Como não compareci ao último dia do ENE, deixo aqui a opinião abalizada do poeta Lívio Oliveira, escrita no site Substantivo Plural, do jornalista Tácito Costa:
"Maravilha: além do histórico relançamento de "Uns Fesceninos", de O. Lamartine, o ENE veio com uma fantástica tarde musical e muita Bossa Nova, com Zuza Homem de Melo, Roberto Menescal, Damião Nobre, Zé Dias, Paula Morelembaum, Nestrovski e Wisnik! Maravilha, mesmo! Depois, uma razoável conversa entre H.Hermenegildo e Cristóvão Tezza. Foi o melhor dia,disparado! O ENE (nas suas três versões) deixa muitas saudades! Dácio Galvão merece, sinceramente, ser reconhecido, não somente por esse evento, mas pela Brouhaha, pelo Goiamum Audiovisual, pela Coleção Letras Natalenses, e por várias outras razões, como um dos melhores, senão o melhor Presidente da Funcarte. Tive a honra de ter colaborado com ele em vários momentos!Inclusive, considerando que minhas críticas eventuais sempre foram e são construtivas, continuo colaborando!"
domingo, 30 de novembro de 2008
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Estréia cinematográfica
Os irmãos cineastas Joel e Ethan Coen estréiam hoje seu novo filme, Queime depois de ler. Sou fã da obra cinematográfica desses dois. Pelo menos dos filmes que vi gostei muito, como o último vencedor do Oscar, Onde os fracos não têm vez e principalmente um filme de gângster inexplicavelmente pouco comentado, chamado Ajuste Final (1990). Como afirma a matéria da agência Reuteres, os irmãos Coen gostam de investigar o lado negro do ser humano, seja da alma, do coração ou mesmo da moral (ou ausência desta). Outra de suas preferências é subverter gêneros cinematográficos. Queime depois de ler junta tudo isso, numa comédia disfarçada como filme de espionagem.
A onda é ser pop
O Encontro Natalense de Escritores (Ene) abriu ontem sua terceira e última edição. A voz da boa “vontade política” dirá se o respeitável público pagão assistirá mais um encontro de escritores, literatos, artistas e popstars. Melhor aproveitar. Amanhã, por exemplo, um encontro ou “entre-choque” de temáticas, como classificou Dácio Galvão, darão o tom das palestras. A obra de Oswaldo Lamartine – nosso Euclides da Cunha – e a Bossa Nova são as vitrines de discussão. São assuntos de realidades distantes e evidenciam o teor multifacetado do evento. Ou o leitor imagina o velho Lamartine apreciando cada nota harmônica na voz e violão de João Gilberto? Ou Menescal em conversa de cumpade com vaqueiros e aboiadores debaixo de um umbuzeiro?
A última edição do Ene chega mais amadurecido ou pelo menos mais aprimorado. Palco separado da tenda literária, diversidade de debates e, principalmente, um público mais afeito e acostumado com o evento. Uma platéia ainda pop e interessada em nomes mais palatáveis à mídia. A prova ocorreu no primeiro dia. O ex-titã e ex-tribalista Arnaldo Antunes arrastou centenas para sua palestra. Poucos sabiam, mas o cara é poeta, autor de 13 livros e, mesmo com seus escritos de qualidade contestada, foi agraciado com o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1993. Mas na tenda literária precisou cantar e balançar as perninhas mesmo sentado, falar de Titãs, Marisa Monte e muita música. É o que interessa. É o pop.
Bastou o encontro de Arnaldo Antunes terminar e o público se esvaiu. Machado de Assis e Seus Amigos, o imortal poeta Diógenes da Cunha Lima e o intelectual e figura renomada do meio literário Antônio Carlos Secchin, ainda tentaram gritar: “Vamos discutir a obra do maior escritor brasileiro, no ano nacional em sua homenagem!”. Tudo em vão. É o público mulato que preferiu aguardar do lado de fora o show do popstar Arnaldo Antunes. O ex-titã privou os jornalistas de sua palavra falada. Não concedeu uma entrevista sequer. Nem por insistência. Preferiu a companhia dos seguranças e da Produção Protetora dos Artistas Vips (Pav).
Do lado de fora, o público ávido. O público mulato. Nosso poeta do baobá afirmou que estamos no “século mulato”. O passado foi um século hitlerariano, de culto à raça branca, considerada a “raça pura”. “Por isso foram assassinados milhões de pessoas. Veja que o país mais preconceituoso do mundo elegeu um mulato (Obama, o salvador do mundo). Ele é filho de um pai branco e mãe negra, como a maioria dos brasileiros; como Machado de Assis. Machado foi um escritor pop na medida em que atingiu a genialidade”, disse Diógenes. Então, ser genial também é ser pop. Claro. Mas, o que é ser genial? O público talvez saiba a resposta e preencheu o largo do Teatro Alberto Maranhão para assistir o performático Arnaldo Antunes.
Show
É curioso essa coisa de ser pop. Muito mesmo. Se o cara é reconhecido pela música e menos pela poesia, conseguiu animar mais a platéia na tenda literária do que no show. Talvez seja o estilo, a letra pouco melódica da música do ex-titã. Uma inflexão peculiar de música falada pouco vista. Talvez com registros similares em Noel Rosa. Mas que de fato deixou o público a ver poesia musicada e menos cantada. O único ensaio de animação emergiu quando da música da época-titã, com uma versão de Não Vou Me Adaptar, ou com um de seus maiores sucessos-solo, Socorro, que diz: “Socorro não estou sentindo nada; nem medo, nem calor, nem fogo; não vai dar mais pra chorar, nem pra rir”.
Pois é. Coisa de Arnaldo Antunes; de quem é considerado o último dos poetas roqueiros, depois de Renato Russo e Cazuza. Coisa de quem é genial, poeta e popstar ao mesmo tempo. E hoje teremos uma mostra do estilo musical mais emblemático e representativo da chamada Música POPular Brasileira: a Bossa Nova. Teremos um dos fundadores do estilo: Menescal, e uma belíssima representante da nova geração, Paula Morelembaum, e os maiores estudiosos do assunto, como Zuza Homem e José Miguel Wisnik. Coisa boa de se ver.
Reitero o convite: é bom aproveitar. O titular da Capitania das Artes, Dácio Galvão, foi quem disse o que é preciso para manter um evento como o Ene: “Vontade política”. E explica: “Um evento como esse não é um produto de resultado político de fácil manipulação. Quem participa é um público de opiniões alicerçadas. Se há uma forma de montagem, é algo que atenda às várias concreções e congregue públicos diversos”. A despeito das reivindicações de uma temática voltada à literatura infantil, Dácio afirmou que teve a intenção de promover um “Eninho”, inclusive com a presença do convidado de ontem e vencedor do Prêmio Jabuti de literatura infantil, Inácio de Loyola Brandão. “Mas faltou grana”, disse Dácio.
O prefeito Carlos Eduardo esteve reunido há algumas semanas com a prefeita eleita Micarla de Sousa para discutir a transição de governo. Perguntado a respeito do que foi falado no âmbito cultural, notadamente da possibilidade da manutenção do Ene, o prefeito foi categórico: “Nada me foi perguntado”.
A última edição do Ene chega mais amadurecido ou pelo menos mais aprimorado. Palco separado da tenda literária, diversidade de debates e, principalmente, um público mais afeito e acostumado com o evento. Uma platéia ainda pop e interessada em nomes mais palatáveis à mídia. A prova ocorreu no primeiro dia. O ex-titã e ex-tribalista Arnaldo Antunes arrastou centenas para sua palestra. Poucos sabiam, mas o cara é poeta, autor de 13 livros e, mesmo com seus escritos de qualidade contestada, foi agraciado com o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1993. Mas na tenda literária precisou cantar e balançar as perninhas mesmo sentado, falar de Titãs, Marisa Monte e muita música. É o que interessa. É o pop.
Bastou o encontro de Arnaldo Antunes terminar e o público se esvaiu. Machado de Assis e Seus Amigos, o imortal poeta Diógenes da Cunha Lima e o intelectual e figura renomada do meio literário Antônio Carlos Secchin, ainda tentaram gritar: “Vamos discutir a obra do maior escritor brasileiro, no ano nacional em sua homenagem!”. Tudo em vão. É o público mulato que preferiu aguardar do lado de fora o show do popstar Arnaldo Antunes. O ex-titã privou os jornalistas de sua palavra falada. Não concedeu uma entrevista sequer. Nem por insistência. Preferiu a companhia dos seguranças e da Produção Protetora dos Artistas Vips (Pav).
Do lado de fora, o público ávido. O público mulato. Nosso poeta do baobá afirmou que estamos no “século mulato”. O passado foi um século hitlerariano, de culto à raça branca, considerada a “raça pura”. “Por isso foram assassinados milhões de pessoas. Veja que o país mais preconceituoso do mundo elegeu um mulato (Obama, o salvador do mundo). Ele é filho de um pai branco e mãe negra, como a maioria dos brasileiros; como Machado de Assis. Machado foi um escritor pop na medida em que atingiu a genialidade”, disse Diógenes. Então, ser genial também é ser pop. Claro. Mas, o que é ser genial? O público talvez saiba a resposta e preencheu o largo do Teatro Alberto Maranhão para assistir o performático Arnaldo Antunes.
Show
É curioso essa coisa de ser pop. Muito mesmo. Se o cara é reconhecido pela música e menos pela poesia, conseguiu animar mais a platéia na tenda literária do que no show. Talvez seja o estilo, a letra pouco melódica da música do ex-titã. Uma inflexão peculiar de música falada pouco vista. Talvez com registros similares em Noel Rosa. Mas que de fato deixou o público a ver poesia musicada e menos cantada. O único ensaio de animação emergiu quando da música da época-titã, com uma versão de Não Vou Me Adaptar, ou com um de seus maiores sucessos-solo, Socorro, que diz: “Socorro não estou sentindo nada; nem medo, nem calor, nem fogo; não vai dar mais pra chorar, nem pra rir”.
Pois é. Coisa de Arnaldo Antunes; de quem é considerado o último dos poetas roqueiros, depois de Renato Russo e Cazuza. Coisa de quem é genial, poeta e popstar ao mesmo tempo. E hoje teremos uma mostra do estilo musical mais emblemático e representativo da chamada Música POPular Brasileira: a Bossa Nova. Teremos um dos fundadores do estilo: Menescal, e uma belíssima representante da nova geração, Paula Morelembaum, e os maiores estudiosos do assunto, como Zuza Homem e José Miguel Wisnik. Coisa boa de se ver.
Reitero o convite: é bom aproveitar. O titular da Capitania das Artes, Dácio Galvão, foi quem disse o que é preciso para manter um evento como o Ene: “Vontade política”. E explica: “Um evento como esse não é um produto de resultado político de fácil manipulação. Quem participa é um público de opiniões alicerçadas. Se há uma forma de montagem, é algo que atenda às várias concreções e congregue públicos diversos”. A despeito das reivindicações de uma temática voltada à literatura infantil, Dácio afirmou que teve a intenção de promover um “Eninho”, inclusive com a presença do convidado de ontem e vencedor do Prêmio Jabuti de literatura infantil, Inácio de Loyola Brandão. “Mas faltou grana”, disse Dácio.
O prefeito Carlos Eduardo esteve reunido há algumas semanas com a prefeita eleita Micarla de Sousa para discutir a transição de governo. Perguntado a respeito do que foi falado no âmbito cultural, notadamente da possibilidade da manutenção do Ene, o prefeito foi categórico: “Nada me foi perguntado”.
E o vento levou
Antes de postar minhas impressões a respeito do primeiro dia do Ene, uma notícia curiosa: eu já vi e senti alguns sinais de velhice, mas nenhum comparado com a notícia que acabo de ler. Saiu o último número da série que mostra a turma da Mônica - aquele grupo de personagens criados por Mauricio de Sousa - na adolescência e mostrará o primeiro beijo de Mônica e Cebola. Isso mesmo. A Mônica já não segura seu coelhinho e agora quer beijar o agora Cebola, sem diminutivos. Não bastasse ver a figura de Mônica em desenho meio mangá, com os dentes mais comportados, ares adolescentes e agora assumindo a postura moderna, descolada da mulher que toma a iniciativa, ainda vejo um Cebola acanhado, rosto mais magro e cabelo mais penteado. Os tempos passam, voam. Sequer ouço falar mais da poupança Bamerindos, aquela que continuava numa boa. Ah, meus vinte anos de boy. Thats over, baby. Freud explica (?).
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Washington Novaes
O jornalista, escritor e documentarista Washington Novaes é a imagem pura do aspecto reflexivo do jornalismo. Não só por ser referência na cobertura de um campo que também exige maior atenção, mas pelo aprofundamento e “antevisão” do fato. Novaes é hoje um dos pioneiros e, com certeza, o maior destaque do jornalismo ambiental no Brasil. São reclamações dele a falta de cobertura da mídia para os desdobramentos cotidianos das questões ecológicas e da biodiversidade. Um de seus trabalhos mais aclamados – o documentário Xingu: terra ameaçada – é a prova material da necessidade de acompanhamento dos fatos. O vídeo foi originado a partir de um livro-reportagem escrito pelo jornalista e mostra o massacre da comunidade indígena na ilha do Xingu após mais de duas décadas de abandono, que separaram, também, os lançamentos do livro e do documentário.
Se é necessário considerar experiências anteriores para estabelecer parâmetros de cobertura jornalística, Washington Novaes é esta referência quando o assunto é meio ambiente. O jornalista, hoje aos 74 anos, já recebeu cinco prêmios nacionais renomados, como o Prêmio Esso Especial de Ecologia e Meio Ambiente e sete premiações internacionais, também por matérias e documentários relacionados às questões ambientais, como o Prêmio Unesco de Meio Ambiente, em 2004. Já foi repórter, editor, diretor ou colunista em várias das principais publicações brasileiras como Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Última Hora, Correio da Manhã, Veja e Visão. Atualmente é colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Popular (de Goiânia, onde vive). Na televisão, foi durante sete anos editor-chefe do Globo Repórter e editor do Jornal Nacional, da Rede Globo.
Washington Novaes fará parte de uma mesa literária no segundo dia do Encontro Natalense de Escritores (ENE) para discutir a questão do meio ambiente a partir da obra literária Não verás país nenhum, escrita há 27 anos pelo premiado escritor Inácio de Loyola Brandão. O próprio escritor fará dupla com o jornalista na tenda literária. O livro de Inácio de Loyola romanceia uma São Paulo hipotética e caótica através da visão do personagem Souza: uma “antevisão fantástica” do escritor; um prenúncio dos dias que virão, segundo o próprio Novaes afirma nesta entrevista a seguir:
A hipotética São Paulo de 27 anos atrás romanceada no livro de Inácio Loyola Brandão, se assemelha a São Paulo de hoje?
Cada vez mais caminha para a ficção dele. Mas a ficção ainda é mais forte do que a realidade. Mas veja que o livro foi escrito há 27 anos. Inácio de Loyola teve uma antevisão fantástica dos caminhos que temos seguido: o da aglomeração urbana, do consumo insustentável... Os artistas são uma espécie de antena da raça: conseguem enxergar mais à frente que outros.
O senhor ingressou muito cedo como jornalista na temática da ecologia, do meio ambiente e hoje é referência no assunto. Foi um vislumbre ou antevisão, como citou agora, ou o senhor enxergou apenas um ramo ainda inexplorado no jornalismo?
Tanto na vida como na profissão de jornalista aprendi que não há ação humana que não cause impacto no meio físico e, conseqüentemente, sobre outros seres. Então, é impossível tratar de qualquer assunto sem observar esse impacto. Muito jovem fui estudante de direito, depois ingressei no jornalismo e durante este tempo sempre acentuei essa visão. Acho que a comunicação tem separado muito as questões ambientais dos assuntos econômicos ou políticos, por exemplo. No entanto, eles estão juntos; não tem como separar.
Então a mídia tem abordado o tema das questões ambientais de forma errada?
Digamos que trata de uma maneira que não acho boa. Claro, há exceções. Mas em geral acaba sendo prejudicial porque impede que se veja os impactos das políticas econômicas. A mídia parece preparada apenas para cobrir grandes catástrofes e mostrar emoções, quando deveria acompanhar sistematicamente o assunto. O dia-a-dia é o que leva às conseqüências negativas. Um exemplo é o caso recente dos soterramentos e mortes em Santa Catarina. Ocuparam durante muito tempo áreas de preservação inadequadas para moradia ou construções. As inundações que ocorrem são decorrentes de construções de prédios e casas nas planícies nativas de inundações dos rios. Eles ficam sem poder desaguar, se expandir. Afora os assoreamentos. E estamos no momento de mudanças do clima, em que há precipitações em quantidades brutais. Então, tudo isso deve ser levado em conta diariamente.
O senhor é sistematizador da Agenda 21 Brasileira, que poderia tratar, também, destes assuntos levantados acima. A Agenda tem sido cumprida?
A Agenda é um conjunto de estratégias prioritárias que continua no papel, ou se fez muito pouco. O porquê? Exige-se, antes, que se mude a visão da realidade e da política. Essa mudança tem que partir do cotidiano até ser levada ao campo administrativo e político para algo acontecer. E a política continua sendo feita da forma tradicional, com a mesma visão retrógrada de antigamente.
Uma parte considerável do trabalho realizado pelo senhor, como também do antropólogo Darcy Ribeiro nessas décadas de jornalismo ambiental tratou da causa indígena. Um dos resultados foi o livro-reportagem Xingu: uma flecha atravessada no coração, que originou o documentário Xingu: terra ameaçada. O senhor se sente gratificado de alguma forma por esse trabalho, seja pela repercussão ou pelos desdobramentos em prol da sociedade indígena?
Do ponto de vista pessoal valeu a pena porque mudou a minha visão da realidade; pude conviver com uma cultura admirável sob muitos aspectos. Mas não creio que tenha modificado as políticas voltadas aos povos indígenas, que continuam sendo massacrados. A repercussão tanto do livro quando do documentário foi grande, mas infelizmente não se traduziu em nada concreto para a sociedade indígena. Hoje, o Xingu se encontra numa ilha cercada de soja e pecuária, de recursos e serviços culturais de valores extraordinários, mas não há nenhuma proteção. Um lugar que deveria ser tombado como patrimônio cultural, social e ambiental da humanidade. Quanto ao trabalho do Darcy Ribeiro, também em nada resultou. Mas a culpa é de quem deveria refletir sobre a obra admirável de Darcy e procurar resolver alguma coisa.
Se é necessário considerar experiências anteriores para estabelecer parâmetros de cobertura jornalística, Washington Novaes é esta referência quando o assunto é meio ambiente. O jornalista, hoje aos 74 anos, já recebeu cinco prêmios nacionais renomados, como o Prêmio Esso Especial de Ecologia e Meio Ambiente e sete premiações internacionais, também por matérias e documentários relacionados às questões ambientais, como o Prêmio Unesco de Meio Ambiente, em 2004. Já foi repórter, editor, diretor ou colunista em várias das principais publicações brasileiras como Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Última Hora, Correio da Manhã, Veja e Visão. Atualmente é colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Popular (de Goiânia, onde vive). Na televisão, foi durante sete anos editor-chefe do Globo Repórter e editor do Jornal Nacional, da Rede Globo.
