quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cassiano recria a atmosfera de 1969


O jornalismo impresso virou notícia. A ironia da metalinguagem está concretizada em livro escrito por um dos principais profissionais da comunicação potiguar das últimas décadas. Cassiano Arruda Câmara foi preso político quando exercia a rotina diária de jornalista numa época marcada pela repressão militar, agitação cultural e mudanças no modo de produção do jornal. Hotel de trânsito, lançado ontem na Siciliano, contextualiza a Natal de 1969 e mostra à nova geração uma das guinadas fundamentais do jornalismo impresso, quando a máquina Off-set chegou ao Diário de Natal e iniciou o processo de substituição das engrenagens herdadas de Gutemberg.

Apesar de homem ter conquistado a lua, a vida na província era contada a partir das resenhas dos cantões como o Grande Ponto. O ano de 1969 ainda respirava o estouro revolucionário de 1968 - um ano que terminou para a geração mórbida da cybernet. A institucionalização do AI-5 espalhava pelas ruas fardados vigilantes como a imprensa da época. Cassiano era chefe de redação na época. Após uma noite mal dormida foi surpreendido com duas notas escritas no jornal deixado à sua porta. Mesmo sem alusões ou críticas ao regime, mensagens subliminares foram interpretadas por antas armadas. Cassiano foi preso e levado a um hotel de trânsito da Aeronáutica.

Os 49 dias de cárcere; de medo e reflexão, transformaram a vida do jornalista. Veio a constituição da família e as lembranças vivas e vividas de uma época singular na história do país. A disciplina na produção de cinco laudas diárias conduziu a rotina de Cassiano na elaboração do livro, com prefácio do poeta e jornalista Sanderson Negreiros e editado em tamanho A4 e capa dura. O fio condutor é a transição da imprensa da “tecnologia medieval até o off-set”. “A pretensão é de mostrar a nova geração como se fazia jornal ou como era a comunicação numa época sem televisão ou telefone interurbano, a partir da contextualização da Natal naquele ano de 1969 e dos anos de chumbo”, comentou o jornalista.

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