terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Agonia em vez da alegria


Essa é a segunda ou terceira matéria em que fujo da pauta pensada e me rendo às novas reclamações e dificuldades enfrentadas pelos heróis carnavalescos desta cidade. O Diário de Natal já noticiou a agiotagem nos bastidores do carnaval da cidade. Agora, o até então desconhecido monopólio na venda de materiais às escolas de samba e o dinheiro ainda preso nos cofres municipais, ainda não. Muitas mídias entraram engoliram o oba-oba dito na coletiva de imprensa convocada pela Funcarte na divulgação das verbas às escolas de samba. Na contramão, a governadora libera R$ 150 mil diretamente aos representantes das agremiações e salva a pátria por mais alguns dias, sem que o bolo das dívidas junto aos agiotas aumente. A opinião é unânime: este tem sido o pior momento do carnaval de Natal dos últimos anos.


O clima de empolgação com as proximidades do carnaval dá vez à agonia dos carnavalescos na montagem das escolas de samba. A menos de duas semanas da abertura oficial do período de Momo, apenas parte da verba municipal foi liberada. Alguns presidentes das agremiações demonstram desespero. Outros, desinformação. E todos têm histórias de dificuldades para contar.

A prefeitura prometeu R$ 15 mil para cada escola de samba do grupo A. Até a última quarta-feira haviam sido liberados R$ 8 mil de crédito para compra de material na loja Ponto dos Botões. Até o início da tarde de ontem muitos presidentes de escolas sequer sabiam da liberação de mais R$ 4 mil e disseram ter tomado empréstimo a agiotas para cobrir custos extras.

A prática da agiotagem nos bastidores do carnaval natalense tem sido prática constante. Todas as escolas já recorreram a empréstimos extras com a promessa de pagamento caso a escola consiga boa pontuação e, consequentemente, valores mais altos de premiação. Segundo carnavalescos, a grande maioria está endividada. A estimativa é que em poucos anos os desfiles das escolas de samba possam acabar após a falência das principais agremiações.

O valor baixo e o atraso na liberação da verba é apenas alguns dos pontos reclamados pelos carnavalescos. Outro, é quase uma questão de monopólio. O Ponto dos Botões é a única loja de Natal apta a vender material para a montagem do carnaval. É unânime a reclamação entre os diretores de escolas o preço alto e a falta de opções na loja. Segundo os carnavalescos, outras lojas “dormem no ponto” porque podiam ganhar algum dinheiro extra no período.

“Infelizmente estamos presos a esta loja. Se a prefeitura liberasse, pagaríamos transporte para Recife, comeríamos, compraríamos nosso material e ainda voltaríamos com dinheiro”, afirmou o presidente da agremiação Unidos de Areia Branca, Gilvan dos Santos. O presidente da Associação das Escolas de Samba e Tribos de Índio (Astin), Evaldo da Silva afirma que mesmo em São Paulo ou Rio de Janeiro se consegue comprar uma quantia três vezes maior de material.

Mesmo com o pouco dinheiro liberado aos 43 minutos do segundo tempo e à mercê dos preços de apenas uma loja, carnavalescos ainda conseguem levar seus sambas-enredo à avenida. Para o presidente da agremiação Balanço do Morro, Dido, as escolas iniciam o trabalho antecipado com o que ganham de doações a partir de grupo de amigos e influências junto ao empresariado. É muito pouco, segundo ele. “Dá pra começar alguma coisa”.

O trabalho de montagem das alegorias e alas começa mesmo com os recursos da prefeitura. “Eles divulgaram a liberação do dinheiro, mas ainda estamos aguardando. Até agora, apenas o crédito para compra na loja. Precisamos pagar costureira, aderecistas...”, reclamou Dido. Sua escola deve conseguir patrocínio extra junto à prefeitura de São Gonçalo do Amarante, homenageada pela escola este ano.

A escola Acadêmicos do Morro já recebeu apoio extra. E veio de uma banda do momento. Com o samba-enredo “21 anos grafiteando e fazendo emoções ao vivo”, a escola vice-campeã em 2009 homenageia a Banda Grafith e espera vencer este ano com um desfile mais incrementado. O vice-presidente da Escola, Dicarlos, preferiu omitir os valores doados pela Banda. “Do município acho que só receberemos na quarta-feira de cinzas. Nunca vi um carnaval tão pobre”, opinou.

A tradicional Malandros do Samba teve menos sorte. A homenagem um centenário das ferrovias da cidade não mereceu um centavo da CBTU, “para nosso desprazer”, reclamou Kerginaldo Alves. “Estou há 52 anos no carnaval de Natal e só vi um período bom: o da prefeita Wilma de Faria. Para provar que ela prestigia, mesmo governadora e sem a obrigação de patrocinar nada, doou este ano 150 mil diretamente às escolas. Enquanto isso, a prefeitura só liberou o crédito pra compra em loja”, reclamou o carnavalesco que busca este ano o 33º título da escola.

Além dos R$ 15 mil às escolas do Grupo A, a prefeitura também prometeu R$ 12 mil às agremiações do grupo B. As tribos de índio receberão R$ 10 mil (grupo A) e R4 8 mil (grupo B). As sete escolas do grupo de elite do carnaval de Natal que desfilarão na segunda-feira de carnaval este ano, são: Balanço do Morro, Malandros do Samba, Unidos de Areia Branca, Acadêmicos do Morro, Império Alecrinense, Grande Rio do Norte e Em Cima da Hora. A campeã de 2009, o Unidos do Gramoré, desistiu de competir este ano por falta de patrocínio.

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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