Washington Novaes fará parte de uma mesa literária no segundo dia do Encontro Natalense de Escritores (ENE) para discutir a questão do meio ambiente a partir da obra literária Não verás país nenhum, escrita há 27 anos pelo premiado escritor Inácio de Loyola Brandão. O próprio escritor fará dupla com o jornalista na tenda literária. O livro de Inácio de Loyola romanceia uma São Paulo hipotética e caótica através da visão do personagem Souza: uma “antevisão fantástica” do escritor; um prenúncio dos dias que virão, segundo o próprio Novaes afirma nesta entrevista a seguir:
A hipotética São Paulo de 27 anos atrás romanceada no livro de Inácio Loyola Brandão, se assemelha a São Paulo de hoje?
Cada vez mais caminha para a ficção dele. Mas a ficção ainda é mais forte do que a realidade. Mas veja que o livro foi escrito há 27 anos. Inácio de Loyola teve uma antevisão fantástica dos caminhos que temos seguido: o da aglomeração urbana, do consumo insustentável... Os artistas são uma espécie de antena da raça: conseguem enxergar mais à frente que outros.
O senhor ingressou muito cedo como jornalista na temática da ecologia, do meio ambiente e hoje é referência no assunto. Foi um vislumbre ou antevisão, como citou agora, ou o senhor enxergou apenas um ramo ainda inexplorado no jornalismo?
Tanto na vida como na profissão de jornalista aprendi que não há ação humana que não cause impacto no meio físico e, conseqüentemente, sobre outros seres. Então, é impossível tratar de qualquer assunto sem observar esse impacto. Muito jovem fui estudante de direito, depois ingressei no jornalismo e durante este tempo sempre acentuei essa visão. Acho que a comunicação tem separado muito as questões ambientais dos assuntos econômicos ou políticos, por exemplo. No entanto, eles estão juntos; não tem como separar.
Então a mídia tem abordado o tema das questões ambientais de forma errada?
Digamos que trata de uma maneira que não acho boa. Claro, há exceções. Mas em geral acaba sendo prejudicial porque impede que se veja os impactos das políticas econômicas. A mídia parece preparada apenas para cobrir grandes catástrofes e mostrar emoções, quando deveria acompanhar sistematicamente o assunto. O dia-a-dia é o que leva às conseqüências negativas. Um exemplo é o caso recente dos soterramentos e mortes em Santa Catarina. Ocuparam durante muito tempo áreas de preservação inadequadas para moradia ou construções. As inundações que ocorrem são decorrentes de construções de prédios e casas nas planícies nativas de inundações dos rios. Eles ficam sem poder desaguar, se expandir. Afora os assoreamentos. E estamos no momento de mudanças do clima, em que há precipitações em quantidades brutais. Então, tudo isso deve ser levado em conta diariamente.
O senhor é sistematizador da Agenda 21 Brasileira, que poderia tratar, também, destes assuntos levantados acima. A Agenda tem sido cumprida?
A Agenda é um conjunto de estratégias prioritárias que continua no papel, ou se fez muito pouco. O porquê? Exige-se, antes, que se mude a visão da realidade e da política. Essa mudança tem que partir do cotidiano até ser levada ao campo administrativo e político para algo acontecer. E a política continua sendo feita da forma tradicional, com a mesma visão retrógrada de antigamente.
Uma parte considerável do trabalho realizado pelo senhor, como também do antropólogo Darcy Ribeiro nessas décadas de jornalismo ambiental tratou da causa indígena. Um dos resultados foi o livro-reportagem Xingu: uma flecha atravessada no coração, que originou o documentário Xingu: terra ameaçada. O senhor se sente gratificado de alguma forma por esse trabalho, seja pela repercussão ou pelos desdobramentos em prol da sociedade indígena?
Do ponto de vista pessoal valeu a pena porque mudou a minha visão da realidade; pude conviver com uma cultura admirável sob muitos aspectos. Mas não creio que tenha modificado as políticas voltadas aos povos indígenas, que continuam sendo massacrados. A repercussão tanto do livro quando do documentário foi grande, mas infelizmente não se traduziu em nada concreto para a sociedade indígena. Hoje, o Xingu se encontra numa ilha cercada de soja e pecuária, de recursos e serviços culturais de valores extraordinários, mas não há nenhuma proteção. Um lugar que deveria ser tombado como patrimônio cultural, social e ambiental da humanidade. Quanto ao trabalho do Darcy Ribeiro, também em nada resultou. Mas a culpa é de quem deveria refletir sobre a obra admirável de Darcy e procurar resolver alguma coisa.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Reacionários do Beco
Soube que meu nome tem sido blasfemado por algumas figuras caricatas do Beco da Lama em função de um texto que publiquei aqui e também na coluna que escrevo no Diário de Natal, intitulado Ponto de Cultura dá Samba. Os xingamentos se escondem em uma lista de discussão privada de membros do Beco. E pasme: no texto afirmo meramente que é estranho tanto interesse de alguns becolamenses em disputar a presidência da Samba, a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, justo agora que concorre à verba de R$ 180 mil financiado pelo programa de Pontos de Cultura do Governo Federal, em parceria com o Governo Estadual.
Diga-me, amigo leitor, se escrevi algo errado ou passivo de discórdia? Diga-me se eu preciso ser frequentador assíduo daqueles chãos históricos para desconfiar - sem acusar - do fato? De reacionários o inferno está cheio. Não os temo. Nem os acuso, na verdade. Apenas levantei o tema para que fiquem cientes de que há pessoas atentas ao que ocorre na cultura natalense. Na verdade, torço para que a ânsia pelo posto seja para reverter a verba em benefícios para o Beco. O mesmo Beco do qual, mesmo sem frequentar assiduamente, tenho levado à mídia, sempre com notas e comentários elogiosos, como a divulgação do Festival Gastronômico, publicado ontem mesmo.
Guardo boas amizades dali e tenho meu apreço peculiar pelo lugar; uma empatia minha. Não preciso me filiar a Sociedades, grupinhos ou coisa parecida, embora ressalte a importância dessa união. Continuarei a divulgar os eventos, causos e fatos sem pedir nada em troca, sequer reconhecimento. E mais: vou beber minha cerveja lá quando der na telha. E abraço a quem for da família.
Diga-me, amigo leitor, se escrevi algo errado ou passivo de discórdia? Diga-me se eu preciso ser frequentador assíduo daqueles chãos históricos para desconfiar - sem acusar - do fato? De reacionários o inferno está cheio. Não os temo. Nem os acuso, na verdade. Apenas levantei o tema para que fiquem cientes de que há pessoas atentas ao que ocorre na cultura natalense. Na verdade, torço para que a ânsia pelo posto seja para reverter a verba em benefícios para o Beco. O mesmo Beco do qual, mesmo sem frequentar assiduamente, tenho levado à mídia, sempre com notas e comentários elogiosos, como a divulgação do Festival Gastronômico, publicado ontem mesmo.
Guardo boas amizades dali e tenho meu apreço peculiar pelo lugar; uma empatia minha. Não preciso me filiar a Sociedades, grupinhos ou coisa parecida, embora ressalte a importância dessa união. Continuarei a divulgar os eventos, causos e fatos sem pedir nada em troca, sequer reconhecimento. E mais: vou beber minha cerveja lá quando der na telha. E abraço a quem for da família.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Ainda o ENE
Algumas pessoas têm me perguntado a respeito da presença ou não da galera do Cordel do Fogo Encantado no show de sábado do ENE, como consta na programação que divulguei aqui ontem. Essa programação me foi passada pela assessoria do evento antecipadamente para que eu pudesse me inteirar dos participantes e mesas temáticas para realizar algumas entrevistas. Então, estava sujeita a modificações. Só hoje foi divulgada pra imprensa e, para minha surpresa, houve a subtração do show do Cordel, infelizmente. Mas fica o Arnaldo Antunes e o tributo ao seu Angenor de Oliveira, que deve ser uma maravilha. E não esqueçamos que a penúltima palestra de sábado será uma aula-show da qual participa a excelente Paula Morelembaum. E será que um dos fundadores da Bossa Nova, Roberto Menescal, também debatedor da noite não poderia dar uma cancha? Bom, passei hoje em frente à Praça Augusto Severo e a estrutura ainda estava sendo montada, mas me parece mais adequada a receber um público maior para os shows. Vamos esperar. Pode ser despedida!
De butecos
Sinto falta dos bons butecos de antigamente. Butecos escritos com “u” mesmo, e sem pedir licença poética à língua portuguesa porque buteco que é buteco se impõe como instituição cultural sem desejar a alcunha. Pergunte ao Vinícius. Daquele, uma simples discussão a respeito da alma feminina virava poemúsica. E o poetinha sabia onde achar a melodia certa da amizade em um bom buteco: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.
Sinto, sinto, sim, falta de um roteiro lírico e sentimental para as manhãs dominicais ou para um encontro com amigos em horário marcado, agendado com a hora da sombra. Um cantinho afetuoso onde o garçom traz o de sempre sem perguntar; uma mesa com o time completo ou no máximo um ou outro contundido pela ressaca do dia anterior; de onde brotem causos e causas, filosofias e teorias de “butiquin” que costumam salvar a vida do perigo da realidade crua, porque butecos são também palcos da alegria ilusória e necessária.
Mas, o que é buteco? Não cabe descrição objetiva. É a mulher que você olha e se apaixona pelo simples jeito de caminhar. Você se casa, a paixão dura alguns anos até virar amor, companheirismo. Os mais simplistas defendem a idéia de que buteco precisa de banheiro, cerveja gelada e pronto. Nem oito nem oitenta. E nem quarenta. Pode ser um vinte e seis ou um cinqüenta e oito. Ora, não precisa mulher de peito, bunda e pronto. Carece do charme; de uma pintinha no rosto; e algumas estrias. Buteco perfeito é bar.
Butecos são saraus de discussão. É um passeio lírico e informal pelas reminiscências banais e sentimentais de aqui e alhures. Ali moram poetas sem poesia; cineastas sem filmes e boêmios os mais autênticos. Moram porque viver é morar; é exercer a arte do encontro recomendada por Vinícius. E os butecos têm sempre o tapete vermelho estendido aos profetas ébrios e especialistas de toda sorte. É o corredor por onde passam anônimos e antônimos.
É disso que sinto falta em Natal. Ainda se vê um ou outro buteco acolhedor no Centro Histórico, Ribeira, Redinha ou tomados por uma freguesia já dona do lugar, mas nenhum como extensão da minha varanda; um cantinho-refúgio, longe da sujeira invisível, gordurenta e hipócrita dos bares da vida.
Sinto, sinto, sim, falta de um roteiro lírico e sentimental para as manhãs dominicais ou para um encontro com amigos em horário marcado, agendado com a hora da sombra. Um cantinho afetuoso onde o garçom traz o de sempre sem perguntar; uma mesa com o time completo ou no máximo um ou outro contundido pela ressaca do dia anterior; de onde brotem causos e causas, filosofias e teorias de “butiquin” que costumam salvar a vida do perigo da realidade crua, porque butecos são também palcos da alegria ilusória e necessária.
Mas, o que é buteco? Não cabe descrição objetiva. É a mulher que você olha e se apaixona pelo simples jeito de caminhar. Você se casa, a paixão dura alguns anos até virar amor, companheirismo. Os mais simplistas defendem a idéia de que buteco precisa de banheiro, cerveja gelada e pronto. Nem oito nem oitenta. E nem quarenta. Pode ser um vinte e seis ou um cinqüenta e oito. Ora, não precisa mulher de peito, bunda e pronto. Carece do charme; de uma pintinha no rosto; e algumas estrias. Buteco perfeito é bar.
Butecos são saraus de discussão. É um passeio lírico e informal pelas reminiscências banais e sentimentais de aqui e alhures. Ali moram poetas sem poesia; cineastas sem filmes e boêmios os mais autênticos. Moram porque viver é morar; é exercer a arte do encontro recomendada por Vinícius. E os butecos têm sempre o tapete vermelho estendido aos profetas ébrios e especialistas de toda sorte. É o corredor por onde passam anônimos e antônimos.
É disso que sinto falta em Natal. Ainda se vê um ou outro buteco acolhedor no Centro Histórico, Ribeira, Redinha ou tomados por uma freguesia já dona do lugar, mas nenhum como extensão da minha varanda; um cantinho-refúgio, longe da sujeira invisível, gordurenta e hipócrita dos bares da vida.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Programação para logo mais
Duas apresentações distintas para agradar diferentes tribos. No Teatro Alberto Maranhão a Orquestra Sinfônica do RN divide o palco com a Jerimum Jazz Band e um Power Trio formado por Paulo César Vitor (piano), Airton Guimarães (contrabaixo acústico) e Fidja Novaes (bateria). A idéia é apresentar um repertório onde teremos clássicos como a Rapsódia em Blue, de George Gershwin, a abertura de West Side History, de Leonard Bersntein e um suntuoso arranjo de melodias da Bossa Nova chamado “Momentos em Bossa”, do pianista Rafael dos Santos. A regência desse concerto estará a cargo do Maestro André Muniz. O concerto começa às 20h. Ingressos na bilheteria do TAM, ao custo de R$10,00 (inteira). Quem preferir, no Sgt Peppers de Petrópolis (o de Ponta Negra fechou?) recebe o som do blues do Mad Dogs, dentro do projeto Terça Peppers, em que cada semana o pub recebe uma banda nova. É isso.
Programação do ENE
O Encontro Natalense de Escritores começa esta quinta-feira, na Praça Augusto Severo, Ribeira. Segue a programação:
QUINTA-FEIRA
16h – Tenda Literária – Do Conto à Poesia
Convidados: Chico Mattoso, Silvério Pessoa, Nicolas Behr e Napoleão Paiva (moderador)
17h30 – Tenda Literária – Trio: Machado de Assis e Seus Amigos
Convidados: Antônio Carlos Secchi e Murilo Mello Filho (entrevistador)
19h – Tenda Literária – Encontro Marcado, com Arnaldo Antunes
20h30 – Tenda Literária - Uma Biografia em Construção
Convidados: José Sarney e Diógneses da Cunha Lima (entrevistador)
22h10 – Show de Arnaldo Antunes
SEXTA-FEIRA
16h – Tenda Literária – Palavra Escrita, Palavra Cantada
Convidados: Abel Silva, Alex Nascimento, Antônio Ronaldo e Eduardo Gosson (moderador)
17h30 – Tenda Literária – O Escritor Editor: Conversas Sobre o Jornalismo Literário Brasileiro
Convidados: João Gabriel de Lima, Homero Fonseca, Moacir Amâncio e Alex de Souza (moderador)
19h – Tenda Literária – O Nordeste na Literatura Brasileira
Convidados: Carlos Heitor Cony e Tarcísio Gurgel (entrevistador)
20h30 – Tenda Literária – Ficção e Realidade em Não Verás País Nenhum
Convidados: Washington Novaes e Inácio de Loylola Brandão
22h – Show Tributo a Cartola
SÁBADO
16h – Tenda Literária – Oswaldo Lamartine: Ofício e Estilo de um Registrador de Coisas
Convidados: Carlos Newton Jr, Antônio Naud Júnior e Woden Madruga (moderador)
17h30 – Tenda Literária – O Desenho Rítimico da Bossa Nova
Convidados: Zuza Homem de Mello, Roberto Menescal, Zé Dias e Carlos Piru
19h – Tenda Literária –Vinícius: Palavra e Música
Convidados: José Miguel Wisnik, Arthur Nestroviski e Paula Morelembaum
20h30 – Tenda Literária – Um Romancista Nato
Convidados: Cristóvão Tezza e Humberto Hermenegildo
22h30 – Show do Cordel do Fogo Encantado
* Em cada dia haverá ainda o Espaço Livro e lançamentos literários diversos.
QUINTA-FEIRA
16h – Tenda Literária – Do Conto à Poesia
Convidados: Chico Mattoso, Silvério Pessoa, Nicolas Behr e Napoleão Paiva (moderador)
17h30 – Tenda Literária – Trio: Machado de Assis e Seus Amigos
Convidados: Antônio Carlos Secchi e Murilo Mello Filho (entrevistador)
19h – Tenda Literária – Encontro Marcado, com Arnaldo Antunes
20h30 – Tenda Literária - Uma Biografia em Construção
Convidados: José Sarney e Diógneses da Cunha Lima (entrevistador)
22h10 – Show de Arnaldo Antunes
SEXTA-FEIRA
16h – Tenda Literária – Palavra Escrita, Palavra Cantada
Convidados: Abel Silva, Alex Nascimento, Antônio Ronaldo e Eduardo Gosson (moderador)
17h30 – Tenda Literária – O Escritor Editor: Conversas Sobre o Jornalismo Literário Brasileiro
Convidados: João Gabriel de Lima, Homero Fonseca, Moacir Amâncio e Alex de Souza (moderador)
19h – Tenda Literária – O Nordeste na Literatura Brasileira
Convidados: Carlos Heitor Cony e Tarcísio Gurgel (entrevistador)
20h30 – Tenda Literária – Ficção e Realidade em Não Verás País Nenhum
Convidados: Washington Novaes e Inácio de Loylola Brandão
22h – Show Tributo a Cartola
SÁBADO
16h – Tenda Literária – Oswaldo Lamartine: Ofício e Estilo de um Registrador de Coisas
Convidados: Carlos Newton Jr, Antônio Naud Júnior e Woden Madruga (moderador)
17h30 – Tenda Literária – O Desenho Rítimico da Bossa Nova
Convidados: Zuza Homem de Mello, Roberto Menescal, Zé Dias e Carlos Piru
19h – Tenda Literária –Vinícius: Palavra e Música
Convidados: José Miguel Wisnik, Arthur Nestroviski e Paula Morelembaum
20h30 – Tenda Literária – Um Romancista Nato
Convidados: Cristóvão Tezza e Humberto Hermenegildo
22h30 – Show do Cordel do Fogo Encantado
* Em cada dia haverá ainda o Espaço Livro e lançamentos literários diversos.
domingo, 23 de novembro de 2008
Cinema hoje a R$ 2
O Cineclube Natal, em parceria com o Teatro de Cultura Popular (Rua Jundiaí, Tirol), tem o prazer de apresentar dentro do Projeto Cinevanguarda, o clássico Pacto de Sangue, um dos filmes mais festejados do diretor Billy Wilder ("Quanto Mais Quente Melhor", "Se Meu Apartamento Falasse", dentre outros). A sessão é exibida hoje. Começa às usuais 17h e a entrada custa a pechincha de R$ 2,00.
Considerado uma referência do estilo noir, Pacto de Sangue, cuja estória é baseada no livro Three of a Kind, de James M. Cain, consiste num sarcástico, engenhoso e sórdido 'thriller' sobre adultério, corrupção e assassinato. A história teve por base um crime ocorrido em março de 1927, em Nova York, perpetrado pela dona-de-casa Ruth Snyder e por seu amante, Judd Gray, um vendedor de 32 anos.
No filme, o agente de seguros Walter Neff conhece a atraente (e casada) Phyllis Dietrichson durante uma visita de trabalho. Eles logo se apaixonam e Phyllis o convence a elaborar um plano para assassinar seu marido, depois deste fazer um seguro de acidente pessoal. Indicado a 7 Oscar, incluindo melhor filme e atriz; Pacto de Sangue conta ainda com a presença da femme fatale Barbara Stanwyck.
Considerado uma referência do estilo noir, Pacto de Sangue, cuja estória é baseada no livro Three of a Kind, de James M. Cain, consiste num sarcástico, engenhoso e sórdido 'thriller' sobre adultério, corrupção e assassinato. A história teve por base um crime ocorrido em março de 1927, em Nova York, perpetrado pela dona-de-casa Ruth Snyder e por seu amante, Judd Gray, um vendedor de 32 anos.
