o prefeito de Assu nem desconfiava. Levou-me a TODOS os pontos de enchente, bem distantes uns dos outros.
Quando eu já pensava em pescar algum peixe numa enxurrada qualquer, como urso atrás de salmão, o prefeito resolveu descansar. Na espera pelo almoço, senti que comeria até o braço da garçonete se demorasse mais dois minutos. Comecei a ter alucinações. Senti-me o próprio leão do filme Madagascar.
Sem possibilidades para aprofundar a situação de Assu, parti para Ipanguaçu. A coisa tava pior e apressei-me em colher todos os dados e escrever a matéria a tempo do fechamento da edição, na mesma lan house de dias atrás. Foram sete matérias escritas até procurar uma pousada na cidade e um brechó para trocar pelo menos o “fraldão”.
A pousada, na verdade, era uma casa malamanhada. Pior que bordel de beira de estrada. Muito pior, diria. O que nos envolvia não eram os braços das amistosas raparigas, mas a enchente que avançava naquela noite. Durante a madrugada, até os bombeiros enviados em caráter de emergência e também hospedados na pousada, ligaram para o prefeito pedindo ajuda.
Às 6h, senti-me um robô quando a água fria do chuveiro caiu sobre meu corpo congelado. Uma pasta emprestada e um bochecho caprichado. Metade do sabonete do banheiro foi gasto em seis sovacos sedentos: os meus e dos outros dois aventureiros da equipe de reportagem. Vestidas as mesmas roupas, partimos para o trabalho.
Fora da pousada, um cenário desolador. Bairros inteiros inundados. Após acompanhar o trabalho dos Bombeiros e a entrega das cestas básicas em um dos 30 abrigos, fui escrever, por volta das 9h. Quando estava próximo ao final, a energia na cidade caiu. Perdi tudo. Sem poder esperar, partimos para Apodi (mais uma hora de viagem). Na entrada da cidade, a surpresa: a ponte cedeu.
O cansaço já era enorme. Fechava os olhos e só via estrada e pastos enlameados. Meu cabelo, já grandinho, estava mais armado do que os membros da Farc. A textura era de um arame, e com formado de aranha em posição de ataque.
Tive a péssima idéia de ir até Umarizal (mais uma hora de viagem), município também castigado pelas chuvas. Um maracatu atômico, de certo leu as matérias do dia anterior, gritou: “É o repórter das águas”. Respondi baixinho, envergonhado após o único banho às 6h: “Só se for da falta dágua”. Eram umas 16h. Após digitar os textos e alcançar as 18h, a vez das fotos. A internet lenta demorava 10 minutos para anexar cada arquivo. Demoraríamos mais de duas horas para enviar todas.
Voltamos para Ipanguaçu e a já conhecida lan house, mais rápida, para enviar tudo. Mas, a cidade estava sem energia desde as 9h. Mais uma vez em Assu. E se fosse pouco estar dois dias com a mesma roupa, com fome, sujo e cansado e umas 2h30 distante de casa, a velocidade da internet era mais lenta que a de Umarizal. Enviamos menos fotos. A edição saiu prejudicada.
Partimos de Assu perto das 21h. No posto para abastecer, próximo ao município de Riachuelo, o frentista justificou a demora dizendo que estava lendo o DN e preocupado com os “horrores” em Ipanguaçu. Senti-me um Alfred Hitchcock do jornalismo. Depois o digníssimo, ao reconhecer o carro da reportagem, ressaltou que tinha família em Ipanguaçu. Menos mal.
Cheguei por volta das 23h30. Sem forças para o cinema ou a cerveja. E apenas com uma sensação e a lembrança do velho conselho de encarar tudo pelo lado bom: nóis sofre, mas nóis goza.
terça-feira, 1 de abril de 2008
Cinema e má educação
Somente ontem assisti o premiado com o Oscar 2008, Onde os Fracos Não Tem Vez. Um belíssimo filme. Espero ainda ver Sangue Negro para uma crítica comparativa. Mas adianto: o mais novo longa dos Irmãos Coen faz jus ao prêmio. E para justificar minha opinião sem propriedade alguma, escrevo o que vi:
Assisti personagens ricos em sentimentos. Um psicótico serial-killer (redundância?) carregado de traumas e princípios. Um “mocinho” sem princípio algum. Um xerife melancólico, e outros personagens menores também carregados de hipocrisia. Os quais eu interpretei como os “Fortes que têm vez”.
O que muitos reputaram como marca negativa, assisti de forma positiva uma mistura de gêneros: faroeste e Velho Oeste, suspense e ação e até uma pitadinha dos velhos filmes de gângsters. Engraçado que assisti, também ontem, Ajuste Final (1990) – um filmaço no estilo Gângster dos mesmos Irmãos Coen.
