Uma pergunta recorrente no meio jornalístico é se os jornais impressos sobreviverão por muito ou pouco tempo, ou mesmo se passarão incólumes pelo processo crescente do acesso à informação via internet – um acesso gratuito, mais cômodo e mais atrativo, indiscutivelmente. A comparação dos mais positivistas é do cinema com a televisão, quando afirmavam que com o advento da televisão, o cinema cairia por terra. Afinal, a televisão também exibe filmes gratuitos, de forma mais cômoda e mais atrativa.
Terça-feira eu assisti ao programa Observatório na Imprensa. O jornalista Alberto Dines foi à Argentina realizar uma leitura da cobertura dos principais jornais impressos de lá. Ao final, levantou a questão da concorrência da internet e o processo da migração dos jornais para os sites de notícias. As opiniões foram distintas entre os diretores. Alguns afirmaram ser uma tendência irreversível e outros que um dia ambos conviveriam com espaços diferentes ou que duraria décadas ainda para a internet substituir o jornal.
Achei mais interessante a postura do quarto maior jornal argentino. Não lembro o nome. Eles optaram por publicar a versão impressa do jornal apenas aos fins de semana e, de segunda à sexta-feira, noticiar os fatos do dia no portal de notícias na internet. Segundo o diretor, os jornais impressos argentinos, como a maioria dos jornais do mundo, têm prejuízos durante a semana e conseguem reverter apenas nos fins de semana. Para eles, a idéia tem sido um sucesso.
O mesmo diretor enumerou uma série de comportamentos mutantes do cotidiano ao longo dos últimos anos que favorecem esta queda na vendagem dos jornais durante os chamados dias úteis. A principal e mais simbólica é, sem dúvida, a pressa. O cidadão hoje não tem mais o hábito diário de ler jornal por falta de tempo até mesmo para parar numa banca e comprar, ou mesmo se receber em casa. O faz em fins de semana, também por adquirir um exemplar mais completo, como são as edições de sábado e domingo.
Minha opinião é a de que os jornais não vão desaparecer. Quando entrevistei este ano um grande economista, cotado para ser ministro de Lula, o cara disse que o capitalismo é um bicho de sete vidas. Ele sobrevive às crises e se reinventa. Mal comparando, assim é o jornal impresso. Ele vai encontrar uma maneira de se posicionar no mercado sem a competição direta com a internet. Claro, precisará de uma reformulação gráfica, editorial e de muita criatividade para atrair o público jovem. Hoje, o público dos jornais impressos é, em maioria, adultos com mais de 50 anos.
A idéia mais defendida de sobrevivência é a elaboração de reportagens mais trabalhadas – já que a internet oferece textos curtos e superficiais. É a questão do imediatismo prejudicial. As grandes reportagens não cabem mais em mídia alguma. Só em livros. Seria o fim apressado do jornal impresso. Infelizmente, o público não lê mais e não teria paciência para grandes matérias, por mais interessantes e bem feitas que fossem. Talvez um jornalismo participativo, edições com mais editoriais e colunas maiores e mais opinativas fossem soluções.
Acredito que a internet trará uma queda na qualidade da notícia publicada. Os blogs de notícia também crescem assustadoramente. Mesmo os de jornalistas de jornal impresso, como eu. E por isso afirmo: não é a mesma coisa de um jornal. Ali, o repórter está submetido ao crivo de editores e também da fonte entrevistada. A responsabilidade com o material escrito é muito maior. A publicação geralmente é em jornais cuja história faz parte do cotidiano da cidade. São instituições de credibilidade que precisam manter um padrão; um respeito com o leitor.
É diferente de um blog, embora o jornalista também tenha sua reputação posta em jogo. Mas é um nome contra o de um jornal com 10, 50 ou 80 anos de atividade. Penso que os blogs servem, sim, como ferramente democrática de crítica e análise; não de notícia. Para isto existem os portais, cuja equipe é formada exclusivamente para isto: a produção de matérias jornalísticas. E aí mora o perigo da competição com os jornais. Mas também vejo surgirem os tais E-books para substituir os livros. E aí, será que o livro também desaparece?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Interessante o texto, Vilar!
ResponderExcluirConcordo com vc no que diz respeito ao possível fim do jornal impresso: ele não vai ter um fim. E precisa, sim, de uma trabalhada em seu perfil, que não precisa ter como finalidade exclusiva o 'leitor'. O New York Times, por exemplo, contempla até reportagens em vídeo em seu portal. Ou seja, o jornal impresso deve começar a se preocupar em ser um produto de uma empresa e não mais 'o' produto principal.
;)