No filme, o agente de seguros Walter Neff conhece a atraente (e casada) Phyllis Dietrichson durante uma visita de trabalho. Eles logo se apaixonam e Phyllis o convence a elaborar um plano para assassinar seu marido, depois deste fazer um seguro de acidente pessoal. Indicado a 7 Oscar, incluindo melhor filme e atriz; Pacto de Sangue conta ainda com a presença da femme fatale Barbara Stanwyck.
sábado, 22 de novembro de 2008
Pratodomundo
Começa hoje o 5º Festival de Gastronomia do Beco da Lama - o Pratodomundo. A programação começa às 16h, com participação de dezenas de restaurantes e botecos daquele pedaço tradicional e boêmio da cidade, e conta ainda com exposições de artes plásticas, música e mostra de cinema. As atrações musicais de hoje são a banda Du Souto e a Orquestra Boca Seca. O Pratodomundo acontece todo sábado, até 6 de dezembro, quando tem início o Carnabeco - um contraponto ao carnatal, com bandinha de frevo e sem cordas separatistas. É isso.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Divagações
O tempo devora a vida sem nada entregar de volta. Escrevo isso a esta hora da noite porque olho para o resto de dia e vejo que nada fiz de produtivo. Acordei mais tarde do que o costume. A gripe forte tem me deixado sem vontade pra nada. Pensei forçar a ida à natação diária. Desisti. Pedi licença do trabalho para melhor repouso. Ensaiei assistir O Encouraçado Potekin, há umas três semanas encostado na estante, e o sono bateu. Resisti e fui tentar ler o resto de um livro para iniciar logo minha cara aquisição: Moby Dick. O sono também atrapalhou. Nessa estado mórbido passei o dia. Assiti muita TV: o pior dos transes hipnóticos.
Li certa vez uma passagem de Nietzsche que me deixou teso. O filósofo alemão dizia que é preciso morrer no momento certo. Acredito que o niilista de bigode quis dizer o que muitos esbravejam como “carpe diem”, mas com um sentido um pouco mais profundo: ele deseja que você evite que a vida lhe consuma, mas que você encontre a sua vida por suas próprias escolhas. É mais ou menos como fugir do convencional do modo de vida da família burguesa e procurar o que você realmente deseja. Do contrário, a morte sempre vai lhe apavorar como uma sombra. Me veio à mente essa teoria hoje, não sei bem o motivo. Por certo fui engolido pelo furacão do cotidiano banal.
Li certa vez uma passagem de Nietzsche que me deixou teso. O filósofo alemão dizia que é preciso morrer no momento certo. Acredito que o niilista de bigode quis dizer o que muitos esbravejam como “carpe diem”, mas com um sentido um pouco mais profundo: ele deseja que você evite que a vida lhe consuma, mas que você encontre a sua vida por suas próprias escolhas. É mais ou menos como fugir do convencional do modo de vida da família burguesa e procurar o que você realmente deseja. Do contrário, a morte sempre vai lhe apavorar como uma sombra. Me veio à mente essa teoria hoje, não sei bem o motivo. Por certo fui engolido pelo furacão do cotidiano banal.
Arranjos eruditos-populares
A Banda Sinfônica Municipal lança hoje, às 19h, o seu primeiro CD, que será distribuído gratuitamente. A festa, realizada pela Capitania das Artes (Funcarte), acontecerá no Bar das Bandeiras, tradicional reduto da Rua Chile, em uma ode à boa música potiguar. O novo álbum conta com a competência do maestro João da Banda, titular da Banda Sinfônica, e de mais dois regentes convidados, Gilberto Cabral e Neemias Lopes. Algumas das figuras homenageadas no álbum estarão presentes na ocasião, como a romanceira Dona Militana, mestre Geraldo Zé Cosme (Zambê) e o cantor e compositor Dozinho, famoso por suas músicas de carnaval. A Banda Sinfônica, com seus 55 músicos, abre a noite tocando os corações potiguares com músicas regionalistas executadas com arranjos esmerados. Em seguida, a Banda Camba sobe ao palco, sob a tutela do trombonista Gilberto Cabral, e apresenta um repertório voltado para a Bossa Nova, em um tributo aos 50 anos da poesia bossanovista. Se a gripe deixasse até ia.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Ponto de Cultura dá samba
Na próxima semana, a Fundação José Augusto deve divulgar o resultado dos Pontos de Cultura escolhidos pela comissão formada entre membros da própria FJA, sociedade civil e Ministério da Cultura. Foram 127 projetos inscritos. Só Natal e Mossoró inscreveram 65. Mais 45 municípios concorrem à verba federal e estadual para tocarem suas idéias culturais com incentivos e planejamento. Os 53 projetos a serem aprovados receberão três parcelas de R$ 60 mil, sendo duas do Governo Federal e uma do Governo Estadual.
Para quem desconhece o que são os Pontos de Cultura, dou a palavra a quem coordena a coisa: o secretário de Identidade e Diversidade Cultural do MinC, Sérgio Mamberti. O entrevistei em janeiro de 2006, para este caderno. Na oportunidade, comentei do projeto das Casas de Cultura e pedi uma comparação com os Pontos de Cultura. “A idéia do presidente é que esse projeto seja mais dinâmico. O Ponto de Cultura é uma evolução. Ele aproveita ações já desenvolvidas pela sociedade e as otimiza”, respondeu Mamberti.
A idéia realmente já nasce mais eficiente posto que a organização dos projetos, manifestações populares e iniciativas culturais já existem e agora receberão recursos financeiros para se estabelecerem e crescerem. Para quem não tinha nada, muito pouco ou contava com patrocínios incertos, é uma ajuda substancial e talvez decisiva para a consolidação do projeto. Principalmente se levado em conta que a essência dos Pontos de Cultura é voltado às comunidades excluídas socialmente, como quilombolas.
Não há dúvida de que a idéia dos Pontos de Cultura é excelente. Minha preocupação é a fiscalização dos recursos empregados. A informação passada é de que a FJA e o MinC, ou mesmo o Ministério Público, se preciso, farão o papel de fiscalizador dos recursos. Todo o montante de dinheiro ficará sob responsabilidade de quem inscreveu o projeto. Haverá prestação de contas, até como critério de liberação das outras parcelas. Mas convenhamos: R$ 60 mil já é muito dinheiro para quem nunca recebeu nada.
Soube que a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba) está entre os concorrentes. E com merecimento para figurar entre os escolhidos. Os projetos de sucesso ou de tentativa de revitalização do Centro Histórico a partir da Samba são vários, organizados e pertinentes. Ocorre que nos últimos três anos a Samba está apagada pelo sumiço de seu presidente, o professor Ubiratan, e a próxima eleição da Sociedade será apenas em abril. Devido a isso, muitos projetos foram engavetados no período.
Desde julho há uma gama de especulações de possíveis chapas se formando para disputar a presidência da Samba. Coisa que nunca houve. O primeiro presidente e um dos idealizadores da Sociedade, Eduardo Alexandre, o Dunga, foi eleito sem disputa, em fins da década de 90. Em sua gestão, vários projetos culturais foram criados, mesmo sem a cobrança de qualquer valor aos filiados. Tudo arquitetado por intermédio de parcerias. Na eleição seguinte, apenas uma chapa concorreu e elegeu o professor Bira.
Agora, pelo menos quatro chapas estão semi-formadas para disputa e já há certo revanchismo. Coisa que também nunca houve. Coincidentemente as especulações de nomes se deram no mesmo período de inscrição dos Pontos de Cultura, com início em julho e término em 28 de outubro. Repito: pode ser coincidência o interesse exagerado pela presidência da Samba, agora que possivelmente esteja recheada de verbas públicas. Muitos são becolamenses legítimos e torcem pelo resgate da alegria daqueles chãos boêmios. Mas há que ficar atento, principalmente aos filiados que elegerão seu próximo representante.
Para quem desconhece o que são os Pontos de Cultura, dou a palavra a quem coordena a coisa: o secretário de Identidade e Diversidade Cultural do MinC, Sérgio Mamberti. O entrevistei em janeiro de 2006, para este caderno. Na oportunidade, comentei do projeto das Casas de Cultura e pedi uma comparação com os Pontos de Cultura. “A idéia do presidente é que esse projeto seja mais dinâmico. O Ponto de Cultura é uma evolução. Ele aproveita ações já desenvolvidas pela sociedade e as otimiza”, respondeu Mamberti.
A idéia realmente já nasce mais eficiente posto que a organização dos projetos, manifestações populares e iniciativas culturais já existem e agora receberão recursos financeiros para se estabelecerem e crescerem. Para quem não tinha nada, muito pouco ou contava com patrocínios incertos, é uma ajuda substancial e talvez decisiva para a consolidação do projeto. Principalmente se levado em conta que a essência dos Pontos de Cultura é voltado às comunidades excluídas socialmente, como quilombolas.
Não há dúvida de que a idéia dos Pontos de Cultura é excelente. Minha preocupação é a fiscalização dos recursos empregados. A informação passada é de que a FJA e o MinC, ou mesmo o Ministério Público, se preciso, farão o papel de fiscalizador dos recursos. Todo o montante de dinheiro ficará sob responsabilidade de quem inscreveu o projeto. Haverá prestação de contas, até como critério de liberação das outras parcelas. Mas convenhamos: R$ 60 mil já é muito dinheiro para quem nunca recebeu nada.
Soube que a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba) está entre os concorrentes. E com merecimento para figurar entre os escolhidos. Os projetos de sucesso ou de tentativa de revitalização do Centro Histórico a partir da Samba são vários, organizados e pertinentes. Ocorre que nos últimos três anos a Samba está apagada pelo sumiço de seu presidente, o professor Ubiratan, e a próxima eleição da Sociedade será apenas em abril. Devido a isso, muitos projetos foram engavetados no período.
Desde julho há uma gama de especulações de possíveis chapas se formando para disputar a presidência da Samba. Coisa que nunca houve. O primeiro presidente e um dos idealizadores da Sociedade, Eduardo Alexandre, o Dunga, foi eleito sem disputa, em fins da década de 90. Em sua gestão, vários projetos culturais foram criados, mesmo sem a cobrança de qualquer valor aos filiados. Tudo arquitetado por intermédio de parcerias. Na eleição seguinte, apenas uma chapa concorreu e elegeu o professor Bira.
Agora, pelo menos quatro chapas estão semi-formadas para disputa e já há certo revanchismo. Coisa que também nunca houve. Coincidentemente as especulações de nomes se deram no mesmo período de inscrição dos Pontos de Cultura, com início em julho e término em 28 de outubro. Repito: pode ser coincidência o interesse exagerado pela presidência da Samba, agora que possivelmente esteja recheada de verbas públicas. Muitos são becolamenses legítimos e torcem pelo resgate da alegria daqueles chãos boêmios. Mas há que ficar atento, principalmente aos filiados que elegerão seu próximo representante.
Novo rock
Daniel Lanois, que assinará a produção do novo disco do U2, disse que a banda de Bono Vox vai reiventar o gênero do rock. Em entrevista ao jornal Boston Herald, o produtor não poupou elogios aos irlandeses. "Eu gosto deles por causa do apetite por inovação. Eles querem coisas novas e frescas, e nunca ficam parados na sonoridade. Eles são espertos", disse. Para ele, as letras de Bono estão melhores a cada registro. O novo álbum, que será o sucessor de "How to Dismantle an Atomic Bomb" (2004), está previsto para sair em 2009. Segundo o semanário britânico NME, o registro deve se chamar "No Line On The Horizon”. (Do Uol)
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Um matuto no Ceará
E lá vai um matuto provinciano ao xequin do Aeroporto. É a terceira vez que faz isso. A primeira, aos 10 anos: sequer se lembra. Lembrou-se da outra quando pegou pela segunda vez uma fila desnecessária, para compra ou verificação da passagem. Relutou em entregar a mala que só veria em Fortaleza. É tanto roubo. Pareceu uma despedida.
Menos de uma hora separam Natal de Fortaleza. É só o tempo da dor no ouvido. Aliás, são engraçadas as fisionomias dos tripulantes na decolagem e pouso da aeronave. Cada qual quer trasmitir naturalidade na expressão enquanto o ouvido parece guardar um saco de areia prestes a explodir. Saiu do avião batendo no ouvido como que para desentupir.
No hotel, o gerente afirma que o cartão magnético da abertura da porta também vale para ativar o sistema elétrico do quarto. “O senhor já conhece?”. “Claro”, responde o matuto orgulhoso. “Conheço porra nenhuma. Coisa de maluco do carái: um cartão que abre porta e liga a energia. Só sendo. Se a televisão num ligar eu reclamo e pronto”.
Os controles da TV e do ar condicionado pareciam brinquedo de criança. “Nada funciona aqui no quarto, qual o problema?”. “O senhor colocou o cartão no sistema?”. “Esqueci”. E o matuto foi aprender. Procurou na grossa maçaneta da porta uma abertura semelhante à entrada do cartão no caixa eletrônico do Banco. Era ao lado. E a luz chegou como árvore de natal. Satisfeito, brincou de tira e bota: um matuto da província.
Hora do almoço; do feijão preto. Era “selfe sérvice”: cada um bota o seu. Mas, o matuto teve dúvida. “Aquilo era feijão verde, sopa de ervilha ou legumes afogados em caldo sujo?”. Preferiu arriscar no arroz, branco como de costume e no bife engraçado, enrolado numa salsicha. “Por certo pro executivo isso é chique”, pensou.
Já à noite, antes da carona para a Bienal, passeou no calçadão da Beira Mar. “Cabelo ao vento, gente jovem reunida”, diria o cearense Belchior. Um retrato semi-igual das nossas praias urbanas, com mais estrutura e segurança. Já no Centro de Convenções, show do Teatro Mágico e a interminável gritaria das fãs, a mesma de Natal. Sentiu-se mais velho, impaciente. Seria a “madureza”, como citou Drummond?
Assistiu o show do palco. Caras e bocas fanáticas. Dizem que a histeria é doença feminina. Discordou ao ouvir do palco a voz de um “macho”: “Anitelliiiii, liindoooo”. Preferiu sentar no sofá próximo ao camarim. A espera demasiada rendeu a perda da carona de volta ao hotel e um lanche com a trupe. Prometeu ao Anitelli que não revelaria seu lanche: um sanduíche, metade de outro e três milk shakes. “É coisa de colunista social”, argumentou.
A entrevista com Vitor Ramil no dia seguinte foi mais tranqüila. Esperou a passagem de som para conversar com o criador da “estética do frio”. Pensou que o compositor viesse agasalhado com casaco de lã e gorro. A conversa rolou até ele descobrir que o repórter chato atrasou seu show em quase meia hora. Melhor com Chico Anysio, que elogiou a “maravilha” de província do matuto. Ou o cordelista João Firmino. Na sua simplicidade, parou a palestra para não atrapalhar a conversa ao celular de um na platéia.
Foram três dias em Fortaleza. Não “avistei” Fagner. Pudera: o itinerário Hotel-Centro de Convenções-Hotel dificultava qualquer familiaridade com a “terra da luz”. Decorei alguns nomes de rua e o rosto de um travesti gritando: “Chegue meu soldado!”. O matuto – matuto mesmo – vestia uma calça com estampa do exército na praia.
O matuto adorou a Bienal. Sentiu falta de um estande de sebos. Mas assistiu uma diversidade de autores, temáticas e discussões. Se não conseguiu dizer “the books is on the table”, disse pra uns três: “Jo no ablas espanhol mui bien”. A linguagem do liseu ele já conhecia bem. Ainda assim comprou um livro por R$ 89 mangos cearenses pra ler a hitória de uma baleia.
Chegada a hora, o matuto se apresenta na recepção do hotel. Explicaram-lhe que tudo estava incluído, inclusive a água. Mas não a água do frigobar, do qual bebeu cinco. Pagou apenas a fortuna das águas antes de entrar na van rumo ao aeroporto. O motorista, conversador, de início, disse que “comeu” quatro mulheres no dia anterior. Contou os minutos pra chegar ao destino. Depois que disse que a água de Natal era a mais pura, que Fortaleza importava água mineral de Natal, mas que deu a “reviravolta” e hoje tem mais de 52 empresas de água mineral na cidade, calou-se. “Quem dá corda é cacimbão”.
No aeroporto, ainda tonto com tanta mentira no ouvido, esqueceu e lá estava eu na fila do xequin novamente, sem necessidade. Pulemos a passagem de um casal homo (ou emo?) a perguntar ao matuto se também iria a São Paulo. Já no avião, a voz padrão do comandante anunciava vôo para São Paulo, com parada em Natal. Olhei assustado para a fila de passageiros que adentrava e vi o casal emo-homo. Gelou. Parecia o surfista prateado. Havia mais dois assentos ao seu lado.
Colocou o livro na cara e fingiu concentração. Os olhares de soslaio detectaram apenas uma senhora ao seu lado. Ela jogou sua mala no assento do meio e perguntou como desligava seu celular. Pensou: “mais uma matuta pronvinciana”. E essa era mesmo. Na decolagem, pressionou as duas mãos na orelha como quem desejasse nunca mais ouvir as baboseiras de Bush. Em seguida, olhou para o matuto: este com a expressão natural de um lord a ler Nietzsche, mesmo com ouvidos destruídos em contagem regressiva para explodir.
Já na província contornou de longe a área do xequin. Não ouvia nada. A barata dentro do ouvido ainda obstruía tudo. A matuta que viajou ao lado andava batendo na orelha. Parecia com raiva. Vai ver é coisa de potiguar-matuto. Só pode. Cariri da gema agüenta batida de sol e falta dágua. Natalense tem de ficar é a espera dos monomotor americano, lá perto da Redinha. Se aventurar em país cearense é coisa pra doido.
Menos de uma hora separam Natal de Fortaleza. É só o tempo da dor no ouvido. Aliás, são engraçadas as fisionomias dos tripulantes na decolagem e pouso da aeronave. Cada qual quer trasmitir naturalidade na expressão enquanto o ouvido parece guardar um saco de areia prestes a explodir. Saiu do avião batendo no ouvido como que para desentupir.
No hotel, o gerente afirma que o cartão magnético da abertura da porta também vale para ativar o sistema elétrico do quarto. “O senhor já conhece?”. “Claro”, responde o matuto orgulhoso. “Conheço porra nenhuma. Coisa de maluco do carái: um cartão que abre porta e liga a energia. Só sendo. Se a televisão num ligar eu reclamo e pronto”.
Os controles da TV e do ar condicionado pareciam brinquedo de criança. “Nada funciona aqui no quarto, qual o problema?”. “O senhor colocou o cartão no sistema?”. “Esqueci”. E o matuto foi aprender. Procurou na grossa maçaneta da porta uma abertura semelhante à entrada do cartão no caixa eletrônico do Banco. Era ao lado. E a luz chegou como árvore de natal. Satisfeito, brincou de tira e bota: um matuto da província.
Hora do almoço; do feijão preto. Era “selfe sérvice”: cada um bota o seu. Mas, o matuto teve dúvida. “Aquilo era feijão verde, sopa de ervilha ou legumes afogados em caldo sujo?”. Preferiu arriscar no arroz, branco como de costume e no bife engraçado, enrolado numa salsicha. “Por certo pro executivo isso é chique”, pensou.
Já à noite, antes da carona para a Bienal, passeou no calçadão da Beira Mar. “Cabelo ao vento, gente jovem reunida”, diria o cearense Belchior. Um retrato semi-igual das nossas praias urbanas, com mais estrutura e segurança. Já no Centro de Convenções, show do Teatro Mágico e a interminável gritaria das fãs, a mesma de Natal. Sentiu-se mais velho, impaciente. Seria a “madureza”, como citou Drummond?