Assisti Javier Bardem repetir, como em Mar Adentro, uma atuação impecável. Não assisti Sombras de Goya. Dizem que o espanhol também tem excelente atuação. Embora pareçam estranhos, os diálogos de “Onde os Fracos...” são muito bons e essenciais ao roteiro do filme (coisa rara!). E o que achei melhor: não percebi nenhum apelo comercial do filme. Talvez por isso as críticas tão severas.
Mas há também os deslizes. Para um filme meio paradão, uma trilha sonora bacana ajudaria muito. Simplesmente não teve. Outra: depois da morte do mocinho que encontra uma mala cheia de dinheiro junto a traficantes de drogas mortos no deserto e decide fugir com a grana, o filme se perde um pouco. Os diretores parecem estar apressados para terminar tudo.
Nas obras literárias como em longas cinematográficas há os desfechos inesperados. Na maioria das vezes o que parece inexplicável explica muito mais; atiça a imaginação e aguça a interpretação. Coisa muito vista nos filmes de Antonioni. Não foi o caso, na minha opinião e de muitos no cinema. Acho que faltou algo. Talvez seja influência da adaptação da obra. Não sei porque não li. Mas plantou uma frustração em muitos.
A maior frustração foi minha, talvez. Já emputecido com um mesmo celular que não parava de tocar às alturas e uma moça mal educada que não só atendia como falava alto, um mala na minha frente comia alguma guloseima dentro de uma embalagem barulhenta de dar nos nervos. E olha que normalmente nem ligo pra isso. Mas ontem foi demais. Resultado: quando pensei em comentar com minha namorada a falta de bom senso alheio, terminou o filme.
Talvez por isso a frustração maior. Mas pelo que consegui “pescar”, Tommy Lee Jones, o xerife do filme, comentava um sonho que teve. Não me pareceu nada de substancial e minha concentração se voltou para o barulho da embalagem. Ainda assim arrisco dizer – embora opine que não gosto dos finais felizes dos espectadores mimados – que faltou desfecho para o excelente filme dos Coen e sobrou má educação na sala do cinema.
Assisti personagens ricos em sentimentos. Um psicótico serial-killer (redundância?) carregado de traumas e princípios. Um “mocinho” sem princípio algum. Um xerife melancólico, e outros personagens menores também carregados de hipocrisia. Os quais eu interpretei como os “Fortes que têm vez”.
O que muitos reputaram como marca negativa, assisti de forma positiva uma mistura de gêneros: faroeste e Velho Oeste, suspense e ação e até uma pitadinha dos velhos filmes de gângsters. Engraçado que assisti, também ontem, Ajuste Final (1990) – um filmaço no estilo Gângster dos mesmos Irmãos Coen.
Assisti Javier Bardem repetir, como em Mar Adentro, uma atuação impecável. Não assisti Sombras de Goya. Dizem que o espanhol também tem excelente atuação. Embora pareçam estranhos, os diálogos de “Onde os Fracos...” são muito bons e essenciais ao roteiro do filme (coisa rara!). E o que achei melhor: não percebi nenhum apelo comercial do filme. Talvez por isso as críticas tão severas.
Mas há também os deslizes. Para um filme meio paradão, uma trilha sonora bacana ajudaria muito. Simplesmente não teve. Outra: depois da morte do mocinho que encontra uma mala cheia de dinheiro junto a traficantes de drogas mortos no deserto e decide fugir com a grana, o filme se perde um pouco. Os diretores parecem estar apressados para terminar tudo.
Nas obras literárias como em longas cinematográficas há os desfechos inesperados. Na maioria das vezes o que parece inexplicável explica muito mais; atiça a imaginação e aguça a interpretação. Coisa muito vista nos filmes de Antonioni. Não foi o caso, na minha opinião e de muitos no cinema. Acho que faltou algo. Talvez seja influência da adaptação da obra. Não sei porque não li. Mas plantou uma frustração em muitos.
A maior frustração foi minha, talvez. Já emputecido com um mesmo celular que não parava de tocar às alturas e uma moça mal educada que não só atendia como falava alto, um mala na minha frente comia alguma guloseima dentro de uma embalagem barulhenta de dar nos nervos. E olha que normalmente nem ligo pra isso. Mas ontem foi demais. Resultado: quando pensei em comentar com minha namorada a falta de bom senso alheio, terminou o filme.
Talvez por isso a frustração maior. Mas pelo que consegui “pescar”, Tommy Lee Jones, o xerife do filme, comentava um sonho que teve. Não me pareceu nada de substancial e minha concentração se voltou para o barulho da embalagem. Ainda assim arrisco dizer – embora opine que não gosto dos finais felizes dos espectadores mimados – que faltou desfecho para o excelente filme dos Coen e sobrou má educação na sala do cinema.