Tomate previne câncer. É o que afirmam nutricionistas. As refeições de papai eram repletas de tomate e feijão. Nunca desconfiou morrer decorrente justo da doença que temia. Nenhum histórico de câncer na família. Mas ele veio e destruiu toda vaidade, esperança e resistências do meu pai. Atacou não só o fígado de quem nunca se mostrou embriagado aos filhos. Foram mais de um mês de sofrimento; de muita dor e algum desespero. Aquele pai que acordava às 4h para trabalhar, sempre irrequieto e dono de suas vontades padeceu totalmente debilitado. Melhor não descrever o quão seu corpo foi atingido. Nem o que precisamos fazer para lhe dar todo o conforto possível. O câncer o privou até das últimas palavras. Desejou pronunciar alguma coisa inutilmente. Cansava-se em todas as tentativas inúteis e arqueava as sombrancelhas em expressão de angústia logo em seguida. Minha mãe conseguiu entender um de seus últimos desejos: reunir a família. Saí correndo do trabalho para o hospital. Ouvi minha mãe elogiar o excelente pai e marido que foi sem conter as lágrimas. Mas ele dormiu e prometi voltar mais tarde. Cheguei três minutos depois do último suspiro. Encontrei o corpo desfalecido na cama rodeado pelo choro copioso do meu irmão, da minha mãe e minha cunhada. Enfim o descanso merecido. Lembro de um trecho do livro Capitães de Areia, de Jorge Amado. O autor indagava, na fala de um dos personagens, se era justo uma vida terrena de sofrimento apenas para uns se no céu todos gozarão de uma vida plena e feliz. Como reperar a desvantagem? Espero que meu pai seja bem recompensado pelo castigo imerecido. Desta dimensão injusta já não ligo para dicas de nutricionistas, endocrinologistas e quetais. Tomarei cerveja como meu pai comia tomates. E pago pra ver o que me espera.
Aconteceu recentemente? Meu abraço de solidariedade.
ResponderExcluirNo último dia 13, às 13h. Obrigado, Moacy!
ResponderExcluirCaro Sergio aceite meus pesames, que remeto a você e a toda sua familia. Comovente e verdadeiro o seu texto.
ResponderExcluirLaurence