Assistiu o show do palco. Caras e bocas fanáticas. Dizem que a histeria é doença feminina. Discordou ao ouvir do palco a voz de um “macho”: “Anitelliiiii, liindoooo”. Preferiu sentar no sofá próximo ao camarim. A espera demasiada rendeu a perda da carona de volta ao hotel e um lanche com a trupe. Prometeu ao Anitelli que não revelaria seu lanche: um sanduíche, metade de outro e três milk shakes. “É coisa de colunista social”, argumentou.
A entrevista com Vitor Ramil no dia seguinte foi mais tranqüila. Esperou a passagem de som para conversar com o criador da “estética do frio”. Pensou que o compositor viesse agasalhado com casaco de lã e gorro. A conversa rolou até ele descobrir que o repórter chato atrasou seu show em quase meia hora. Melhor com Chico Anysio, que elogiou a “maravilha” de província do matuto. Ou o cordelista João Firmino. Na sua simplicidade, parou a palestra para não atrapalhar a conversa ao celular de um na platéia.
Foram três dias em Fortaleza. Não “avistei” Fagner. Pudera: o itinerário Hotel-Centro de Convenções-Hotel dificultava qualquer familiaridade com a “terra da luz”. Decorei alguns nomes de rua e o rosto de um travesti gritando: “Chegue meu soldado!”. O matuto – matuto mesmo – vestia uma calça com estampa do exército na praia.
O matuto adorou a Bienal. Sentiu falta de um estande de sebos. Mas assistiu uma diversidade de autores, temáticas e discussões. Se não conseguiu dizer “the books is on the table”, disse pra uns três: “Jo no ablas espanhol mui bien”. A linguagem do liseu ele já conhecia bem. Ainda assim comprou um livro por R$ 89 mangos cearenses pra ler a hitória de uma baleia.
Chegada a hora, o matuto se apresenta na recepção do hotel. Explicaram-lhe que tudo estava incluído, inclusive a água. Mas não a água do frigobar, do qual bebeu cinco. Pagou apenas a fortuna das águas antes de entrar na van rumo ao aeroporto. O motorista, conversador, de início, disse que “comeu” quatro mulheres no dia anterior. Contou os minutos pra chegar ao destino. Depois que disse que a água de Natal era a mais pura, que Fortaleza importava água mineral de Natal, mas que deu a “reviravolta” e hoje tem mais de 52 empresas de água mineral na cidade, calou-se. “Quem dá corda é cacimbão”.
No aeroporto, ainda tonto com tanta mentira no ouvido, esqueceu e lá estava eu na fila do xequin novamente, sem necessidade. Pulemos a passagem de um casal homo (ou emo?) a perguntar ao matuto se também iria a São Paulo. Já no avião, a voz padrão do comandante anunciava vôo para São Paulo, com parada em Natal. Olhei assustado para a fila de passageiros que adentrava e vi o casal emo-homo. Gelou. Parecia o surfista prateado. Havia mais dois assentos ao seu lado.
Colocou o livro na cara e fingiu concentração. Os olhares de soslaio detectaram apenas uma senhora ao seu lado. Ela jogou sua mala no assento do meio e perguntou como desligava seu celular. Pensou: “mais uma matuta pronvinciana”. E essa era mesmo. Na decolagem, pressionou as duas mãos na orelha como quem desejasse nunca mais ouvir as baboseiras de Bush. Em seguida, olhou para o matuto: este com a expressão natural de um lord a ler Nietzsche, mesmo com ouvidos destruídos em contagem regressiva para explodir.
Já na província contornou de longe a área do xequin. Não ouvia nada. A barata dentro do ouvido ainda obstruía tudo. A matuta que viajou ao lado andava batendo na orelha. Parecia com raiva. Vai ver é coisa de potiguar-matuto. Só pode. Cariri da gema agüenta batida de sol e falta dágua. Natalense tem de ficar é a espera dos monomotor americano, lá perto da Redinha. Se aventurar em país cearense é coisa pra doido.
Balé e teatro
O bailarino João Alexandre Lima concebeu um espetáculo que envolve dança e teatro. Incolor, nome dado à obra, será encenado nos dias 19 e 20 de novembro na Casa da Ribeira. A apresentação aborda a forma como lidar com tabus, muitas vezes, barreiras intransponíveis e constrangedoras. O evento é uma realização da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), tendo à frente o Balé da Cidade do Natal. A direção artística é da diretora do Balé e chefe do departamento de Atividades Culturais da Funcarte, Anízia Marques. Entrada a R$ 12 (inteira).
Lei de Cascudo
A Comissão Estadual de Cultura, da Lei Câmara Cascudo, aprovou semana passada cinco projetos culturais. Já podem correr atrás de patrocínio os projetos 3° Encontro de Dança Contemporânea do Rio Grande do Norte (R$ 127 mil); os espetáculos Um Presente de Natal (R$ 110 mil); e A Comédia dos Erros (R$ 77 mil), do Grupo Arruaça de Teatro Amador; projeto Artes na Vila (R$ 104 mil); e o Festival Potiguar de Teatro em Mossoró, da Companhia Escarcéu de Teatro (R$ 42,6 mil).
Concurso de poesia
A comissão julgadora da 8ª edição do concurso literário Prêmio de Poesia Luís Carlos Guimarães foi formada. Será composta pelos poetas Paulo de Tarso Correia de Melo (presidente da comissão), Plínio Sanderson e a poetiza Maria Risolete Fernandes. Já a comissão que classificará os 53 Pontos de Cultura está formada por Iracema Sabóia, José Messias Domingos, Wescley Nepomuceno e Ricardo França.
Semana de Arte e Cultura
O Centro Municipal de Artes Integradas (Cemai), ligado à Capitania das Artes, promove a Semana de Arte e Cultura em sua sede, na Zona Norte. O evento teve início ontem (17) e segue até sexta-feira. Intitulada Toda Beleza, a mostra pretende expor a produção pedagógica do Cemai, com a presença de professores, alunos e artistas convidados. A programação faz parte do projeto nacional Maleta Beleza, do Canal Futura, e integra diferentes vertentes artísticas da cidade aos conteúdos aplicados nos cursos de artes integradas do centro. A Semana é aberta gratuitamente a todo o público da Grande Natal. É isso aí.
domingo, 16 de novembro de 2008
Nova música dos Beatles
A notícia foi divulgada hoje pela agência EFE: o ex-Beatle Paul McCartney revelou que possui a gravação original de uma canção da banda, Carnival of light, de 14 minutos de duração e que nunca chegou a ser lançado, e que planeja divulgá-lo agora para mostrar outra face do grupo.
Em declarações a um programa de rádio, publicadas hoje pela imprensa britânica, McCartney afirma que Carnival of light é um conjunto de efeitos psicodélicos, ruídos, música e gritos que mostra o conjunto de Liverpool "livre, saindo da pista".
Carnival of light, transformada em objeto de culto para os fãs mais ardorosos, foi gravada no estúdio de Abbey Road, em Londres, em 1967, e nunca chegou a ser lançado porque três dos quatro Beatles - a exceção era McCartney - consideraram que era atrevida demais.
Segundo McCartney, foi ele mesmo que pediu a seus companheiros que tocassem livremente, experimentando, durante vários minutos para compor um tema que tinha encomendado a seu amigo Barry Miles para um festival de música eletrônica que aconteceria no Roundhouse Theatre, no norte de Londres.
Os Beatles só chegaram a interpretar a composição uma vez, neste festival, há 41 anos, e apesar de quase ter sido incluída no álbum Anthology, foi finalmente descartada.
McCartney disse ao programa Front Row, da BBC, que "chegou a hora de (a música) ter seu momento". Entre a música desconexa e ruídos improvisados, inclusive órgãos de igreja, ouve-se McCartney e Lennon perguntando "Vocês estão bem?" e gritando "Barcelona!".
Em declarações a um programa de rádio, publicadas hoje pela imprensa britânica, McCartney afirma que Carnival of light é um conjunto de efeitos psicodélicos, ruídos, música e gritos que mostra o conjunto de Liverpool "livre, saindo da pista".
Carnival of light, transformada em objeto de culto para os fãs mais ardorosos, foi gravada no estúdio de Abbey Road, em Londres, em 1967, e nunca chegou a ser lançado porque três dos quatro Beatles - a exceção era McCartney - consideraram que era atrevida demais.
Segundo McCartney, foi ele mesmo que pediu a seus companheiros que tocassem livremente, experimentando, durante vários minutos para compor um tema que tinha encomendado a seu amigo Barry Miles para um festival de música eletrônica que aconteceria no Roundhouse Theatre, no norte de Londres.
Os Beatles só chegaram a interpretar a composição uma vez, neste festival, há 41 anos, e apesar de quase ter sido incluída no álbum Anthology, foi finalmente descartada.
McCartney disse ao programa Front Row, da BBC, que "chegou a hora de (a música) ter seu momento". Entre a música desconexa e ruídos improvisados, inclusive órgãos de igreja, ouve-se McCartney e Lennon perguntando "Vocês estão bem?" e gritando "Barcelona!".
De volta à província
Para este jornalista, os dez dias da Bienal Internacional do Livro do Ceará duraram três dias. Estou de volta com a graça de Deus e com uma gripe pra derrubar elefante. No último dia ainda consegui uma entrevista exclusiva com Vitor Ramil. Solto por aqui uma parte antes que saia publicado no Diário de Natal. A entrevista ficou boa. Ficaria melhor se meu gravador funcionasse. O cara é a simpatia em pessoa, e a música dele dispensa comentários. Está entre os meus favoritos, embora o tenha descoberto há pouco tempo; coisa de meses, talvez. Até falei isso pra ele. A resposta do também escritor vocês conferem depois.
Como recomendação de leitura, indagado pela assessoria do evento, Vitor Ramil indicou Lolita (1955), de Vladimir Nabakov. Admiro a literatura russa, mas desconhecia esse escritor. Fiquei curioso quando procurei algo na internet e li trechos do livro. Parece-me muitíssimo bom. De repente descubro algo uma nova mania literária. E por falar nisso, despejei uma parte considerável de meu salário num livro que há muito quero ler: Moby Dick, de Herman Melvilel – uma versão capa dura da Cosaif Nayf: 89 mangos. Até liguei pro amigo-literato Tácito para saber do preço. Mesmo caro comprei. Ânsia é foda.
Como recomendação de leitura, indagado pela assessoria do evento, Vitor Ramil indicou Lolita (1955), de Vladimir Nabakov. Admiro a literatura russa, mas desconhecia esse escritor. Fiquei curioso quando procurei algo na internet e li trechos do livro. Parece-me muitíssimo bom. De repente descubro algo uma nova mania literária. E por falar nisso, despejei uma parte considerável de meu salário num livro que há muito quero ler: Moby Dick, de Herman Melvilel – uma versão capa dura da Cosaif Nayf: 89 mangos. Até liguei pro amigo-literato Tácito para saber do preço. Mesmo caro comprei. Ânsia é foda.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Teatro Mágico na Bienal
O respeitável público pagão assistiu no primeiro dia da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará um relâmpago de otimismo, poesia e magia. E nem precisou assistir tudo da pedra mais alta. O Centro de Convenções foi o palco ou a lona imaginária de um circo musical revolucionário. A trupe paulista do Teatro Mágico é renovação de um desejo de vida apagado neste novo século ou nas últimas décadas. É música alternativa, opinativa e sugestiva. E a pedida é pintar a cara em tons alegres de vida para despertar a fantasia e fazer dormir o medo.
O letrista, cantor e violonista Fernando Anitelli se mostra o Renato Russo dos novos tempos. Menos pop. Mais didático. É um porta-voz de uma juventude antenada e antes de tudo desejosa de mudança; de esperança e revolução - revolução da comunicação. A poesia do Teatro Mágico dispensa o otimismo barato e hipócrita, ou a mídia massificante. Ela é realista com as dores do mundo e sugere escapatórias por um caminho mais ameno: o da poesia musical; da magia circense; da fantasia não-alienada e torpe. É a proposta de um novo vislumbre de encantamentos.
Usarei da primeira pessoa para descrever os instantes junto à trupe. A espera pelo fim do show rendeu um contato mais próximo e talvez sirva para desmistificar a polêmica apresentação do grupo em Natal. Consegui furar o bloqueio da produção e assisti tudo do palco. Combinei com a Maíra uma entrevista de "três perguntas rápidas" com Anitelli. Foi muito mais. Maíra escreveu um livro de 22 contos inspirados nas letras musicais do TM.
A essa hora já havia perdido o único transporte de volta ao hotel onde jornalistas e artistas convidados para a Bienal estavam hospedados. Anitelli estava sem a pintura do rosto quando tive acesso ao camarim. Sugeri que priorizasse as fãs que se acotovelavam no saguão do Centro de Covenções. Foram 30 minutos de autógrafos, fotos e abraços, para desespero da produção e dos seguranças.
De volta, abordei Anitelli no mesmo palco da apresentação, quando conversava sentado com o violinista do grupo. Descobri um Anitelli sem máscara de palhaço e com tique-nervoso de piscadas constantes e abruptas, bem afeito à entrevistas e com prazer de comentar o trabalho do TM. Mais tarde, voltei para o hotel na van do grupo, depois de lanchar/jantar com eles numa sanduicheria na praia de Iracema, após o show extenuante, lotado de pessoas "raras", como sugere o título da música "Teatro Mágico, entrada para raros".
E os raros são soldados de chumbo e bailarinas de brilho nos olhos. Diferente de expressões em transe dos espantalhos, corrompidos pelo exagero-pop da massa, de sonhos roubados e falsas alegrias. Os da geração anos 70 talvez entendam o que escrevo. Eles viveram as raízes das delícias e horrores deste novo século. Alguns deles estiveram no show acompanhados da família. De certo viram naquela vitamina musical um recomeço; uma nova tentativa experimental mais madura e consequente.
A geração anos 70 quis evitar a intermediação. Eles experimentaram um abandono completo e assumiram a captura do momento fugaz de forma intensa. Não tinham a intenção de transformação ou revolução. Não eram experiências para serem lavradas em atas ou livros de história. Eram para serem carregadas no mais fundo da alma. “Não, não é uma estrada, é uma viagem”, cantavam os Mutantes. E o Teatro Mágico é isso: uma proposta democrática de aceitação a um mundo mais leve, “sem deixar que a vida escorregue”.
Sérgio Vilar - Você é artista plástico, escreve poesia, crônica. Porque escolheu a música para mostrar sua arte?
Fernando Anitelli - Minha história com as letras começou desde os 14 anos, quando já gostava de rimar amor com humor. Sempre estive envolvido com arte, literatura e desenho. Tenho até dois personagens meus de quadrinhos tatuados no braço, o Téo e seu melhor amigo, o Farol. Quando comecei a frequentar saraus percebi pessoas falando a mesma língua e pensei: porque não levar o espírito dos saraus para um projeto onde todos sejam um personagem só?
Em Natal vocês se apresentaram com menos da metade do grupo e aqui vieram apenas quatro integrantes. Por que?
São 25 pessoas. É complicado viajar com todo mundo. Veja que aqui fui convidado para um show acústico, voz e violão. Tentei trazer o formato mínimo e fiquei impressionado com a qualidade do show. Mas fazemos o que pudemos. Depende muito do tamanho do palco, das condições oferecidas.
Você trabalha com várias vertentes artísticas. Quais suas influências?
De tudo um pouco: no teatro, a Denise Stoklos e Plínio Marcos; na música, Secos e Molhados, Chico César, Zeca Baleiro, Legião Urbana, Raul Seixas. Tudo isso é filtrado em nosso projeto. E tem famílias vindo assitir. Fico feliz. Somos um circo contemporâneo e conseguimos alcançar essa catarse coletiva.
Vocês também são comparados ao Los Hermanos...
Talvez em função do relacionamento com nosso trabalho: somos muito verdadeiros no que fazemos. Gosto muito do Los Hermamos. Eles têm uma melancolia no samba, influências de Noel Rosa, Cartola. Mas o que é revolucionário nisso tudo é a juventude vestir a camisa da música independente. Precisamos de mídia assim: mais rádios comunitárias, teatro de rua, festivais patrocinados pelo poder público. Revolucionário é ter acesso livre à arte pela internet, trocar MP3 de forma livre. Nos Estados Unidos uma lei compara a prática à pedofilia.
A entrevista completa com Fernando Anitelli você confere no Diário de Natal. Informo aqui a data que a matéria sairá publicada.
O letrista, cantor e violonista Fernando Anitelli se mostra o Renato Russo dos novos tempos. Menos pop. Mais didático. É um porta-voz de uma juventude antenada e antes de tudo desejosa de mudança; de esperança e revolução - revolução da comunicação. A poesia do Teatro Mágico dispensa o otimismo barato e hipócrita, ou a mídia massificante. Ela é realista com as dores do mundo e sugere escapatórias por um caminho mais ameno: o da poesia musical; da magia circense; da fantasia não-alienada e torpe. É a proposta de um novo vislumbre de encantamentos.
Usarei da primeira pessoa para descrever os instantes junto à trupe. A espera pelo fim do show rendeu um contato mais próximo e talvez sirva para desmistificar a polêmica apresentação do grupo em Natal. Consegui furar o bloqueio da produção e assisti tudo do palco. Combinei com a Maíra uma entrevista de "três perguntas rápidas" com Anitelli. Foi muito mais. Maíra escreveu um livro de 22 contos inspirados nas letras musicais do TM.
A essa hora já havia perdido o único transporte de volta ao hotel onde jornalistas e artistas convidados para a Bienal estavam hospedados. Anitelli estava sem a pintura do rosto quando tive acesso ao camarim. Sugeri que priorizasse as fãs que se acotovelavam no saguão do Centro de Covenções. Foram 30 minutos de autógrafos, fotos e abraços, para desespero da produção e dos seguranças.
De volta, abordei Anitelli no mesmo palco da apresentação, quando conversava sentado com o violinista do grupo. Descobri um Anitelli sem máscara de palhaço e com tique-nervoso de piscadas constantes e abruptas, bem afeito à entrevistas e com prazer de comentar o trabalho do TM. Mais tarde, voltei para o hotel na van do grupo, depois de lanchar/jantar com eles numa sanduicheria na praia de Iracema, após o show extenuante, lotado de pessoas "raras", como sugere o título da música "Teatro Mágico, entrada para raros".
E os raros são soldados de chumbo e bailarinas de brilho nos olhos. Diferente de expressões em transe dos espantalhos, corrompidos pelo exagero-pop da massa, de sonhos roubados e falsas alegrias. Os da geração anos 70 talvez entendam o que escrevo. Eles viveram as raízes das delícias e horrores deste novo século. Alguns deles estiveram no show acompanhados da família. De certo viram naquela vitamina musical um recomeço; uma nova tentativa experimental mais madura e consequente.
A geração anos 70 quis evitar a intermediação. Eles experimentaram um abandono completo e assumiram a captura do momento fugaz de forma intensa. Não tinham a intenção de transformação ou revolução. Não eram experiências para serem lavradas em atas ou livros de história. Eram para serem carregadas no mais fundo da alma. “Não, não é uma estrada, é uma viagem”, cantavam os Mutantes. E o Teatro Mágico é isso: uma proposta democrática de aceitação a um mundo mais leve, “sem deixar que a vida escorregue”.
Sérgio Vilar - Você é artista plástico, escreve poesia, crônica. Porque escolheu a música para mostrar sua arte?
Fernando Anitelli - Minha história com as letras começou desde os 14 anos, quando já gostava de rimar amor com humor. Sempre estive envolvido com arte, literatura e desenho. Tenho até dois personagens meus de quadrinhos tatuados no braço, o Téo e seu melhor amigo, o Farol. Quando comecei a frequentar saraus percebi pessoas falando a mesma língua e pensei: porque não levar o espírito dos saraus para um projeto onde todos sejam um personagem só?
Em Natal vocês se apresentaram com menos da metade do grupo e aqui vieram apenas quatro integrantes. Por que?
São 25 pessoas. É complicado viajar com todo mundo. Veja que aqui fui convidado para um show acústico, voz e violão. Tentei trazer o formato mínimo e fiquei impressionado com a qualidade do show. Mas fazemos o que pudemos. Depende muito do tamanho do palco, das condições oferecidas.
Você trabalha com várias vertentes artísticas. Quais suas influências?
De tudo um pouco: no teatro, a Denise Stoklos e Plínio Marcos; na música, Secos e Molhados, Chico César, Zeca Baleiro, Legião Urbana, Raul Seixas. Tudo isso é filtrado em nosso projeto. E tem famílias vindo assitir. Fico feliz. Somos um circo contemporâneo e conseguimos alcançar essa catarse coletiva.
Vocês também são comparados ao Los Hermanos...
Talvez em função do relacionamento com nosso trabalho: somos muito verdadeiros no que fazemos. Gosto muito do Los Hermamos. Eles têm uma melancolia no samba, influências de Noel Rosa, Cartola. Mas o que é revolucionário nisso tudo é a juventude vestir a camisa da música independente. Precisamos de mídia assim: mais rádios comunitárias, teatro de rua, festivais patrocinados pelo poder público. Revolucionário é ter acesso livre à arte pela internet, trocar MP3 de forma livre. Nos Estados Unidos uma lei compara a prática à pedofilia.
A entrevista completa com Fernando Anitelli você confere no Diário de Natal. Informo aqui a data que a matéria sairá publicada.
Chico Anysio na Bienal
Se está escanteado pela Rede Globo, o multiartista cearense Chico Anysio foi o grande homenageado na segunda noite da 8ª Bienal Internacional do Livro de Ceará. "Que esta homenagem chegue às salas da Globo para que saibam que não é só dela que vivo", desabafou o humorista que também é escritor, autor de 22 livros, como Mesa de Boteco e Negro Leo. Na Bienal, lançou seu mais novo trabalho literário: Três Casos de Polícia (Escrituras Editora). Ao final, nos poucos minutos concedidos à imprensa, Chico comentou a respeito do humorista potiguar, Davi Cunha, o Espanta, falecido há dois anos.
Chico Anysio, 77, se mostrou magoado com a Globo. Esse foi o tom de suas palavras ao longo da apresentação, mediada pelo humorista Jader Soares, o Zebrinha, no auditório do Centro de Convenções. Segundo ele, desde que foi "posto na geladeira pela Globo, nos últimos seis anos", já escreveu 19 livros, um seriado e tem 150 capítulos de uma novela pronta. "A Globo deve esperar eu morrer para por no ar. Mas vai esperar muito". Chico explicou que a Escolinha do Professor Raimundo saiu da programação porque perdeu um dia de audiência para o SBT. "Me disseram que quando perde uma vez é melhor parar".
O humorista criticou duramente a grade de programação de TVs e os programas de humor. "A TV nasceu e se criou com humor. Depois veio a música e agora são as novelas, que estão perdendo audiência por um motivo muito simples: os autores só tem uma novela. Percebam que mudam os personagens, os lugares, mas a essência é a mesma. Então, não há mais o que dizer. O público está enfadado. O caminho é voltar para o humor. A fórmula nunca deu errado, a não ser Guerra e Paz, que foi um desastre". E completa: "O Zorra Total até foi idéia minha, mas quando era programa de humor. Hoje é de sacanagem. É muito tênue a linha que separa o humor da bobagem".
Chico foi humilde ao comentar sua veia literária que durante décadas foi responsável por livros no topo da lista dos mais vendidos. "Ziraldo disse que não sou bom escrevendo. Mas não escrevo para ser lido, mas para ser ouvido; escrevo o mais simples possível". O autor de mais de 200 personagens humorísticos disse ainda que sua relação com a literatura é "humilde". "Já fui melhor leitor. Não sou literato, mas cheguei a disputar cadeira na Academia Brasileira de Letras. Perdi para o Ubaldo (Ribeiro) e desisti. O humor precisa de um lugar lá, mas essa cadeira é do Millôr Fernandes", disse.
Ao fim da homenagem, Chico Anysio autografou o livro Três casos de polícia. São três contos policiais - “O Sucessor de Maigret”, “Eles” e “Vietnã, Lembra?” - que misturam ficção e realidade, hábito e acaso e mostram o quanto as três cidades onde as tramas ocorrem podem estar situadas em qualquer parte do mundo. A imprensa pôde conversar com o humorista depois. Uma ou duas perguntas no máximo foi a recomendação da produção, auxiliada pelo seu filho também humorista. Chico ainda faria show na mesma noite na cidade.
Dada a vez do repórter deste periódico, o humorista se entusiasmou: "É Diário de Natal de Natal, Rio Grande do Norte? Mas sua cidade é linda, rapaz. Natal é maravilhosa!", exclamou. Em seguida, brincou com a grafia do repórter, no bloco de anotações: "Você entende o que escreve depois? Só consegui ler Millôr. Então sei que tem coisa boa escrita aí. Mas, vamos lá".
CHICO ANYSIO
Sérgio Vilar - Qual o diferencial do Ceará para produzir tantos humoristas e ainda oferecer mercado para humoristas de fora, como o Espanta?
Chico Anysio - O Ceará tem muitos problemas. Não existe bons humoristas suecos, holandeses, suiços. Nenhum humorista concerta nada, mas denuncia tudo.
Mas Natal, para citar um exemplo, também tem muitos problemas e nem de longe tem a mesma vocação para o humor...
Natal não tem as caatingas, o sertão duro que o Ceará tem. Se o Ceará tivesse água seria uma Califórnia. É com certeza o Estado mais sofrido do Brasil. Por isso sexta, sábado e domingo tem humorista trabalhando e de boa qualidade. O defeito dos humoristas daqui, eu já disse para alguns, é que se enfeitam demais, se pintam demais. Não há necessidade disso.
Quanto ao Espanta. O senhor disse na sua apresentação que o humor não precisa usar da "sacanagem". O senhor gostava da linha de humor usada por Davi Cunha?
Pois é, rapaz, fiquei chateado quando soube da morte do Espanta. Eu gostava dele. Mas ele queria ser o bêbado da Escolinha. Você sabe que ele passou por lá, né? Mas ele queria ser o bêbado da Escolinha (com o personagem Pudin de Cachaça). E não podia porque já tinha o João Canabrava. E o Tom era insuperável com o Canabrava. Então ele desistiu. Fiquei chateado, tentei argumentar, mas ele não quis. Como pessoa era uma pessoa muito boa.
Chico Anysio, 77, se mostrou magoado com a Globo. Esse foi o tom de suas palavras ao longo da apresentação, mediada pelo humorista Jader Soares, o Zebrinha, no auditório do Centro de Convenções. Segundo ele, desde que foi "posto na geladeira pela Globo, nos últimos seis anos", já escreveu 19 livros, um seriado e tem 150 capítulos de uma novela pronta. "A Globo deve esperar eu morrer para por no ar. Mas vai esperar muito". Chico explicou que a Escolinha do Professor Raimundo saiu da programação porque perdeu um dia de audiência para o SBT. "Me disseram que quando perde uma vez é melhor parar".
O humorista criticou duramente a grade de programação de TVs e os programas de humor. "A TV nasceu e se criou com humor. Depois veio a música e agora são as novelas, que estão perdendo audiência por um motivo muito simples: os autores só tem uma novela. Percebam que mudam os personagens, os lugares, mas a essência é a mesma. Então, não há mais o que dizer. O público está enfadado. O caminho é voltar para o humor. A fórmula nunca deu errado, a não ser Guerra e Paz, que foi um desastre". E completa: "O Zorra Total até foi idéia minha, mas quando era programa de humor. Hoje é de sacanagem. É muito tênue a linha que separa o humor da bobagem".
Chico foi humilde ao comentar sua veia literária que durante décadas foi responsável por livros no topo da lista dos mais vendidos. "Ziraldo disse que não sou bom escrevendo. Mas não escrevo para ser lido, mas para ser ouvido; escrevo o mais simples possível". O autor de mais de 200 personagens humorísticos disse ainda que sua relação com a literatura é "humilde". "Já fui melhor leitor. Não sou literato, mas cheguei a disputar cadeira na Academia Brasileira de Letras. Perdi para o Ubaldo (Ribeiro) e desisti. O humor precisa de um lugar lá, mas essa cadeira é do Millôr Fernandes", disse.
Ao fim da homenagem, Chico Anysio autografou o livro Três casos de polícia. São três contos policiais - “O Sucessor de Maigret”, “Eles” e “Vietnã, Lembra?” - que misturam ficção e realidade, hábito e acaso e mostram o quanto as três cidades onde as tramas ocorrem podem estar situadas em qualquer parte do mundo. A imprensa pôde conversar com o humorista depois. Uma ou duas perguntas no máximo foi a recomendação da produção, auxiliada pelo seu filho também humorista. Chico ainda faria show na mesma noite na cidade.
Dada a vez do repórter deste periódico, o humorista se entusiasmou: "É Diário de Natal de Natal, Rio Grande do Norte? Mas sua cidade é linda, rapaz. Natal é maravilhosa!", exclamou. Em seguida, brincou com a grafia do repórter, no bloco de anotações: "Você entende o que escreve depois? Só consegui ler Millôr. Então sei que tem coisa boa escrita aí. Mas, vamos lá".
CHICO ANYSIO
Sérgio Vilar - Qual o diferencial do Ceará para produzir tantos humoristas e ainda oferecer mercado para humoristas de fora, como o Espanta?
Chico Anysio - O Ceará tem muitos problemas. Não existe bons humoristas suecos, holandeses, suiços. Nenhum humorista concerta nada, mas denuncia tudo.
Mas Natal, para citar um exemplo, também tem muitos problemas e nem de longe tem a mesma vocação para o humor...
Natal não tem as caatingas, o sertão duro que o Ceará tem. Se o Ceará tivesse água seria uma Califórnia. É com certeza o Estado mais sofrido do Brasil. Por isso sexta, sábado e domingo tem humorista trabalhando e de boa qualidade. O defeito dos humoristas daqui, eu já disse para alguns, é que se enfeitam demais, se pintam demais. Não há necessidade disso.
Quanto ao Espanta. O senhor disse na sua apresentação que o humor não precisa usar da "sacanagem". O senhor gostava da linha de humor usada por Davi Cunha?
Pois é, rapaz, fiquei chateado quando soube da morte do Espanta. Eu gostava dele. Mas ele queria ser o bêbado da Escolinha. Você sabe que ele passou por lá, né? Mas ele queria ser o bêbado da Escolinha (com o personagem Pudin de Cachaça). E não podia porque já tinha o João Canabrava. E o Tom era insuperável com o Canabrava. Então ele desistiu. Fiquei chateado, tentei argumentar, mas ele não quis. Como pessoa era uma pessoa muito boa.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Das novidades da Bienal
Meus minutos de internet aqui no Hotel Comfort, de Fortaleza, são poucos. Adianto apenas que a cidade me parece bem cuidada. A reeleição da prefeita petista Luiziane deve explicar um pouco disso. O hotel fica próximo à Beira Mar, praia vizinha à de Iracema. Impressiona a estrutura e segurança da orla. O movimento de caminhantes, quiosques e policiais impressiona. O calçadão tem uns 15 metros de largura e uma extensão a perder de vista.
Artistas e jornalistas convidados para a Bienal estão hospedados neste mesmo hotel. Mas até agora tive contato apenas com um jornalista paulista que desconhecia a trupe também paulista do Teatro Mágico. Foi ao show de ontem no Centro de Convenções apenas para assisti-los, como eu. O jornalista já passa dos 40 e talvez tenha achado a gritaria adolescente exagerada. Particularmente adoro o trabalho do TM. Até resolvi furar o bloqueio da segurança e esperei o show acabar por trás do palco.
A espera teve sucesso. O show acabou por volta das 22h45. Já havia perdido o transporte de volta ao hotel. Relaxei e consegui uma entrevista com o mentor do grupo, Fernando Anitelli. Conversa demorada. Acabei voltando para o hotel na van com o grupo. Antes, até paramos para lanchar/jantar em uma sanduicheria na praia de Iracema. As histórias são muitas. A entrevista completa deve sair domingo em O Poti. Vou começar a escrever agora e um pedaço eu coloco aqui mais tarde.
As novidades aqui são muitas, e as vindas daí, da minha aldeia, são melhores ainda. Fico mais tranquilo. Depois volto por aqui. Por hora, apenas a saudade imensa de um dia, da família, da namorada e da minha sobrinha dizendo Tiu seijo.
Artistas e jornalistas convidados para a Bienal estão hospedados neste mesmo hotel. Mas até agora tive contato apenas com um jornalista paulista que desconhecia a trupe também paulista do Teatro Mágico. Foi ao show de ontem no Centro de Convenções apenas para assisti-los, como eu. O jornalista já passa dos 40 e talvez tenha achado a gritaria adolescente exagerada. Particularmente adoro o trabalho do TM. Até resolvi furar o bloqueio da segurança e esperei o show acabar por trás do palco.
A espera teve sucesso. O show acabou por volta das 22h45. Já havia perdido o transporte de volta ao hotel. Relaxei e consegui uma entrevista com o mentor do grupo, Fernando Anitelli. Conversa demorada. Acabei voltando para o hotel na van com o grupo. Antes, até paramos para lanchar/jantar em uma sanduicheria na praia de Iracema. As histórias são muitas. A entrevista completa deve sair domingo em O Poti. Vou começar a escrever agora e um pedaço eu coloco aqui mais tarde.
As novidades aqui são muitas, e as vindas daí, da minha aldeia, são melhores ainda. Fico mais tranquilo. Depois volto por aqui. Por hora, apenas a saudade imensa de um dia, da família, da namorada e da minha sobrinha dizendo Tiu seijo.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
De agradecimentos
A audiência deste blog tem aumentado gradativamente. O que me deixa muito satisfeito. As visitas ainda são poucas, mas sei que são qualificadas. É o que importa: leitores fiéis, críticos e antenados com o caminhar do cotidiano. Viajo hoje, às 14h30, a Fortaleza para acompanhar três dias de Bienal. De lá mesmo publicarei as matérias que enviarei para o Diário de Natal aqui neste blog, para não perder este embalo de visitas e também como forma de compensar a fidelidade de alguns. Viajo com preocupações, livros e idéias. Serão poucos e longos dias. Sábado estou de volta e espero que a alegria ilusória da estação esteja mais latente.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
De Jesus, Ctrl+S e Obama
Permita-me o leitor, este colunista escapulir da pauta local para comentar a eleição de um tal país que deixou uma baita herança em nossa redoma provinciana em época de guerra. Em seguida volto ao âmbito da aldeia de Poti. Pois bem. Desde criança ouço minha mãe dizer que só Jesus Cristo salva. Piadinha moderna brinca que Ctrl S também salva. E o pensamento pós-moderno, filosófico ou não, atribui agora o salvamento da humanidade ao Barack.
Um documentário do negro mais famoso do mundo está em andamento, produzido por Eduard Norton – aquele ator que se esmurrou em Clube da Luta e esmurrou outros em O Incrível Hulk. Precoce o documentário? Pasmem: o artista CUBANO Jorge Rodriguez-Gerada usou 500 toneladas de areia, brita e terra colorida para fazer um retrato do tamanho de um campo de futebol de Obama na costa de Barcelona. Para o maluco, Obama representa a esperança.
Esperança. Ô sentimentozin atrasado! É prima-irmã da utopia, tão decantada por socialistas sonhadores. Esperança é olhar o futuro com positivismo. Nada de errado nisso se a esperança também motivasse ação para construir os tais dias melhores. Mas não. Estimulam apenas a inércia, a espera preguiçosa. Antes encarnasse o Guevara, estampado nas camisas dos esperançosos. Ainda assim, a esperança quase sempre independe da vontade própria, portanto, é incerta, falível, ou seja: melhor apostar em algo mais concreto, como o Ctrl S. Nada niilista. Não é falta de fé. É apenas cisma, precaução.
Barack Obama é a concretização da esperança por simples motivos. Negros o vêem como a ressurreição de Martin Luther King. Os brancos enxergam a volta solidificada do american way of life. E o mundo nutre a esperança de que a guerra iraquiana cesse e o país Yankee – agora com um negro vestido de Capitão América – coopere mais ativamente com o meio ambiente e as finanças mundiais. E mais: nutre, em seu âmago, uma possível abertura ao socialismo. As palavras do pastor Jessé Jackson (ex-candidato à presidência) de que agora a América precisa curar as feridas que causou em outras nações e pedir desculpas ao mundo é a vitória pura da Perestroika.
Todos esquecem o buraco negro deixado pelo macaco Bush. Todos esquecem a herança histórica dos Estados Unidos. Não se muda a ideologia, a postura do governo da noite para o dia. A renovação pode apenas ter iniciado agora. Mas não basta querer. É preciso uma resposta mundial, também. Como dizia mané Garrincha: “Já combinaram com os russo?”. Mas um país atolado em crise buscará se reerguer. E, por hora, pode apostar: passará por cima de quem for. Até já vislumbro novos documentários de Michael Moore para os próximos anos.
Sem experiência política é fácil imaginar insegurança de Obama no posto mais poderoso do mundo. O título do seu último livro ratifica o pilar do qual ele pretende governar: A audácia da esperança. É comum se buscar heróis quando tudo está em ruínas. Esta é a figura incorporada de Obama: um falso herói; um misto idealizado de Kennedy e Luther King. Será ele o mentor a transformar a América em mutante e desmistificar uma história opressora e imperialista de 200 anos em tão curto prazo? Por hora, acredito no salvamento da alma e deste arquivo de texto. Aleluia Jesus e salve o Ctrl+S!
Um documentário do negro mais famoso do mundo está em andamento, produzido por Eduard Norton – aquele ator que se esmurrou em Clube da Luta e esmurrou outros em O Incrível Hulk. Precoce o documentário? Pasmem: o artista CUBANO Jorge Rodriguez-Gerada usou 500 toneladas de areia, brita e terra colorida para fazer um retrato do tamanho de um campo de futebol de Obama na costa de Barcelona. Para o maluco, Obama representa a esperança.
Esperança. Ô sentimentozin atrasado! É prima-irmã da utopia, tão decantada por socialistas sonhadores. Esperança é olhar o futuro com positivismo. Nada de errado nisso se a esperança também motivasse ação para construir os tais dias melhores. Mas não. Estimulam apenas a inércia, a espera preguiçosa. Antes encarnasse o Guevara, estampado nas camisas dos esperançosos. Ainda assim, a esperança quase sempre independe da vontade própria, portanto, é incerta, falível, ou seja: melhor apostar em algo mais concreto, como o Ctrl S. Nada niilista. Não é falta de fé. É apenas cisma, precaução.
Barack Obama é a concretização da esperança por simples motivos. Negros o vêem como a ressurreição de Martin Luther King. Os brancos enxergam a volta solidificada do american way of life. E o mundo nutre a esperança de que a guerra iraquiana cesse e o país Yankee – agora com um negro vestido de Capitão América – coopere mais ativamente com o meio ambiente e as finanças mundiais. E mais: nutre, em seu âmago, uma possível abertura ao socialismo. As palavras do pastor Jessé Jackson (ex-candidato à presidência) de que agora a América precisa curar as feridas que causou em outras nações e pedir desculpas ao mundo é a vitória pura da Perestroika.
Todos esquecem o buraco negro deixado pelo macaco Bush. Todos esquecem a herança histórica dos Estados Unidos. Não se muda a ideologia, a postura do governo da noite para o dia. A renovação pode apenas ter iniciado agora. Mas não basta querer. É preciso uma resposta mundial, também. Como dizia mané Garrincha: “Já combinaram com os russo?”. Mas um país atolado em crise buscará se reerguer. E, por hora, pode apostar: passará por cima de quem for. Até já vislumbro novos documentários de Michael Moore para os próximos anos.
Sem experiência política é fácil imaginar insegurança de Obama no posto mais poderoso do mundo. O título do seu último livro ratifica o pilar do qual ele pretende governar: A audácia da esperança. É comum se buscar heróis quando tudo está em ruínas. Esta é a figura incorporada de Obama: um falso herói; um misto idealizado de Kennedy e Luther King. Será ele o mentor a transformar a América em mutante e desmistificar uma história opressora e imperialista de 200 anos em tão curto prazo? Por hora, acredito no salvamento da alma e deste arquivo de texto. Aleluia Jesus e salve o Ctrl+S!
ENE contemporâneo
Um dos mais conceituados escritores brasileiros contemporâneos, o catarinense Cristóvão Tezza é o nome escolhido para encerrar o 3° Encontro Natalense de Escritores (ENE) dia 29 de novembro, às 20h30. O encontro acontece na praça Augusto Severo, em frente ao Museu de Cultura Popular, na Ribeira. Não conheço o rapaz. Meus escritores preferidos morreram há pelo menos 50 anos. Mas a idéia é bacana. Vida longa ao ENE!
Marketing becolamense
Sábado ocorreu o Gardênia’s Day, em homenagem a Gardênia, figura folclórica do Centro. Ocorre que na sexta-feira Gardênia aparece no Beco da Lama com o olho roxo. O artista plástico e um dos organizadores do evento, Franklin Serrão contornou a situação de maneira esplêndida: elaborou os cartazes do evento com a imagem de Gardênia com uma máscara roxa nos olhos. Sensacional!
domingo, 9 de novembro de 2008
Fim dos jornais impressos (?)
Uma pergunta recorrente no meio jornalístico é se os jornais impressos sobreviverão por muito ou pouco tempo, ou mesmo se passarão incólumes pelo processo crescente do acesso à informação via internet – um acesso gratuito, mais cômodo e mais atrativo, indiscutivelmente. A comparação dos mais positivistas é do cinema com a televisão, quando afirmavam que com o advento da televisão, o cinema cairia por terra. Afinal, a televisão também exibe filmes gratuitos, de forma mais cômoda e mais atrativa.
Terça-feira eu assisti ao programa Observatório na Imprensa. O jornalista Alberto Dines foi à Argentina realizar uma leitura da cobertura dos principais jornais impressos de lá. Ao final, levantou a questão da concorrência da internet e o processo da migração dos jornais para os sites de notícias. As opiniões foram distintas entre os diretores. Alguns afirmaram ser uma tendência irreversível e outros que um dia ambos conviveriam com espaços diferentes ou que duraria décadas ainda para a internet substituir o jornal.
Achei mais interessante a postura do quarto maior jornal argentino. Não lembro o nome. Eles optaram por publicar a versão impressa do jornal apenas aos fins de semana e, de segunda à sexta-feira, noticiar os fatos do dia no portal de notícias na internet. Segundo o diretor, os jornais impressos argentinos, como a maioria dos jornais do mundo, têm prejuízos durante a semana e conseguem reverter apenas nos fins de semana. Para eles, a idéia tem sido um sucesso.
O mesmo diretor enumerou uma série de comportamentos mutantes do cotidiano ao longo dos últimos anos que favorecem esta queda na vendagem dos jornais durante os chamados dias úteis. A principal e mais simbólica é, sem dúvida, a pressa. O cidadão hoje não tem mais o hábito diário de ler jornal por falta de tempo até mesmo para parar numa banca e comprar, ou mesmo se receber em casa. O faz em fins de semana, também por adquirir um exemplar mais completo, como são as edições de sábado e domingo.
Minha opinião é a de que os jornais não vão desaparecer. Quando entrevistei este ano um grande economista, cotado para ser ministro de Lula, o cara disse que o capitalismo é um bicho de sete vidas. Ele sobrevive às crises e se reinventa. Mal comparando, assim é o jornal impresso. Ele vai encontrar uma maneira de se posicionar no mercado sem a competição direta com a internet. Claro, precisará de uma reformulação gráfica, editorial e de muita criatividade para atrair o público jovem. Hoje, o público dos jornais impressos é, em maioria, adultos com mais de 50 anos.
A idéia mais defendida de sobrevivência é a elaboração de reportagens mais trabalhadas – já que a internet oferece textos curtos e superficiais. É a questão do imediatismo prejudicial. As grandes reportagens não cabem mais em mídia alguma. Só em livros. Seria o fim apressado do jornal impresso. Infelizmente, o público não lê mais e não teria paciência para grandes matérias, por mais interessantes e bem feitas que fossem. Talvez um jornalismo participativo, edições com mais editoriais e colunas maiores e mais opinativas fossem soluções.
Acredito que a internet trará uma queda na qualidade da notícia publicada. Os blogs de notícia também crescem assustadoramente. Mesmo os de jornalistas de jornal impresso, como eu. E por isso afirmo: não é a mesma coisa de um jornal. Ali, o repórter está submetido ao crivo de editores e também da fonte entrevistada. A responsabilidade com o material escrito é muito maior. A publicação geralmente é em jornais cuja história faz parte do cotidiano da cidade. São instituições de credibilidade que precisam manter um padrão; um respeito com o leitor.
É diferente de um blog, embora o jornalista também tenha sua reputação posta em jogo. Mas é um nome contra o de um jornal com 10, 50 ou 80 anos de atividade. Penso que os blogs servem, sim, como ferramente democrática de crítica e análise; não de notícia. Para isto existem os portais, cuja equipe é formada exclusivamente para isto: a produção de matérias jornalísticas. E aí mora o perigo da competição com os jornais. Mas também vejo surgirem os tais E-books para substituir os livros. E aí, será que o livro também desaparece?
Terça-feira eu assisti ao programa Observatório na Imprensa. O jornalista Alberto Dines foi à Argentina realizar uma leitura da cobertura dos principais jornais impressos de lá. Ao final, levantou a questão da concorrência da internet e o processo da migração dos jornais para os sites de notícias. As opiniões foram distintas entre os diretores. Alguns afirmaram ser uma tendência irreversível e outros que um dia ambos conviveriam com espaços diferentes ou que duraria décadas ainda para a internet substituir o jornal.
Achei mais interessante a postura do quarto maior jornal argentino. Não lembro o nome. Eles optaram por publicar a versão impressa do jornal apenas aos fins de semana e, de segunda à sexta-feira, noticiar os fatos do dia no portal de notícias na internet. Segundo o diretor, os jornais impressos argentinos, como a maioria dos jornais do mundo, têm prejuízos durante a semana e conseguem reverter apenas nos fins de semana. Para eles, a idéia tem sido um sucesso.
O mesmo diretor enumerou uma série de comportamentos mutantes do cotidiano ao longo dos últimos anos que favorecem esta queda na vendagem dos jornais durante os chamados dias úteis. A principal e mais simbólica é, sem dúvida, a pressa. O cidadão hoje não tem mais o hábito diário de ler jornal por falta de tempo até mesmo para parar numa banca e comprar, ou mesmo se receber em casa. O faz em fins de semana, também por adquirir um exemplar mais completo, como são as edições de sábado e domingo.
Minha opinião é a de que os jornais não vão desaparecer. Quando entrevistei este ano um grande economista, cotado para ser ministro de Lula, o cara disse que o capitalismo é um bicho de sete vidas. Ele sobrevive às crises e se reinventa. Mal comparando, assim é o jornal impresso. Ele vai encontrar uma maneira de se posicionar no mercado sem a competição direta com a internet. Claro, precisará de uma reformulação gráfica, editorial e de muita criatividade para atrair o público jovem. Hoje, o público dos jornais impressos é, em maioria, adultos com mais de 50 anos.
A idéia mais defendida de sobrevivência é a elaboração de reportagens mais trabalhadas – já que a internet oferece textos curtos e superficiais. É a questão do imediatismo prejudicial. As grandes reportagens não cabem mais em mídia alguma. Só em livros. Seria o fim apressado do jornal impresso. Infelizmente, o público não lê mais e não teria paciência para grandes matérias, por mais interessantes e bem feitas que fossem. Talvez um jornalismo participativo, edições com mais editoriais e colunas maiores e mais opinativas fossem soluções.
Acredito que a internet trará uma queda na qualidade da notícia publicada. Os blogs de notícia também crescem assustadoramente. Mesmo os de jornalistas de jornal impresso, como eu. E por isso afirmo: não é a mesma coisa de um jornal. Ali, o repórter está submetido ao crivo de editores e também da fonte entrevistada. A responsabilidade com o material escrito é muito maior. A publicação geralmente é em jornais cuja história faz parte do cotidiano da cidade. São instituições de credibilidade que precisam manter um padrão; um respeito com o leitor.
É diferente de um blog, embora o jornalista também tenha sua reputação posta em jogo. Mas é um nome contra o de um jornal com 10, 50 ou 80 anos de atividade. Penso que os blogs servem, sim, como ferramente democrática de crítica e análise; não de notícia. Para isto existem os portais, cuja equipe é formada exclusivamente para isto: a produção de matérias jornalísticas. E aí mora o perigo da competição com os jornais. Mas também vejo surgirem os tais E-books para substituir os livros. E aí, será que o livro também desaparece?
Feijão Com Rock
Para quem não acordou de ressaca, a partir das 12h de hoje tem a 23ª edição do Feijão Com Rock, no Village Real, em Parnamirim. O evento é realizado desde 2004. É um mix de gastronomia, cultura, esporte e lazer. A feijoada é grátis. As atrações musicais selecionadas para o evento são bandinhas bem conhecidas e de estilos diversificados: The Blue Montain (blues), Harwind rock progressivo), Revolver (anos 60) e Sweet Vanilla (anos 80). O bacana é o propósito do evento: desmistificar o conceito de que feijoada é coisa de pagodeiro. As senhas podem ser adquiridas no Sgt Peppers e no Gringo Bar a R$ 10. No local é R$ 15. Outras informações pelo contato 9117-1757.
sábado, 8 de novembro de 2008
Vertentes de Dostoiévski
Em Os irmãos Karamázov, estão reunidas as principais vertentes da obra de Dostoiévski
Aurora Bernardini
Ao se ler hoje a obra de um grande autor, vem imediato a pergunta do quanto dela ficou, o quanto permanece válida em nossos dias que se vêem continuamente desapossados de tantos dos valores do passado. De Fiódor Dostoievski (1821-1881), fica o estilo mais que atual, pois, como se sabe, não apenas escrevia de forma muito ágil - inicialmente para se manter dentro dos prazos dos editores, pois dependia dos adiantamentos para sobreviver, e depois por hábito - mas, uma vez esboçados, ele costumava ditar seus textos que, muitas vezes, nem pareciam revisados. Além disso, tal como Tchekhov, em alguns de seus contos, ele mimava a maneira de se expressar característica de cada personagem. O tradutor de Os irmãos Karamázov, Paulo Bezerra, comentou as suas dificuldades com a fala do irmão ilegítimo Smerdiákov, cheia de artimanhas, de modo que o resultado era uma linguagem muito viva, e o é agora, felizmente, sem aquela homogeneização a que era submetida via traduções indiretas. Fica a engenhosidade dos romances: neste, o último, iniciado dois anos antes da morte do autor, ele conseguiu reunir todas as vertentes de sua arte. "É um romance policial psicológico, como Crime e castigo; é, quanto a Dmítri, a história de um idealista mal julgado, como O idiota; é, quanto a Ivan, o romance dos intelectuais ateus, como Os demônios; é, quanto a Aliocha, a história da formação de um (homem) novo, como O adolescente" (Otto Maria Carpeaux , prefácio à edição da Ediouro, com tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes).
"Permanece a inteligência da urdidura, a universalidade dos temas, o gigantesco das personagens" (Joseph Frank, O manto do profeta - Edusp 2008), mas permanece também a pergunta, por sinal reforçada por Freud em Dostoiévski e o parricídio, de 1928: "Como é que o primeiro Dostoiévski, o de Gente pobre, exaltado pelo crítico populista Bielínski e condenado à morte (depois comutada) pelo czar por seu socialismo utópico (a crença num mundo melhor, nessa terra), se transforma no último Dostoiévski, submisso a esse mesmo czar, amigo do seu temível conselheiro K. P. Pobedonóstsev, invocando a fé não apenas nos valores morais cristãos, mas nos seus pressupostos sobrenaturais, como os proclamados por Aliocha na última página do romance "a única coisa que podia dar um sustentáculo seguro?". A resposta de Freud, que não vamos comentar aqui e que implica sado-masoquismo e sentimento de culpa, é - como a grande maioria das suas grandes respostas - brilhante, apesar dos pequenos deslizes que o tempo revelou (não há certeza de que tenham sido os servos revoltados a matar o pai de Dostoiévski, como não era o abutre, mas sim o milhafre, a ave simbólica de Uma lembrança infantil de Leonardo da Vinci).A resposta que dá o contemporâneo e, num certo sentido, rival, Lev Tolstói, (sete anos mais jovem que Dostoiévski, mas que morreu 29 anos mais tarde), ao escritor Maksím Gorki que o visita, já ancião, na Criméia (3 Russos- Martins-Martins Fontes, 2006) é seca e contundente: "Ele escreve sobre algo em que não acredita".
Já Otto Maria Carpeaux propõe uma interpretação (aristotelicamente) dialética: "O romance Os irmãos Karamázov passa-se em dois níveis diferentes. Embaixo, a Rússia dos Karamázov, envolvida nas névoas da paixão sexual desenfreada, das bebedeiras e orgias, do crime mascarado e da justiça cega, das filosofias subversivas e das visões satânicas; o diabo aparece em pessoa para conversar com Ivan, que, por sua vez, dirige a mão do parricida. Em cima, o convento, luminoso como um reflexo de glória celeste. Essa dicotomia representa a visão dostoievskiana do futuro: o cristianismo salvará a Rússia (não o da Igreja de Roma, porém); e a Rússia fará o cristianismo vencer no mundo. Eis a mensagem de Dostoiévski, que ele lança contra a mensagem escondida na filosofia de Ivan e de todos os Ivans que esperam que a revolução salvará a Rússia e que a Rússia salvará o mundo. Pelo seu romance, afirma Dostoiévski que a primeira tese, a sua, é evangélica e que a outra é satânica. Mas não escapa à inteligência insubornável do escritor o fato de que as duas teses são, no fundo, idênticas: basta trocar um substantivo para transformar uma na outra". Outros críticos e filósofos chegaram a uma descoberta próxima. Em Dostoiévski e a consciência cristã, hoje (1971), Pierre Pascal pergunta: "Mas este paraíso na terra, que Dostoiévski não define de outra forma, será ele cristão?
Os autores que trataram dessa noção em Dostoiévski vêem nela uma sobrevivência do antigo entusiasmo dele pelo "socialismo utópico". Bem, dentro da polifonia dos romances dostoievskianos, a fala que mais impressiona o leitor, no livro, é a do "herético" Ivan Karamazóv, embora - quem sabe - a fala do autor se escondesse atrás das palavras do puro Aliocha. Aí, como provou Bakhtin, está a revolução literária do autor Dostoievski - não é a voz dele a que necessariamente se impõe. Ivan das torturas infligidas às crianças, Ivan que recusa o bilhete desse mundo de Deus, Ivan que compõe A lenda do grande inquisidor. Ainda mais paradoxal, as sementes de trigo da epígrafe produziram fruto sim, mas curiosamente, no sentido oposto ao que Dostoiévski esperava. O "nosso pobre povo" quer o Milagre, o Mistério e a Autoridade em que se apoiar, enquanto o deus Capitalismo - o que o narrador execrava na figura do velho pai hedonista, Fiódor Pávlovitch Karamázov - continua regendo os destinos do mundo, até sua utópica derrocada.
Aurora Bernardini
Ao se ler hoje a obra de um grande autor, vem imediato a pergunta do quanto dela ficou, o quanto permanece válida em nossos dias que se vêem continuamente desapossados de tantos dos valores do passado. De Fiódor Dostoievski (1821-1881), fica o estilo mais que atual, pois, como se sabe, não apenas escrevia de forma muito ágil - inicialmente para se manter dentro dos prazos dos editores, pois dependia dos adiantamentos para sobreviver, e depois por hábito - mas, uma vez esboçados, ele costumava ditar seus textos que, muitas vezes, nem pareciam revisados. Além disso, tal como Tchekhov, em alguns de seus contos, ele mimava a maneira de se expressar característica de cada personagem. O tradutor de Os irmãos Karamázov, Paulo Bezerra, comentou as suas dificuldades com a fala do irmão ilegítimo Smerdiákov, cheia de artimanhas, de modo que o resultado era uma linguagem muito viva, e o é agora, felizmente, sem aquela homogeneização a que era submetida via traduções indiretas. Fica a engenhosidade dos romances: neste, o último, iniciado dois anos antes da morte do autor, ele conseguiu reunir todas as vertentes de sua arte. "É um romance policial psicológico, como Crime e castigo; é, quanto a Dmítri, a história de um idealista mal julgado, como O idiota; é, quanto a Ivan, o romance dos intelectuais ateus, como Os demônios; é, quanto a Aliocha, a história da formação de um (homem) novo, como O adolescente" (Otto Maria Carpeaux , prefácio à edição da Ediouro, com tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes).
"Permanece a inteligência da urdidura, a universalidade dos temas, o gigantesco das personagens" (Joseph Frank, O manto do profeta - Edusp 2008), mas permanece também a pergunta, por sinal reforçada por Freud em Dostoiévski e o parricídio, de 1928: "Como é que o primeiro Dostoiévski, o de Gente pobre, exaltado pelo crítico populista Bielínski e condenado à morte (depois comutada) pelo czar por seu socialismo utópico (a crença num mundo melhor, nessa terra), se transforma no último Dostoiévski, submisso a esse mesmo czar, amigo do seu temível conselheiro K. P. Pobedonóstsev, invocando a fé não apenas nos valores morais cristãos, mas nos seus pressupostos sobrenaturais, como os proclamados por Aliocha na última página do romance "a única coisa que podia dar um sustentáculo seguro?". A resposta de Freud, que não vamos comentar aqui e que implica sado-masoquismo e sentimento de culpa, é - como a grande maioria das suas grandes respostas - brilhante, apesar dos pequenos deslizes que o tempo revelou (não há certeza de que tenham sido os servos revoltados a matar o pai de Dostoiévski, como não era o abutre, mas sim o milhafre, a ave simbólica de Uma lembrança infantil de Leonardo da Vinci).A resposta que dá o contemporâneo e, num certo sentido, rival, Lev Tolstói, (sete anos mais jovem que Dostoiévski, mas que morreu 29 anos mais tarde), ao escritor Maksím Gorki que o visita, já ancião, na Criméia (3 Russos- Martins-Martins Fontes, 2006) é seca e contundente: "Ele escreve sobre algo em que não acredita".
Já Otto Maria Carpeaux propõe uma interpretação (aristotelicamente) dialética: "O romance Os irmãos Karamázov passa-se em dois níveis diferentes. Embaixo, a Rússia dos Karamázov, envolvida nas névoas da paixão sexual desenfreada, das bebedeiras e orgias, do crime mascarado e da justiça cega, das filosofias subversivas e das visões satânicas; o diabo aparece em pessoa para conversar com Ivan, que, por sua vez, dirige a mão do parricida. Em cima, o convento, luminoso como um reflexo de glória celeste. Essa dicotomia representa a visão dostoievskiana do futuro: o cristianismo salvará a Rússia (não o da Igreja de Roma, porém); e a Rússia fará o cristianismo vencer no mundo. Eis a mensagem de Dostoiévski, que ele lança contra a mensagem escondida na filosofia de Ivan e de todos os Ivans que esperam que a revolução salvará a Rússia e que a Rússia salvará o mundo. Pelo seu romance, afirma Dostoiévski que a primeira tese, a sua, é evangélica e que a outra é satânica. Mas não escapa à inteligência insubornável do escritor o fato de que as duas teses são, no fundo, idênticas: basta trocar um substantivo para transformar uma na outra". Outros críticos e filósofos chegaram a uma descoberta próxima. Em Dostoiévski e a consciência cristã, hoje (1971), Pierre Pascal pergunta: "Mas este paraíso na terra, que Dostoiévski não define de outra forma, será ele cristão?
Os autores que trataram dessa noção em Dostoiévski vêem nela uma sobrevivência do antigo entusiasmo dele pelo "socialismo utópico". Bem, dentro da polifonia dos romances dostoievskianos, a fala que mais impressiona o leitor, no livro, é a do "herético" Ivan Karamazóv, embora - quem sabe - a fala do autor se escondesse atrás das palavras do puro Aliocha. Aí, como provou Bakhtin, está a revolução literária do autor Dostoievski - não é a voz dele a que necessariamente se impõe. Ivan das torturas infligidas às crianças, Ivan que recusa o bilhete desse mundo de Deus, Ivan que compõe A lenda do grande inquisidor. Ainda mais paradoxal, as sementes de trigo da epígrafe produziram fruto sim, mas curiosamente, no sentido oposto ao que Dostoiévski esperava. O "nosso pobre povo" quer o Milagre, o Mistério e a Autoridade em que se apoiar, enquanto o deus Capitalismo - o que o narrador execrava na figura do velho pai hedonista, Fiódor Pávlovitch Karamázov - continua regendo os destinos do mundo, até sua utópica derrocada.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Festival Universitário
Começa hoje o Festival Universitário da Canção 2008. A partir das 18h o Anfiteatro do Campus recebe 20 univeristários pré-selecionados de universidades do Rio Grande do Norte para a disputa do prêmio de melhor música. Há premiações também para segundo e terceiro colocados e júri popular para melhor compositor e melhor intérprete. A grande final será amanhã, às 19h. O encerramento dos dois dias ficará por conta da banda Alcatéia Maldita (na sexta) e do músico Galvão Filho (sábado), a partir das 21h. O evento faz parte das comemorações dos 50 anos da UFRN e é organizado pelo DCE, Secretaria de Assuntos Estudantis (SAE), FM 88,9 (Rádio FM Universitária), UFRN e patrocinado pelo Banco do Brasil.
Cinema noir para hoje
O Cineclube Natal, em parceria com Nalva Melo Salão Café, apresenta hoje o filme Relíquia Macabra (1941), do diretor americano John Huston, considerado um dos maiores filmes noir da história do cinema. A sessão começa às 20 horas e a entrada custa R$ 2. O salão de Nalva fica na Ribeira, vizinho à Tribuna do Norte. A história do filme gira em torno de um grupo de pessoas que tentam, desesperadamente, colocar as mãos numa estátua coberta de ouro e cheia de jóias preciosas por dentro. Samuel Space, o personagem de Humphrey Bogart, é um detetive particular que é contratado por uma mulher misteriosa, envolvida com um homem sinistro. Contando sua história, Samuel logo percebe que a mulher está mentindo e, quando o seu parceiro é assassinado, descobre estar participando de uma complicada trama envolvendo a busca pela relíquia, enquanto diferentes personagens cheios de segredos vão cruzando seu caminho.
O filme noir é uma manifestação tipicamente americana (embora descendente do expressionismo alemão), primariamente associado a enredos policiais, que retrata seus personagens principais num mundo cínico e antipático. Tendem a utilizar sombras dramáticas, alto contraste, iluminação "low key" e película em preto-e-branco. Sombras de venezianas sobre o rosto de um ator enquanto ele olha através da janela são um ícone visual no film noir, já tendo se tornado um cliché. Apresentam personagens desesperados num universo desapiedado. Crime, geralmente assassinato, é um elemento que permeia a maioria dos films noirs, geralmente carregados de ciúmes, corrupção e fraqueza moral. A maioria contém certos personagens arquétipos ("femme-fatales", policiais corruptos, maridos ciumentos, corretores de seguros e bodes expiatórios), locações famosas (Los Angeles, New York e San Francisco), e temática recorrente nos roteiros (tramas de assaltos, histórias de detetives, filmes de gangsters e de julgamentos).
O filme noir é uma manifestação tipicamente americana (embora descendente do expressionismo alemão), primariamente associado a enredos policiais, que retrata seus personagens principais num mundo cínico e antipático. Tendem a utilizar sombras dramáticas, alto contraste, iluminação "low key" e película em preto-e-branco. Sombras de venezianas sobre o rosto de um ator enquanto ele olha através da janela são um ícone visual no film noir, já tendo se tornado um cliché. Apresentam personagens desesperados num universo desapiedado. Crime, geralmente assassinato, é um elemento que permeia a maioria dos films noirs, geralmente carregados de ciúmes, corrupção e fraqueza moral. A maioria contém certos personagens arquétipos ("femme-fatales", policiais corruptos, maridos ciumentos, corretores de seguros e bodes expiatórios), locações famosas (Los Angeles, New York e San Francisco), e temática recorrente nos roteiros (tramas de assaltos, histórias de detetives, filmes de gangsters e de julgamentos).
Micarla em MG
A prefeita eleita Micarla de Sousa (PV) esteve ontem no encontro com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. A assessoria do especulado candidato à presidência em 2010 fez entrevista com a “borboleta”. De fato novo, apenas a pergunta que se segue:
A situação financeira da prefeitura é ruim?
Não. Até agora o que nós sabemos é que a situação da prefeitura é uma situação equilibrada. É óbvio que nós só vamos poder dizer isso de forma definitiva depois que tivermos os dados da transição. Até mesmo com relação ao próprio prefeito que foi meu adversário nessa eleição, eu estive com ele antes de ontem, e ele já colocou toda a sua equipe de transição à nossa disposição e espero que essa transição seja harmoniosa nos moldes de políticos jovens, políticos que têm de fazer política já de uma outra forma, de uma forma diferenciada, sem levar em conta as bandeiras partidárias.
A situação financeira da prefeitura é ruim?
Não. Até agora o que nós sabemos é que a situação da prefeitura é uma situação equilibrada. É óbvio que nós só vamos poder dizer isso de forma definitiva depois que tivermos os dados da transição. Até mesmo com relação ao próprio prefeito que foi meu adversário nessa eleição, eu estive com ele antes de ontem, e ele já colocou toda a sua equipe de transição à nossa disposição e espero que essa transição seja harmoniosa nos moldes de políticos jovens, políticos que têm de fazer política já de uma outra forma, de uma forma diferenciada, sem levar em conta as bandeiras partidárias.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Nova Funcarte
Pelo que eu soube já bateram o martelo na escolha do novo presidente da Capitania das Artes. E nada de Rejane Serejo, Fernando Luís, o deputado Luiz Almir ou até o federal Felipe Maia, como também foi especulado. Quem substituirá Dácio Galvão na gerência da cultura municipal é o médico e escritor Iaperi Araújo. A indicação é do senador José Agripino. Iaperi já comandou a Fundação José Augusto e também a antiga secretaria municipal de Turismo e Cultura, antes do desmembramento para Capitania das Artes. A quista dos outros nomes cogitados eu acho uma boa opção. Pelo menos tem visão mais abrangente de cultura e experiência. Dá pra respirar mais aliviado com a notícia.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Bienal do Ceará
Notícia boa para este blogueiro. Estarei entre os dias 12 e 14 de novembro no Estado cearense, para a oitava Bienal Internacional do Livro do Ceará. A programação está voltada a discutir a mestiçagem na literatura da América Latina. Os temas estão bem diversificados e nem sempre atrativos. Mas tem muita coisa boa e vou tentar pescar o que de melhor interessar ao leitor. Não sei da disponibilidade de internet lá. Na medida do possível passo informações para o blog. O eveno vai ocorrer no Centro de Convenções e na Universidade de Fortaleza (Unifor), que são conjugados. Particularmente achei interessantes os debates a respeito da cultura de resistência e mudanças sociais na América Latina e a sobre a literatura contemporânea, abordando a questão da globalização e da identidade cultural. Também as palestras “A filosofia nos folheto de cordel”, e “A arte do folheteiro”. Mas tem muita coisa boa. Salas temáticas como uma dedicada às revistas culturais. Espero trazer coisa boa.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
O elefante de Saramago
Nem é natal e já dou um presentinho ao visitante do blog: um trecho gordo do novo livro de Saramago, A Viagem do Elefante, nas livrarias desde ontem. A história se baseia em um fato verídico, ocorrido em 1551, quando dom João III, então rei de Portugal, decidiu presentear o arquiduque da Áustria com um elefante indiano. Organizou-se, então, uma comitiva formada por homens e bois que acompanhou o animal de Lisboa até seu destino final, Viena. E, como quase ninguém conhecia um elefante, sua passagem por vilas e aldeias provocava festas e espanto. A seguir:
“Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. É verdade que tinha estado sentado, mas agora já se levantou e deu corajosamente o primeiro passo, a perna direita adiante, para esconjurar os malefícios do destino e dos seus poderosos aliados, a sorte e o acaso, a perna esquerda de repente duvidosa, e o caso não era para menos, pois o chão deixara de poder ver-se, como se uma nova maré de nevoeiro tivesse começado a subir. Ao terceiro passo já não consegue nem sequer ver as suas próprias mãos estendidas à frente, como para proteger o nariz do choque contra uma porta inesperada. Foi então que uma outra ideia se lhe apresentou, a de que o caminho fizesse curvas para um lado ou para o outro, e que o rumo que tomara, uma linha que não queria apenas ser recta, uma linha que queria também manter-se constante nessa direcção, acabasse por conduzi-lo a páramos onde a perdição do seu ser, tanto da alma como do corpo, estaria assegurada, neste último caso com consequências imediatas. E tudo isto, ó sorte mofina, sem um cão para lhe enxugar as lágrimas quando o grande momento chegasse. Ainda pensou em voltar para trás, pedir abrigo na aldeia até que o banco de nevoeiro se desfizesse por si mesmo, mas, perdido o sentido de orientação, confundidos os pontos cardeais como se estivesse num qualquer espaço exterior de que nada soubesse, não achou melhor resposta que sentar-se outra vez no chão e esperar que o destino, a casualidade, a sorte, qualquer deles ou todos juntos, trouxessem os abnegados voluntários ao minúsculo palmo de terra em que se encontrava, como uma ilha no mar oceano, sem comunicações. Com mais propriedade, uma agulha em palheiro. Ao cabo de três minutos, dormia. Estranho animal é este bicho homem, tão capaz de tremendas insónias por causa de uma insignificância como de dormir à perna solta na véspera da batalha. Assim sucedeu. Ferrou no sono, e é de crer que ainda hoje estaria a dormir se salomão não tivesse soltado, de repente, em qualquer parte do nevoeiro, um barrito atroador cujos ecos deveriam ter chegado às distantes margens do ganges. Aturdido pelo brusco despertar, não conseguiu discernir em que direcção poderia estar o emissor sonoro que decidira salvá-lo de um enregelamento fatal, ou pior ainda, de ser devorado pelos lobos, porque isto é terra de lobos, e um homem sozinho e desarmado não tem salvação ante uma alcateia ou um simples exemplar da espécie. A segunda chamada de salomão foi mais potente ainda que a primeira, começou por uma espécie de gorgolejo surdo nos abismos da garganta, como um rufar de tambores, a que imediatamente se sucedeu o clangor sincopado que forma o grito deste animal. O homem já vai atravessando a bruma como um cavaleiro disparado à carga, de lança em riste, enquanto mentalmente implora, Outra vez, salomão, por favor, outra vez. E salomão fez-lhe a vontade, soltou novo barrito, menos forte, como de simples confirmação, porque o náufrago que era já deixara de o ser, já vem chegando, aqui está o carro da intendência da cavalaria, não se lhe podem distinguir os pormenores porque as coisas e as pessoas são como borrões indistintos, outra ideia se nos ocorreu agora, bastante mais incómoda, suponhamos que este nevoeiro é dos que corroem as peles, a da gente, a dos cavalos, a do próprio elefante, apesar de grossa, que não há tigre que lhe meta o dente, os nevoeiros não são todos iguais, um dia se gritará gás, e ai de quem não levar na cabeça uma celada bem ajustada. A um soldado que passa, levando o cavalo pela reata, o náufrago pergunta-lhe se os voluntários já regressaram da missão de salvamento e resgate, e ele respondeu à interpelação com um olhar desconfiado, como se estivesse diante de um provocador, que havê-los já os havia em abundância no século dezasseis, basta consultar os arquivos da inquisição, e responde, secamente, Onde é que você foi buscar essas fantasias, aqui não houve nenhum pedido de voluntários, com um nevoeiro destes a única atitude sensata foi a que tomámos, manter-nos juntos até que ele decidisse por si mesmo levantar-se, aliás, pedir voluntários não é muito do estilo do comandante, em geral limita-se a apontar tu, tu e tu, vocês, em frente, marche, o comandante diz que, heróis, heróis, ou vamos sê-lo todos, ou ninguém. Para tornar mais clara a vontade de acabar a conversa, o soldado içou-se rapidamente para cima do cavalo, disse até logo e desapareceu no nevoeiro. Não ia satisfeito consigo mesmo. Tinha dado explicações que ninguém lhe havia pedido, feito comentários para que não estava autorizado. No entanto, tranquilizava-o o facto de que o homem, embora não parecesse ter o físico adequado, deveria pertencer, outra possibilidade não cabia, pelo menos, ao grupo daqueles que haviam sido contratados para ajudar a empurrar e puxar os carros de bois nos passos difíceis, gente de poucos falares e, em princípio, escassíssima imaginação. Em princípio, diga-se, porque ao homem perdido no nevoeiro imaginação foi o que pareceu não lhe ter faltado, haja vista a ligeireza com que tirou do nada, do não acontecido, os voluntários que deveriam ter ido salvá-lo. Felizmente para a sua credibilidade pública, o elefante é outra coisa. Grande, enorme, barrigudo, com uma voz de estarrecer os tímidos e uma tromba como não a tem nenhum outro animal da criação, o elefante nunca poderia ser produto de uma imaginação, por muito fértil e dada ao risco que fosse. O elefante, simplesmente, ou existiria, ou não existiria. É portanto hora de ir visitá-lo, hora de lhe agradecer a energia com que usou a salvadora trombeta que deus lhe deu, se este sítio fosse o vale de josafá teriam ressuscitado os mortos, mas sendo apenas o que é, um pedaço bruto de terra portuguesa afogado pela névoa onde alguém (quem) esteve a ponto de morrer de frio e abandono, diremos, para não perder de todo a trabalhosa comparação em que nos metemos, que há ressurreições tão bem administradas que chega a ser possível executá-las antes do passamento do próprio sujeito. Foi como se o elefante tivesse pensado, Aquele pobre diabo vai morrer, vou ressuscitá-lo. E aqui temos o pobre diabo desfazendo-se em agradecimentos, em juras de gratidão para toda a vida, até que o cornaca se decidiu a perguntar, Que foi que o elefante lhe fez para que você lhe esteja tão agradecido, Se não fosse ele, eu teria morrido de frio ou teria sido comido pelos lobos, E como conseguiu ele isso, se não saiu daqui desde que acordou, Não precisou de sair daqui, bastou-lhe soprar na sua trombeta, eu estava perdido no nevoeiro e foi a sua voz que me salvou, Se alguém pode falar das obras e feitos de salomão, sou eu, que para isso sou o seu cornaca, portanto não venha para cá com essa treta de ter ouvido um barrito, Um barrito, não, os barritos que estas orelhas que a terra há-de comer ouviram foram três. O cornaca pensou, Este fulano está doido varrido, variou-se-lhe a cabeça com a febre do nevoeiro, foi o mais certo, tem-se ouvido falar de casos assim, Depois, em voz alta, Para não estarmos aqui a discutir, barrito sim, barrito não, barrito talvez, pergunte você a esses homens que aí vêm se ouviram alguma coisa. Os homens, três vultos cujos difusos contornos pareciam oscilar e tremer a cada passo, davam imediata vontade de perguntar, Onde é que vocês querem ir com semelhante tempo. Sabemos que não era esta a pergunta que o maníaco dos barritos lhes fazia neste momento e sabemos a resposta que lhe estavam a dar. Também não sabemos se algumas destas coisas estão relacionadas umas com as outras, e quais, e como. O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof”.
“Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. É verdade que tinha estado sentado, mas agora já se levantou e deu corajosamente o primeiro passo, a perna direita adiante, para esconjurar os malefícios do destino e dos seus poderosos aliados, a sorte e o acaso, a perna esquerda de repente duvidosa, e o caso não era para menos, pois o chão deixara de poder ver-se, como se uma nova maré de nevoeiro tivesse começado a subir. Ao terceiro passo já não consegue nem sequer ver as suas próprias mãos estendidas à frente, como para proteger o nariz do choque contra uma porta inesperada. Foi então que uma outra ideia se lhe apresentou, a de que o caminho fizesse curvas para um lado ou para o outro, e que o rumo que tomara, uma linha que não queria apenas ser recta, uma linha que queria também manter-se constante nessa direcção, acabasse por conduzi-lo a páramos onde a perdição do seu ser, tanto da alma como do corpo, estaria assegurada, neste último caso com consequências imediatas. E tudo isto, ó sorte mofina, sem um cão para lhe enxugar as lágrimas quando o grande momento chegasse. Ainda pensou em voltar para trás, pedir abrigo na aldeia até que o banco de nevoeiro se desfizesse por si mesmo, mas, perdido o sentido de orientação, confundidos os pontos cardeais como se estivesse num qualquer espaço exterior de que nada soubesse, não achou melhor resposta que sentar-se outra vez no chão e esperar que o destino, a casualidade, a sorte, qualquer deles ou todos juntos, trouxessem os abnegados voluntários ao minúsculo palmo de terra em que se encontrava, como uma ilha no mar oceano, sem comunicações. Com mais propriedade, uma agulha em palheiro. Ao cabo de três minutos, dormia. Estranho animal é este bicho homem, tão capaz de tremendas insónias por causa de uma insignificância como de dormir à perna solta na véspera da batalha. Assim sucedeu. Ferrou no sono, e é de crer que ainda hoje estaria a dormir se salomão não tivesse soltado, de repente, em qualquer parte do nevoeiro, um barrito atroador cujos ecos deveriam ter chegado às distantes margens do ganges. Aturdido pelo brusco despertar, não conseguiu discernir em que direcção poderia estar o emissor sonoro que decidira salvá-lo de um enregelamento fatal, ou pior ainda, de ser devorado pelos lobos, porque isto é terra de lobos, e um homem sozinho e desarmado não tem salvação ante uma alcateia ou um simples exemplar da espécie. A segunda chamada de salomão foi mais potente ainda que a primeira, começou por uma espécie de gorgolejo surdo nos abismos da garganta, como um rufar de tambores, a que imediatamente se sucedeu o clangor sincopado que forma o grito deste animal. O homem já vai atravessando a bruma como um cavaleiro disparado à carga, de lança em riste, enquanto mentalmente implora, Outra vez, salomão, por favor, outra vez. E salomão fez-lhe a vontade, soltou novo barrito, menos forte, como de simples confirmação, porque o náufrago que era já deixara de o ser, já vem chegando, aqui está o carro da intendência da cavalaria, não se lhe podem distinguir os pormenores porque as coisas e as pessoas são como borrões indistintos, outra ideia se nos ocorreu agora, bastante mais incómoda, suponhamos que este nevoeiro é dos que corroem as peles, a da gente, a dos cavalos, a do próprio elefante, apesar de grossa, que não há tigre que lhe meta o dente, os nevoeiros não são todos iguais, um dia se gritará gás, e ai de quem não levar na cabeça uma celada bem ajustada. A um soldado que passa, levando o cavalo pela reata, o náufrago pergunta-lhe se os voluntários já regressaram da missão de salvamento e resgate, e ele respondeu à interpelação com um olhar desconfiado, como se estivesse diante de um provocador, que havê-los já os havia em abundância no século dezasseis, basta consultar os arquivos da inquisição, e responde, secamente, Onde é que você foi buscar essas fantasias, aqui não houve nenhum pedido de voluntários, com um nevoeiro destes a única atitude sensata foi a que tomámos, manter-nos juntos até que ele decidisse por si mesmo levantar-se, aliás, pedir voluntários não é muito do estilo do comandante, em geral limita-se a apontar tu, tu e tu, vocês, em frente, marche, o comandante diz que, heróis, heróis, ou vamos sê-lo todos, ou ninguém. Para tornar mais clara a vontade de acabar a conversa, o soldado içou-se rapidamente para cima do cavalo, disse até logo e desapareceu no nevoeiro. Não ia satisfeito consigo mesmo. Tinha dado explicações que ninguém lhe havia pedido, feito comentários para que não estava autorizado. No entanto, tranquilizava-o o facto de que o homem, embora não parecesse ter o físico adequado, deveria pertencer, outra possibilidade não cabia, pelo menos, ao grupo daqueles que haviam sido contratados para ajudar a empurrar e puxar os carros de bois nos passos difíceis, gente de poucos falares e, em princípio, escassíssima imaginação. Em princípio, diga-se, porque ao homem perdido no nevoeiro imaginação foi o que pareceu não lhe ter faltado, haja vista a ligeireza com que tirou do nada, do não acontecido, os voluntários que deveriam ter ido salvá-lo. Felizmente para a sua credibilidade pública, o elefante é outra coisa. Grande, enorme, barrigudo, com uma voz de estarrecer os tímidos e uma tromba como não a tem nenhum outro animal da criação, o elefante nunca poderia ser produto de uma imaginação, por muito fértil e dada ao risco que fosse. O elefante, simplesmente, ou existiria, ou não existiria. É portanto hora de ir visitá-lo, hora de lhe agradecer a energia com que usou a salvadora trombeta que deus lhe deu, se este sítio fosse o vale de josafá teriam ressuscitado os mortos, mas sendo apenas o que é, um pedaço bruto de terra portuguesa afogado pela névoa onde alguém (quem) esteve a ponto de morrer de frio e abandono, diremos, para não perder de todo a trabalhosa comparação em que nos metemos, que há ressurreições tão bem administradas que chega a ser possível executá-las antes do passamento do próprio sujeito. Foi como se o elefante tivesse pensado, Aquele pobre diabo vai morrer, vou ressuscitá-lo. E aqui temos o pobre diabo desfazendo-se em agradecimentos, em juras de gratidão para toda a vida, até que o cornaca se decidiu a perguntar, Que foi que o elefante lhe fez para que você lhe esteja tão agradecido, Se não fosse ele, eu teria morrido de frio ou teria sido comido pelos lobos, E como conseguiu ele isso, se não saiu daqui desde que acordou, Não precisou de sair daqui, bastou-lhe soprar na sua trombeta, eu estava perdido no nevoeiro e foi a sua voz que me salvou, Se alguém pode falar das obras e feitos de salomão, sou eu, que para isso sou o seu cornaca, portanto não venha para cá com essa treta de ter ouvido um barrito, Um barrito, não, os barritos que estas orelhas que a terra há-de comer ouviram foram três. O cornaca pensou, Este fulano está doido varrido, variou-se-lhe a cabeça com a febre do nevoeiro, foi o mais certo, tem-se ouvido falar de casos assim, Depois, em voz alta, Para não estarmos aqui a discutir, barrito sim, barrito não, barrito talvez, pergunte você a esses homens que aí vêm se ouviram alguma coisa. Os homens, três vultos cujos difusos contornos pareciam oscilar e tremer a cada passo, davam imediata vontade de perguntar, Onde é que vocês querem ir com semelhante tempo. Sabemos que não era esta a pergunta que o maníaco dos barritos lhes fazia neste momento e sabemos a resposta que lhe estavam a dar. Também não sabemos se algumas destas coisas estão relacionadas umas com as outras, e quais, e como. O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof”.
Dia de flores e expectativas no Beco
Uma primavera de dias cinzentos. Assim vive o Beco da Lama nos últimos dias de preparação para o Gardênia’s Day, ou Festa das Flores. O clima é de homenagem a Gardênia, uma das figuras folclóricas mais representativas da Cidade Alta. A festa acontece sábado a partir das 17h, em frente ao Bar de Nazaré. Vai haver atrações musicais como Pedrinho Mendes, Tertuliano Aires e Edja Alves, além de exposição de fotografias, artes plásticas, oficina de pintura e exibição de curtas metragens. É a primeira edição do evento. E também a primeira intervenção de uma nova entidade criada naquelas adjacências com o intuito único de resgatar a alegria perdida nos últimos anos no Beco da Lama.
A Boêmios Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Bamba) surgiu sem ata, estatuto ou intenção de rivalizar com a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba), cujo atual presidente, Professor Ubiratan se afastou completamente de suas obrigações e deixou o velho Beco sem as tradicionais comemorações e festividades, como o festival de gastronomia Pratodomundo ou o Carnabeco. Como a próxima eleição do Samba é só em abril, Eduardo Alexandre, o Dunga, reuniu alguns amigos e fundaram o Bamba para retomar alguns projetos perdidos e manter algumas parcerias fundamentais para a realização dos eventos.
A coluna procurou o Professor Ubiratan por duas semanas e não conseguiu achá-lo. Ninguém sabe o paradeiro do atual presidente da Samba. Atualmente a Sociedade abriga mais de 300 sócios. A mesma quantidade de quando o professor Bira assumiu, há quase três anos. Como não há mensalidade ou qualquer cobrança de valores, a Samba vive de parcerias para promoção de seus eventos, como a Agência Cultural do Sebrae, a Capitania das Artes (que a próxima gestão se lembre disso!) ou a Fundação José Augusto.
Segundo Dunga, alguns projetos de revitalização do Centro Histórico – reivindicados pela Samba em gestões anteriores – também tramitam há um bom tempo na Semurb. Agora com a Bamba, Dunga e amigos como Alexandro Gurgel, Leonardo Sodré, Franklin Serrão, Antoniel Campos, Plínio Sanderson, Chagas Lourenço, Hugo Macedo e Paulo Eduardo pretendem acelerar o processo e também resgatar comemorações como o reveillon no Beco ou o Carnabeco. Segundo Dunga, o Beco lutava por resgatar os antigos carnavais de rua de Natal, interrompido pela atual gestão do Samba. Sem o Carnabeco, este ano a prefeitura promoveu shows de rock nas adjacências do Centro.
Como afirmou Dunga, o Samba precisa voltar a ditar o conceito dos eventos que promove. O único evento realizado pelo Beco este ano foi o MPBeco porque não pertence ao calendário de eventos do Samba. É uma iniciativa isolada de dos produtores Dorian Lima e Júlio César Pimenta. Um dos integrantes do Bamba, Plínio Sanderson pretende, ainda para novembro, realizar um Festival de Petiscos no Beco – uma mostra do que um dia foi o Festival de Gastronomia do Beco. Dunga lembra que o Bamba não é uma dissidência do Samba “são amantes do Beco que sentem falta do antigo e fraterno convívio que um dia foi e hoje não é mais. Longa vida para a Samba, é o que desejamos, vida repleta de muitas e vitoriosas realizações”.
Que a retomada da alma alegre e da freqüência ativa do Beco seja agora com a Festa em homenagem a Gardênia. A recomendação é que cada um leve flores e estejam todos com roupas coloridas para entrar no clima da festa – a festa das flores, da alegria e de novos tempos para o Beco.
A Boêmios Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Bamba) surgiu sem ata, estatuto ou intenção de rivalizar com a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba), cujo atual presidente, Professor Ubiratan se afastou completamente de suas obrigações e deixou o velho Beco sem as tradicionais comemorações e festividades, como o festival de gastronomia Pratodomundo ou o Carnabeco. Como a próxima eleição do Samba é só em abril, Eduardo Alexandre, o Dunga, reuniu alguns amigos e fundaram o Bamba para retomar alguns projetos perdidos e manter algumas parcerias fundamentais para a realização dos eventos.
A coluna procurou o Professor Ubiratan por duas semanas e não conseguiu achá-lo. Ninguém sabe o paradeiro do atual presidente da Samba. Atualmente a Sociedade abriga mais de 300 sócios. A mesma quantidade de quando o professor Bira assumiu, há quase três anos. Como não há mensalidade ou qualquer cobrança de valores, a Samba vive de parcerias para promoção de seus eventos, como a Agência Cultural do Sebrae, a Capitania das Artes (que a próxima gestão se lembre disso!) ou a Fundação José Augusto.
Segundo Dunga, alguns projetos de revitalização do Centro Histórico – reivindicados pela Samba em gestões anteriores – também tramitam há um bom tempo na Semurb. Agora com a Bamba, Dunga e amigos como Alexandro Gurgel, Leonardo Sodré, Franklin Serrão, Antoniel Campos, Plínio Sanderson, Chagas Lourenço, Hugo Macedo e Paulo Eduardo pretendem acelerar o processo e também resgatar comemorações como o reveillon no Beco ou o Carnabeco. Segundo Dunga, o Beco lutava por resgatar os antigos carnavais de rua de Natal, interrompido pela atual gestão do Samba. Sem o Carnabeco, este ano a prefeitura promoveu shows de rock nas adjacências do Centro.
Como afirmou Dunga, o Samba precisa voltar a ditar o conceito dos eventos que promove. O único evento realizado pelo Beco este ano foi o MPBeco porque não pertence ao calendário de eventos do Samba. É uma iniciativa isolada de dos produtores Dorian Lima e Júlio César Pimenta. Um dos integrantes do Bamba, Plínio Sanderson pretende, ainda para novembro, realizar um Festival de Petiscos no Beco – uma mostra do que um dia foi o Festival de Gastronomia do Beco. Dunga lembra que o Bamba não é uma dissidência do Samba “são amantes do Beco que sentem falta do antigo e fraterno convívio que um dia foi e hoje não é mais. Longa vida para a Samba, é o que desejamos, vida repleta de muitas e vitoriosas realizações”.
Que a retomada da alma alegre e da freqüência ativa do Beco seja agora com a Festa em homenagem a Gardênia. A recomendação é que cada um leve flores e estejam todos com roupas coloridas para entrar no clima da festa – a festa das flores, da alegria e de novos tempos para o Beco.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Valéria Oliveira é internacional
Notícia excelente. Valéria Oliveira foi convidada para participar de um dos maiores festivais de música do mundo: o South by Southwest (SXSW), no Texas, Estados Unidos. é realizado anualmente em Austin, capital do Texas, nos Estados Unidos, e a 23ª edição do Festival ocorrerá de 13 a 22 de março de 2009. É no lendário Festival de Música SXSW que novos talentos do circuito independente de diversos países debutam para a cena mundial e se integram a artistas já consagrados. Nas últimas edições passaram por lá nomes tão importantes quanto Ben Harper, R.E.M. e Morrissey, assim como foram lançados artistas como Amy Winehouse. Entre os brasileiros selecionados para edições anteriores do SXSW, estão Lenine e Marcelo D2. No SXSW 2009, serão mais de 1.800 shows dos mais variados gêneros, 80 palcos espalhados pelo centro de Austin e centenas de artistas e bandas se apresentando numa grande vitrine de tendências artísticas e culturais.
A participação de Valéria Oliveira no SXSW 2009 é uma decorrência direta de sua participação na última Feira da Música, realizada em Fortaleza em agosto deste ano. Valéria Oliveira fez parte da Caravana Potiguar patrocinada pelo Sebrae/RN e pela Fundação José Augusto, que promoveram a ida dos artistas do Rio Grande do Norte. A artista contou também com o apoio da Cosern e do Banco do Nordeste. Na “Rodada de Negócios Internacionais” da Feira da Música 2008, da qual participaram cerca de 50 artistas brasileiros, o trabalho de Valéria Oliveira foi o único selecionado para uma reunião entre sua produção e o diretor artístico do SXSW, Brent Grulke, que esteve em Fortaleza em busca de novidades. Na reunião, Brent Grulke informou que o trabalho de Valéria se adequava ao perfil do Festival e sugeriu que fosse inscrito no SXSW 2009.
A participação de Valéria Oliveira no SXSW 2009 é uma decorrência direta de sua participação na última Feira da Música, realizada em Fortaleza em agosto deste ano. Valéria Oliveira fez parte da Caravana Potiguar patrocinada pelo Sebrae/RN e pela Fundação José Augusto, que promoveram a ida dos artistas do Rio Grande do Norte. A artista contou também com o apoio da Cosern e do Banco do Nordeste. Na “Rodada de Negócios Internacionais” da Feira da Música 2008, da qual participaram cerca de 50 artistas brasileiros, o trabalho de Valéria Oliveira foi o único selecionado para uma reunião entre sua produção e o diretor artístico do SXSW, Brent Grulke, que esteve em Fortaleza em busca de novidades. Na reunião, Brent Grulke informou que o trabalho de Valéria se adequava ao perfil do Festival e sugeriu que fosse inscrito no SXSW 2009.
Dácio no Nasemana
Muito boa a entrevista do presidente da Capitania das Artes, Dácio Galvão concedida a Alex de Souza e Zenaide Castro, do semanário Nasemana. A parte que achei mais interessante foi acerca da possibilidade de criação do fundo municipal de cultura. Sempre quis perguntar isso e nunca tive oportunidade. Dácio confessou que faltou empenho da Funcarte, mas dividiu o ônus com o Conselho Municipal de Cultura, segundo ele, constituído de forma irregular quando assumiu. E aí vem a tal burocracia que tem emperrado o andamento das políticas públicas no Estado, principalmente com a cultura.
Dácio afirmou que passou onze meses para reformular a lei e “ajeitar” o Conselho. Até então ele não tinha uma assessoria jurídica. Há dois meses conseguiu assessores jurídicos que realmente constataram uma legislação capenga e ainda lutam para reformular a lei. “Não conseguimos porque a burocracia é muito grande”. Mas abaixo, o presidente da Funcarte repete, quando perguntado a respeito do aprendizado à frente da instituição: “Aprendi muito porque não tinha essa noção burocrática da administração. E é uma burocracia para você não vencer, para travar”.
Agora, todos sabem o quanto a Funcarte conseguiu (essa é a palavra mais apropriada) realizar nestes quatro anos. Não só obras representativas de uma gestão compromissada e atuante, como o Memorial de Natal ou o Museu Djalma Maranhão. Se faltou o fundo municipal de cultura, Natal ganhou um calendário cultural sólido, diversificado, além de espaços novos para a cultura, como o Centro Chico Miséria, na Zona Norte ou o Teatro Jesiel Figueiredo. Segundo a entrevista – eu nem sabia disso! – o Letras Natalenses publicou 16 livros! Isso tudo com toda a burocracia engendrada. A mesma que serve de desculpa para outros não fazerem nada.
Dácio afirmou que passou onze meses para reformular a lei e “ajeitar” o Conselho. Até então ele não tinha uma assessoria jurídica. Há dois meses conseguiu assessores jurídicos que realmente constataram uma legislação capenga e ainda lutam para reformular a lei. “Não conseguimos porque a burocracia é muito grande”. Mas abaixo, o presidente da Funcarte repete, quando perguntado a respeito do aprendizado à frente da instituição: “Aprendi muito porque não tinha essa noção burocrática da administração. E é uma burocracia para você não vencer, para travar”.
Agora, todos sabem o quanto a Funcarte conseguiu (essa é a palavra mais apropriada) realizar nestes quatro anos. Não só obras representativas de uma gestão compromissada e atuante, como o Memorial de Natal ou o Museu Djalma Maranhão. Se faltou o fundo municipal de cultura, Natal ganhou um calendário cultural sólido, diversificado, além de espaços novos para a cultura, como o Centro Chico Miséria, na Zona Norte ou o Teatro Jesiel Figueiredo. Segundo a entrevista – eu nem sabia disso! – o Letras Natalenses publicou 16 livros! Isso tudo com toda a burocracia engendrada. A mesma que serve de desculpa para outros não fazerem nada.
domingo, 2 de novembro de 2008
400contra1
O diretor de cena da Maria Bonita Coisas, Caco Souza, está em fase de pré-produção do longa-metragem ficcional 400contra1 – Uma História do Comando Vermelho. O filme aborda o surgimento da organização no fim dos anos 70. O ator Daniel de Oliveira será o protagonista e narrador do filme, como William da Silva Lima, um dos grandes articuladores do que veio a transformar-se no Comando Vermelho. A atriz Daniela Escobar será Teresa que viverá uma paixão arrebatadora com Willian. O início das filmagens está previsto para 15 de janeiro de 2009.
sábado, 1 de novembro de 2008
Salão de Artes Visuais: resultado
Para o leitor Willian, que perguntou sobre o resultado, a comissão de seleção do XII Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal escolheu as três obras artísticas a ser contempladas com Prêmios Aquisições. Em primeiro lugar ficou o desenho do artista Ilkes Rosemir; o segundo lugar foi de Jean Sartief, com ensaio fotográfico intitulado "Sombra de Mondrian" e, em terceiro, Tiago César Lima, também com trabalho fotográfico. 75 artistas se inscreveram no Salão, dos quais 16 foram selecionados para expor seus trabalhos, além dos dez convidados, que farão performances colaterais durante o evento. Com isso, o evento, realizado pela Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), começa a cumprir sua missão: dar visibilidade aos trabalhos de artistas nordestinos, além de agregar valor às suas obras. A abertura será no dia 13 de novembro, mas até 28 de fevereiro de 2009 o público poderá, gratuitamente, apreciar as obras. A curadoria do Salão é de Mathieu Duvignaud, e a coordenação fica a cargo de Marcelus Bob, Ricardo Veriano e Roberto Medeiros. O jornalista potiguar Max Pereira assina os textos do catálogo do Salão. Mais sobre o evento é só dar uma olhada mais embaixo ou procurar nos links ao lado o título Notícias da Capitania.
Prêmio Jabuti
Com o livro infantil "O Menino que Vendia Palavras" (Objetiva), o escritor da velha guarda Ignácio de Loyola Brandão foi vencedor da categoria Melhor Livro de Ficção do prêmio Jabuti, que em 2008 completa sua 50ª edição. Na categoria Melhor Livro de Não-Ficção, o premiado foi Laurentino Gomes, com o livro-reportagem histórico "1808" (Planeta). Ambos receberam o troféu dourado do Jabuti e um prêmio de R$ 30 mil. As duas principais categorias do prêmio foram anunciadas na noite de ontem, na Sala São Paulo.